O outro Universo parte 3

Quando eu tinha 13 anos, quebrei o braço de uma garota e fui expulsa da escola. Não ia ser surpresa nenhuma se isso se repetisse.

Da primeira vez, meus pais não ligaram. Eles simplesmente contrataram professores particulares pra não ter outro problema escolar. Mas e dessa vez? Eu já estava mais velha e responsável. Meu pai não ia gostar de ter uma filha expulsa de duas escolas. Vamos combinar, é ruim pra reputação de qualquer pai.

Mas para mim o problema não era esse. Era ter que voltar para São Paulo. Eu odiava a minha vida lá. E em Brasília eu tinha uma vida normal, o Cebola como amigo... Por que ele tinha mudado tanto? Por que ele não era mais meu amigo?

Narração by narradora

Mônica estava com medo. Foi caminhando até a sala da diretora. As mãos suavam, as pernas tremiam.

Quando estava na porta da sala parou e se perguntou:

- Minha vida era melhor em São Paulo? Eu tinha tudo que uma garota ia querer... Será que eu devo voltar?

Depois abriu a porta. A diretora olhou-a de cima para baixo. Ela tinha o seu rosto pálido, unhas enormes, usava roupas escuras, coque no cabelo, saltos muito altos... Sua sala era cheia de quadros estranhos, tinha uma mesa grandona de madeira, cadeiras velhas e era iluminada por velas. Parecia uma sala desses castelos de filme de terror.

Mônica ficou com medo, mas entrou. Ela se sentou na cadeira de madeira quase quebrada.

A diretora sorriu e falou:

- Você é a Mônica? A que machucou o Cebola?

Mônica não respondeu, a diretora sabia perfeitamente que era ela. Então como ficou se uma resposta, resolveu continuar:

- Então Mônica, você sabe que o que a senhorita fez viola as regras da escola. Bater em um colega, especialmente da forma que você bateu, é caso de expulsão.

O coração bateu bem forte. Mônica esta a ponto de chorar. Ela queria gritar, falar, xingar, dizer que não foi só aquilo que aconteceu. Mas do que adiantaria? Ela havia quebrado dois dentes do Cebola e não tinha provas de que ele tinha jogado refrigerante nela.

- Seu colega está bastante machucado... Você sabe o que isso significa não é?

- Expulsão? – Respondeu Mônica já chorando.

- Isso mesmo, mas não vai acontecer isso com você.

Mônica olhou para aquela senhora esquisita e quase a abraçou. Ela não conseguia acreditar que não ia ser expulsa.

- No entanto Mônica, eu não posso fingir que nada aconteceu... Sabe, eu conheci a sua mãe. Ela é bem nova não é? Fui professora dela no primeiro ano do segundo grau. Ela era igual á você. Batia e quem a machucava, não importava qual fosse esse machucado. E eu sei que você é igualzinha á ela. E eu sei que você teve um motivo. O fato é que você terá que pagar de alguma maneira. Três dias de suspensão e um de limpeza na escola. No sábado! Esta de acordo?

Narração by Mônica

Fiquei super feliz! Eu não ia voltar pra São Paulo! Claro que fiquei de acordo... E fiquei surpresa também. Minha mãe foi aluna dela? Eu sabia que ela e minha tia moravam aqui antes, mas nunca ia imaginar que a Diretora seria uma antiga professora dela. E pior, que minha mãe era igual á mim.

Fui ver o Cebola. Precisava conversar com ele, entender o porquê dele não falar mais comigo. Ela tinha ficado tão estranho...

Quando cheguei na enfermaria ele estava lá, bastante machucado. Assim que me viu tomou um susto.

Fiquei com pena e falei logo com ele:

- Oi Cebola... Tudo bem?

- O que você acha?

Fiquei meio sem graça. Eu sabia muito bem que ele estava mal. Então eu fui direto ao ponto, não podia ficar mais enrolando:

- Cebola, por que parou de falar comigo?