My Love Is Yours escrita por éphémère


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem :3



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A chuva chicoteava contra a capa vermelha de Lilian, mas ela não se importava. Estava de cabeça baixa, olhando enquanto suas galochas, também vermelhas, pisavam em poças enlameadas e espirravam sujeira para todos os lados.

Ela olhou à direita, onde a grande estrutura do castelo se erguia. As luzes estavam acesas e risadas altas vinham de dentro, mas ela não estava de bom humor para se juntar a essas pessoas.

Olhou para trás, focando-se no ponto indistinto de onde deveria ser a porta, mas o borrão continuava o mesmo, sem qualquer indício dessa porta ser aberta, sem ninguém sair dela. Sabia que não devia alimentar esperanças, mas como não? Ela o amava, e estava sob a chuva, engolindo todo o seu orgulho, porque queria pedir desculpas. Esperava que ele estivesse disposto a fazer o mesmo.

Mas não poderia esperar mais de James Potter. Ele sempre foi e sempre seria assim: proclamando juras de amor eterno antes e durante a primeira semana de namoro; na segunda semana de namoro, diminuiria as juras de amor, mas ainda não desgrudaria dela por nada; o relacionamento esfriaria a partir da terceira semana e eles se falariam muito pouco. Por fim, na quarta semana de namoro, a falta de comunicação e o distanciamento dariam origem às intermináveis brigas.

Não devia ter dado uma chance para ele, mas ela pensou que, depois do primeiro encontro, poderia deixá-lo de lado e ele finalmente pararia de dizer para toda Hogwarts que ela era sua alma gêmea. O deixaria quebrado, mas quem se importa? Quantas garotas ele já não devia ter quebrado?

O que Lily não entendia era o porquê de ter feito tantas concessões para o moreno após o primeiro encontro, a ponto de também estar quebrada àquela altura do campeonato, temendo que tudo aquilo que sentia era porque tinha enfim se apaixonado por alguém. Ela parou de andar e ficou em pé, olhando para um dos arbustos que cresciam em volta de Hogwarts. Nele, uma única flor brotava, e era a mais bonita, a que roubava toda a beleza das plantas à sua volta.

Um lírio.

Com amargura, Lily sentiu um aperto no coração e mordeu o lábio inferior. James a chamara de lírio muitas vezes, mas ela nunca dera muita importância; inventar apelidos para impressionar alguém era uma tática amplamente conhecida para fazer alguém se sentir especial, ou para quando não se lembrar mais do nome da pessoa com quem está saindo. Mas não era esse o caso, e ela praguejou contra as grossas cortinas de chuva que a cercavam por não ter sido capaz de ver isso antes. Na última briga, antes de deixar Lily ir, James disse com nada além de sinceridade na voz: "eu te amo, meu lírio".

Por que as coisas tinham que ser tão estranhas e tão dolorosas quando se tratava de amor? Lily tinha ouvido diversas definições sobre o amor, baseadas em diversas perspectivas, e achava estar preparada para ele quando não conseguiu abrir mão de James.

Mas porquê não estava?

— Por favor, não dificulte as coisas, James - ela disse, os dentes cerrados, as têmporas prestes a explodir - Você sabe que não gosto disso.

— Disso o quê, essa é minha pergunta - ele retrucou, aumentando a voz conforme ficava mais e mais indignado - Lilian, eu passo 7 anos inteiros me declarando para você, dizendo que sou completamente seu, e quando tento consolar uma amiga você age como se eu e você nunca tivéssemos acontecido!

— Essa é a questão! - ela disparou, também aumentando a voz, mas porque queria ser ouvida acima da defensiva dele - Você acha que não me machuca, mas o faz! Você acha que está fazendo tudo certo, mas nada está certo! Não posso confiar em uma pessoa que não consegue se controlar e cria um nível de intimidade com qualquer garota que vê pela frente!

— Ah, então é essa a verdadeira questão - James constatou, a voz baixando e o olhar  entristecendo enquanto ainda encarava o rosto de Lily - Você não confia em mim.

— Jay...

— Tudo bem, Lily - ele a interrompeu - Eu entendo. Que garota poderia confiar nas palavras de James Potter, não é mesmo? Só quero que reflita sobre uma coisa: eu sempre me declaro para você em alto e bom som. Sempre fiz tudo o que estava ao meu alcance pra tirar um sorriso do seu rosto. Alguma vez você já me viu fazer isso com outra garota? Alguma vez um garoto fez isso exclusivamente para você? Não. Está ocupada demais babando nos pés do Diggory. E sobre a garota que eu estava abraçando, me surpreende não saber. Marlene é uma de suas melhores amigas, não é?

— Como assim, "babando nos pés do Diggory"? - a irritação latente crescia no peito da ruiva - Olha como fala, Potter, você não me conhece.

— Claro que não - James suspirou pesarosamente, dando de ombros - Mas acho que não ouviu a parte em que lhe disse que a garota que eu estava abraçando era Marlene. Não. Estava ocupada demais pensando no que eu disse sobre você.

— Cale a boca, Potter! - ela levantou-se de supetão, apontando um dedo para a cara dele, o rosto agora completamente vermelho de raiva.

— Voltei a ser Potter - ele lamentou, baixando o olhar - Você não tem noção de como isso dói vindo de você. Só deixa isso tudo de lado e vai atrás da sua amiga, Lily. Pode não se importar com ela, mas eu me importo, e realmente espero que ela esteja melhor.

Faltou o ar no pulmão de Lilian e ela fez menção de correr atrás da amiga mas hesitou, olhando para James com a boca entreaberta, procurando por alguma palavra que pudesse consertar o que fizera.

— Eu te amo, meu lírio - ele disse, lançando-lhe um último olhar triste antes de desviar o rosto, e antes que ela saísse correndo.

E ali estava ela, se arrependendo de tudo que tinha acontecido em dimensões inimagináveis. Tinha pedido, por meio de Marlene, para falar com ele na tarde de domingo, fizesse chuva ou fizesse sol. Agora parecia uma boba, a única a se arriscar debaixo daquela chuva, os olhos ardendo pela vontade de chorar.

As gotas começaram a ficar mais fortes, nada além dela era visível. Acima dela, porém, a chuva estava menos densa, apenas pequenos respingos a atingiam. Não sabia quanto tempo passara dessa forma, tamanha era sua imersão nas suas lembranças e nos seus pensamentos.

Estendendo as mãos diante do seu corpo, ela olhou confusa para cima, prendendo a respiração logo em seguida. Encharcado, montado em uma vassoura, estava James, segurando um guarda-chuva vermelho acima de sua cabeça, tão vermelho quanto sua capa e sua galocha.

— Damas não deviam sair desprotegidas na chuva, a mercê de doenças - um sorriso brincava no canto dos lábios dele, travesso, um daqueles sorrisos que ele nunca conseguia conter efetivamente.

Seu rosto estava meio embaçado de onde Lily estava por conta das gotas grossas que caíam, e seus olhos não eram visíveis detrás das lentes de seu óculos, que aderiam à chuva, mas ele nunca lhe pareceu tão bonito. Reprimindo um sorriso, que escapou um bom tanto pelo canto de seus lábios quando o sorriso que James tentava segurar iluminou suas feições, ela disse, no mesmo tom que o dele:

— Muito bem, Potter. Hora de conversar.

Ele fechou o guarda-chuva e, jogando-o em algum lugar perto do arbusto que comportava o lírio, estendeu-lhe a mão. Lily sempre detestou voar com todas as suas forças, mas nunca foi capaz de recusar um voo com James. Daquela vez não foi diferente. E mesmo que jamais admitisse, voar com ele se tornou uma de suas atividades preferidas; amava ter uma desculpa para envolvê-lo entre seus braços, com força, amava como o calor do seu corpo a acalmava e a fazia esquecer dos metros que se estendiam debaixo de seus pés, amava o cheiro que sua nuca exalava.

Rápido como todo artilheiro era, o moreno os conduziu pelos jardins de Hogwarts até chegarem ao vestiário do time de quadribol da Grifinória. Ajudando-a a descer, ele tirou a própria capa e ela tirou a sua, vermelho viva, fazendo questão de olhá-lo séria, com as sobrancelhas arqueadas e os braços cruzados sobre o peito.

— Francamente, Potter - ela quebrou o silêncio, usando o mesmo tom que usava quando exercia a função de Monitora-Chefe - Tudo que faz tem que estar relacionado a quadribol?

— Hm, sim? Quadribol é uma das coisas que mais amo na vida, e você... - ele pausou, olhando-a com intensidade suficiente para fazer suas pernas tremerem como gelatina - você tem todo o resto de mim. Te ter aqui, no meu vestiário, é a visão paraíso.

Lily queria ter uma resposta rápida e cortante, mas aquilo a pegou desprevenida. Sem conseguir verbalizar uma palavra sequer, ela escondeu o rosto, fingindo estar profundamente interessada no armário de vassouras ao lado.

Ele passou a mão pelos cabelos , tirando o excesso de água, e desembaçou os óculos. Se sentou em um dos bancos de madeira e voltou a olhar para Lilian, mortalmente sério, os olhos agora visíveis detrás das lentes, faiscando com determinação. Ela tomou fôlego para falar, entreabrindo os lábios, mas ele ergueu a mão pedindo silêncio. Surpresa e ainda mais confusa Lily se calou, sentindo o calor tomar seu rosto. Pigarreando, James começou:

— Você não tem nada para dizer, Lily. Eu sei que está cansada de brigas, eu também estou. Quero pedir minhas sinceras desculpas por ser um total idiota, e espero que você as aceite e me dê mais uma chance para fazer tudo certo dessa vez.

Lily se sentou ao lado dele, a excitação que preenchia seu peito dando-lhe uma tremenda vontade de saltitar e gargalhar e beijar toda a extensão do rosto do Potter... Ao invés disso, colocou a mão sobre o braço dele cautelosamente e perguntou:

— O que te faz pensar que é um idiota?

— Tudo - ele respondeu com um extenso suspiro, parecendo murchar à medida que sua postura encolhia sobre o banco de madeira - Desde as declarações em alto e bom som e os abraços com as outras garotas até as nossas brigas. Se quer terminar, Lily, está livre para fazer o que quiser; não quero te deixar presa a alguém que só tem te feito mal. Mas não pedi para me apaixonar por você, e nunca soube que demoraria tanto para te ter, nem que doeria tanto quando chegasse o momento de te deixar ir. Posso tentar me afastar de você, mas não consigo, então espero que, se não for pra isso... pra nós darmos certo, nós ainda possamos ser amigos.

— Não, não é pra se afastar - Lily sussurrou como uma súplica, levando a mão ao rosto de James, acariciando-lhe a bochecha.

Ele a olhou e, por um momento tão breve que doeu na Evans, pareceu se perder em seus olhos, deixando transparecer toda sua insegurança, sua dor, seu medo, seu desejo, seu legítimo amor. No entanto, logo se recobrou e, desviando o olhar do dela, continuou:

— É que, agora, meu amor é todo seu. Não o quero de volta, só quero que cuide dele e que não o machuque. Não me machuque. Apenas dê a ele o amor que ele acha que merece.

O silêncio pairou entre os dois, quase tão sólido quanto um hipogrifo. Mas Lily não podia deixar que ele continuasse falando como se as coisas já tivessem acabado, não podia deixar que ele se culpasse por qualquer coisa. Quando começou a falar, sua voz pareceu ofegante, carregando consigo todo o desespero do que queria dizer:

— Como você é estúpido, Potter! Eu pedi para conversar com você, mas isso não quer dizer que eu vá terminar com você! Por Merlin, não! Eu te amo, Pontas. Meu, meu e só meu Pontas. Não vai se livrar tão fácil de mim.

— Espere - ele disse, piscando vagarosamente como uma criança com dificuldade para acordar - Então quer dizer que não quer terminar comigo?

— Não, Jay - ela respondeu, rindo - Nunca. Queria me desculpar por te ter feito pensar que tinha alguma parcela de culpa. Pelo menos dessa vez não, e não adianta me olhar assim! Deixei que meu ciúme me cegasse e nem procurei conversar com você antes de explodir. Então de verdade, engolindo todo o orgulho que você sabe que eu tenho, me desculpa.

— Ah, então, nesse caso, esqueça todo o momento emice anterior - James disse, sorrindo.

— Há, nem se você tentasse!

Ela se aproximou dele e, puxando-o para perto, depositou um beijo na testa dele, que estava gelada contra os seus lábios, então contra uma bochecha, então contra outra.

— Porque foi lindo, Potter - com um sussurro, ela depositou mais um beijo, dessa vez no lóbulo da orelha dele.

James sorriu e, quando ela depositou um beijo naquele sorriso discreto e involuntário, ele a segurou pela nuca, os dedos compridos emaranhando-se contra a bagunça de cabelos acaju encharcados, equiparando seu olhar ao dela; suas íris escuras faiscavam com algo que ele não precisava dizer para que ela entendesse, e ela tinha certeza que seus olhos o retribuíam com ardor. Com outro meio sorriso, Lily cobriu a curta distância entre os dois e voltou a beijá-lo, com urgência quase palpável, ao que o Potter retribuiu com voracidade, como se fosse a última vez.

 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam??
Espero que tenham gostado, e espero que deixem seus reviews hein
Beijinhoss ♥