Os Semideuses do Submundo escrita por João Victor Rocha


Capítulo 4
Capítulo 4 - Faça bom proveito, Hades!


Notas iniciais do capítulo

Que demoraaaa ò.ó
Kkkkk... Me desculpem mesmo, gente!
Vou tentar ser mais ágil agora...

—--- CAPÍTULO ATUALIZADO



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~[4]~

Capítulo quatro

Faça bom proveito, Hades.


Eu estava sonhando. Ou ao menos eu acho que estava sonhando.


Eu estava escutando Empório, que resmungava tremulamente por socorro. Acordei algumas vezes, mas tudo o que eu via não passava de borrões, eu estava tonto e tudo o que sentia era minha cabeça e todo o resto do meu corpo doendo, e além disso, uma silhueta feminina insistia em meter um liquido suspeito em minha boca, depois disso eu apagava. E isso se repetiu umas três vezes.

Teve um momento em que eu acordei, que logo após engasgar um pouco com o líquido, a menina me olhou fixamente e sussurrou alguma coisa como: Tú eres el hijo del Hades?

I donti hablas espanol – Resmunguei como um débil ainda com as vistas embaçadas.

Hei! Acho que ele ainda está delirando. – Berrou a menina, e eu pude entender perfeitamente

Logo alguém gritou em resposta, mas eu não consegui escutar. Ela se virou novamente e quase desmaiei de tontura, mas a menina lascou o liquido na minha goela, era forte, tinha um sabor único e era gostoso mas ao mesmo tempo enjoativo. Engasguei por um momento, mas logo me senti um pouco mais revitalizado.

— Se sente melhor? – Perguntou.

— Um pouco – Resmunguei, mas minha cabeça ainda estava girando. Olhei para a menina novamente e um turbilhão de perguntas vieram na minha cabeça. — Onde eu estou? Como vim parar aqui? – Perguntei como um tagarela, mas essas coisas me fizeram lembrar de tudo o que aconteceu com o lestrigão, e finalmente veio a pergunta mais importante: — Empório, ele realmente... morreu? – Foi muito difícil dizer desta forma, mas era inevitável.

Minha visão estava melhor, a menina tinha o cabelo encaracolado e loiro, sua pele era muito branca, mas em seu rosto se destacavam muitas sardas. Ela me olhava com pena.

— Eu lamento. Não sei de muita coisa, e além disso Quíron me proibiu de ter esse tipo de conversa com recém-chegados. Provavelmente ele esclarecerá tudo mais tarde.

— Entendo... Urrrgh – Gemi levando a mão à boca.

Meu estômago foi se mexendo, e rapidamente fiquei enjoado, quando a menina percebeu minha situação, se apressou em pegar um balde ao meu lado. Vomitei todo aquele líquido dentro do balde, onde estava visivelmente cheio com outros vômitos anteriores...

Santa medicina de Apolo, ele vomitou de novo! – A menina berrou.

Ouve alguns estalos de algum lugar distinto daquela... sala. Eu acho... não sei onde estou. E uma voz gritou em resposta:

Menina, é bastante simples: Dê ao garoto o néctar e a ambrósia até ele ficar melhor, mas não exagere. Depois disso está tudo certo. Apolo teria vergonha de uma filha assim... – Resmungou, seguido de um estrondo terrível de panelas caindo, e xingamentos em grego.

A menina não pareceu se importar com aquela pessoa. Ela parecia bastante relaxada, relaxada até demais. Na verdade ela parecia um tanto abobada, mas ela parecia emanar uma pequena luz, bonita de se ver. A menina pegou uma tigela de pudim e encheu minha boca ao máximo. Cuspi um terço, engasguei com o segundo e engoli o resto. Quando terminei a menina me olhava com curiosidade.

— O que estava me perguntando mesmo? – Perguntei.

— Eu te perguntei se você se sentia melhor... – Ela esclareceu. — Você se sente bem?

— Sim, estou bem melhor. Mas, quero dizer, a pergunta que você me fez quando acordei.

— Ah! é que quando Quíron te pôs sobre meus cuidados, ele disse que você veio de Hollywood, passou boa parte do país viajando apenas pelas sombras após a morte de Empório, e foi a primeira vez que você fez isso. Isso te fez ter tonturas e dores... Então tirei minha própria conclusão: Você é filho de Hades.

Ela estava certa.

— Você está certa. – Afirmei baixinho

Eu viajei pelas sombras? pensei, Uau! Isso é novidade.

— Então Empório morreu mesmo? – Perguntei tentando fazê-la confessar

— Lamento, mas foi o que Quíron andou dizendo...

Abaixei a cabeça e meus olhos se encharcaram. Era tudo culpa minha. Denovo.

— Desculpe, isso é tão tocante... E-eu preciso sair. – Ela se virou e enxugou os olhos. Depois saiu apressada por baixo de uma cortina se esgueirando. Achei exagerado da parte dela.

Ela me deixou lá sozinho, e eu nem se quer entendia onde estava. Tinha uma cortina, algumas estátuas brancas de bustos gregos, e estatuetas de um viking familiar, um homem segurando um raio e um cara com um tridente, talvez Zeus e Poseidon. O viking devia ser meu pai com o elmo do terror.

Não era um cubículo como repartimentos de hospitais. Parecia um quarto pequeno, tinha um radinho no criado mudo, armaduras e espadas gregas, um espelho, um armário...

Era o quarto de alguém.

●●●

Eu dormi por muito tempo, e o quarto já estava escuro. Então levando em conta que eu lutei contra o Lestrigão num fim de tarde, já se passaram quase vinte e quatro horas. Cara, eu sou filho do Deus do Mundo Inferior, Senhor dos Mortos, O-Cara-Lá-De-Baixo! Mas se eu passar mal todas as vezes que viajar pelas sombras, estou ferrado.

Eu acordei quando vários estalos vieram da direção da porta, ela se abriu violentamente. Era um monstro.

Um homem metade-cavalo segurando uma lança apareceu furiosamente reluzindo uma sombra macabra sob mim e avançou para dentro

UAARRGGHH! – Ele relinchou quando sua cabeça bateu na porta por que a mesma não era alta o suficiente. E depois adentrou o quarto praguejando coisas em grego antigo. Foi esquisito, mas eu entendi. Porém, são palavras muito fortes para serem traduzidas aqui.

Cambaleou um pouco e esbarrou em uma armadura grega de um arqueiro. A armadura que antes apontava seu arco armado para cima, desceu lentamente e apontou para o lado esquerdo da cintura do metade-cavalo, e em uma questão de segundos ela atirou.

Pude prever a morte do quadrupede.

Ele se esgueirou dando um passo para a direita, e usando seus sentidos, agarrou a flecha com a mão esquerda. Pude ver tudo em câmera lenta.

Ele me fitou furiosamente e apontou a flecha em minha direção com uma certa ira. Por um instante pensei que teria meu pescoço perfurado.

— É isso que acontece quando um filhinho de papai vai ao submundo pedir sua ajuda – Gritou me fuzilando com os olhos. Depois agarrou a flecha com as duas mãos e a partiu ao meio. — Quer que eu lhe conte a história, Richard?

Fiquei em silêncio.

— Pois bem, acontece que um menininho andou fazendo besteira. Quer saber o que aconteceu, Senhor Rase? – Continuei em silêncio, era uma pergunta retórica, eu acho, mas ele continuava furioso. — Hades nos deixou no escuro por uma semana. Uma semana! – Ele praguejou. — Nossos morangos quase morreram pela falta do sol, os filhos de Deméter constataram que metade da plantação morreu, e o resto ficou doente.

O homem-cavalo começou a me rodear, ele tinha o cabelo ralo e uma barba branca mal feita.

— E tem mais – Continuou — Quando percebeu que ainda não tínhamos feito nada, desistiu do primeiro castigo. E sabe o que seu pai fez, Richard? Ele amaldiçoou a mim e ao Senhor D com tremendo e perturbador azar por um tempo indeterminado. Tivemos que mandar o sátiro George Empório como escolta mesmo não tendo uma cabana para te abrigar. – Quando disse, se aproximou de mim e apontou o dedo na minha cara. Ele cheira a café! — Se Vi-ra!!

E se retirou furiosamente de dentro do quarto, bateu a cabeça no alto da porta e saiu praguejando mais palavrões gregos.

Quando meu pai disse que iria “conversar” com Dionísio ele não estava brincando.

Dionísio é um dos doze Deuses Olimpianos, ele é o deus do vinho e das festas. Foi punido pelo seu pai, Zeus, por ter tentado seduzir uma ninfa do bosque, e como castigo foi posto na direção do acampamento durante cem anos, além de ser proibido de fazer suas próprias uvas.

— Quíron não é assim! Ele só está nervoso pelo que seu pai fez – Resmungou uma menina entrando no quarto. Era a mesma menina que havia cuidado de mim anteriormente.

— Não foi minha culpa. – Falei seco. — Quem é esse Quíron afinal?

— É o nosso coordenador de atividades. Zeus o deu a imortalidade enquanto ele cuida do acampamento. Acredite, ele é muito gente fina!

Ela se aproximou e sentou ao pé da cama.

— Ele iria construir um chalé pra você – Ela continuou. — Mas seu pai estava muito apressado. Então foi a gota d’agua quando ele os deu aqueles castigos... Mas eu conversei com os meninos filhos de Ares, e eles concordaram em te abrigar.

Ares é o Deus da guerra violenta, da sede de sangue, e da matança. Osso duro de roer!

— Nossa, muito obrigado mesmo! Aliás, sou Richard Rase. – Disse estendendo a mão.

— Eu sei. – Disse como se já me conhecesse. — Krystin Lagrenha. Kris para os mais íntimos.

E ela apertou a minha mão com firmeza.

— Filha de Apolo – Complementou.

Ficamos conversando um pouco sobre mim, falei sobre meu pai, minha vida lá fora, minha ida ao mundo inferior e como George morreu. Era difícil falar sobre isso, então nós mudamos de assunto.

Krystin me contou que ela tinha o sonho de ser médica, servir ao acampamento com seus dons e tudo mais. Ela me contou que todos os filhos de Apolo preferem os arcos e flechas, ou a música... mas que ela é um tremendo desastre nessas coisas, assim, vem tentando desenvolver alguma habilidade na medicina, um outro dom dos filhos de Apolo.

Nós estávamos nos conhecendo melhor, ela disse que amanhã me apresentaria o acampamento, e que aqui seria o meu lugar preferido em todo o mundo.

Não com Quíron me odiando.


Uma trombeta soou alertando todo o acampamento, ela olhou para o lado de fora e se assustou quando percebeu quanto tempo havíamos perdido jogando conversa fora. Já era noite e o céu estava bastante escuro.


— Já vão servir o jantar! – Disse assustada, ela me agarrou pelo braço e puxou-me com urgência. — Rápido, temos que nos juntar aos outros.

Eu estava acamado à um dia! Eu me sentia tonto, e tudo era pior com Krystin me puxando feito louca. Saímos de dentro de uma casa, ela era linda e muito grande, tinha uma arquitetura típica dos gregos, e ao lado de fora, mesmo à uma certa distância, foi possível ver mesas de jantar em volta de uma fogueira. Algumas filas caminhavam em direção as suas respectivas mesas.

— Ali! – Krystin apontou para alguns brutamontes enfileirados. — São os filhos de Ares, cada chalé tem a sua mesa na fogueira, e como Hades não tem um chalé...

Eu assenti mostrando que o recado estava entendido.

Corremos para lá, Krystin foi para uma fila com várias outras crianças loiras e sardentas – Seus irmãos -, e eu me coloquei atrás de uma cara alto e gordo. Calculei que seu braço seria do tamanho da minha cintura.

Eu me sentia deslocado!

O brutamonte estremeceu. Neste momento me senti bastante confiante. Estava à noite, eu me sentia indesejado, mas poderoso, e acabara de deixar um gordo com medo. Era a influência “maligna” que eu passava para as pessoas ao meu redor.

Sentei junto aos garotos de Ares, alguns se mostraram inseguros – Com medo – e outros me encaravam friamente como se no fundo dissessem: posso roer seus ossos?

Duas pessoas sentaram nas mesas principais dali, um era baixinho, mal-humorado e parecia resmungar. O outro era Quíron, ele parecia ter esquecido tudo, estava sorrindo e cumprimentando a todos. Krystin tinha razão, ele parecia uma pessoa muito boa.

Não por muito tempo.

Logo quando o anão mal-humorado sentou à cadeira, a mesma partiu ao meio, e enquanto o homem iria com sua bunda de encontro ao chão bateu a sua mão com força nos talheres, e enquanto ele resmungava por ter caído no chão, um garfo que o anão havia acertado, saiu voando de encontro com a metade cavalo de Quíron. Alguns campistas taparam os olhos, outros observavam com atenção. Quando o garfo chegou ao seu destino, o homem-cavalo saiu relinchando em direção à casa de onde eu havia saído.

— Cavalo idiota. – Resmungou o gordo filho de Ares.

Presumi que o velho fosse Dionísio, pois ele se levantou e estendeu uma das mãos, depois com a outra, fez aparecer uma lata de Diet Coke na primeira mão. Ele se levantou e saiu em direção à Quíron dando passos lentos e pesados, tomando seu refrigerante e sempre mantendo o mesmo mal humor.

Os Meios-sangues riram escandalosamente. O fogo da fogueira aumentou repentinamente, e logo depois os mais velhos e experientes dali lideraram o jantar.

Uma ninfa do bosque passou por mim com algumas bandejas, elas estavam lotadas de uvas, morangos, maçãs, queijos, pão e churrasco. Peguei dois cachos de uva, pão, churrasco e queijo para o pão.

Eu amo uva!

Geralmente eu não sinto fome à noite, mas com aquele banquete, eu ficaria gordo em questão de dias!

Meu copo estava vazio, percebi que várias pessoas tomavam diferentes bebidas. Krystin acenava freneticamente em outra mesa, ela apontava para o copo. Não pude ouvi-la, porém ela gesticulou a boca em alguma palavra. Seu copo se encheu do nada.

— Ahn, vinho. – Ordenei ao meu copo

Nada aconteceu. Krystin acenou rolando os dedos como se dissesse: “outro”. Saquei, nada de bebidas alcoólicas.

— Diet Coke com Mentos – Pedi.

O copo se encheu, mas nada de Mentos.

— Somente bebidas, seu tolo! – Resmungou um dos filhos de Ares.

O ignorei. Mas eu não queria Coca Diet, era só para o prazer de ter uma explosão ali, então pedi uma Fanta de laranja, meu preferido.

Seguimos com o banquete, e em um momento cada chalé foi em direção à fogueira. Quando os filhos de Apolo estavam voltando, Krystin passou ao meu lado e falou-me que deveria oferecer uma oferenda ao meu pai jogando a melhor parte do meu jantar na fogueira.

Os filhos de Ares foram, eu não fui junto à eles.

Quando todo mundo já havia ido, senti que era minha vez, e enquanto eu “desfilava” em direção à fogueira eles me olhavam atentamente. Um vento frio soprou em minha nuca.

Levei uvas, então as dividi em duas partes, a primeira parte joguei em agradecimento à Ares e rezei: “Ares, Obrigado por me acolher, juro que não desonrarei o seu chalé, aceite essas uvas como símbolo de minha gratidão”. Peguei a outra metade do cacho e joguei com desgosto: “Hades, sei que você não precisa disso, e muito menos se orgulha de mim. Faça bom proveito!”

Quando me virei, vi alguns vultos em direção a floresta do acampamento. Ignorei e seguimos o banquete até o toque de acolher.


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Notas finais do capítulo

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