A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 46
Tentativa Falha - &


Notas iniciais do capítulo

Bom capítulo e nos vemos nas notas finais ;)



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Manhattan não parecia tão movimentada à noite, quanto antes. Só parecia-se com uma cidade fantasma. Talvez até pudéssemos levar o crédito por ter feito essa cidade ficar basicamente abandonada quando o sol baixava, mas isso não era por nossa culpa.

Era tudo por culpa de Drake.

Aquele filho da mãe queria estar sempre um passo à frente, e sendo mais velho e mais experiente, sempre conseguia. Ele deveria ter algum braço direito que nos conhecia muito bem, afinal, fora ele quem chamara todos os caçadores de Sleepy Hollow. Fora ele que marcara nossa morte verdadeira.

O prédio tão conhecido apareceu logo à frente, e sem nem ao menos pedir permissão ao porteiro me direcionei ao andar que já estava acostumado a visitar.

Fui diretamente à segunda porta do andar, e entrei sem bater. Ouvi uma música sendo assoviada vinda da cozinha, e reconheci como sendo a de uma de suas refeições.

Passos pesados surgiram, e então uma figura alta e esguia, de cabelos castanhos. Seus olhos azuis claros pararam em mim e ele sorriu, mostrando os dentes perfeitamente brancos e alinhados.

– Kaus, como é bom lhe ver. – ele disse.

A animação não alcançou sua voz 100%, e eu não o culpava, afinal, quem gostaria de ver uma pessoa que havia tentado matar, viva em sua frente.

Drake me indicou o sofá para eu sentar, e se sentou numa cadeira de couro vermelho. Apesar de todo o piso ser claro, como as paredes, aquele lugar era a definição de prisão domiciliar. Não que manter suas refeições presas fosse um hobby, na verdade, ele nem as mantinha vivas, quanto mais trancafiadas. Nos dias em que ele se revoltava contra todos – o que acontecia com frequência de uns tempos para cá – Drake escolhia uma refeição para drenar, e se sentir menos “infeliz” com a imortalidade que lhe fora concedida.

Não, ser um demônio não era um trabalho fácil e muito menos agradável, mas havia maneiras de contornar o que havia sido feito.

– Então, diga-me, o que veio fazer aqui? – Drake perguntou, agora sem o entusiasmo falso de antes.

Sorri enquanto sentava confortavelmente no sofá, e lhe encarei.

– Estava por perto e resolvi fazer uma visita.

Ele riu.

– Nós dois sabemos que isso é uma mentira. – ele disse.

Tive que reprimir a vontade de fechar a cara e fiz um bico com a boca, de uma maneira sarcástica. Tão sarcástica que eu mesmo quis me socar.

– Drake, não tente passar a perna em mim. Nós dois sabemos que não posso morrer, de fato.

O sorriso que se encontrava em seus lábios, se alargou. Ele estalou os dedos, e uma menina ruiva magricela demais, e cheia de marcas de mordidas pelos braços, e pernas, apareceu vindo em nossa direção. Ela se sentou em seu colo, e tirou o cabelo da nuca.

– Morrer seria um privilégio que eu não concederia a você, Kaus. Sofrer por amor é a pior das coisas.

Se meu coração pudesse bater, certamente estaria palpitando em minhas orelhas. Então esse era o plano? Fazer com que eu sofresse por amor? Tudo porque não conseguia fazer sua própria mulher lhe amar?

– Esse é seu plano? – perguntei parecendo soar sarcástico.

– Isso ou arrancar sua cabeça do pescoço. – ele disse.

E sorriu mostrando que não estava blefando. Mas era difícil dizer, quando no segundo seguinte seus dentes perfurava a carne macia dos ombros da menina sentada em seu colo.

Apesar de ser um predador nato e descontrolado, Drake sabia muito bem como fazer para não deixar nenhuma – ou quase nenhuma – marca em qualquer parte do corpo de suas refeições.

Ele jogou a cabeça para trás, rindo como um maníaco. O sangue escorrendo pelo canto de sua boca, descendo pelo queixo, manchando sua blusa de algodão branca.

O cheiro de salgado me atiçou um pouco, e salivei. Drake abriu os olhos e mostrou os dentes completamente vermelhos e manchados pelo sangue. Eu conseguia ver seus olhos completamente pretos e as veias do pescoço e testa, saltadas, parecendo que ele tinha feito muito esforço, se transformando em sua verdadeira forma.

– Só porque sou um anfitrião muito generoso, mesmo que você seja uma visita inoportuna, deixarei que se sirva de uma de minhas meninas.

Lambi os lábios quando ele chamou uma mulher de cabelos absurdamente pretos e boca pálida. Ela não tinha mais vontade própria, isso eu podia ver dentro de seus olhos. Sua alma já estava totalmente entregue à Drake.

Bon appetit! – ele disse, voltando a atenção à sua refeição.

A garota não sentou em meu colo como a outra havia feito com Drake. Ela se agachou no meio de minhas pernas, e esticou o punho para mim.

Dei uma olhada na menina e quase tive pena, mas seu cheiro era maravilhosamente bom. Sem pensar muito, afundei os dentes na carne, tomando cuidado para tomar o necessário. Quando terminei, a menina nos braços de Drake estava desacordada, e à mercê daquele monstro. Limpei o sangue do punho da garota à minha frente com os dedos, e lambi, a liberando. Ela não agradeceu, chorou ou fez qualquer expressão. Só se levantou, abaixou a manga do robe vermelho que estava usando para cobrir a mordida, e sumiu pela porta da sala, pelo mesmo lugar que havia vindo.

Pigarreei alto e me levantei do sofá.

Drake me olhou, mais transfigurado do que antes, com sangue gotejando da boca, e mostrou os dentes tingidos de vermelho.

– Não a mate, se não serei obrigado a intervir.

Ele olhou para o corpo da menina, sorrindo ironicamente.

– Ops.

Balancei a cabeça em desaprovação e ele riu.

– Não se preocupe, não sou eu quem as mata. Ela tem sangue o suficiente para sobreviver. – e jogou o corpo da menina para o lado.

Senti um bolo se formar em meu estômago, e retribui o sorriso sarcástico.

– Espero não ter que lhe encontrar pelos próximos meses. A não ser que seja necessário. – disse. – Será necessário, Drake?

Ele fez uma careta.

– Não. – respondeu baixo demais.

– Acho bom.

E saí do apartamento, querendo ver somente uma pessoa naquele momento.

Não pensando muito nas consequências de ser visto por ninguém, entrei em um beco e subi pelas paredes, tomando impulso nos tijolos protuberantes, andando pelos telhados. Não poderia me dar ao luxo de ter mais alguns caçadores atrás de mim.

Quando vi o hotel, tentei conter a excitação que me corroía de certa maneira, percorrendo minhas veias, e abraçando meu coração morto e frio.

Respirei fundo e me concentrei na mente de Helena. Eu precisava acha-la.

Foi quando ouvi pensamentos perturbados e tristes, que estavam provocando sensações diferentes em mim. Eu sentia a necessidade de correr até a dona destes pensamentos e segurá-la nos braços, dizendo que tudo ficaria bem. Que eu estava ali para lhe proteger de qualquer coisa que viesse lhe fazer mal.

Entrei no hotel invisível aos olhos de qualquer um, e sem pensar muito, segui os pensamentos.

Eles me levaram até a porta de um quarto onde o número 82 brilhava pendurado. Bati com os dedos e o farfalhar de lençóis roçando em algo sugeriu que a pessoa havia levantado da cama.

Esperei por alguns segundos, quando de repente ela se abre. Helena estava com pijamas de flanela e meias rosa. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela esfregava os olhos.

– Eu te acordei? – perguntei sorrindo.

Ela retribuiu e abriu ainda mais a porta, esperando eu passar.

– Não. Já ia para cama.

Engoli seco.

Eu gostaria de passar a noite, conversando e rindo, mas era possível ver seu cansaço estampado na face.

– Desculpe não ter avisado que vinha.

Foi a vez de ela rir.

– Não é como se fosse a primeira vez. – disse.

Helena praticamente rastejou até a cama, e se jogou, cobrindo o corpo com o cobertor. Mas diferentemente do que eu havia previsto, ela não se virou e simplesmente dormiu. Ela acendeu a luz do abajur do lado da cama, e bateu as mãos para que eu me juntasse à ela.

Sorrindo igual a um idiota, me limitei a lhe olhar, e sentar na beirada da cama.

– Me diga, sobre o que queria conversar? - ela perguntou.

Não queria conversar.

Fui abrir a boca para falar, mas uma mancha arroxeada sobre um dos olhos me impediu. Toquei-a com a ponta dos dedos, e Helena se afastou.

– Foi aquele lobo que fez isso com você? – perguntei.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, e quando finalmente se pronunciou sua voz não passava de um sussurro fraco.

– Isso não importa.

– Importa sim, Helena! Você está machucada!

Ela se irritou.

– E você poderia estar morto! Agora chega desse assunto.

Tranquei a mandíbula para não falar mais nada, e tive que me concentrar em não socar alguma coisa.

– Vim ver se você estava bem, mas já vou embora. - sussurrei me levantando da cama, e quando já estava no meio do caminho ouvi sua voz.

– Espere.

Virei-me para encará-la, e vi que seus olhos demonstravam arrependimento.

– Fique. – sussurrou.

Suspirei e caminhei em direção à cama novamente, só que desta vez me deitei ao seu lado. Ela puxou meu braço para que passasse por cima de sua cintura e apagou a luz amarelada que vinha do abajur, se aconchegando em meu corpo.

– Por que você nos protege? – perguntei.

Ela tentava a todo custo nos proteger de um destino que já estava traçado, e era isso que deixava minha cabeça confusa. Helena era predestinada e treinada a matar os maiores seres místicos que já existiram, e ainda assim, estava deitada na mesma cama com um dos Finnik.

Ouvi-a expirar algumas vezes e sua voz sonolenta dizer:

– Não posso me dar ao luxo de perder vocês.

E ela caiu na inconsciência.

Sorri de leve, satisfeito por sua resposta, e uma dor confortável no peito fez com que eu me encolhesse, e pressionasse as costas de Helena contra meu torso dolorido pelas pancadas de hoje.

– Obrigada por tudo. – sussurrei, beijando sua nuca.

Fechei os olhos, e adormeci pela primeira vez em mais de dois séculos, nos braços da pessoa que amava.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? kkk Enfim... Espero que estejam pois a fic vai ter mais uma temporada! YAY!!!!
Mas na verdade é somente a continuação do livro, se não a história terá 12031 capítulos hahaha
Beijooooos e comentem o que acharam :D
Ju!



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