Silêncio escrita por Eduardo Mauricio
Francine entra pela porta da frente de casa, com os olhos vermelhos e uma expressão de dor explícita no rosto.
- O que houve? – Todd levanta-se do sofá preocupado.
- Eu não pude impedir – Ela abraça o marido e desaba em lágrimas – Eu não consegui salvá-lo.
- Eu sinto muito – Ele suspira, é só o que tem a dizer naquele momento.
- Ele não vai parar até ser parado, Todd! Ele está dando um jeito de fugir da policia, ele é muito inteligente, não adianta tentar prendê-lo, nós temos que mata-lo e para achar o desgraçado, temos que usar alguém como isca. Eu.
- Nem pensar!
- Não, me escuta, nós vamos bolar um plano, eu não vou me machucar.
- Mas...
- Shh, Não diga mais nada, é isso que nós temos que fazer, não podemos mais correr perigo – Ela interrompe.
Todd não diz mais nada.
- O que temos a fazer agora, é avisar aos outros sobre perigo que os ronda – Ela diz, pegando o celular do bolso.
- Como assim? – Todd pergunta.
- Ele está matando todas as pessoas próximas a mim – Ela abaixa a cabeça e diminui o tom de voz – E está começando pelos colegas da Spring, então para ele, só faltam Quentin e Rachel, só depois virá atrás da gente. Preciso avisá-los.
Ela disca o número de Quentin e nem mesmo sabe o que vai falar.
- Alô? Quentin?
- Oi Francine – A voz dele é extremamente dolorosa, perdeu vários amigos assim como ela, e a Spring infelizmente fechará por alguns meses.
- Quentin, eu preciso te falar algo, isso vai ser bem estranho, mas eu quero que você faça o que eu vou pedir.
- Tá.
- Tranque as portas e não saia de casa, apenas faça isso e se preteja com alguma coisa.
- Por quê?
- É difícil de explicar, apenas faça isso.
- Espera – Ele diz – Tem alguma coisa a ver com os recentes assassinatos? – Quentin pergunta.
Francine demora um pouco em silêncio, dá um suspira e finalmente responde:
- Sim.
- Ah deus.
- Tome cuidado Quentin, apenas tome cuidado.
- Você também, tchau.
- Tchau.
Ela desliga o telefone e sente um peso grande em suas costas. É a culpa. Ela ainda não consegue aceitar o fato de que não conseguiu impedir a morte de Aidan. Eu poderia ter evitado.
Tentando não pensar mais nisso, ela disca o número de Rachel e espera alguns segundos até ela atender.
- Oi Fran – A voz dela soa ainda mais dolorosa que a de Quentin.
- Rachel, vai parecer estranho o que eu vou te falar agora, mas escute com atenção.
- Estou ouvindo.
- Você está sozinha em casa?
- Não, estou com o Ryan – Rachel responde e Francine reconhece o nome. O namorado dela.
- Então tranque as portas e feche as janelas, e qualquer coisa suspeita, chame a policia imediatamente.
- Mas por quê?
- Os assassinatos recentes não são coincidência.
- Como assim? – Ela fica mais desesperada ainda, e começa a chorar.
- Você vai ficar bem, só faça o que eu disse.
- Não, não é verdade.
- Infelizmente é sim, então como você explica as mortes que aconteceram?
- Eu não sei, mas não vai acontecer comigo! – Ela tenta mentir para Francine e para si, pois sabia que estava perigo, sabia que as mortes não haviam sido apenas coincidências, é impossível.
Rachel desliga o telefone.
- Droga! – Francine diz.
- O que foi? – Todd pergunta.
- Ela não acredita.
- Ela não quer acreditar, mas no fundo sabe que é verdade. Ela deve estar muito abalada, só isso.
- Essa não é a hora certa pra dar show, estamos em perigo e ela sabe!
- Relaxa, enquanto o assassino não enviar uma mensagem com o nome dela, ela estará a salvo, não foi você que disse que ele manda um sms com o nome da próxima vítima?
- É.
- Então se você não receber nenhum, não haverá nenhuma morte, enquanto isso, a policia vai ter tempo de acha-lo onde quer que ele esteja.
Francine olha para ele, seu olhar exala medo, e então o abraça.
- Eu não quero morrer – Ela se segura para não chorar.
- Enquanto eu estiver aqui, você não vai – Ele dá um beijo no topo da cabeça dela.
No outro lado da cidade, Rachel chorava, deitada no peito do seu namorado, Ryan.
- Vai ficar tudo bem – O homem de olhos verdes e cabelo escuro tenta consolá-la – Mas o que foi que ela disse?
Rachel demora um pouco, mas depois responde:
- Nada, só ligou para me dar forças.
Ryan fica desconfiado.
- Bom – Ele se levanta do sofá – Eu preciso ir agora, você vai ficar bem?
- Vou sim.
Eles se abraçam e se envolvem em um beijo.
- Tchau – Ryan se despede.
- Tchau.
Todd desce as escadas rapidamente e encontra Francine, sentada em uma poltrona, olhando atentamente para o celular.
- O que houve? – Ele pergunta.
- Nada, só estou apreensiva.
- Tente relaxar um pouco.
- Tá – Ela olha mais uma vez para a tela do celular, esperando a próxima mensagem do assassino.
Enquanto isso, não tão longe dali, Quentin fazia cortes em uma abóbora, afinal era Halloween, a data favorita dele.
- Não era para ser uma cara assustadora? – Pergunta Natalie, a esposa de Quentin, pegando-o de surpresa.
Ele olha para a abóbora e percebe que realmente não parecia um rosto assustador e sim uma cara feliz.
- Foi o que consegui fazer – Ele sorri.
- Eu e a Violet vamos ao supermercado – Ela diz – E vamos demorar um pouco, talvez a maioria esteja fechado.
- Boa sorte – Ele ri e continua o trabalho na abóbora.
- Vamos Violet! – Natalie grita e rapidamente, a pequena Violet de quatro anos desce as escadas saltitando.
- Vamos mãe, tchau pai!
- Tchau querida.
As duas vão embora e ele continua tentando dar um jeito de deixar a escultura um pouco mais assustadora. Alguns minutos após sua mulher e filha terem saído, ele desiste de tentar esculpir a abóbora e senta no sofá. Tomando uma cerveja, ele procura algo na programação da TV, é quando ouve um barulho vindo de cima.
- O que foi isso? – Ele pergunta para si mesmo e se levanta, lentamente sobe as escadas.
- Shawn? – Ele pergunta, esperando que o cachorrinho apareça correndo como sempre faz, mas não é ele, não é Shawn.
Caminhando pelo corredor, ele percebe uma sombra vinda de dentro do seu quarto e corre até lá, encontrando um homem alto, vestindo um terno preto, virado de frente para a janela. Quentin corre até a cama e debaixo dela, pega uma faca – Que guardava ali para se defender caso alguém invadisse sua casa.
- Vire-se! – Ele grita. – Eu te peguei desgraçado!
O homem lentamente se vira, revelando uma máscara ensanguentada e assustadora, e por trás dela, ele fala algo.
- Não, eu te peguei – Ele revela um grande machado em suas mãos.
O sujeito caminha lentamente pelo quarto na direção de Quentin, que rapidamente põe-se a correr. Ao chegar à sala de estar, ele pensa em sair de casa e chamar a policia, mas não pode deixar aquele maníaco fugir, então corre até a garagem, lá ele acharia algo para se defender. Ao chegar ao local, ele acende as luzes e corre para buscar uma arma de pregos que tem guardada, mas não consegue acha-la, então pega uma barra de ferro com a ponta afiada e vira-se, porém, ninguém está lá, o assassino não está mais atrás dele, então ele sai da garagem lentamente indo em direção à sala, ao chegar lá, ninguém novamente. Ele deve ter ido embora. Finalmente Quentin se lembra. Hoje é halloween, deve ter sido alguém pregando uma peça. O vizinho. Ele ri de si mesmo e então vai até o quintal.
- Muito engraçado! – Ele grita, para o vizinho. George, o outro cachorro da casa, permanece latindo. Quentin vai acalmá-lo.
- Calma garoto, calma – Ele diz, sorrindo por cair na brincadeira. Pareceu tão real.
George continua latindo.
- O que aconteceu? – É quando Quentin percebe, o cachorro está latindo para algo atrás dele.
Ao se virar, ele dá de cara com o sujeito, que ele ainda pensa ser o seu vizinho.
- Ah, você está ai – Ele sorri – Quase me matou de susto – Quentin começa a caminhar até a casa. – Pareceu real.
Uma dor excruciante o atinge, fazendo-o cair no chão, como se algo houvesse cravado em suas costas – Ele olha para trás e percebe o machado cravado em suas costas.
O assassino caminha até ele e puxa ele pelo cabelo e saca uma arma de pregos da calça. As lágrimas de dor descem pelo rosto vermelho de Quentin, a expressão em seu rosto é de medo e desespero.
- Por favor, não! – Quentin pede aos prantos, sem entender o motivo daquilo.
O homem não diz nada, apenas coloca a arma dentro da boca dele. Ele tenta lutar contra o homem, mas a dor que sente nas costas, não permite que ele salve sua vida. Com a arma dentro da boca dele, o sujeito olha bem para o rosto daquele homem ali, lhe implorando pela vida, mas não sente absolutamente nada.
- Feliz halloween – Ele diz e então dispara o primeiro prego, que entra rasgando a garganta dele até chegar ao outro lado. Dispara o segundo, novamente entra rasgando. Dispara o terceiro, Quentin já não tem mais vida, mas ele não simplesmente não quer parar, então dispara o quarto. O último prego também atravessa a garganta e o sangue suja o piso branco da varanda da casa. O assassino ainda não parece satisfeito, então dirige a arma até o olho esquerdo e dispara, o prego entra a toda velocidade, fazendo o líquido vermelho respingar na roupa do homem. Depois, ele direciona a arma para o outro olho e faz o mesmo e solta o corpo sem vida de Quentin no chão.
Francine não consegue ficar calma sabendo que pode receber uma mensagem daquelas a qualquer momento. Ela pega o celular e liga para Vanessa, que atende alguns segundos depois.
- Oi Fran.
- Onde você está? – Francine pergunta.
- Em casa, mas por que a pergunta? – Vanessa fica desconfiada. O assassino enviou uma mensagem com o meu nome, só pode ser isso.
- Por nada, só queria conversar.
- O assassino deu alguma pista? Enviou alguma mensagem?
- Por enquanto não, é isso que me preocupa.
- Relaxa, enquanto ele não mandar nenhum sms, ele não vai agir.
- Eu sei, mas não estou com um bom pressentimento.
- Eu também não
- Espera um pouco, tem alguém na outra linha – Francine diz.
- Tá bom.
- Alô? – Francine pergunta, ao passar para a outra linha. É Frank.
- Francine?
- Oi Frank.
- Você recebeu algum sms?
- Não, por quê?
- Seu amigo, Quentin, está morto.
- O que? – Ela estremece por dentro. Como? O assassino não mandou nenhuma mensagem.
- Eu lamento.
- Oh meu deus, eu estou indo para ai – Ela sente as lágrimas chegando.
- Tá.
Francine volta a conversar com Vanessa.
- Quentin está morto – Ela diz aos prantos.
- Não pode ser – Vanessa fica surpresa.
- Mas como isso aconteceu? Ele não mandou mensagem alguma.
- Eu não sei, eu não sei, estou indo até a casa dele agora – Ela está muito nervosa.
- Eu estou indo agora.
- Tá, tchau.
- Preciso sair – Ela diz, sentindo uma ardência nos olhos. Ia começar a chorar.
- Como assim? Pra onde? – Todd, que estava na cozinha, pergunta.
- Aconteceu algo – Ela responde – Com Quentin.
- O que?
- Ele está morto – A primeira lágrima finalmente cai.
- Eu sinto muito – Todd diz, largando a frigideira que estava segurando.
- Fique com o Caleb, eu volto em pouco tempo – Ela sai apressada.
Ao chegar á frente da casa de Quentin, ela desce do carro com os olhos vermelhos, já parou de chorar, mas ainda não consegue aceitar. Ao ver Frank, corre e o abraça.
- Eu sinto muito – Ele diz. Ela não consegue dizer mais nada.
- Oh meu deus, onde está Natalie?
- A esposa dele né? Ela está conversando com os policiais, está muito abalada.
Francine caminha até o jardim da casa, onde encontra Natalie aos prantos conversando com o delegado. Ao ver Francine, ela interrompe a conversa e dá um abraço.
- Eu sinto muito – Francine diz, está nervosa, mas não tanto quanto a mulher na sua frente.
- Obrigada.
- Oh meu deus, e Violet?
- Ela está na casa da avó, ainda não sabe. Eu nem sei como vou contar a ela.
Vanessa chega ao local e encontra Frank.
- Onde está Francine? – Ela pergunta.
- Falando com a esposa dele – Frank responde.
- Vamos.
Os dois vão até Francine, Vanessa abraça Natalie e a consola.
- Precisamos conversar – Ela diz, puxando Francine para longe, muito nervosa.
- O que? – Francine pergunta.
- Como assim o que? O assassino não avisou sobre isso!
- Mas pode não ter sido assassinato, você sabe como ele morreu? – Os olhos dela brilham, ainda não quer aceitar a morte de Quentin.
- Ele foi encontrado com quatro pregos na garganta e dois nos olhos, nunca vi um acidente desse jeito.
- Oh meu deus – Ela tapa a boca com uma das mãos.
- O que nós queremos dizer é o seguinte – Ele começa – O assassino não vai avisar mais, eu não sei por que, mas agora ele está atrás de nós e não temos mais nenhuma pista de onde ele possa estar.
- Rachel – Francine diz baixinho. A ficha caiu – Ela é a próxima.
- É verdade – Vanessa diz – E ela está correndo perigo, o assassino pode estar indo pegá-la agora mesmo.
- Droga! – Frank diz – Onde é a casa dela? Vamos no meu carro!
Os três vão embora, precisam alertar Rachel sobre o perigo que ela corre.
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