Lunática. escrita por sa


Capítulo 3
Capítulo 3.




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– Oi, eu preciso da sua ajuda. - uma voz ofegante e desesperada invadiu a biblioteca, acabando com o silêncio de segundos atrás. - Eu preciso de um livro, qualquer um e que você diga pro meu professor que eu estava aqui desde a primeira aula. - continuou como se aqueles fossem seus últimos segundos de vida e ele precisasse dizer tudo antes que o tempo acabasse.

– Ei, calma. Um livro eu posso te arranjar, mas mentir pro seu professor é contra as regras pra mim que sou uma funcionária. - ele então pareceu ainda mais desesperado. - O que eu posso fazer é não dizer nada, assim não te atrapalho.

– Tudo bem, tudo bem. - e esticou o braço para pegar o livro. - Obrigada.

Lana estava tão concentrada em sua leitura que levou um pequeno susto quando, de repente, aquele mesmo menino praticamente se jogou em cima da poltrona ao lado da sua para fingir que estava lendo. Ele era centímetros mais alto que ela, olhos escuros e cabelos castanho. Ela o olhou assustada e, ao mesmo tempo, curiosa; meninos como ele não costumavam vir à biblioteca da escola a menos que estivessem tentando se livrar de encrenca.

– Muito bem, Heitor. Boa tentativa. - segundos após ele se sentar, o diretor bateu na porta e foi em sua direção. - Segundo o professor de biologia, não era aqui que o senhor estava.

Lana pode ver as mãos do garoto tremendo, mostrando o quão nervoso ele estava. Se ele fosse desses que já estava acostumado a matar aulas ou se envolver com problemas, não teria ficado tão nervoso, muito menos desesperado. Ele não era experiente naquilo, não como ela, o que a deixou feliz por saber que ele, provavelmente, também não fazia parte dos garotos da escola que ela não suportava; aqueles metidos e espertinhos.

– Diretor Hanks, eu acho que o professor se enganou. - ambos olharam para ela. - Ele já estava sentado aqui na hora em que cheguei, lendo esse livro, que por sinal não é nada bom. - talvez não fosse a desculpa mais aceitável do mundo, mas a segurança mostrada em seu tom de voz fez com que o diretor deixasse aquilo passar.

Mesmo depois de o diretor ter deixado a sala, o garoto continuou olhando fixamente para Lana, confuso. Estava se perguntando quem era ela e o que a fez tê-lo ajudado, queria saber seu nome ou um jeito de chamá-la para dizer obrigado. Mas não disse nada. Ficou apenas parado reparando em como ela estava sentada e no modo como os olhos dela acompanhavam as letras pequenas presentes no livro, em como sua respiração parecia calma e no quanto ela mostrava estar confortável com aquela situação.

– Obrigado, acho que não preciso mais do livro. - entregou-o para a moça do balcão, ainda olhando para o lugar onde Lana estava.

– Acho que hoje é seu dia de sorte. - a mulher falou. - Ela nunca fala com ninguém enquanto está lendo, nem mesmo tira os olhos do livro. Talvez você devesse agradecer. - ele sabia que ela estava certa.

Andou em direção as poltronas, parando em frente a que Lana estava sentada. Respirou fundo e colocou as mãos no bolso porque, por algum motivo, elas estavam tremendo e ele não queria que ela visse.

– Só te ajudei por causa das suas mãos tremendo, sabe, elas mostraram que você estava nervoso. - fechou o livro e olhou pra ele, que as tirou do bolso.

– Oi, eu sou o Heitor. - sorriu. - Obrigado. - continuou em pé em frente a ela.

– Sem problemas. - abriu o livro e voltou a lê-lo.

Nem ela sabia direito o motivo de ter feito aquilo. Preferia acreditar que fora realmente por causa do nervosismo totalmente evidente que ele apresentava ou porque só queria evitar uma discussão bem ali, em seu lugar preferido. Discussão significaria barulho, coisa que, no momento, ela não queria. Lana tinha uma relação estranha com o silêncio porque, as vezes o odiava e temia, enquanto outras era tudo que ela queria.

– Sabe, a lanchonete está vazia. Eu posso te pagar um chocolate quente se quiser. - e mais uma vez, o tal menino interrompeu sua leitura.

– Uau, que original - olhou para ele, de novo.

– O que? - olhou confuso.

Eu posso te pagar um chocolate quente se quiser. - tentou engrossar a voz para parecer como a de um menino. - Você nem sabe o meu nome.

– Porque você foi mal educada e não me contou. - respondeu rápido. - Desculpe se eu tentei ser legal com você. - e foi em direção a porta.

Lana se sentiu mal por ter agido daquele jeito, porque no fundo sabia que o garoto estava mesmo tentando ser legal com ela. Só não sabia como se comportar muito bem com as pessoas já que passava a maior parte do tempo sozinha, evitando elas. Não fazia isso porque precisava, fazia porque queria; ficar sozinha era algo bom para ela.

– Lana. - ela gritou, ele parou. - Meu nome é Lana. - ele voltou a andar.

Ela fez uma careta e se levantou da poltrona, colocando o livro em sua mochila e correndo até ele na porta. Aquela era provavelmente a coisa mais estúpida que ela já fizera em toda sua vida, correr para alcançar um menino que mal conhecia. No momento em que ia dar um tapinha de leve em seu ombro para fazê-lo virar, ele foi mais rápido e se virou rindo.

Lana não tinha muitos amigos, o que deu a ela uma sensação estranha ao andar no corredor da escola acompanhada de alguém. Nenhum deles disse nada durante o caminho, que era um pouco longe, já que a escola era grande e a biblioteca ficava em um canto, enquanto a lanchonete em outro. Nada daquilo de fato importava. A unica coisa importante foi que ele realmente pagou um chocolate quente para ela e, os dois conversaram como se tivessem se conhecido há muito tempo.



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Notas finais do capítulo

:)