Nos Induziram Até Aqui escrita por Deus Ex Machina


Capítulo 2
Target 01: Abet




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Nos induziram até aqui || Deus Ex Machina

***

Capítulo I || Abet

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Lambo esperava desleixadamente o tempo passar. Foram horas passadas do vôo do Japão até a Itália, mais um bom tempo sentado naquela cadeira em que agora estava, mais várias desculpas alternativas registradas no guardanapo para explicar o porque de não ter aparecido antes, e Lambo tentava em vão se preparar para enfim por os pés n'A Casa.

Tantos ruídos abafados pela música alegre, tantos saltos altos pulando oferecidamente pelas pistas, tantas histórias de guerras e de temores tremulando pelo papel de parede onde mulheres da vida e gente fora da lei viravam os maiores conhecidos sob alguns toques ousados, e, o jovem continuava imerso em seus próprios pensamentos; ora ou outra voltando sua atenção ao copo que segurava.

Era patético como o orgulho pode se transformar naquilo que te faz passar vergonha. Patético como a vergonha que sentia na presença de alguém se camuflava no seu orgulho. E ele, patético como era, continuava a fingir que não se importava com nada. Novamente, alguém mudou na jukebox a canção que flutuava pelo ambiente.

Por um momento ou outro ele sentia que seus ombros estavam tensos demais, que sua boca estava apertada demais ou que estivesse sendo criança demais, mas não conseguia pensar em nada que pudesse melhorar isso. Às vezes ele realmente acreditava que isso tudo era culpa daquela cidade, daquele país. Logo, a saudade de sua vida leve e normal em Naminori apertava seu peito e ele começava a se perguntar se, talvez, a meta que almejara por toda a sua vida era impossível para alguém como ele cumpri-la.

Quem sabe, no final, ele sempre seria visto como de fato era: era, como sempre temia que fosse: uma criança.

―Não acha que seus pais já devem estar preocupados, jovem? Sabe, não é bom que me peguem vendendo bebidas alcoólicas a um adolescente como você. -- o barman pergunta, olhando-o sob aquelas ridículas sombrancelhas grossas.

Um sorriso zombeteiro passa pelos verdes olhos vazios do guardião Vongola.

―Então você não deveria ter vendido em primeiro lugar, não?

As pessoas riam e gritavam no salão. Pela animação, certamente as horas não seriam as mais apropriadas pra ele ficar ali naquele bairro. Muito menos desarmado como estava. Se certas pessoas ficassem sabendo disso, as coisas ficariam feias para ele quando chegassem à Casa.

―Tsc! Essas crianças de hoje em dia não dão mais valor ao ser humano.

―Fala o da geração que riu das bombas nucleares jogadas em Hiroshima? – brincou, desafiante.

―Não fale coisas que você não sabe, rapaz!

― Então do que é que eu vou falar?

O barman lançou um olhar frio enquanto limpava o balcão. Uns dois ou três homens visivelmente beberam mais do que deveriam e continuavam a encher o copo. Isso irritava o funcionário, não era mais jovem como costumava ser quando achava essas cenas engraçadas e sua paciência também não. Um, muito mal vestido, não tinha nem onde cair morto. Outro, um professor de faculdade que passava mais tempo bebendo do que ensinando, não paravam de murmurar. E este último, mais novo e mais revoltado que o resto, que não parava de suspirar e olhar para a porta.

― Além do mais, já completei a maioridade há três dias.

― É claro que sim, junto com todos os outros pirralhos que vem tentanto me enrolar.

―Se você escutasse mais as suas próprias palavras seria um sábio, velho.

―Quando você virar um homem da mesma idade que sou, repita esta frase até perder a voz.

―Quando eu virar um homem da mesma idade que você é, estarei tão podre quanto você está!

E com a boca mais dura também, Lambo pensou. La traviata começou a tocar numa versão vulgar com pandeiros e... Esquecera o nome; aqueles objetos que chacoalham: estava bêbado, pediu outra bebida, não lembrava nem onde estava.

―Eu não vou vender mais nada pra você moleque. — O velho deu um sorriso que faltava mais de um dente— Sei de onde você é: acredite, vão te matar quando descobrirem.

― SIM! ― o professor embriagado acordou ― Velhos podres governando esse país velho de merda!

―Mas eu acabei de pagar! — Lambo se exaltou — Expulsar as pessoas é fácil, mas e devolver o dinheiro? Devolva meu dinheiro então! – Quando o velho colocou as moedas sobre o balcão, Lambo pressentiu que ia começar a chorar. Surpreso consigo mesmo, coçou os olhos. Talvez seja melhor eu parar de beber tanto, ele pensou, vamos Lambo, tolere, tolere. — Por essa eu não esperava. Só mais uma, eu juro!

Mas o barman só o deu atenção depois de gritar com o professor:

― Volte a sonhar com sua idolatrada faculdade, Renato! E quanto a você, jovem, por que não para de beber? Aqui, tua taça: cheia de água gelada pra ver se o juízo volta, cortesia da casa.

― Não é esse tipo de água que eu quero beber...

― Essa vida desses políticos podres deveriam ser exterminadas! Viva a nossa Itália! Viva a nossa história! – continuava Renato.

―Não me faça rir rapaz, já vai ter um coma alcoólico. Agora, vá para sua casa! Há um serviço de táxi na esquina, eles te levarão lá. Senão, na outra esquina tem a polícia!

― Are, are! Por que não os chama pra eles virem aqui e aproveitarem pra prender você e o resto desses vagabundos que estão aqui! — Lambo resmungou dando um gole na taça— Mas que... : isso aqui não tem álcool!?

A essa altura, o professor bradava. ―Malditos mafiosos! Deveriam todos ser exterminados também, juntos com aqueles pedófilos do Gabinete! – A bebida o fazia um perfeito político. (Sem votos, é claro.)

― Eca, isso é leite!? Me toma por criança ao tomar leite antes de dormir? Não tomo! — Mentira.

O outro bêbado, conhecido na região por vender a própria filha para pagar as dívidas com as jogatinas, sibilava trechos d’A Traviata, inspirado por toda aquela politicagem.

— Onde isso é leite? Eu te dei -

Os homens e as mulheres do bar começaram a olhar zangadamente para o trio de bêbados no balcão. O barman, já experiente nessas coisas, acenou a mão, demonstrando que tudo aquilo não passava de conversas de gente que perdera o juízo. E guinchou para o trio:

― Se vocês querem arranjar confusão com alguém, que se matem inutilmente, mas fora desse estabelecimento! Não me venham arranjar problemas quebrando uma ínfima taça se quer! Voltem para suas casas!

“Ah, não!” Lambo proclamava, “Eu não quero voltar! Eu quero minha bebida, seu velho ladrão!”.

O barman ia dizer algo, mas sua atenção foi tomada por um cliente. A fala era alta, assim como ele, e dizia palavras muito extensas para o Guardião do Trovão se lembrar. Lambo ficou extremamente irritado. E isso o deixou ainda mais tonto. Por que o velho não lhe dava logo sua taça? Sentiu algo se mexendo em seu bolso, e por pouco não pegou a arma pensando que era algum desafeto: a vibração, porém, vinha de seu celular. Ele tinha dinheiro para pagar pelo bar inteiro. Por que o velho não lhe dava logo sua taça? Procurou nos bolsos algumas notas mas parecia ter dez cotocos em vez de dedos e não conseguia achar nada. Pegou o guardanapo com suas anotações e pôs no bolso.

E seu celular tinha tocado... Ou era impressão sua... Riu, debil. Bebeu o resto do leite.

Mais calmo e mais quente, foi para uma poltrona abandonada ao fundo do estabelecimento, onde um trio de casais “brincava”. Apoiou as costas no estofado fedido e descansou os olhos.

Tudo pareceu um grande pesadelo então, e nem ele distinguia o que aconteceu do que imaginou depois. Às vezes empurravam sua poltrona e acordava com um peso estranho na garganta e voltava ao sono. Entretanto os casais já tinham ido embora, e era mais provável que tivesse acordado só. No seu bolso, o celular vibrava. Levantou e foi ao banheiro, tropeçou em algumas pessoas e voltou a sentar-se no sofá fétido. O mundo mergulhava em névoa, invisível, palpável e putrefata, para, ao acordar na iluminação cada vez mais vermelha do estabelecimento, achar pessoas velhas e pessoas novas, algumas o olhando, algumas não. Poderia ter sido um sonho, mas teve a impressão de ver o homem alto, de fala complexa, a sua frente. Sorriso de orelha a orelha, mas sem dizer uma palavra, embora seus lábios se mexessem constantemente.

Sem mover as pernas, viu o corpo ser levantado e o homem cada vez mais próximo. O ar cheirava a cachaça. O barman apareceu, pano de prato no ombro, discutindo algo essencial com o homem alto. Este riu do velho e deu-lhe dinheiro.

Lambo perguntou-se por que o sonho tinha mudado? Geralmente Tsuna aparecia em algum momento a partir daqui... E Lambo estava no lugar errado. Era para ele estar nas ruas de Naminori, um gato preto aparecer e ele tentar pega-lo. E então Tsuna apareceria, não era? Perdeu a consciência, e voltou a ela logo em seguida. Ele estava confuso. Por que o sonho tinha mudado?

O jovem italiano percebeu que algo estava errado, mas seu corpo entorpecido não respondia. Sentiu um medo mortal e quis gritar, mas da sua boca saiam apenas murmúrios. Buscou sua boa e velha Beretta, sumiu. Vasculhou em sua mente, a consciência pouco a pouco entrando em pânico estava passo a passo mais próxima da surdina, e não achou nada. Sim, agora entendia. Isso não era um sonho. Era o fim — deixara a sua arma e sua box, seu instrumento de luta mais precioso, em casa. Como fora desprecavido!

Uma valsa triste ecoava pelo bar agora. Ou já estariam fora dele? Se perguntou quanto tempo se passara desde que dormiu. Um homem alto corria a frente e falava algo. Onde quer que estivessem era um lugar frio, e quem quer que estivesse o carregando começou a correr. Sentiu que estavam descendo. Seria descendo a viela? Para chegar ao bar era necessário subir uma viela, e antes disso atravessar o semáforo, e ainda antes disso fazer uma cruva no quarteirão. A brusca curva que fizeram jogou seus pés contra a parede e aquilo doeu. Começaram a subir de volta, e o homem alto falava cada vez mais alterado. De repente, Lambo viu de novo a luz avermelhada do bar, e sentiu o contraste do calor do ambiente com o frio em que estavam.

O barman não estava lá.

Havia alguma coisa muito errada.

Jogaram o Guardião da Tempestade no chão, como se fosse um saco de carne. Sentiu unhas longas puxarem seu cabelo para trás; colocaram uma lâmina fria em seu pescoço. Pressionaram ameaçadoramente, até que as mãos maldosas se afastaram muito rápidas, mas com esse movimento brusco cortaram a garganta do guardião Vongola, num corte liso e dolorido. O corpo do homem alto foi jogado longe, num barulho tremendo.

Os bêbados do bar se agitavam em roda.

Lambo ficou no chão, sangrando. E ali escutou o barulho forte mais duas vezes, seguidos de murmúrios. Pelas frestas dos olhos, do ângulo estranho em que estava, viu pés se debatendo até pararem a convulsão. A sua garganta ardia, e quase caiu no sono depressivo de novo quando escutou passos tão altos que pareciam que quebrariam seus tímpanos.

Seus olhos se abriram, a visão embaçada viu um vulto. E fogo, ele viu fogo, e estava muito perto de seu rosto. Então alguma coisa veio em sua direção ou deve ter vindo porque Lambo ouviu o crac quando aquilo começou a pegar fogo também e os gritos e a correria das pessoas. Decerto, o barman não ia mais vender nenhuma taça agora. O vulto aproximou-se mais e Lambo percebeu que era ele quem estava pegando fogo, sim, o bar estava intacto, era ele quem pegava fogo, e as chamas tinham um aspecto estranho e as cores vivas eram tão familiares e o vulto cheirava algo que Lambo não se permitia lembrar e quando foi pego no colo e seus olhos se adaptaram a intensidade da luz, agora tão perto, percebeu que as chamas eram mais do que pensara no principio, eram as chamas do Dying Will, então Lambo conseguiu ver.

Era Tsuna ali. Era reconhecível pela sensação de seu toque. Ele estava lá de verdade. Tão perto... O calor que a chama do Dyng Will que o Vongola emitia era tão reconfortante que parecia lavar todos os seus problemas embora.

Era tudo tão fantasioso, tudo tão borrado que não parecia ser a realidade. Era como se ele estivesse vendo um filme passar com bastante sono, como se enquanto estivesse assistindo seus olhos se fechavam clamando por descanso e desconsiderando sua vontade.

―Estranho—Ele riu baixinho.

Tsunayoshi olhou para baixo pela primeira vez desde que entrou no bar. Lambo respirava serenamente e começara a se encostar-se ao corpo do mais velho. Apesar de toda sua raiva, o japonês sorriu e passou a mão pelos cabelos negros do italiano enquanto concertava a bagunça que ele fez. Pessoas correndo para sair do bar, o que sobrou de uma cadeira estava pegando fogo, dois corpos ensanguentados no chão... E como a sorte nunca facilitava nada, um grupo de homens olhando desafiadoramente. Não eram mais que cinco, e provavelmente eram parceiros dos outros dois caídos que tentaram sequestrar Lambo.

Tsuna segurou o guardião mais forte.

― Maldito! ― O maior deles xingou. ― Por que você não luta como um homem? Acha bonito, ficar... ficar desse jeito? ― Cuspiu no chão. Seus olhos avermelhados fitavam a chama na testa do Don Vongola. ― Saia daqui. Somos em maior número que você.

Os outros quatro se aproximaram. Sawada não se moveu.

Muito mal que estivessem em território de uma família apática à Vongola desde a Nona Geração. Muito mal que além dele e o jovem bêbado, o único Vongola nas redondezas era o chofer, que estava longe.

― Você nem sabe lutar com isso, não é? ― O homem apontou com o queixo pras chamas. ― Você é novo, rapaz, e não sabe com quem está lidando. Largue o bêbado, erga as mãos para cima e apague...a-pague isso.

Os homens se aproximaram um passo. A distância física era menos de três metros. Um era alto, como um urso. Outro, um rapaz verde, provavelmente era esta a sua primeira missão. O terceiro era loiro e o quarto enfiava a mão no casaco perigosamente. Sorriu quando Tsuna olhou pra ele, um sorriso horrível com todos os dentes vermelhos.

― Gosta do meu sorriso, sua puta? Nem bater direito você sabe. ― Secou com as costas da mão o sangue do queixo. Seus olhos riam com malícia. ― Sabe o que eu vou fazer com você? Vou comer esse seu traseiro podre e quando te encontrarem você vai estar tão fodido, mas tão fodido que ―

Foi então que Tsuna ouviu algo se aproximando as suas costas. Gennaro atirava uma adaga pra cima dele. O japonês afastou o pé esquerdo e rodou. A lâmina quase pegou os pés de Lambo; quando a volta foi completa, o inimigo inteiramente de costas para si, se perguntando o que foi que aconteceu, Tsuna chutou as costas do homem de tal forma que foi atirado ao menino verde. A sua intuição tinha acertado. O menino, atrapalhado, acabou caindo junto com o homem e agora só restavam três. Suspirou.

―Senhores, acredito que não precisamos de mais nenhuma hostilidade. Então gostaria de pedir licença para me retirar — O homem cuspiu mais sangue da boca e murmurou um xingamento. Os tendões de sua mão se flexionaram claramente e Tsuna viu que tinha sacado a arma. — A menos, é claro, que tenham algum problema com a Vongola — Lambo remexia a cabeça em seu peito como se ele fosse um travesseiro.

O Decimo Don Vongola ouviu o sussuro do vento. Sentiu a quebra do ar assim que o objeto passou a milimetros de sua bochecha. Virou-se para o homem alto e o rapaz loiro. — Assim como vosso amigo aqui, esse que nos fez a gentileza de decorar a parede com os próprios miolos depravados.

E o objeto era uma bala e a bala fora disparada certeiramente à cabeça do quarto homem atrás de si. Explosões de sangue mancharam a parede puída vindas de um homenzinho agonizante. Gotas resvalaram no terno escuro do Don.

Qualquer resistência que ainda sobrava nos dois homens restantes foram deixadas de lado. ― Vão ou fiquem para morrer. ― Eles trocaram um olhar entre si e sairam rápido. E quando Tsuna pensou que tinham ido embora, o louro parou na porta e olhou pra ele:

― Você acabou de gravar a sua tumba, sua puta! Nós vamos achar você, nós vamos nos lembrar desse seu rosto! Seu puto de merda!

Tsuna sentiu gosto de ferro na boca. Seus punhos coçavam. Aqueles malditos. Não faziam ideia com quem estavam falando. Tentaram sequestrar Lambo, mas nem sabem a quem ele serve. Malditos.

Sorriu, numa cortesia gelada.

― Mas é claro que vão lembrar do meu rosto. Vai ser uma lembrança nítida pra vocês. No inferno. A última lembrança da vida breve que terão.

O outro cuspiu.

Tsuna fechou os olhos e respirou. Ouviu quando sairam do bar. Ouviu quando desceram a viela. Tanta confusão e no final nem soube o motivo, pensou. Se não fosse por Mukuro... Olhou para Lambo, dormindo em seus braços. Ou será que fora drogado? Só quando acordasse que iria saber.

Ao saírem, o Vongola deu uma piscadinha ao velho barman ― que piscou de volta ― e depositou um cheque em branco no balcão. Antes que qualquer mafioso de meia tigela viesse dar uma de esperto, o velho tirou o cheque do balcão e o guardou no mesmo bolso de um pistola pequena mas ainda quente. Acontece que este era um estabelecimento bastante frequentado pelo Timóteo, o Nono Don, quando jovem, antes de todas as discussões entre ele e a família mafiosa que governava essa área acontecer, e, desde aquela época, o barman tomou simpatia pela tal famiglia Vongola.

Só de pensar no que teria acontecido com Lambo caso Mukuro não o tivesse avisado dos planos da família rival fazia sua cabeça doer. O Guardião do Trovão deveria ter ido direto À Casa. Mas, como sempre, Reborn fora o primeiro a saber da chegada do adolescente à Itália e só o comunicara ao Decimo por causa do aviso de Mukuro. Eu devo ser um péssimo chefe nunca sei onde meus guardiões estão. Pensar em Reborn e em Mukuro o deixava mais zangado. Mas pelo menos sou uma boa marionete.

E Lambo, quente e seguro no carro, via as luzes de Vinice sem realmente entende-las, naquela nitidez cega de bebês sonolentos. Suas mãos moles atrapalhavam o curativo que Tsuna fazia em seu pescoço, puxando seus cabelos e sua gravata, como a entender a presença dele ali.

— Senhor, tenho certeza que não há ninguém nos seguindo. Pra onde vamos? — perguntou o chofer.

— Para A Casa — o mafioso respondeu logo. — O mais rápido possível.

— Como quiser.

O trânsito estava bom, o que permitiu a Benedito uma velocidade maior. Tsuna sorriu. O vento no seu rosto o fazia sentir... livre, outra vez. Olhou o céu. Até há alguns anos atrás, Tsuna via tudo lá de cima. Sua mente era livre, como o céu, e ele conseguia ver tudo o que quisesse, enquanto sentia o vento frio no seu rosto. Ele voava.

Bons tempos. Realmente, bons tempos que não voltam mais.

― Há algum recado, Benedito? ― Tsunayoshi perguntou.

― Não, senhor.

― A CEDEF não contatou?

O motorista olhou pro Don Vongola pelo retrovisor, mas desviou os olhos rápido.

― Não a mim, senhor. Deveriam ter feito?

Tsuna passou as mãos nos cabelos, cansado.

― Não. Não se preocupe com isso.

Há quanto tempo não mais o contatavam sobre as decisões mais importantes? Será que alguma vez realmente fizeram isso? Mas, sim, fizeram. E Tsuna se lembrava quando Gokudera ligava frequentemente quando não passava a maior parte do tempo ao lado de Tsuna. E não era culpa de seu Guardião da Tempestade. Hayato avisara. Avisara várias vezes e se preocupara mais do que o próprio Decimo... Irie, Takeshi, Ryuhei... Até Lambo. E agora Tsuna via que deveria ter se preocupado mais naquele tempo, que se deixara levar demais, e via como agiria se algo assim voltasse a acontecer; entretanto, passado é passado e as consequências do erro já eram grandes demais.

Mas uma coisa ele aprendeu. Aprendeu pra nunca esquecer. Nunca mais iria deixar a vida pessoal de Sawada Tsunayoshi atrapalhar a vida do Decimo Vongola. Um não era compatível com o outro. Um era filho de uma mãe avoada e um pai descuidado. Outro era filho do sangue da máfia. Quando os dois se encontravam, a vida de nenhum acontecia. Simplesmente não há como quebrar a barreira entre seus mundos.


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Notas finais do capítulo

¹ “Abet” é uma palavra inglesa. Significa: Encorajar alguém a fazer algo errado, especialmente um crime.

² Beretta é o nome genérico atribuído à fábrica de armas de fogo italiana Fabbrica d'Armi Pietro Beretta S.p.A., cujo fundador foi Pietro Beretta, e às armas por esta fabricadas.

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Amig@s, há quanto tempo. Não irei mentir: tinha esquecido desta história quase que completamente. Desde que não recebi nenhum tipo de feedback do ultimo capítulo, me dediquei a outros projetos com fandoms anglicanos, onde isso não é problema. Eis que descubro que recebi sim uma review e isso me fez sentir tão culpada que decidi publicar o resto dos capítulos que tenho guardado. Não sei se depois deles escreverei mais, meu estilo de escrita e meus gostos mudaram muito. Mas uma coisa é certa: vou publicar os outros três capítulos engavetados.

Como esse é um par raro acho que posso fazer uma grande diferença para aqueles que como eu, gostam. Então aproveitem e até próxima quinta!



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