Desde o início da semana ela sabia. Sabia que seria uma despedida temporária para a finalização de mais um volume da série inspirada nela. A festinha de despedida estava marcada, afinal não se veriam durante todo o verão, já que ele planejava passá-lo por completo nos Hamptons. Ela estava preparada. Ao menos, deveria estar.

 Naquele último dia ela chegara diferente na delegacia. Cabelo mais arrumado, solto, mais leve, talvez. Blusa branca, sensual e comportada ao mesmo tempo, e uma calça jeans, confortável. Todos estavam na copa quando ela chegou, um pouco depois, direcionando-se, logo ao entrar, para pegar uma cerveja que estava em cima da bancada.

  Os rapazes a esperavam para um brinde pelo último caso, e pelo sucesso de “Naked Heat”. Castle dava gargalhadas quando ela adentrou o espaço e todos se voltaram para ela, fazendo-a esboçar um sorriso. O clima já era de saudade. Castle era, de fato, uma diversão para todos da delegacia e faria falta nos meses seguintes.

- Olha só quem acabou o trabalho! – Castle comenta com sua chegada.

- Bem, Castle, não sou só trabalho.

- Olha, não se envolve com ela numa disputa com bebidas. Ela pode acabar com você! – Lanie declara enquanto a amiga abre a garrafa de cerveja.

- Obrigada! – ele responde, sincero.

- Oh, eu não preciso beber para acabar com ele.- Eles sorriem, espantados. Castle olha nos seus olhos, enquanto sua expressão torna-se séria, novamente. – Castle, você tem um minuto?

- Sim, claro.

   Nos segundos seguintes, enquanto caminhavam em direção ao corredor, os que ficavam se entreolhavam. Era óbvio do que se tratava. Nos últimos anos ela estivera mais balançada por ele do que qualquer outro companheiro que já se relacionara desde que a sua chegada à NYPD. Ficaram observando, pelo vidro da porta.

- Eu sei que não sou a pessoa mais fácil de se deixar conhecer e nem sempre deixo claro o que se passa na minha cabeça, mas este último ano trabalho com você... Tenho tido muitos bons momentos.

- É. Eu também. – Ele apenas observava e escutava atento.

- Então, tem sido bons momentos que jamais nenhum outro homem me fez passar. Digo, não sei o que se passa na minha cabeça, mas desde aquele caso com as flores, você tem sido uma razão para eu acordar e vir aqui, além de todas as vítimas que precisam de justiça, além dos meus companheiros de equipe a anos. – Ela tentava manter contato visual, ao mesmo tempo em que a coragem se esvaia entre as palavras.

- Beckett... – Sua expressão era confusa. Nem ele saberia decifrar o que significavam as linhas do seu rosto naquele momento.

- Não. Escuta. Ainda não sei do que se trata, ainda não sei se sou capaz de estar com alguém novamente, mas todos aqueles momentos, todos aqueles olhares, devem significar alguma coisa, então estou tentando te dizer que estou disposta a dar uma chance a isto. Uma chance de me aproximar, de me deixar levar, Castle.

- Você que dizer que...

- Que existe uma chance para nós. Na verdade, talvez seja um misto de pergunta e afirmação.

- Beckett, eu... – Seu olhar era perdido. Desespero, quem sabe. Não sabia o que fazer, que passo daria agora?

   No momento em que Beckett pronunciara as últimas palavras, sob observação de todos na sala ao lado, Gina sai do elevador logo atrás dele, a tempo de ouvir uma parte do discurso dela. A vontade da Beckett era de se esconder, fugir, entrar em qualquer lugar onde estivesse livre daqueles olhares do Castle e da Gina, sua ex-mulher, produtora e companhia para o próximo verão nos Hamptons.

   Ela não tinha como prever que ele tivesse outras companhias além de sua mãe e filha, mas ao que parece, era esse o combinado. Castle a observava, estático, com o coração batendo forte a ponto de ser escutado por qualquer um que passasse ao seu lado. Gina permaneceu parada, sem se aproximar e esperando a reação do ex-marido. Castle percebe o olhar de sua musa travado na direção do elevador, e vira-se em direção a este.

- Gina.

- Hey, Castle. Cheguei. Vamos?

- Ahn... – Ele retorna a olhar para Beckett, que segurava uma ou duas lágrimas nos cantos dos olhos – Eu... Eu preciso ir. Nos falamos quando eu voltar.

- Semana que vem?

- Não. Na verdade, no outono.

- Ah. No outono. Certo. No outono. Boa... Boa viagem.

- Obrigada.

 Ela vira-se, e, em direção ao elevador, dá os braços à Gina, pensativo. As duas lágrimas, antes presas, escorrem pelo rosto dela, enquanto pega sua jaqueta na cadeira para ir para casa.

  Aos prantos jogou-se no sofá, com celular e chaves em cima da mesa. Depois de horas para tomar uma decisão, ainda se precipitara. Agora ele sabia e o pior, a ignorara para mais noites ao lado da ex-mulher.

[...]

   Depois de algumas cochiladas no sofá, seu celular vibra sobre a mesa de centro, acordando-a e fazendo a dor nas costas se manifestar pela má posição durante o sono.

“Precisei de um tempo para processar a informação. Foi demais. Para mim, digo, foi demais. E o Demming? E tudo aquilo que seus olhos me disseram durante a última semana?”

    Ela não podia acreditar. Deviam ser quase 3 da manhã, ele provavelmente estava com uma mulher, de lingerie, deitada ao seu lado na cama, e enviando mensagens para ela como se fosse a coisa mais normal do mundo? Pelo menos era o que ela pensava. Ele não fora aos Hamptons. Gina não estava com ele. Ela ouvira o que Beckett dizia naquele momento e tinha noção de que tamanho sentimento que ela tinha por ele, ele nutria em dobro por ela. Entendeu que não era um bom momento para ficar com ele. Pediu que ligasse quando o livro estivesse pronto e que desse um rumo à sua vida, que tomasse a decisão certa.

“Um tempo? Você deveria ter dito isso antes de virar as costas como se nada tivesse acontecido. Nós terminamos. Eu o deixei.” – Ela respondeu, minutos depois.

“Desculpe-me. Não soube o que fazer. Ou você acha que é fácil ouvir a mulher que você tem corrido atrás por dois anos te dizer aquelas coisas, virar as costas e encontrar sua ex-mulher esperando para uma viagem de verão? É claro que não. Mas, você o deixou? Por causa disso?”

“Sim. Por causa disso. Mas do que importa, não?! Castle, você deveria estar se divertindo com a Gina, a essa hora. Por favor, me deixa e aproveita o seu verão com ela. Passar bem.”

“Nossa. Ah. Ela não está comigo.”

“Não?”

“Não. Ela foi para casa dela e eu adiei a viagem por dois dias.”

“Adiou a viagem? Por quê?”

“Por você. Seria incapaz de recusar aquelas palavras que ouvi e tem se repetido na minha mente nas últimas 7 horas, Beckett.”

   Ela para de responder. Tinha cochilado, sorrindo, no sofá. Não dormira bem nas horas anteriores e seu corpo estava cansado, ainda. Castle havia tentado falar com ela várias vezes, inclusive telefonando. E nada. Nenhuma resposta até às 5 da manhã.

“Beckett? Você está bem? Beckett! Me responda! Atenda os meus telefonemas. Eu sei que não devia ter agido como agi anteontem, mas por favor, me responda.”

    Despertara devido à invasão da luz do Sol na janela da sala. Ao pegar o celular percebe o que se passara. Ele toca novamente, ela atende, sorrindo, porém evitando que ele perceba.

- Castle, desculpe-me. Dormi sem conseguir sequer te avisar antes. Estava muito cansada. Nos falamos depois. Desculpe-me.

- Não.

- Não o que?

- Não nos falamos depois.

- Por quê?

- Depois de algumas horas de desespero, nada mais justo do que você abrir a porta e me convidar para entrar. – Ele desliga o telefone, esperando ansiosamente na porta do apartamento dela.

Ela abre.

- Desde que horas você está aqui, Castle?

- Não importa.

   Ele avança com os braços em sua cintura, puxando-a o mais forte possível para si, encostando sua boca na dela, não mais perdendo nem um segundo. Ela se assusta, mas não rejeita, passando a mão pelos seus braços até repousar uma no seu ombro e utilizar a outra para bagunçar seu cabelo.

            Após o beijo:

- Agora posso ir para os Hamptons. Nada melhor do que terminar um livro focado exatamente na inspiração para ele, não?

    E assim passariam o verão. Nikki e Rook nos papeis, Kate e Rick na frente da lareira, com taças de vinho e muita conversa para botar em dia.