Em breve escrita por Physis


Capítulo 2
A garçonete e o verde.


Notas iniciais do capítulo

Os primeiros capítulos serão assim, um tanto descritivos, para apresentar as personagens. Mas atentem ao contexto porque pequenos detalhes poderão fazer muita diferença no futuro. A dica é refletir, e não apenas ler superficialmente, afinal, nem tudo pode ser o que parece...

Apresentando:
Lucy Lee Black, de Hannah Ariel.
Greg Moreal, de Afrigg
Sophie, de Gabriela Namie.



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Lucy-Lee Black, ex-interiorana, fora para Dublin, capital da Irlanda, cerca de dois anos atrás para estudar engenharia mecânica.

Levou consigo seu gato, Eros e o ódio pelos pais, dos quais era um alívio se ver livre.


Mas não tão livre. O custo de vida era diferente em Dublin e ela acabou tendo de ficar numa república controlada por uma senhora que não tolerava nem animais, nem barulho.


Sobre o gato, ela conseguiu convencer a velha. Sobre suas costumeiras festas à noite, ela precisou se habituar a deixar de ser a organizadora e simplesmente voltar tarde para a nova casa.


De qualquer maneira, Lucy trocaria a noite pelo dia, já que agora se sustentava trabalhando numa casa noturna - uma espécie de restaurante moderno, "slash" balada, bem movimentado, em uma das ruas principais.


Ela gostava do seu emprego, suas calças apertadas ou de couro, juntamente com seu salto alto faziam os clientes sempre gastarem suas melhores cantadas - embora a casa fosse repleta das mais diferentes belezas, devido a quantidade de turistas que visitavam o lugar.


O que ela odiava era o avental verde (contendo a denominação do lugar, bordada cuidadosamente), o qual era obrigada a usar. Sua função, todavia, não era exclusivamente de garçonete. Era responsável pela supervisão de toda a área das mesas.



De volta de mais um dia no trabalho, com o céu claro há algum tempo, e a rua ainda molhada da fina camada de neve que derretera, Lee Black tirou o capacete e entrou na casa.


Percebeu sons de conversa vindos da cozinha... Às vezes ela esquecia que dividia a casa com mais dois universitários, porém esses, de medicina.

Ela era um tanto invisível para eles. Ou eles eram fechados demais. O rapaz só conversava com ela para falar sobre animais e a menina parecia estar frequentemente triste.


"Não estou com a mínima vontade de tentar fazer a social com eles hoje. De qualquer forma, quem acorda tão cedo não merece meu respeito."– Ela, mostrando seu sorriso malicioso para os objetos da sala que a observavam inexpressivamente, riu-se por dentro.


Subiu as escadas, procurou seu felino egípcio negro para lhe dar um "oi", de longe. E foi tomar banho antes de dormir.


***



Na cozinha, Greg Moreal, munido de um sobretudo contra a fria manhã de Dublin, confessava à colega de medicina o quanto estava sentindo falta de sua avó:


Ela é minha melhor amiga, entende? Mas, beleza, ela está bem. Deixei o Saddan com ela!

Com o susto do que aquilo poderia significar, a intelectual Sophie Oaks mexeu a cabeça fazendo seus cabelos (presos, como de costume) balançarem de uma forma engraçada.

Greg explicou: ― É meu cachorro, amapoa! Escolhi esse nome ironicamente, pelo fato do meu irmão ter me dado o husky siberiano um pouco antes de entrar para o exército. Aliás, "dado" é errado. Animais não pertencem à ningu...

Sophie interrompeu antes que aquilo se tornasse um discurso de meia hora:

― E o verbo dar é sempre melhor em outras ocasiões! – Greg apertou seus olhos azuis numa expressão feliz e soltou uma elegante gargalhada.

― Arrasou! Tá certinha. Aliás... no meu treino de hoje vai ter o pessoal da categoria feminina. Tá convidada. – Ele piscou.

A futura doutora Sophie, apesar de se vestir como se estivesse sempre pronta para ir à academia, não estava tentada o suficiente para ir ao treino de judô do alvoríssimo Greg por um motivo muito singular.

Ela direcionou o olhar para baixo.

― Acho que ainda não estou pronta.

― Esquece a vadia, Soph! Ela já bagunçou quatro anos da sua vida. Não a deixe bagunçar nem mais um minuto!


***



No andar de cima, Lucy terminara sua ducha e colocava os fones para iniciar seu ritual de rock pré-sono. A banda escolhida para a abertura da vez era Metallica.



***



― Não é tão simples, Greg. Eu realmente gostaria que fosse. – Ele a observava, enquanto ela terminava de lavar uma xícara. ― Cada um tem suas prisões. Por exemplo, apesar de sua avó ser seu tudo, sua deusa – ela sorriu por um instante, enquanto falava – como você diz, você não tem coragem de contar à ela sobre sua sexualidade – fechou a torneira – tem coisas que travam na garganta.


Tá estampado no seu rosto o que você é, mas você fica preso à dificuldade de falar. Tava estampado na Miranda o que nosso amor era, mas ela ficou presa à outra. São vasos sanguíneos que só vão se corroendo aos poucos, até finalmente se separarem e o lado que já não serve ficar pra trás, inutilizado. Enquanto o vital atinge sua completa cicatrização.

Greg se manteve em silêncio. Aparentemente estava pensando muito sobre a situação, ele odiava imaginar que o conservadorismo de sua avó jamais a deixaria escolher seu neto gay ao invés da religião.

Após alguns minutos de reflexão: Falando em vasos, amiga... Preciso te mostrar as novas ervas que plantei alguns dias atrás. Venha ver!

Sophie Oaks era apegada ao passado. Apegada a ponto de também confiar na medicina natural, mesmo que a química industrial e tecnologia tenham tirado boa parte do mérito de quase todo o setor primário (bom, ao menos para os mais cabeça dura). Como gente "cabeça dura" era tudo que ela mais gostava de (e precisava) evitar, ela dava uma chance para o menino Moreal mostrar toda a Natureza que os envolvia.


***



Os aquecedores do andar de cima estavam eficientemente irradiando calor. Talvez demasiado eficientes, a temperatura do ambiente era o bastante para fazer L. Lee querer procurar um top para vestir e dormir mais confortável. Ela levantou-se, abriu o compacto guarda-roupa e pôs-se a procurar. Enquanto fuçava suas próprias roupas, teve de olhar para o avental que usava frequentemente, todas as noites.


Seu desprezo era tanto que até o gato poderia, contagiado, dizer "Bleh" para o uniforme.


***



Enquanto Greg Moreal praticava sua corriqueira jardinagem, Sophie o observava:


"A postura dele é incrível. Este cara é tão leve. Parece ter saído de um livro de contos de fadas, sei lá" – Ele a olhou, repentinamente, como se pudesse ouvir os pensamentos da colega. Ela, finalmente, abriu seu delicioso e grandioso sorriso.

Greg adorava aquele sorriso: ― Agora que você tá na vibe certa, vem cá... jardinar. – Falou em tom orgulhoso e pegou as gigantescas tesouras de cabos grossos, sussurrando: ― Imagina um bofe com esse poder! – Soph o empurrou, rindo e incrédula ao imaginar a "terrível" cena.

Ele cambaleou, mas manteve sua postura impecável. Quem não o conhecesse poderia até supor que Greg era esnobe, com todo aquele posicionamento ereto e o queixo razoavelmente erguido.

Bem o oposto da amiga. Por exemplo, a implosão de um conjunto inteiro de prédios lada-a-lado não representaria tamanho desastre cômico equivalente ao que seria se Sophie tentasse usar um salto alto.


***



Lucy deitou-se, agora mais "fresca" e confortável e voltou a ouvir seu velho rock. Estava relaxada. O sono estava se auto-convidando.


Subitamente, a porta foi aberta com força.

Ela assustou-se, deu um pulo da cama e mostrou olhos arregalados. Quase arrebentara um de seus fones e o outro caiu de sua orelha.


Des. cul. pa. – Greg mal sabia o que fazer, mas logo foi interrompido por ele mesmo: ―Para tudo! Que tattoo foda!


Ela passou a respirar um pouco mais aliviada, estava ofegante há alguns segundos. Enquanto Greg ia em direção à ela, e ela ia levantando-se e ajeitando os fones, ele ia se explicando:

― Eu não vi você chegar. A Sophie tá mexendo nas plantas, daí eu vim chamar o Eros pra comer. Sério, cê deve estar achando que eu ia fazer a elza aqu...– Ele passou a mão pelas costas dela, abismado ― É linda.

Lucy, anos atrás, fizera uma grande tatuagem de escorpião, em parte para homenagear seu filme favorito, em parte, ainda que ela não admitisse, apenas para irritar seus pais.

Greg tirou seu sobretudo. O quarto estava quente por causa do aquecedor. Mas Lucy reparou bem e ele estava um tanto estranho e agitado, ansioso talvez. Quando o rapaz tirou também a camiseta, ela pensou:

"Se esse cara for me estuprar, arranco cada fio desse cabelo preto dele e faço uma gata de pelúcia pro Eros foder todo dia"

Greg virou-se. Como condiria melhor com a vida sexual dele. Porém, o contexto sexual foi estupidamente expulso do quarto quando revelou-se em suas costas, belíssimas asas.

Ual! E você acha a minha tattoo foda, Greg? A sua é incrível.

― As nossas. – O sorriso dele fez covinhas aparecerem para observar o contágio de gentileza e tranquilidade.

Todavia, Lucy seguia do jeito dela, meio séria e apática. Por sorte o colega de quarto era realmente teimoso e insistente, arranjaria qualquer desculpa para continuarem a conversar. Pegou da mão de Lucy, assim, sem permissão o "aparelho eletrônico reprodutor de som", foi assim mesmo que Greg Moreal imaginou, não fazia ideia do modelo. Até porque, tanto sua situação financeira no país latino-americano onde morava anteriormente, quanto na Irlanda, atualmente, não o possibilitaria de apossar-se desses mimos que reciclam-se a cada ano.

― Hm, vejamos. – Greg observava e fuçava.

― Eu tava ouvindo Nirvana, mas tem uma playlist inteira aí, bem variada.

― Ah, você me ganhou em Beatles! Uh, AC/DC também. A gente tem mais em comum do que você imaginava, eu aposto!


Lucy Lee Black detestava jogos e apostas pois odiava a possibilidade de perder. Mas ela estava contente em perder essa, mesmo que seu gênio forte não a deixasse reconhecer totalmente.



Ele colocou um dos fones no ouvido dela e manteve o outro no próprio: Blackbird!


Forçava-a dançar, mas ela não estava resistindo. Lucy Lee, todo seu poder e sarcasmo, estava adorando dançar. Mesmo que obrigatoriamente bem perto de um branquelo sem camisa.


O quarto em silêncio. Asas angelicais e escorpiões negros dançando.


(E um gato de olhos verdes observando ao fundo)

Era a imagem perfeita para começar o dia.


***



Moreal planou seus tênis gastos nos degraus da escadaria, enquanto corria celestialmente gravidade abaixo, já com seu sobretudo de volta ao corpo.


Ele precipitadamente pensava num assunto a puxar com Soph, enquanto espiaria se ela estava tratando o jardim com "o respeito e cumplicidade que a Natureza merece".


Apenas o seu rosto apareceu à porta. Sophie olhou para trás, com um ar relaxado, mas compenetrada.


Ele a olhava de volta:


― Eu tava aqui pensando... se você pudesse ter um poder extraordinário, qual escolheria?


― Eu gostaria de ver fantasmas. – Respondeu ela, ágil e decididamente.


― Mas fantasmas não é o que vemos a todo instante?


[...]



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Notas finais do capítulo

Por favor, comuniquem caso haja algum erro no texto.

[Ainda há uma vaga feminina e uma masculina. Ficha de inscrição no primeiro cap.]