O Verdadeiro Lar - A Luz De Safira escrita por Yui


Capítulo 8
Festival de Inverno - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, bem vindos a outro capítulo.
Bem, este é bem comprido, por isso será dividido em duas partes e a próxima, publicarei amanhã, antes ou depois de Déjà Vu ser atualizada, ainda não sei.
E amanhã atualizarei minhas outras duas fics, porque sábado, acho que não vou ter tempo por ter que tocar e também ir à passeatas.

Boa leitura.



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A noite se tornou nublada e os flocos de neve caíam, sendo carregados por um vento que apenas se sentia. No Vale da Paz, não havia sinal de que alguém estivesse acordado. Todos dormiam placidamente, sonhando com quaisquer coisas.

Não havia luz para incomodar o sono de ninguém, o nome do vale fazia jus a esse momento.

Em Yu Qin não era muito diferente, exceto pelo jovem panda acordado na sala olhando pela janela da casa que, agora, era seu lar. O que via eram os campos vazios do vilarejo, lá não nevava, apenas fazia frio. Estava num lugar mais ao centro da China, portanto era ligeiramente mais quente.

Ainda assim, o ar ainda era bem gelado e Po estava com uma manta, apenas para aquecê-lo mais, já que sua pelagem grossa impedia que perdesse calor.

Seu coração ainda estava acelerado devido ao sonho que se tornava frequente. O mesmo terrível sonho que teve na madrugada, antes da cerimônia de seu casamento, só que agora, apareciam ainda mais coisas.

Podia se lembrar claramente do sonho...

Po se viu novamente na cidade imperial. Passou ao lado de um córrego e subiu na ponte para atravessá-lo. Sem intenção, olhou para a água. Ainda era o mesmo tigre do qual não sabia o nome, não sabia porque estava neste corpo e ainda por cima, não tinha exatamente o controle do que acontecia no sonho, apenas seguia por onde deveria ir e por mais que a vontade fosse de fazer outras coisas ali, não conseguia mudar o rumo.

Continuou seu caminho para os portões do palácio imperial. Eles se abriram deixando ver um pátio gigantesco com os dragões passando por ele. O tigre branco continuou seu caminho. Era guarda do palácio como em todas as vezes que sonhava com isso.

Foi ao salão do trono e chegando lá, viu o que parecia ser a família imperial. Dragões chineses de escamas verdes e olhos de cores quentes. O maior, o macho, tinha os olhos vermelhos. A que estava a seu lado, tinha os olhos âmbar e a menor os mesmos, novamente os pais e filha. Se distinguia os gêneros pelos traços.

Se curvou e foi para seu lugar e ao parar, seus olhos se encontraram com os dela. Ficaram se encarando por alguns segundos e foram retirados de seus pensamentos pela chegada de um dragão negro de olhos azuis, ao qual, o imperador chamou de irmão. Esse novo dragão encarou Po de uma forma que fez um calafrio passar por toda sua espinha. Também não gostou desse lagarto gigante, da mesma forma que percebeu que ele sentia o mesmo.

O tempo passou muito rápido e acabou seu turno como guarda. Ainda tentava pensar em como conhecia aqueles olhos, os olhos da fêmea mais jovem. Foi então que o tempo pareceu saltar de uma época a outra. Antes era verão, agora era inverno e embora não nevasse, podia sentir o frio invadir sua pelagem. Enquanto havia essa passagem de tempo, viu a jovem princesa tentando aproximar-se dele. Ela parecia séria e distante frente aos demais, mas quando se encontrava sozinha com ele, parecia um filhotinho tímido. Tentando engatar conversas com o tigre branco e algumas vezes sem sucesso.

Isso foi mudando conforme os dias passavam rapidamente na mente de Po. Eles conversavam mais e ela até fora repreendida por seu pai por ser pega conversando demais com o pobre guarda enquanto haviam visitas no palácio. Poderiam pensar mal da jovem.

Era noite. Caminhou para um lugar escondido nos jardins, sentia vontade de voltar, queria saber o que estava acontecendo, mas seu corpo não mudou a direção. Aos fundos do jardim, de onde ninguém do palácio poderia ver – mesmo de uma janela –, Po encontrou a jovem fêmea dos olhos conhecidos. Na verdade, aqueles olhos, aquela cor o encantavam.

Ao cruzar seu olhar com o dela, sorriu sem saber porque e seu rosto se aqueceu, assim como o seu interior. Certamente estava ruborizado e se sentia tão bem em encontrá-la... ela se aproximou dele com o mesmo sorriso bobo em seus lábios e apesar de ser maior que ele, o abraçou. Abraço que fora correspondido.

- Achei que não viesse – disse ela, em sua voz melodiosa, ainda abraçada a ele.

- Me perdoe pela demora – disse e rompeu o abraço – tive que despistar alguns guardas pra poder vir te ver.

“Mas que raios foi isso? Por quê eu to falando isso?”, pensou Po exaltado consigo mesmo.

- Aqui podemos conversar sem que ninguém nos impeça.

- Sobre o que quer conversar?

Conversaram sobre temas bobos e comuns. Ele simplesmente simpatizou com a fêmea, a companhia dela fazia bem e se sentia completamente entretido ao que ela dizia. Parecia que o jovem tigre arranjara uma nobre amiga.

- Não entendo, por que quis ser minha amiga? – Perguntou o tigre branco.

- Porque você foi o único que não tentou se aproximar de mim, quero dizer, com alguma desculpa, esperando que por ser amigo da princesa, ganharia alguma coisa.

- Sério?

- Sim – sorriu timidamente para ele.

O tigre estava surpreso, e ao mesmo tempo, se sentindo lisonjeado. Ficou feliz com o elogio da jovem e então se aproximou mais dela, ambos sem tirar os olhos um do outro.

Então, mais uma vez, num abrir e fechar de olhos, estava em um local quase escuro por completo e ali, viu apenas aqueles horríveis olhos claros. Quando a luz de uma vela foi posta perto do rosto do jovem tigre, ele pôde ver que era o mesmo lagartão de escamas negras como breu. Ele acendeu mais algumas velas, permitindo que o tigre, com sua visão apurada, conseguisse enxergar totalmente o dragão fêmea, machucada e caída no chão à sua frente. Tentou se mexer. Impossível porque estava atado às paredes por correntes.

Po não sabia porque, mas o desespero o invadiu por mais que já houvesse presenciado essa cena e soubesse o que ia acontecer. Tentava de todas as formas se libertar para mudar esse final de uma vez, para que esse sonho sem sentido o deixasse de atormentar. Viu, então, uma grande espada era levantada pelo lagarto negro, que o olhava com malícia.

– Depois dela, é você.

Foi a última frase que Po ouviu antes de acordar se sentando na cama suado, ofegante e com os olhos arregalados. De novo. Noite sim, noite não, sonhava com isso sem saber porquê, estava se cansando.

Se ao menos sua amada Tigresa estivesse ali... sabia que não sonharia coisas tão ruins com ela por perto.

- Ah, por que tô sonhando com isso? – Perguntou ele a si mesmo e suspirou.

Não conseguia dormir de novo, então a única coisa que fez foi se sentar no meio da sala para tentar meditar. Quem sabe, encontraria junto á meditação, alguma coisa que o ajudasse a entender ou que fizesse isso parar.

Até que o dia amanheceu e ele ainda estava sentado na sala sem resposta alguma. Os quentes raios de sol não eram suficientes para aquecer o império, mas ainda assim era reconfortante para ele saber que por mais algumas horas ficaria longe daquele pesadelo, mas infelizmente, ficaria longe da cama.

No Vale da Paz, os comerciantes começavam a despertar e à medida que as horas passavam, iniciavam a decoração das ruas e da frente das lojas.

Dentro do palácio, os guerreiros e Hui Nuan estavam acordados. Bem, quase todos.

Macaco foi o penúltimo a acordar. Ao chegar na cozinha, viu seu amigo Garça e ele disse que os outros estavam no salão de treinamento. Ao chegar, avistaram Mestre Shifu andando em volta do salão com Hui Nuan, Víbora fazendo alguns movimentos antes de tomar o dia de folga e Louva-a-Deus esperando que ela terminasse para que todos eles pudessem descer ao vale e ajudar ou comprar alguma coisa para a ocasião. Além disso, a serpente o ajudaria a escolher um presente para sua namorada borboleta, Xiao Ming.

- Ei, gente, bom dia – disse Macaco.

- Bom dia pessoal – disse Garça.

- Bom dia – disseram os outros.

- E Tigresa? – Perguntou Hui Nuan preocupado.

- Ainda não acordou? – Perguntou Macaco – mas que estranho, ela sempre é a primeira a levantar e treinar nas folgas.

- Ah, deve ser por causa do panda – Shifu espalmou a própria testa e suspirou – jamais pensei que a veria assim... eu vou acordá-la.

- Pode deixar que eu vou – sorriu o tigre mais velho e com um aceno de cabeça de Shifu, ele se foi ao quarto da filha.

O tigre caminhava sem esquecer a conversa que estava tendo com o Grão-Mestre. Tomar cuidado no festival, não foram todos que aceitaram sua mudança para o vale, então ainda poderiam estar irritados com ele. Não o desrespeitariam por temer e serem gratos à Tigresa, mas mesmo assim, era bom não abusar.

Chegou ao novo quarto da felina e bateu de leve na porta. Sem resposta, ele abriu a porta que estava destrancada e entrou. Avistou alguma coisa laranja e negra entre as grossas e bagunçadas cobertas vermelhas e sorriu. Se surpreendeu ao ouvir um suave som conhecido para ele e vinha de onde estava sua filha, ao se aproximar, percebeu que era produzido por ela.

Se sentou na beirada esquerda da cama, o rosto dela estava para o lado direito. Ela estava de bruços e com a cabeça aninhada o máximo possível no travesseiro. Hui Nuan tocou atrás da orelha visível da felina e a acariciou, como gostaria de ter feito ao longo dos anos enquanto ela crescia. Com isso, o ronronar se tornou mais alto e forte e ele continuou por mais alguns segundos antes de despertá-la. Queria aproveitar a chance de cuidar o pouquinho que fosse de sua menina.

- Tigresa? Acorda...

Ela parou de ronronar e começou a grunhir, causando risadas em seu pai e isso a despertou. Abriu os olhos e piscou algumas vezes até que seus olhos se acostumaram com a luz que entrava pela janela. Se apoiou nas patas dianteiras apenas para tirar a cara do travesseiro e se virar para quem a chamou, então sorriu.

- Bom dia, pai – disse ela ainda sonolenta.

- Bom dia, filha. Dormiu bem?

- Dormi sim... mas, por que você tá me acordando? O gongo não soou ainda...

- Claro que soou – disse Hui Nuan, fazendo com que Tigresa arregalasse os olhos – faz tempo.

Ela se sentou rapidamente para se levantar, mas foi detida por seu pai que a segurou pelos ombros para que continuasse em seu lugar.

- Calma, calma...  hoje é folga, lembra?

- Eu sei, mas quero treinar um pouco e ajudar o Sr. Ping.

- Quem diria que sabe cozinhar... – brincou ele, a felina fez uma careta -, mas, que tal se nesse festival fosse diferente?

- Diferente como?

- É que é meu primeiro festival de inverno com você e eu gostaria de aproveitar pra passarmos o dia juntos. O que acha? Ter um dia de folga de verdade e depois ajudar os outros, inclusive seu sogro...

Ao ouvir o que seu pai disse, relaxou e o encarou um pouco surpresa. “Um dia sem fazer esforço?”, pensava ela. Estava sendo movida por seu costume de treinar e trabalhar no dia do festival. Este seria o segundo festival de inverno sem o panda, agora seu marido, trabalharia novamente e ajudaria os outros como ele costumava fazer, mas sem treinar? Não parecia uma boa ideia. Ainda queria, embora seu corpo lhe dissesse o contrário.

Pensou por uns segundos e seu pai a olhou preocupado.

- Se não quiser eu entendo... – foi interrompido.

- Não, não é isso. É só que eu ainda não sei se treino ou não – sorriu tímida.

- Ah, um dia sem vai te fazer mal?

- Segundo Mestre Po, “há mais na vida do que kung fu”.

- Ha ha, então, eu te espero na cozinha. Se troca pra tomar café e vamos dar uma volta – levantou-se e beijou a testa da filha.

Tigresa sentiu aquilo de uma forma mais intensa a qual estava acostumada. Obviamente, era diferente do carinho que sentia por Po, mas ainda assim era algo especial. Em seus lábios se desenhou um sorriso e seus olhos ameaçaram permitir a saída de lágrimas, mas ela percebeu antes que alguma escorresse.

Estar tão sensível assim, por conta de um carinho de um pai? Para qualquer outro poderia ser exagero, mas não para ela, embora achasse que essas os olhos molhados foi demais, estava mais sensível que de costume. Ainda assim culpando a saudade.

Mas será que a saudade também fazia dormir mais? Quem sabe fora o tédio. Durante os primeiros dias depois do casamento, se acostumou rápido a ficar próxima ao panda. Na verdade, desde que ele havia decidido ficar em Yu Qin, ela nunca se acostumou a ficar sem ele, até porque, antes de tudo, eram colegas de treino e luta, e com o tempo, chegaram a ser amigos.

Um som estranho para ela a retirou de seus pensamentos, o de seu estômago que quase nunca se manifestava. Dormiu demais, então não tinha comido na hora em que estava acostumada. Claro que o estômago iria reclamar.

Se levantou, colocou seu colete vermelho como de costume. Mais tarde colocaria o branco de celebração. Colocou sua calça preta e calçou suas sandálias, para depois ir até a cozinha e tomar café da manhã com seus pais.

-

Em Yu Qin, um panda sonolento, líder do vilarejo, andava ajudando os outros a arrumar o que seria a segunda celebração. O evento estava crescendo, as pessoas de Gongmen pretendiam participar.

Estava tudo indo às mil maravilhas, exceto pelos bandidos que começaram a rondar o lugar há quase um ano, desde que ele fora incluído nas rotas de mercadores. Isso incomodava demais Po e seu pai. Queria colocar logo seu substituto, mas o problema dos roubos o impedia sempre porque não tinha certeza se o escolhido daria conta e não queria deixar o lugar com problemas, sendo que os poderia evitar. Além disso, a equipe de kung fu treinada pelos mestres do conselho que seria a responsável por guardar Gongmen City, Yu Qin e as proximidades como os Cinco Furiosos faziam na região do Vale da Paz, ainda não estava preparada para arcar com tais responsabilidades, tanto que estavam recebendo treinamento até do Dragão Guerreiro para poder acelerar o desenvolvimento das habilidades dos guerreiros.

Po não parava de pensar nisso. Deveria fazer as coisas o mais rápido possível para não ter que ficar mais tempo longe de Tigresa. Seu estômago soou, retirando a atenção desse assunto por um instante, o suficiente para lembrá-lo de comer e ele foi até sua casa.

- Po, está tudo bem, filho? – Perguntou Jing-Quo sentado ao lado do jovem.

Ficou preocupado. Desde que voltaram, ele pouco falava, estava mais sério e parecia sempre cansado. Seria algum problema com a vila que Jing-Quo não estivesse sabendo ou apenas estava cansado de ficar ali?

- Nah. Tô bem sim pai...

- Não parece. Acho que já disseram que você não sabe mentir... – sorriu compreensivamente.

- É, não sei mesmo – abaixou a cabeça.

- Me diga o que foi?

- Estou preocupado que não consiga acabar com os crimes aqui e deixe Tigresa esperando muito tempo – tomou alguns fios de macarrão com o chopstick e os colocou na boca.

- Está achando que vai acontecer alguma coisa?

- Ah, mais ou menos... acho que vão obrigar que eu cancele meu casamento. Só não sei como farão isso, né? Mas, essa era a primeira ideia caso eu não achasse alguém pra tomar meu lugar.

- Espero que não aconteça nada – disse Jing-Quo antes de mastigar mais um bocado de macarrão – e ainda, você tem uma missão assim que os guerreiros e minha nora chegarem, não é?

- Ah! Não acredito! Esqueci que tinha missão pra proteger a princesa – Po colocou as patas sobre os olhos.

- Se acalme, filho, vai dar tudo certo. E você pode ser líder daqui, mas não deixou de ser o Dragão Guerreiro, até por isso fez o trato, pra se casar e continuar você e Tigresa com seus postos.

- É, mas... ai, sei lá, pai. Me preocupa aqui, me preocupa a missão e Tigresa sozinha no palácio...

- Ela não tá sozinha – sorriu e olhou para o filho – e você ainda deixou um belo presente para ela.

O panda sorriu. Realmente não estava sozinha, estava pensando besteiras. Ela era a melhor mestre de kung fu, nunca desistia, ainda por cima, estava cercada de seus amigos também mestres e seus dois pais. Seu presente para ela fora a presença daquele que, apesar de decisões erradas, a amou desde que soube de sua existência.

Eles haviam passado a manhã juntos e então desceram as escadas para o vale. Lá, Tigresa ajudou os aldeões, incluindo seu pai nos trabalhos que fazia. Embora os animais não estivessem gostando tanto da presença do velho tigre, não desafiariam a líder dos Cinco Furiosos. Os respeito e gratidão que tinham por ela era maior que o medo de ela ser dessa raça de felinos tão fortes e temidos, que ainda carregavam má fama por conta de seus antepassados.

Ajudaram na decoração como puderam, pois Tigresa ainda estava sonolenta. Conforme as horas foram passando, o ânimo dela melhorava e então os estômagos de pai e filha grunhiram.

- Filha, quer ir no seu sogro agora?

- Vamos só terminar de pendurar as fitas aqui... – seu estômago reclamou novamente – já é hora do almoço?

- Sim, estamos indo almoçar – disse um coelhinho de uma das casas que abrigavam as pessoas durante o festival.

A casa desse coelho ficava na rua principal e ao lado do restaurante do Sr. Ping, ficava a casa de outro ganso que estava sendo ajudados por outros furiosos, e então os aldeões, nômades e viajantes entravam em algum dos três lugares para passar a noite, comer uma deliciosa iguaria e também, aproveitar a companhia de quem encontravam, fossem estranhos ou conhecidos.

Hui Nuan e sua filha se dirigiram ao restaurante e lá encontraram o ganso idoso muito atarefado, sendo ajudado por alguns amigos.

- Ah, olá, Tigresa e Hui Nuan – disse ele saindo da cozinha para servir o almoço à clientes.

- Precisa de ajuda Sr. Ping? – Perguntou a felina.

- Não, não, minha filha. Querem comer alguma coisa?

- Se não for incômodo...

- Claro que não é. Já trago macarrão, ah... sentem-se ali – apontou com sua asa para uma mesa vazia em uma das laterais do restaurante.

Os dois se sentaram e conversaram, até que chegou o almoço.

- Bom apetite. Se quiserem algo mais, podem chamar.

- Obrigado (a), Sr. Ping – disseram ambos.

Tigresa comeu um prato pequeno de macarrão, forçadamente. O olhava e não estava com vontade, embora quando o colocava na boca, sentia estar delicioso. O pai dela notou, mas não disse nada e ao terminarem, saíram do restaurante, depois de Hui Nuan pagar metade, porque agora eram da mesma família então tinha desconto, já que o tigre mais velho fez questão de pagar.

Andando pela rua principal, Hui Nuan notou que sua filha estava com os passos mais lentos do que o normal, mas deu de ombros, talvez fosse o sono. Ele não conhecia exatamente a resistência da felina, então pensou que isso fosse normal para ela.

Ambos avistaram os outros furiosos se aproximando. Provavelmente para ir ao restaurante ou então pedir ajuda a eles, mas quando o ex imperador tigre viu a cara de espanto dos outros que ficaram um segundo sem reação, olhou para trás...

- Tigresa!

-

Na cidade proibida, os preparativos eram feitos pelos donos das casas e comércios. Dentro do palácio, não era diferente. Ju, Xue e Ayra estavam arrumando o salão principal. As felinas queriam receber algumas das famílias mais pobres para dar-lhes de comer e aquecê-los.

Era uma coisa que An fazia, a mãe das panteras, ajudar os outros daquele lugar como nunca fizeram por ela, mas não guardava rancor. Mas dessa vez, chamariam toda a cidade, nobres e plebeus. As princesas estariam com roupas que as escondesse, com exceção de seus olhos. E hoje, ao contrário do que planejaram anteriormente, seriam informados do compromisso da princesa Ayra, a qual conheceriam apenas no dia da coroação, sem citar que ela e Hai Li já estavam noivos.

Como sempre, a empregada mais confiável do palácio foi buscar essas famílias para lhes dar um lugar para se trocar e talvez ajudá-los a ter um local para morar ou emprego, o que faltasse.

- Ei, Ju, espera – disse Xue correndo atrás de sua amiga que estava com algumas fitas – eu preciso delas pra pendurar as lanternas da gente.

Estavam no grande salão, um lugar que já era belo por si só com suas cores vermelho, dourado e tons de laranja nos lugares mais claros, assim como detalhes em verde nos adornos dourados, em especial o trono de onde Zhi veria a festa.

No centro, seria armada uma mesa para que fosse colocada a comida.

- Calma, tem um lugar ali que precisa de decoração – disse ela parando.

- Onde?

- Ali. A Ayra consegue colocar as fitas lá com as shurikens não consegue?

- Acho que sim... cadê ela?

Mal sabiam elas que a princesa estava atrás de um dos pilares que cercava o salão com um pouco de neve que caíra naquelas terras na noite anterior. Raras vezes isso acontecia e deveria ser aproveitada.

- Aqui! – Chamou, atraindo-as para sua armadilha.

Então começou a jogar a neve que tinha em uma cesta e as derrubou no chão em choque.

- O que foi, Ju? Não se lembra de como brincar na neve? – Perguntou Ayra com um sorriso já na frente das fêmeas.

- Claro que lembro, mas onde foi que você conseguiu essa neve?

- Nevou de noite, vocês não viram?

- Não – responderam ambas.

- Ok, mas vamos brincar?

- Ayra, você sabe que logo logo é a festa, não é? Vão falar de seu compromisso... e você não pode ficar brincando assim... – comentou Xue e a panda concordou com ela.

- Mas eu vou me casar e herdar responsabilidades, eu preciso me divertir um pouco antes disso, especialmente antes de assumir o trono, irmã.

- É verdade. Tá, só pendura essas fitas e lanternas com as estrelas e aí vamos lá pra fora.

- Ok.

Logo depois, elas foram para os jardins brincar. Enquanto isso, Hai Li e sua família decoravam sua loja. Hoje, deveriam chegar mais cedo ao palácio, pois experimentariam roupas para serem apresentados como os familiares do escolhido da princesa.

Estavam regando as flores na estufa quando Hannah entrou chamando por seu irmão mais velho. A leopardo dourado de olhos castanhos estava vendo como ele estava distraído e com um sorriso bobo no rosto.

- Ei – bateu no ombro dele, que quase caiu.

- Ou, não me bate, poderia ter derrubado mais água... o que foi Hannah?

- Adivinha quem tá aí?

- Ayra?

- Não.

- Xue quer falar comigo sobre a irmã dela?

- Não... – ficando impaciente. “Meus deuses, só UMA fêmea vem encher você quase todos os dias!”, pensou ela irritada.

- Imperador Zhi... ?

- Não, não, não. Esquece e para de adivinhar. É a Rin.

Hai Li revirou os olhos e por mais que ele perguntasse o que queria essa fêmea abusada, sua irmã não sabia. Assim que ele foi para a frente da loja onde ela esperava e claro, com uma ameaça. Se ele não resolvesse ficar com ela, contaria a verdade à princesa assim que pudesse, para impedir o casamento e ela voltar com ele.

- Não importa o que você faça, a gente se ama e você não muda nada...

- Vamos ver se ela pensa a mesma coisa de quem roubou as joias da mãe dela no passado – sorriu com malícia.

- Isso foi há muito tempo e eu me arrependi.

Ele se lembrava de como invadiu o palácio imperial para roubar as joias da imperatriz. Na época, ele tinha mais ou menos doze anos, sua família passada dificuldades imensas e seus pais davam duro para criar a ele e a Hannah.

Influenciado pela jovem Rin, que tinha sua mesma idade e tinha a família em semelhante situação, resolveram dar novo rumo à vida de quem amavam, mesmo que isso significasse fazer uma coisa que os desonraria pela eternidade.

Era seu alvo final. Depois de tanto roubar, por mais de dois anos para ajudar seus familiares, resolveram parar com isso depois do que seria o grande roubo de suas vidas e lhes daria liberdade de poder ter dias melhores e sem as misérias às quais estavam presos na época, todo ainda reflexos das ações do imperador tigre que havia deixado seus irmãos felinos com má fama.

Assim que tomaram as joias do quarto de An, Hai Li e Rin saíram pela janela ao escutar passos no corredor. Ao sair por um buraco dos muros do palácio, correram até uma colina próxima e lá enterraram as joias.

Foi justamente no festival de inverno que Hai Li se arrependeu.

A loja de seus pais fora destruída há muito tempo e custou a eles reerguer tudo como antes. Mas eles conseguiram e ele estava na loja com seus pais, os negócios não andavam muito bem e foi quando chegou um guarda real e o pequeno leopardo pensou que havia sido descoberto. Não foi. O guarda veio por um convite a entregar à sua família, um convite da imperatriz para passarem o festival no salão do palácio.

Hai Li sentiu que lhe encolhia o coração e não queria ir, mas ao ver a felicidade no rosto de seus pais, já que foram privilegiados, não teve coragem de recusar. Sabiam que assim, teriam como voltar a ser confiáveis aos olhos do povo da região e poderiam trabalhar em paz, sem ter prejuízos ou sofrer com tentativas de assassinato.

Iria devolver as joias, Rin querendo ou não, ele as devolveria no dia seguinte.

Chegaram no salão, depois de ganhar as roupas do festival e foi lá que ele a viu. Avistou o que parecia ser um filhote, todo coberto com roupas em azul turquesa e branco, com linhas douradas e algumas partes de brilhantes. Estava sentada ao lado de An, então, certamente era uma das princesas, já que a outra estava sentada no colo da imperatriz.

Então o filhote a olhou e Hai Li se sentiu paralisado com aqueles olhos de um belo tom azul. A jovenzinha notou e desviou o olhar para a festa e durante todo o banquete, ficaram nesse jogo.

Ele se sentiu pior ainda pelo modo que se comportou em relação à família real que fora tão boa com a dele e não queria parecer alguém ruim para a princesa, dona daqueles olhos delineados e encantadores. A única coisa que enxergou além dos olhos, foi a pelagem branca e fina daquela parte do rosto da menina, que parecia ser suave. Ele nunca se atreveu a falar com ela durante o festival.

No dia seguinte correu com o primeiro raio de sol até as colinas e desenterrou as joias. Voltou correndo ao palácio e as depositou na caixinha a imperatriz enquanto ela e seu marido dormiam, sem o menor ruído. Logo depois, encontrou-se com Rin, discutiram por isso, mas ela o perdoou alegando que não importava o que acontecera, sempre estaria com ele e o perdoaria a qualquer deslize.

Quem diria, que ao encontrá-la no mercado, seria novamente encantado com a beleza dela sem saber que era a mesma filhote que encontrara anos antes. Em pensar que roubou coisas que agora ela usa.

E parecia que agora, Rin não estava disposta a perdoar esse amor do leopardo por outra, que era sua escolhida. Quando se escolhia um parceiro, não se podia voltar atrás à partir do momento em que isso fosse consumado e ela tinha tempo de impedir que isso acontecesse.

- Quem sabe assim, lembrando do que aconteceu, ela não se arrepende de ter escolhido você – sussurrou próximo ao ouvido de Hai Li, para então virar-se e sair satisfeita da loja.

Hai Li rosnou e depois voltou a seus afazeres. Em alguns momentos, seria levado ao palácio para se arrumar. Já não podia ligar para as besteiras de Rin. Ela quase fora sua companheira, mas a maldade que havia dentro dela, era maior que o próprio amor por ele.

Merecia alguém melhor e sabia disso. Felizmente a encontrou, a Ayra, e estava a ponto de ser anunciado à China inteira como seu prometido.


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Notas finais do capítulo

Hm, o que acham que tá acontecendo com a Tigresa... seria fraqueza por não comer bem, é como o caso de Xue ou outra coisa? O que acham?
No palácio imperial, Ju parece estar mudando... e será que nessa festa, Rin vai conseguir evitar o anúncio do compromisso de Hai Li e da princesa?

Bem, espero que tenham gostado e deixem seus reviews com dúvidas, apostas, críticas, elogios ou até sugestões.

Até mais. o/