Acordei cedo com o meu celular tocando. Demorei tempo demais para conseguir abrir os olhos e inclinar meu corpo na direção da mesinha.

– Alô? - disse sem olhar quem era.

– Que voz de sono é essa? - ouvi a voz de Liam, seguida por sua risada.

– Liam! Quantas horas são?

– Onze e você ainda estar dormindo significa que sua noite foi boa?

– Não, não é isso que você está pensando. - me sentei na cama. - Não aconteceu nada.

Ficamos em silêncio. Conseguia escutar a respiração dele.

– Não sei não, hein? Mas não foi para saber do seu encontro que te liguei.

– Não?

– Não. Liguei para contar que vou ter viajar e não sei quanto tempo vou ficar fora. Ia te contar ontem, mas...

– Idiota! Por que não contou? Eu teria saído com você.

– Exatamente por isso. Lembro que me disse que seus encontros são fracassados. - riu. - Não queria ter acabado com esse.

– Ainda estou brava por não ter me contado.

– Se você se apressar, ainda vamos ter meia hora juntos.

– Só me diga seu endereço.

Desliguei o telefone e dirigi até o apartamento de Liam. Minha sorte foi não ser tão longe.

*

Bati na porta e esperei que abrisse.

– Sabia que não ia resistir ficar sem me ver. - deu um sorriso torto e convencido.

Bati em seu braço e entrei no apartamento. Era o típico apartamento de homens. Havia roupas espalhadas por todos os cantos, três garrafas de cerveja em cima da mesa e um violão no sofá. Me senti a vontade e sentei no sofá, acompanhada de Liam que fez o mesmo. Observei que usava uma blusa vermelha que deixava sua pele branca incrivelmente viva.

Mexi no sofá ao ver que havia sentado algo. Me levantei e puxei o objeto.

– Um sutiã? Sério? - fiz careta e Liam riu.

– Me desculpe. Elas sempre esquecem algo, acho até mesmo que é por querer.

Revirei os olhos. Ia dizer algo, mas percebi que Liam pegou o violão e colocou-o em seu colo. Logo estava tocando uma música que reconheci como sendo Misunderstood. Sua voz era bonita e ele parecia a vontade tocando perto de mim.

"Should I? Could I? Have said the wrong things right a thousand times."

– Essa música tem tudo a ver com você. - disse rindo quando acabou de cantá-la. - Inclusive o clipe.

– Assim você me ofende. - fingiu ofendido.

– Quando sua banda vai tocar? - peguei-o de surpresa.

– Estava ouvindo a conversa atrás da porta?

Levantei a sobrancelha. Não havia entendido.

– Acabaram de me ligar dizendo que nossa banda vai tocar daqui dois finais de semanas. Justo no dia dos namorados e foi justamente por isso que pensei em não aceitar. Dia dos namorados não é minha praia. Vai ter muita melação, casais apaixonados e essas coisas idiotas. - riu.

– Você precisa se apaixonar. - disse levantando e andando até a janela. - Precisa largar de ser inconstante e frio.

– Não sou frio! - disse levantando-se também. - Só acho que isso de amar só serve para que as pessoas se machuquem.

– Liam Marsh tem medo do amor? - provoquei-o.

– Não foi isso que eu disse.

– Olhe seu tamanho. - ri. - Não tem que ter medo do amor!

– Só não vou me apaixonar.

– E vai chegar aos sessenta anos e desejar ter alguém do seu lado que o ame.

Liam parou um pouco e ficou pensando.

– Você vai acabar se apaixonando mais rápido do que pensa.

Observei-o chegar mais perto do meu rosto e sussurrar no meu ouvido.

– É o que veremos.

Ficou ali, parado me olhando. Devolvi o sorriso safado que usava.

– Então, acho que está na minha hora. Mas não comece a chorar ainda, tem a chance de me acompanhar até o aeroporto. - virou as costas e seguiu para a porta, pegando suas malas.

*

Encostei na parede do aeroporto enquanto não chegava a hora do embarque. Fiquei olhando as pessoas se despedirem e minha atenção foi presa em uma adolescente que abraçava um rapaz. Logo depois ele a beijou e disse chorando "eu vou sentir sua falta". Naquele momento senti um nó na garganta e meus olhos se encheram de água.

– Não, não me diga que vai chorar vendo isso. - vi que Liam me observava.

Engoli o choro e olhei pra ele. Sempre estragava os momentos fofos e sentimentais.

– Pode ser menos insensível?

– Não estou sendo insensível. Você que está sendo muito sentimental.

– Otário!

Liam riu.

– Então, Sally, seria pedir demais ter uma foto com você?

– Quer olhar nossa foto quando sentir saudades? - provoquei-o.

– Saudades? Não vou sentir saudades.

– Então nada de foto. - virei as costas, mas Liam passou sua mão pelo meu pescoço.

– Talvez só um pouco.

Me virei novamente. Liam estava me olhando com um sorriso no rosto. Peguei meu celular no bolso e vi que ele fez o mesmo. Tentamos tirar fotos decentes, mas em todas estávamos rindo de alguma coisa idiota que Liam havia falado antes de tirar a foto ou fazendo uma cara engraçada.

– Poderia ficar aqui tentando tirar uma foto como gente normal, mas minha hora chegou. - disse olhando no relógio no momento que anunciaram o voo. - Já pode me abraçar, dizer que me ama e começar a chorar. - implicou.

– Pode ir, não vou sentir sua falta.

Encarou-me.

– Ok, vou sentir sua falta e espero que não demore muito.

– Assim é muito melhor. - disse me abraçando. - Se cuide, ok? E sobre Andrew... mesmo longe estarei de olho em vocês.

Sorriu e virou as costas. Fiquei observando enquanto ele entrava na fila de embarque. Algumas garotas que passaram por perto o olharam de cima até embaixo. Ri com aquilo.

– Liam! Espere. - disse antes que o perdesse de vista. Corri até perto dele, que ficou me olhando sem entender o porque de tê-lo chamado. - Comprei esse CD quando estava indo para sua casa. - disse entregando o CD Noel Gallagher's High Flying Birds que havia tirado da bolsa. - Você não é nenhum Gallagher, mas...

– Sou muito melhor. - deu um sorriso safado. Ri com aquilo. - Obrigado. - disse beijando meu rosto. - Nos veremos em breve.

– É, nos veremos em breve.

Quando perdi-o de vista no meio das pessoas percebi que sentiria sua falta. Liam era melhor ainda do que eu imaginava no colegial.

Virei as costas e saí andando, mas não resisti ao parar e olhar para trás e ser surpreendida ao achá-lo olhando para trás também. Deu um sorriso sincero e acenou. Acenei de volta e continuei a andar.