Soul escrita por Writer


Capítulo 32
Adeus - Fim da Primeira Temporada


Notas iniciais do capítulo

Então é isso, o último capítulo da temporada. Espero que gostem.



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A nossa escolha já estava feita, mas tínhamos certeza que não iam concordar conosco. Então, decidimos fugir se eles não concordassem.

O que era o plano que quase tínhamos certeza que íamos ter de seguir.

Nós pousamos em Marrocos, especificamente no mar litoral de uma cidade chamada Agadir. Era mais ou menos onze da noite, em uma terça feira. Então não vimos muitos motivos pra sair do barco. Cerca de uma hora parados, o barco começou a seguir pelo mar.Vai ser mais difícil de fugir, pensei.

No jantar, nós expomos nosso plano. A reação foi um pouco do que imaginamos.

–De jeito nenhum! - Annabeth ficou extremamente revoltada.

–Se quiserem ajuda, eu topo. - Nico estava usando um tom tão tranquilo que quase chegava a ser assustador. Se eu não o amasse tanto, até mesmo seu lado sombrio, iria ser assustador.

Elisa também foi a favor, mas todos os outros foram contra. Mordi os lábios, me impedindo de falar o que não deva. Então, como o silêncio era total, abri a boca e falei apenas a parte que devia.

–Olha, sei que vocês podem achar isso errado. Eu não quero fazer isso pela vingança. Não totalmente, pelo menos. - Aella me encarava com intensidade enquanto eu falava, vigiando para eu não falar nada do que não deveria. - O fato é que ela me assusta na verdade. Então eu não faço isso pela vingança. Precisamos descobrir o que ela quer fazer, porquê fez tudo aquilo na minha cabeça e estava tão empenhada naquilo.

–Eu ainda acho errado, não se pode matar as pessoas assim. - Annabeth debateu.

–Não vamos "matar ela assim". Vamos acabar com esse problema todo, só isso. - Aella respondeu antes que eu possa pensar em algo pra dizer. Seu tom de voz era de indignação.

Respirei fundo e cruzei os braços. Escorei nas costas da poltrona e basicamente desisti. Eles não iam se convencer assim. Não havia outra opção a não ser ir embora durante a noite. Aella se calou também, lendo minha expressão corporal.

Me doía pensar no que eu estava sendo obrigada a fazer. Era doloroso pensar que eu ia ter que largá-los, mesmo depois de tudo que eles fizeram para me salvar. Eles eram a minha definição de lar, um lugar em que se sente são e salvo. Em que há amor, não importa a forma. Eu os amava como nenhuma outra coisa.

Mas eu também não podia me tornar tóxica, junto deles. Se eu ficasse mais próxima de Korinna, ou até mesmo em algum perigo iminente, eu me tornava a letal Aimée. E eles ficavam medo ao me ver naquela versão, já tinha contemplado essa reação mais de duas vezes. Eles talvez temam pela própria vida, ou talvez eles temessem por mim.

Mas durante os últimos dias, eu havia percebido que eu era Aimée. Eu apenas fingia que ainda era Sophie. Não havia uma forma de balancear as três pessoas diferentes dentro de mim. A Assassina, O Fantasma, A Semideusa. Se existisse uma forma, eu não imaginava como poderia manter tudo em equilibro.

Então, para o bem deles, eu iria ter que me afastar de qualquer forma. Eu iria ter que sumir do mapa, talvez para sempre.

Eu começava a sentir aquela mesma frieza que estava sentindo, antes de Aella colocar seu fogo dentro de mim. E dessa vez, eu a abracei o gelo que se formava dentro de mim. É para o melhor. Se não, você não vai conseguir ir embora, falei comigo mesma. Você é fraca quando se trata deles.

O silêncio reinou na mesa por grande parte do tempo, então pequenas conversas foram surgindo na mesa. Comi um pedaço e meio de pizza e tomei refrigerante, totalmente quieta. Quando me levantei e sai, usando a desculpa de que iria me deitar, Nico me seguiu.

Uma pontada de pânico surgiu, mas eu obriguei o gelo a ir até esse sentimento e fazer ele sumir. Eu iria me livrar dele. Continuei andando no corredor, como se não soubesse que ele estivesse atrás de mim. Mas ao entrar para o meu quarto, deixei a porta aberta para que ele entrasse. Eu não tinha ideia do que iria dizer à ele.

–Eu sei o que vai fazer. - Ele disse assim que fechou a porta. Me virei para olhá-lo.

–Tirar uma soneca? - Usei um tom sádico. Ele pareceu não ligar pra isso.

–Você quer fugir, ir atrás da Korinna e das Adagas.

Mantive meu rosto livre de expressão. Por dentro, eu estava assustada pela sua dedução precisa.

O ignorei, por falta do que dizer.

–Viu? Você vai. - Ele veio por trás de mim e passou os braços pela minha cintura, me abraçando por trás.

O cheiro inebriante que ele tinha surgiu, um perfume masculino maravilhoso com uma pontada de cheiro de morte. O que supostamente deveria ser macabro, mas para mim não era mais.

–E se eu quisesse mesmo? Quem se importa com isso? - Coloquei minhas mãos sobre as dele.

–Eu me importo, porque quero ajudar.

Me virei para ele, ainda naquele meio abraço que ele começou. Me aconcheguei em seu peito largo e fiquei ali, sentindo o calor, literalmente, surgir entre nossos corpos. Me separei dele um pouco e o beijei. As barreiras que eu tinha levado muito tempo para erguer, derreteram como algodão doce na umidade. Ele me puxou para perto com uma urgência maior do que antes, e eu correspondi. Sua mão na base das minhas costas fazia o fogo lamber a minha coluna toda e fazia meu cérebro se confundir como se houvesse fumaça.

Com um impulso entrelacei minhas pernas no quadril dele, ficando da mesma altura que ele. Suas mãos percorreram minhas pernas, me apoiando e apertando. Só me dei conta do nível em que estávamos, quando eu senti o colchão macio embaixo de mim e o corpo de Nico acima de mim.

Ele estava sem camisa. Onde infernos havia ido parar a camisa dele?

–Acho que deveríamos parar por aqui. - Murmurei com um pouco de dificuldade, sua boca contra a minha.

–Aham. - Ele disse, continuamos nos beijando.

Continuamos nesse transe por cerca de mais um minuto, com ele me beijando energeticamente e eu correspondendo com ansiedade e desejo. De repente ele recuou, suas mãos estavam na minha barriga, por baixo da minha blusa.

–É, devemos parar. - Sua respiração era mais que ofegante.

Nos distanciamos um pouco e eu me levantei para beber água e organizar a aparência. Quando terminei o processo, me lembrei do que tinha que fazer.

Uma dor se espalhou pelo meu corpo. Mas estava longe de ser uma dor física. Era uma dor psicológica, por que lembrando do que estávamos fazendo cinco minutos antes.

–Você não tem nada a ver com o que eu quero ou não fazer. - Cada palavra que eu dizia, meu coração doía como se eu estivesse maltratando um filhote. Mas era pior, eu estava maltratando o único homem que eu amei verdadeiramente e de todo o coração. E o tipo de dor que eu estava sentindo, o gelo não funcionaria contra ela. Era forte demais.

O olhar de Nico era indecifrável.

–Está falando sobre Korinna e as Adagas? Sério, agora?

Assenti.

–Você está mentindo Sophie. Eu sei que está. - Ele podia me ver por baixo de todas as peles que eu usava para me esconder.

Ele se levantou da cama e se aproximou devagar, me envolveu em seus braços. Não pude lutar contra aquilo, não estava forte o bastante ainda. Quando seu tronco se aproximou de mim eu o beijei. Seus lábios estavam doces, contrastando muito com o amargo que eu estava sentindo dentro de mim.

Quando quebrei o beijo, a dor foi como quando Korinna fez um corte lentamente, por todo o meu tronco.

Me soltei de seu abraço, tirando seus braços do meu redor e o empurrando. E a dor foi como quando Korinna queimou a palma das minhas mãos.

–Eu não posso fazer isso. Desculpe. - Dei alguns passos para longe dele.

–Não estou te entendendo.

Virei de costas para ele não ver a dor estampada em meu rosto da mesma forma que uma criança tampa os ouvidos quando os pais mandam. Você não pensa, apenas age antes que possa processar completamente a ordem.

–Me desculpe, mas eu não aguento mais isso. Não posso ficar com você. Não quero mais. Eu não o amo.

E dessa vez, a dor foi como quando Korinna esfaqueou meu coração.O silêncio fez tudo pior. Foi como se ele não estivesse mais ali.

–O que diabos está dizendo Sophie?

–Eu não quero mais nada disso! - Gritei, me virando para ele e colocando a melhor expressão de raiva e frieza que pude. - Eu não o amo mais, faz muito tempo! Na verdade eu nunca senti algo real, foi só a vontade e a necessidade de estar com alguém.

Mais um minuto de silêncio.

–Você está mentindo, não sei por que, mas está. Por que você estava bem ali - Ele apontou para o canto oposto do quarto e para a cama. -, comigo. E nós estávamos nos beijando e você correspondeu como nunca havia feito.

Se eu não estivesse tão focada em partir seu coração, eu coraria.

–Que diabos você tem? Minhocas entraram na sua cabeça? A Flor de Lotus do Cassino está afetando sua mente? Eu não amo você e nunca amei. Eu só precisava de alguém pra me distrair, ganhar tempo enquanto descobria algo útil e interessante para fazer. E adivinhe, qualquer coisa está sendo mais útil que você. E definitivamente, até jogar paciência é mais interessante que você!

–Você é doente Sophie! - Ele usou um tom de voz frio e contido. Depois ele explodiu e gritou comigo pela primeira vez na vida. - Você finge que se importa, depois finge que não. Depois, vem dizer que tudo é mentira. Korinna não deve ter achado nada que presta no seu cérebro, a não ser as cobras que se enrolam ai dentro.

Dessa vez, a dor que eu senti não havia comparação nenhuma com qualquer coisa que Korinna tenha feito.

–Não ligo para o que quer ou pro que sente. Eu tenho coisas mais interessantes pra fazer Di Angelo. Eu tenho uma vida nova, e tudo o que precisei foi encantar você. Você é fraco. E eu definitivamente não quero saber de você, ou qualquer um nesse navio.

–Você sabe quantas vezes, todos nós, choramos por sua causa? Quantas coisas sacrificamos por você? Por que o que você está fazendo, é mais que errado! É doentio. Então, por Hades espero que perca tudo que preza. Eu já havia perdido.

Então ele atravessou o quarto com passos furiosos e saiu, batendo a porta com muita força.

Antes que eu não aguentasse mais, corri até a cama e peguei meu travesseiro. Enfiei meu rosto nela e gritei com toda a força que me restava.

Chorei tudo o que pude em um tempo limitado, por que os outros provavelmente ouviram a briga. Não demoraria muito para eles virem intervir.

Depois de uns poucos minutos, me levantei da cama e me obriguei a arrumar as minhas coisas. Encontrei uma mochila, enfiei minha carteira com dinheiro acumulado, algumas roupas e troquei a minha camiseta por uma blusa de costas abertas.

Desejei ter algo de Nico para levar comigo.

Sai do quarto ao mesmo tempo que Aella, no quarto ao lado do meu, saiu também. Ela não disse uma palavra sobre o fato de eu estar chorando, e eu não disse nada sobre o fato de que ela parecia tão triste quanto eu.

Então em silêncio, fomos até o deque. Fiquei feliz de não encontrarmos ninguém no caminho, mas era impossível que eles não viessem até nós no deck. Nós precisávamos ir, mas tinha algo nos prendendo ali.

A dor de partir daquela forma era horrível. Mas não tinha outro jeito de fazer aquilo. Se fizessemos de qualquer forma a não ser aquela, eles iriam atrás de nós novamente. Por que eles se importavam demais. E se importar conosco, era a última coisa que precisavam fazer. Que deveriam fazer.

Olhei para Aella e por um momento partilhamos da dor.

–Eu sinto muito. - Ela disse.

–Eu também. - Foi a única coisa que consegui responder antes que voltasse a chorar silenciosamente.

Passos barulhentos soaram pelo deck, vindos da escada.

Subimos na muro que cercava o barco.

Olhei pra ela. meu olhar dizia deveríamos ir.

Ela olhou pra mim, seu olhar dizia deveríamos ir.

Mas não fomos. Só ficamos lá na beirada, com o mar abaixo e o céu noturno infinito acima.

Então eles nos alcançaram. O silêncio pairava no ar, nenhum de nós dizia coisa alguma. Eu ainda estava chorando, não havia encontrado alguma forma de parar. Ou ao menos um motivo.

–O que estão fazendo? - A voz de Leo quebrou o silêncio, mas ela não passava se um sussurro.

Não respondi, não havia forma de eu responder sem começar a soltar soluços e falar em tom escandaloso. Olhei para Aella e ela tinha lágrimas nos olhos.

–Não precisam ir, porque estão fazendo isso? - Annabeth se pôs a dizer.

Olhei para trás. Eles estavam perto da escada, como se tivessem nos visto e congelado ali. Elizabeth e Elisa eram uma máscara de incompreensão. Percy, Annabeth e Leo pareciam assustados. Encontrei Nico na ponta do grupo, seus olhos avermelhados revelavam que ele havia entendido o porquê de eu te eu tê-lo tratado daquele jeito. Mas não me perdoaria, pelo menos não tão cedo.

Era exatamente o resultado que eu estava querendo causar nele.

–Não quero que me sigam, quero fazer as coisas por contra própria. É a minha vida, o problema é meu. - Acrescentei em tom afiado, mas não deu certo por que minha voz estava embargada.

Virei para o mar, subi os olhos para a lua. Era Lua Cheia.

De alguma forma, eu sentia que o poder que Hécate havia dado para mim ainda estava vivo dentro de mim. Só estava esperando por mim, esperando por esse momento que mudaria tudo.

Fechei os olhos e liberei minhas asas. Me preparei para levantar voo. Sabia que Aella estava pronta para voar ao meu lado, sem ao menos olhar.

Me desculpem, acrescentei em minha mente.

Então eu abri os olhos e levantei voo, indo em direção á lua.

Fim da primeira temporada


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Notas finais do capítulo

Então gente, é isso. Espero que tenham gostado, foi uma jornada e tanto. Tanto para mim quanto para Sophie, que teve mais mudanças de personalidade do que tudo. Quero dizer que é uma honra escrever para tanta gente que acompanha, vocês foram os únicos que me mantiveram aqui escrevendo nas várias vezes que pensei em desistir. E saibam que eu sou muito grata por todos que leem, é incrível ter tanta gente lendo, tantos acessos.

A segunda temporada vai ser postada aqui mesmo, não vou criar outra história. Facilitar a vida para ambos.

O que acharam do final? O que querem para a próxima temporada? Por favor, me contem e conversem comigo, me ajuda a escrever mais rápido a segunda temporada para vocês.

Beijos, até a segunda temporada.

Writer



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