Eu realmente fiquei impressionada com o que Germán disse. Não tive reação nenhuma. Fiquei estática. Ele-me-ama. Ele me ama! Sabe quando você é apaixonada por uma pessoa e descobre que o sentimento é recíproco? A melhor sensação do mundo.

Abri os olhos na menor velocidade possível. Eu estava deitada em uma cama de hospital, e Germán estava sentado em uma poltrona ao lado. Segurava minha mão esquerda com suas duas mãos e sua cabeça estava abaixada. Ele chorava. Germán chora? Nunca pensei que algum dia na vida eu iria ver Germán Castillo chorando. Me comovi com isso, seu olhar transmitia desespero. E, num ato praticamente impulsivo, acariciei suas mãos com meus dedos.

Ao sentir meu toque, numa fração de segundos Germán levantou a cabeça para me olhar. Quando olhou em meus olhos abertos, um sorriso esperançoso brotou em seu rosto. Correspondi sorrindo de volta. Mas de repente seu sorriso se desfez e seu semblante adquiriu uma expressão de tensão.

- Angie! - ele disse meio gago. - Angie, você está bem? Como se sente? Quando acordou? Ouviu algo que eu disse? - começou a fazer perguntas sem parar. Entendi o motivo do seu desespero quando ele perguntou "ouviu o que eu disse?". Germán estava com medo de eu ter escutado o que ele me falou há dois minutos atrás.

- Calma, Germán. Eu acordei agora, não ouvi nada, e... - obviamente menti, eu ouvi tudo sim, mas não queria deixar a situação mais complicada e constrangedora.

- Ok, calma, Angie, não fale nada. Vou avisar o médico sobre você ter acordado. - ele se levantou e saiu.

Já sozinha, respirei fundo. Eu estava confusa. Germán me amava, mas e? Não adianta nada ele me amar se ele não toma nenhuma atitude. Ele é um homem bastante reservado, porém se me ama mesmo, deveria tomar providências. De qualquer modo, Germán se preocupou comigo. Isso estava claro em seu olhar, seu semblante, suas bochechas molhadas por conta do choro...

Minha cabeça começa a doer muito em meio de tantos pensamentos. Tento me distraír, pois não tem muita lógica uma pessoa que está no hospital - e por sinal, em caso de emergência - estar preocupada mais com sua relação amorosa do que com o próprio estado.

Olhei em volta. O quarto era grande, havia uma televisão, um banheiro, uma poltrona e a cama na qual eu estava deitada. Estranhei a quantidade de aparelhos ligados em mim, principalmente os tubos nas minhas narinas. O que tinha acontecido comigo? Não lembrava. 

Percorri o olhar pelo meu corpo. Eu vestia uma camisola de hospital, e estava cheia de queimaduras e arranhões. Me assustei com tantas marcas. Ignorando isso, me estiquei para alcançar um copo de água que havia em uma mesa ao lado da cama. Na mesma hora, o médico e Germán adentraram o quarto.

- Angie! - Germán gritou quando me viu e se aproximou correndo. - Não levante. Deixe-me que eu pego a água.

Me encostei de novo e o moreno deu o copo em minhas mãos. Bebi um gole enquanto os dois homens me encaravam. O olhar de Germán era o mesmo: preocupação. E o médico parecia estar me analisando.

- Senhor Castillo, poderia esperar na sala de espera? Tenho que conversar com a senhorita Angeles a sós. - o médico falou.

- Claro, doutor. - Germán se retirou.

O médico se aproximou e se sentou na poltrona que Germán estava quando eu acordei. Ele respirou fundo e disse:

- Como se sente?

- Ahm... estou com dor de cabeça, apenas isso.

- Deve ser alguma reação da anestesia geral, logo melhora. - o doutor fez uma pausa. - E a respiração?

- Ah, eu estou conseguindo respirar, mas com certa dificuldade.

- É normal, no começo é assim mesmo. - ele começou a retirar os aparelhos que estavam ligados a mim. - O que me intriga é: por que demorou tanto para acordar?

- Uai, doutor, eu não sei!

Agora, sem os tubos respiratórios, minha respiração ficou mais ofegante. O médico se sentou novamente na poltrona e me analisou como fizera antes. Eu estava com um pouco de medo, pois seu semblante era sério a todo momento.

- Deve agradecer muito ao homem afável que estava aqui agora mesmo. - ele disse num suspiro.

- Quem? O Germán? - perguntei e ele assentiu com a cabeça. - e por quê?

- Bom, senhorita Angeles, se não fosse por ele, você teria morrido. Não se lembra da noite anterior? - eu só me lembrava do incêndio, mas depois da fala do médico comecei a me lembrar de que fiquei presa lá no restaurante em chamas. Então assenti com a cabeça enquanto olhava para um ponto fixo. - O senhor Castillo te salvou.

Levantei o olhar incrédula. Germán me salvou? Como assim?

- Me salvou? - indaguei.

- Sim, senhorita Angeles. Se ele não tivesse entrado no restaurante e te buscado, você estaria... morta.

Neste momento, minha boca se abriu num completo O. Germán realmente feliz isso por mim? Ele se arriscou deste jeito? Por mim?

- Bom, senhorita, agora está tudo bem com você, apesar de não saber o motivo de você ter apagado durante 15 horas. Deixou todos preocupados. - ele disse mais animado e eu dei um sorriso torto. - Olha, vou te dar esta pomada para que você passe todos os dias nas queimaduras. - me entregou a pomada. - Assim melhora mais rápido.

- Obrigada. - agradeci.

- Já está liberada, senhorita. - ele anotou alguma coisa em um papel e logo o deu para mim. - Pode ir para casa.

O médico se retirou e me deixou sozinha, refletindo. "Germán Castillo me salvou" era a frase se escoava na minha mente. Logo, o próprio Germán Castillo entra no quarto de novo.

- Germán! - exclamei e fiz um gesto para que ele se aproximasse. Assim ele o fez.

- Tá tudo bem?

- Sim, está. Graças a você. Obrigada por me salvar. - o abracei com força e ele demorou um pouco a corresponder, mas logo o fez.

O abraço durou muito tempo. Ele acariciava minhas costas enquanto eu - que estava com a cabeça apoiada em seu ombro - brincava com seus cabelos.

- Angie... vamos? - ele perguntou.

Me afastei e sorri assentindo. Dei-lhe um beijo na bochecha e saí da cama para me trocar.

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Pov Off

Germán e Angeles chegaram ao hotel que estavam hospedados. A mulher estava com dificuldade para andar, pois sua perna estava dolorida depois que a madeira caiu em cima dela. Então Angie se apoiava em Germán para andar.

Chegaram ao quarto e Germán a pôs sentada na cama. Ele se retirou do dormitório falando que ia resolver umas coisas. Angeles sentiu vontade de ir tomar banho. O banheiro estava a sua frente, então se levantou e foi andando com cuidado até lá, se apoiando nas coisas para não cair.

- Tia! Cuidado! - Violetta adentrou o quarto e correu até sua tia.

- Vilu! - elas se abraçaram.

Outro abraço demorado. Até que Angie ouviu o choro de sua sobrinha e a largou.

- O que foi? - Angie segurou o rosto da morena.

A menina voltou a abraçá-la com força e disse entre o choro:

- Ah, Angie, eu só estou feliz que você está aqui. Eu não quero te perder. Só de pensar que eu quase te perdi sinto um aperto no meu coração. Eu não ia aguentar viver sem você, tia. Eu te amo muito.

Elas ainda estavam no abraço. Angeles sorriu sem ser vista e afastou sua sobrinha novamente. Levou suas mãos até seu rosto e limpou as lágrimas.

- Não chore mais, eu tô aqui, minha princesinha. Sempre irei estar. Também te amo muito, Vilu.

Germán entra no quarto com León e ambos param ao ver a cena que em frente ao banheiro, estava ocorrendo. Germán sorriu ao ver como Angie tratava Violetta. Como uma mãe.

Quando as duas viram que os dois homens estavam ali, estenderam os braços e então eles se aproximaram para um abraço em grupo.

Estavam todos emocionados. A ventura que Angeles teve de sobreviver é algo raro, haviam poucas chances, e agora estavam comemorando por ela ter conseguido se safar da morte.

- Bom, eu e o León estaremos em nosso quarto. Se precisar nos chamem. - Violetta disse enquanto se retirava com o garoto.

O silêncio pairou no ar. Angeles e Germán estavam em um clima um tanto tenso. A proximidade causava isso, e agora que ela sabia o que ele sentia por ela, estava mais envergonhada ainda.

O celular de Germán começa a tocar. Ele o tira do bolso e faz a maior cara de assustado quando vê no visor quem era.

- Quem é? - Angie questionou curiosa.

- A Esmeralda. - ele respondeu tenso e Angie franziu o cenho.

- E qual é o problema? Ela é sua namorada!

- Acontece que... desde que chegamos, eu não liguei para ela.

Angie fez uma cara surpreendida, tentando parecer normal e esconder o seu ciúmes.

- Por que não???

- Sei lá, eu esqueci! Ela deve estar furiosa!

- Furiosa é pouco. - Angie comentou e Germán lançou-lhe um olhar indignado.

- Você não está ajudando. - ele disse sério, mas Angie não aguentou segurar a risada.

- Atende logo, Germán!

- Ok, ok, e enquanto isso você tome cuidado.

- Tá, eu vou tomar um banho.

- Tenha cuidado para não escorregar, você não pode se machucar mais. - Germán concluiu e atendeu o telefone, pensando em uma boa desculpa para dar à Esmeralda.

Pov Angie

Entrei no chuveiro e relaxei diante a água quente. O frio em Vancouver só aumentava e portanto meus banhos eram cada vez mais quentes.

Fiquei bastante tempo parada, pensando, enquanto a água escorria pelo meu corpo. Eu me sentia estranha, como se acabasse de voltar de uma guerra e estava toda destruída. Era uma sensação horrível. Pior ainda eram os machucados pelo corpo, que ardiam muito com o contato com a água. Sorte que eu era forte o suficiente para suportar a dor.

Quando saí do banho, me enrolei na toalha e fui para o quarto pegar minha roupa, mas obtive uma surpresa: já havia uma roupa separada para mim, em cima da cama.

Estranhei. Mas mesmo assim, peguei a roupa e antes que eu pudesse voltar ao banheiro para vestir-me, notei o bilhete colado no pé da cama.

"Separei a roupa para você, Angie. Estou aqui no salão de jogos do hotel, com a Violetta e o León. Quando terminar de se arrumar, me liga do interfone do quarto que eu subo para te ajudar a descer até aqui".

Sorri ao terminar de ler. Germán estava cuidando de mim com tanta delicadeza que eu até estranhava, mas de um jeito bom...