O desespero percorreu o corpo de Hannah. A água gelada e profunda a impossibilitava de respirar e ela se debatia a fim e conseguir emergir. O frio congelava seu corpo e quanto mais ela se debatia, mais gelada parecia ficar. A água entrava sem permissão por suas narinas e por sua boca. Depois de longos e sufocantes segundos, ela conseguiu colocar a cabeça para fora do lago.

Tossiu e respirou como se aquele fosse seu último momento de vida, como se aquela fosse sua última chance de conseguir ar. Hannah tirou os cabelos loiros, que a impediam de enxergar, do rosto e procurou o barco. Ele estava há poucos metros de onde ela se encontrava. Mais calma, ela respirou fundo e nadou até o barco, fazendo força para conseguir adentrá-lo novamente.

Com afinco, conseguiu chegar à margem. Saiu do barco, amarrou-o no pedaço de madeira da ponte e correu em disparada até seu quarto. Seu corpo tremia de frio, apesar da temperatura estar em seus agradáveis vinte e quatro graus Célsius. Ela sabia que se não tirasse as roupas molhadas e se secasse, poderia entrar num estado leve de hipotermia.

Hannah atravessou a recepção com os braços cruzados, encolhida em si mesma, a fim de bloquear o frio e a tremedeira, deixando um rastro de água pelo chão.

– Senhorita Phillips?! – a senhora gritou ao ver a cena. – O que aconteceu? Está tudo bem? – preocupada saiu atrás da loira, sem obter resposta.

Hannah entrou no quarto e foi diretamente para o banheiro, tirando as roupas encharcadas e ligando o chuveiro com água morna. Apesar da extrema vontade de colocar no mais quente possível, sabia que não seria apropriado, pois teria um choque térmico se o fizesse.

Adentrou no box do chuveiro e deixou a água levar consigo o frio. Ela continuou tremendo, talvez por nervosismo. Sentou-se no chão e abraçou as pernas. Pensou em Jason. Apesar de tudo, ele era a pessoa que ela queria ali.

Os pensamentos de Hannah foram interrompidos por fortes batidas na porta.

– Senhorita Phillips? Está tudo bem? – a voz preocupada da dona da pousada era exclamada através da porta e atingia os ouvidos de Hannah.

– Está sim, senhora Lopez. Eu apenas caí do barco, mas estou bem. – ela respondeu de volta, a fim de acalmar a mulher.

– Quando terminar saia para eu te ver, querida.

– Tudo bem. – respondeu enquanto se levantava e deixava os cabelos loiros e molhados caírem sob seus ombros.

Hannah terminou o banho e se agasalhou apropriadamente. A temperatura estava agradável o suficiente para todos utilizarem apenas um casaco, mas ela sentia um frio descomunal. Seu corpo não tremia tanto quanto antes. Agora, o cansaço a atingia fortemente.

Hannah pegou uma caneta e um pedaço de papel. Escreveu com dificuldade o nome de Jason e seu número de celular. Colocou o papel em cima da pequena mesa no quarto, destrancou a porta e se deitou na cama, cobrindo-se com a coberta. Precisava descansar, depois de tudo que havia passado.

*/*

Jason havia recebido a ligação no dia em que resolvera ir embora. Ele estava arrumando as malas quando seu celular tocou.

– Alô?

– Senhor Carter? – a mulher por detrás da linha tinha uma voz informal e calma. – Jason Carter?

– Sim. Sou eu mesmo.

– Eu falo do hospital de Sydney. Estou com a paciente Hannah Phillips e precisamos que você compareça aqui para preencher alguns requerimentos. – a voz da mulher era calma, mas isso não impediu que Jason se alterasse.

– Paciente? Tem certeza? A Hannah é a coordenadora do hospital, não é?

– Sim, mas ela sofreu um acidente e está sob cuidados dos médicos daqui.

Depois de ouvir aquelas palavras, Jason não soube como chegou até o hospital. Não se lembra de ter desligado o telefone ou fechado a porta. A única coisa que importava naquele momento era Hannah.

– Onde ela está?! – ele falava num tom alto com a recepcionista do hospital. – Onde está Hannah?

– Por favor, tenha calma, senhor. Ela está sob cuidados médicos.

– Preciso vê-la! Agora! – ele bateu no balcão da recepção, fazendo com que a mulher desse um pulo.

– Os médicos vão chamar assim que terminarem o procedimento.

– Procedimento? Que procedimento? O que aconteceu? Porque vocês não me respondem nada?! – ele estava ficando vermelho e uma veia saltava de sua testa.

– Ela não tem as informações necessárias, senhor... – disse o médico enquanto se aproximava e esperava que Jason dissesse seu sobrenome.

– Carter. Jason Carter. – ele se acalmou ao ver o homem alto de jaleco branco que lhe dirigia a palavra. – Você é o médico?

– Sim, eu sou o médico. Hannah sofreu um pequeno acidente. Ela caiu do barco em um lago. Seu estado de saúde é estável. Ela engoliu muita água e se não tivesse tomado um banho logo em seguida, estaria com hipotermia, mas não é o caso. Ela passa muito bem. Está um pouco enjoada e tonta, mas vai passar com os medicamentos que prescrevi e com o descanso. Pedimos para ligar para o senhor para que ela não fique sozinha.

– E onde ela está? Posso vê-la? – ele estava aliviado com a declaração do médico, mas sua necessidade de vê-la ainda não havia passado.

– Sim. Ela está no quarto 326, no final do corredor. – disse o médico enquanto apontava para frente.

– Obrigado. – Jason respondeu e saiu andando na direção apontada para o médico. O número 326 se repetia em sua mente.

Ele abriu a porta e encontrou Hannah deitada na cama do hospital com os olhos fechados. Estava pálida e seus cabelos estavam meio bagunçados. Ela dormia profundamente. Jason se aproximou e tocou o rosto da amada.

– Oh Hannah... – seus olhos se encheram de lágrimas e ele apoiou a cabeça no peito da mulher.

– Jason? – ele se levantou ao ouvir a voz de Hannah preencher seus ouvidos.

– Hannah, eu te amo! Por favor, não me deixe! Eu sempre te amei e sei que me ama também! – ele chorava incontrolavelmente enquanto olhava para a loira. – Pensei que tinha te perdido!

– Não precisa de tanto drama, eu estou viva. – ela disse um pouco assustada com a reação dele. – E eu também te amo.

– Por favor, eu sei que você está com aquele grandão, mas eu também sei que você não o ama e... – Jason parou ao perceber o que ela havia dito. Ele demorou pra entender, esperava que fosse mais difícil convencê-la. – Como é?

– Você me ouviu. Eu te amo. – os olhos dela estavam marejados, mas ela não pôde aguentar o sentimento. – Eu sempre te amei. Quando tudo aconteceu, você era o único que eu queria ao meu lado.

O beijo entre Jason e Hannah foi necessitado. Eles precisavam daquilo, como precisavam um do outro. Era um encontro de almas, como todas as vezes que ficavam juntos. Pertenciam um ao outro. Completavam-se. Amavam-se.

*/*

– Não sei por que veio, Hillary. Eu já disse que estou bem. – disse Hannah enquanto pegava a sobrinha no colo.

– E eu já disse que precisava te ver. Não é todo dia que minha irmã mais velha cai num rio e vai parar num hospital. – disse irônica enquanto colocava as malas no chão da sala. – Além do mais... Aconteceram algumas coisas... – ela estava receosa de falar sobre aquilo, principalmente perto da filha. – Porque não vai explorar a casa da tia Hannah, meu amor?

Hannah colocou a garota no chão, que saiu correndo pela casa observando tudo.

– O que aconteceu, Hillary?

– Eu me separei do Richard.

– Você o que? – Hannah estava de boca aberta enquanto observava a irmã com a cabeça baixa.