Força Especial da Marinha escrita por Vlk Moura


Capítulo 16
19 anos


Notas iniciais do capítulo

Capitão
Yeva



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Voltei para o Brasil junto aos outros, estamos ainda abalados e os pais dela nos chamaram para o velório, sem um corpo. Disseram, assim que chegamos, que aquele era o aniversário dela de 19 anos, isso fez com que mais pessoas chorassem, Laila e Mandela também estavam no velório junto a outras amigas de Yeva.

Era doloroso estar ali com tanta gente que parecia amá-la a tanto tempo.

- Por que ele não veio? – foi uma menina quem perguntou, era uma amiga de infância de Yeva.

- Ele disse que já a tinha pagado de sua memória, não iria sentir toda a dor mais uma vez.

- Idiota! – a menina quase gritou, eu a compreendia.

O telefone da casa tocou, quem ligaria em um momento como esse? O pai foi quem atendeu e deu um grito de medo, surpresa, não dava para saber, apenas que ele desmaiou quase caindo sobre a esposa, alguns de seus irmãos e cunhados o ampararam, o telefone foi desligado, começaram a abaná-lo até que finalmente acordou.

- O que houve? – a esposa perguntou.

- Era... ela. – todos pararam e pegaram o telefone, aparentemente ainda havia alguém na linha a mãe tremia, pálida, mas sorria.

- Estamos indo para ai, hoje a noite. – a pessoa ia desligar – Espera! – todos olharam para o grito – Yeva, parabéns!

Todos se viraram assustados, começaram a encher a mulher com perguntas, enquanto ela chorava. Fui até lá e a tirei do meio, o marido foi deitado na cama e eu a sentei ao seu lado.

- Eu tenho de comprar a passagem – ela falava – Tenho de ir ver minha filha.

- Calma – falei sendo a pessoa mais calma do mundo – eu consigo as passagens para vocês, não se preocupe, tente descansar um pouco.

Ela se deitou e dormiu, aos poucos todos se retiravam da casa, fui junto aos outros e pedi para que conseguissem as passagens, disseram que iriam conosco até lá, permiti que o fizessem.

Ao fim da tarde estávamos todos nos reunindo no aeroporto prontos para pegar o voo.

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

Eu ainda estava fraca, mas já podia receber visitas. Meus músculos doíam devido as queimaduras que haviam sido, em sua maioria, graves, mas das pernas até os pés, no tronco apenas alguns hematomas, queimaduras eram poucas. Eu imaginava como meus pais estavam se sentindo agora, como estariam todos os outros.

Eu não fazia ideia de que dia era quando acordei, para mim o acidente havia acabado de ocorrer, mas pelo que ouvi no telefone já haviam passado três meses. Os médicos me medicaram.

Pude ouvir o som de pessoas correndo, minha mãe, eu a ouvia, o seu inglês desesperado, ela invadiu o meu quarto e me olhou, os olhos cheios de lágrimas, ela pulou em meu braço e chorou ao meu ouvido, meu pai fez o mesmo, ficaram ali durante muito tempo, talvez eu soubesse o que sentiam, mas eu havia acordado há poucos dias, não tinha muita noção.

Quando eles se afastaram pude ver Laila e Mandela juntas de Tainá, Sara, James, Santo e Francis, como eu não sei, apenas senti que todos me abraçaram de uma só vez e pude ver as lágrimas em seus rostos, Jude e Stela estavam ali, elas me abraçaram tão forte que eu senti falta de ar por alguns segundos, quando se afastaram eu vi alguém que eu realmente não esperava ver, o Capitão estava ali, ele bateu continência na minha direção e sorriu, se aproximou e beijou minha testa um ato que me fez encolher entre meus ombros.

- Mas como foi tudo isso? Digo, a explosão e você sobrevivendo? – Tainá perguntou tomando cuidado com as palavras.

- Na verdade – eu me sentei – eu não me lembro de muita coisa, apenas que eu subi para ficar ao lado do capitão, ele me deu a ordem de partir junto dos outros – parei, os outros, olhei para todos, eles tinham sobrevivido?

- Estão em casa – o médico falou entrando – eles acabaram de receber a noticia de que você acordou, amanhã devem vir te visitar.

- Nossa! – eu levei a mão a testa – Como é possível?

- Esperamos que vocês nos contem. – o médico falou – Mas não hoje, você tem de descansar mais, então, por favor, se retirem do quarto.

- Eu vou ficar com minha filha – minha mãe falou – Digo, ela precisa de alguém, não é?

- Não – o médico falou – Não se preocupe irei cuidar muito bem dela.

Todos se retiraram, voltei a dormir.

Acordei com o café da manhã, meus pais já estavam ali, agora não vieram todos de uma vez. Eles não queriam sabe como eu havia sobrevivido, saber que eu estava bem era o suficiente. Mas o grupo que veio no almoço era curioso. Perguntaram e então voltei a explicar.

- Eu fui para fora junto dos outros, tinham a contagem regressiva em nossas mentes e tínhamos de tê-la muito bem calculada – olhei para meus companheiros de missão – então pulamos no mar e nadamos ficando o mais distante da embarcação, até que boom – fiz o gesto com as mãos – depois nadamos até nossos corpos não aguentarem mais e depois só me lembro de estar acordando aqui. – dei de ombros como se fosse algo simples. – O Capitão me deu algo...

- Uma correntinha – o médico falou sorrindo – Está na sua gaveta.

A tirei de lá e vi que era um barco, tinha o nome dele grafado logo atrás, eu a coloquei. Todos ficaram me contando como haviam sido as coisas desde que eu havia morrido para eles e para o resto do mundo.

Ao fim da tarde quem veio me visitar foram os dois sobreviventes e o Capitão que tinha os visitado em suas casas. Eles disseram também não se lembrarem muito depois de nadarem, mas aparentemente haviam se tornado heróis e diziam que eu me juntaria a eles completando o trio. Foram embora em pouco tempo, ainda se recuperavam das queimaduras o que necessitava de repouso. O Capitão continuou ali ao meu lado, ele se sentou em uma cadeira que tinha ali. E ficou parado.

- E como você se sente? – ele perguntou, eu estava assistindo TV, passava algum filme em holandês.

- Dolorida – falei rindo – Mas estou bem. E você? – ele me olhou sem entender – Como é ter um zumbi ao seu lado? – ele rio.

- Muito estranho, quero dizer, você deixou a todos preocupados e jurávamos que você havia morrido, mas na verdade você está ai, forte, sempre nos surpreendendo, não é?

- Acontece – falei rindo. – Você quer passar a noite aqui? – ele me olhou – Preciso de uma companhia e meus pais não se entenderiam com as enfermeiras.

- Se não tiver problema.

Ele colocou uma poltrona ao lado da minha cama, eu estiquei o braço para poder tocá-lo e sentir maior segurança, ele levou o rosto até meu braço e dormimos dessa forma, acordei com meu pescoço e cotovelo doendo, eu me mexi e acabei acordando-o.

- Está tudo bem? – ele perguntou.

- Está, apenas estou com fome. – falei e o  olhei – Quero um Stamppot. – ele rio.

- Você logo sairá daqui e eu prometo te pagar um.

- Sério? – ele cofirmou – Irei cobrar isso.

O médico caminhou até nós e deu a noticia de que eu estava de alta, perguntavam se eu tinha algum lugar fixo para poder ficar, dissemos que arranjaríamos, nesses primeiros instantes o melhor seria eu continuar sobre os cuidados dos médicos que me atenderam e só depois ir ao Brasil. Meus pais chegaram para me buscar junto a um táxi, o Capitão me ajudou a entrar, sentou-se a frente ao lado do motorista para explicar aonde iríamos.

Desci e vi os alojamentos, eu já podia imaginar o quarto em que eu ficaria. Começamos a andar por entre alguns jogadores que me olhavam assustados enquanto eu os cumprimentava. Tainá abriu a porta de nosso antigo quarto e eu fui deitada na cama, meus amigos foram par Alá e conheceram os jogadores, imaginei que Jude estaria morrendo com eles, uma vez que era viciada em futebol. O Capitão ficou ao meu lado enquanto uma enfermeira mudava os curativos da minha perna, eu apertava sua mão com dor, ele via as marcas o que me deixava constrangida.

- Eu posso andar normalmente? – perguntei, arranhando o começo de um holandês.

- Claro, só não pode se esforçar, mas ir até o refeitório é permitido.

Agradeci e ela se retirou, disse que iria explicar para enfermeira do centro-médico do clube como cuidar apenas de tempos em tempos eu deveria voltar até o hospital.

- Vamos jantar? – o Capitão me ajudou a vestir o casaco.

- Com essa roupa que eu estou? – ele me olhou – Nem pensar, isso tem cara de hospital.

- Ótimo – Stela entrou rindo – Capitão seu turno acabou, agora nós meninas- Tainá e Sara entraram com algumas sacolas – Iremos cuidar dela. – ele rio e se despediu, apesar que seus passos pararam até ele passar pela porta, ele continuava ali.

Elas me ajudaram a tomar banho e colocar uma calça larga, uma camiseta de manga e então o casaco, lavaram o meu cabelo que já estava precisando disso, então colocaram uma touca de lã, abriram a porta e logo o Capitão tomou a passagem dizendo que dali em diante Lee podia me guiar, elas reclamaram até eu falar que não tinha problema algum nele fazer aquilo. Segurei em seu braço e o usei como uma muleta.

- Se continuar assim vai ter de pagar mil abdominais – ele falou sorrindo.

- Fazer o que, né? – ele rio, me ajudou a entrar no refeitório, pegamos a fila – Esse Stamppot não irá contar como o que me deve. – falei enquanto cumprimentava o cozinheiro que parecia feliz em me ver bem.

- Vish! To ferrado. – ele me ajudou a me sentar e ficou ao meu lado. Todos os outros oficiais me cumprimentavam com tamanha empolgação que chegava a me assustar.

Alguns jogadores entraram junto de algumas moças e então Charles entrou, ele me olhou e pareceu petrificar, estava com Camilla ao seu lado, ela o empurrava e tentava falar com ele enquanto ele me fitava, após vê-la eu apenas desviei minha atenção e voltei para comida, ele começou a andar e se sentou junto aos outro.

- Capitão? – eu falei puxando o seu braço – Se importa se me levar para o quarto, minha perna está doendo.

Ele pediu licença a Francia que estava na ponta e então me guiou até fora do refeitório, Charles veio atrás de mim, eu parei de andar e levei a mão até a queimadura da coxa, parecia estar diferente, olhei para ele.

- Meu Deus, você está viva. – ele falou e olhou para o capitão – Como?

- Hoje não. – falei e pedi para que o Capitão continuasse me carregando, eu puxava a perna.

- Yeva! – ele me parou bruscamente, fiz uma careta de dor, o Capitão o empurrou para longe de mim. – Qual é a sua? Você sequer estava se importando com ela e agora está ai cheio de mimos.

- Mas não fui eu que logo me enrolei com outra – o Capitão arrebatou.

- Yeva! – ele tentou passar.

O Capitão o bloqueou.

- Capitão... – eu tentei chamar, mas Charles gritava, a minha perna não estava aguentando o meu peso – Capitão... – eu tentei mais uma vez – Charles!

Os dois pararam e me olharam, eu estava com as duas mãos sobre a mesma coxa.

- Por favor, me leve até o quarto. – falei segurando um choro. O Capitão me levantou em seus braços e me carregou, as meninas foram quem abriram a porta. Ele me deitou e pediu para ver como estava, eu mostrei e os curativos estavam sujos. – Acho que forcei muito – falei – Vai ter de trocá-los.

- Vou chamar a enfermeira – Sara falou correndo pelo campo.

- Desculpa, isso é culpa minha – o Capitão falou – Eu me envolvi com aquele...

- Não se preocupe – eu falei com pausas de dor – A culpa não foi sua, ela já estava doendo desde o refeitório.

O Capitão passou a noite por ali, deitado em um colchão ao chão, ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

E então?