Zoë

Eu caminhava olhando para os meus pés e para a grama verde . Já era noite quando bati na porta de casa.

Annabeth abre a porta e sorri.

- Oi Zoë!- eu a abraço e entro- Eu e seu pai estávamos esperando.

Eu e Charles sentamos na mesa de jantar junto de meus pais. Infelizmente um silêncio toma conta e tudo o que se ouve é o tic-tac do relógio.

- Bem...- eu tento começar

- Zoë,- me interrompe Charles- você sabia que eles viriam, não sabia?

Eu cruzo os braços em cima da mesa e esfrego a mão neles. Apesar de ser pretora e saber tratar de assuntos sérios com pessoas que com certeza não tem tanta simpatia por mim, meu irmão tinha o poder de me deixar nervosa com esse tipo de pergunta: clara, direta e difícil de responder.

Eu molho os lábios , respiro fundo e simplesmente digo:

- Sim, eu sabia. Só não esperava que viessem agora.-eu respondo olhando para a mesa

- Querida...- diz minha mãe em um tom triste , mas gentil –Por quê não nos contou?

- Porque...- eu tento falar olhando para ela, mas volto á falar com a mesa –Porque nem eu mesma sabia direito do que se tratava até pouco tempo atrás.

- Como você sabia , sem saber direito?- pergunta Charles – Zoë , alguém te contou isso? Começa a história do começo, por favor.

- Então pega o notebook que o tio Leo me deu. –eu respondo olhando para eles- É melhor dar a noticia para a família inteira logo.

- Filho , faz o que a sua irmã pediu.- diz minha mãe colocando a mão no ombro dele.

Ele se levanta e sobe as escadas. Enquanto isso minha mãe fica me fazendo perguntas:

- Filha, por quê isso tem te incomodado tanto?

- Porque isso é realmente inesperado... é algo que pode explicar muita coisa, mas criar muito mais perguntas.

- Como assim?

- Mãe... o que a senhora sabe sobre o Egito?

Ela me olha com uma cara confusa , mas o que me deixa desconfortável é meu pai dar a entender que já sabia disso... Porém, antes que eu pudesse tirar quaisquer conclusões, meu irmão desce as escadas.

Ele põem o notebook na mesa, e eu vejo uma garota loira de olhos verde-mar , como os meus sorrindo na tela.

- Oi gente!- diz Sally, minha irmã

- Sally, onde está o Luke?- eu pergunto

Ela se vira e eu posso ver o interior do chalé de Poseidon atrás dela e , junto disso, um menino de cabelos negros deitado na parte de baixo de um beliche.

- Luke! Luke!- Sally grita – LUKE!

O garoto levanta num salto e se senta na cama, esfregando os olhos acinzentados.

- Que é?

- Está todo mundo no computador querendo falar com você!

O menino sai da cama e corre até onde a irmã está, com seu pijama azul e branco de listras.

- Oi!- ele acena para tela.

Eu sorrio fazia menos de três dias que meus irmãos tinham ido para o acampamento Meio-Sangue , mas a presença deles fazia falta para mim. Eu tinha prometido que iria logo depois deles, todavia, acho que teria de quebrar essa promessa.

- Porquê a reunião de família?- pergunta a loirinha dando espaço para o irmão aparecer na tela.

- Era o que a Zoë ia nos explicar...- disse Charles olhando para mim- Hoje, chegaram dois irmãos aqui. Junto de um monstro. O problema é que tivemos uma aparição de uma deusa...

- Quem? –Pergunta Sally se aproximando da tela

- Atena.- digo sem emoção

- O quê?!- Luke parecia ter finalmente acordado

- E tem mais... Eu ouvi Maia dizer que eles não são semideuses...

- Então o que são?- perguntou Sally, parecendo aflita.

- Como assim não são semideuses e chegaram aqui?- perguntou Luke

De repente tudo virou uma bagunça total. Todos falando ao mesmo tempo. Minha cabeça começou a latejar e eu a ficar cada vez mais estressada e nervosa. Tudo isso foi virando uma bola de neve até eu gritar:

- Eles são egípcios!

Enterrei minha cabeça nas minhas mãos e esperei o choque passar.

- Tá . Mas idaí que eles vieram do Egito?- pergunto Luke que claramente não tinha entendido o que eu quis dizer.

- Oi?- Sally perguntou claramente confusa- Semideuses egípcios?

- Não. Na mitologia egípcia não existiam semideuses. Mas, existiam magos.- expliquei

Novamente silencio mortal. Contudo, agora era possível ouvir os meus dedos batendo nervosamente na mesa.

- Magos? Tipo magos? Como?- perguntou Luke confuso.

- Não sei dizer ao certo... A internet não tem tudo.- disse levantando as mãos.

- Ok... agora, dá para explicar essa história do começo?- pergunta Charles

- Há algumas semanas, eu sonhei com Atena. Ela dizia algo sobre juntar mais uma metade...- Novamente voltei a focar meu olhar na mesa.- Ela disse algo sobre o Egito, magos e muito mais. Isso me custou muito tempo pesquisando, mas nada que eu pensava saia plausível.

-Então ... tudo começa com um sonho, pelo visto uma mensagem da deusa.- Sally repetiu devagar para ver se tinha entendido certo.- Agora, quando você descobriu sobre tudo isso? Quero dizer... Quando achou a resposta?

- Eu não conseguia achar nada nas minhas pesquisas que pudesse realmente me explicar o porquê de tudo. Eu chegava a virar noites pesquisando, procurava qualquer um que soubesse o mínimo sobe o assunto, enfim... Hylla percebeu que tinha algo errado e acabou descobrindo tudo. Ela me ajudou com a pesquisa e quando finalmente achamos a resposta, eu tinha que dizer o que pensava para os pretores.

- Está dizendo que a Hylla, a Esperanza e o Jason já sabem, é isso?- perguntou Charles- Ainda não entendo por quê você não falou conosco?

- Porque... Porque...- as palavras pareiam travar na minha garganta. Como eu iria conseguir dizer tudo? A verdade era que eu sempre fui muito orgulhosa, e Atena não costuma fazer muito contato, especialmente comigo... Então eu queria essa chance. Não sei para que. Entretanto havia outro motivo...-A única coisa que eu entendi era que precisávamos estar dos nossos dois lados. Com Sally e Luke no Acampamento , eu tinha certeza que o que quer que a deusa irá fazer, sairá tudo nos conformes.

- Agora entendi. – disse Luke- Você não falou nada porque queria que fossemos.- disse Sally- E... Não contou nada depois que fomos porquê você precisa do elemento surpresa. Você não pode deixar que as pessoas pensem que está mentindo, você precisa falar a verdade de uma vez, assim ninguém vai ter forças para duvidar.- Ela soltou uma risada feliz- Você é um gênio!

Eu finalmente tive coragem de olhar o rosto dela e de Luke na tela. Eles pareciam contentes, nem um pouco ressentidos por não terem desfrutado desse segredo antes. Sinceramente , acho que eles estavam dispostos a desempenhar seu papel e estar no lugar que tanto amam.

Tomei um pouco mais coragem e olhei para meus pais e Charles, minha mãe olhava para mim de um jeito que eu nunca poderei descrever, só posso dizer que eu tinha certeza que ela sabia todos os motivos por eu não ter contado e compreendia; já meu pai tinha um olhar pensativo e parecia estar longe dali, algo me dizia que ele sabia muito mais do que sua atitude contava; Charles parecia ter compreendido , mas ambos sabíamos muito bem que faltava muita confiança entre nós.

- Tem mais alguma coisa que seja necessário ser dito?- minha mãe perguntou sorrindo

- Acho que por enquanto isso é tudo que tenho.

- Então tudo bem. Só não nos esconda nada da próxima vez. Somos sua família Zoë. Teríamos entendido e te ajudado. Acredite em mim, se pensa com muito mais clareza quando se tira parte do peso dos ombros.- ela pois o jantar na mesa e beijou a minha testa- Ninguém aguenta tudo sozinho.

Enquanto jantávamos , trocamos algumas ideias sobre o que estava para acontecer que era tão grande á ponto de romanos e gregos não serem o suficiente.

- Não pode ser a mesma história.- repeti pela quinta vez- Se fosse os deuses já saberiam como agir, romanos e gregos seriam o suficiente e para isso, Tantanos teria de estar acorrentado.

- Nada na história da mitologia trás outra grande guerra.- contestou Charles

- Ao menos que estejamos vivendo-a pela primeira vez ...- Comentou Luke.

- É algo á se pensar...- Eu disse olhando para o teto

O silencio dominou a sala uma última vez antes de eu dizer:

- Não se preocupem, amanhã vamos levar os dois magos para o Senado e falaremos tudo.- eu me levanto da cadeira e suspiro – me desejem sorte, eu irei precisar.

Eu me despeço de meus pais e dos meus irmão, desligando o notebook.

- Não se preocupe, querida.- disse meu pai- vai dar tudo certo.

Sorrio e abro a porta.

- Zoë!- diz Charles se levantando- Vou com você.

- Acho que ninguém dormirá em casa hoje, mãe.- digo meio sem graça.

- Boa-noite queridos.

- Boa-noite – ambos dizemos em uníssono antes de fechar a porta e sair em direção aos quarteis.

- Zoë... Você não acha melhor saber do que se trata essa decisão dos deuses antes de contar a verdade?- pergunta meu irmão pouco antes de chegarmos á via Principalis.

- Acho melhor dizer tudo agora antes que tudo saia de controle.

Ele parou e me fez parar também.

-Você sabe que tudo isso é muito grande , Zoë. E sabe tão bem quanto eu que teremos pessoas que não vão aceitar tão facilmente a ideia de ter dois magos egípcios aqui.

- Eu tenho que ariscar. Ou as coisas podem piorar. – Volto á andar em direção ao alojamentos dos pretores enquanto ele ia para o da quinta coorte .- Mas, obrigada por se preocupar.

Ele esboça um sorriso e perco-o de vista.

Pouco depois ,já estava no meu alojamento . Fiz o maior esforço para fazer o menor barulho possível e fechei delicadamente a porta do meu quarto. Virei as costas para a porta e observei meu quarto de pretora, que mais parecia uma biblioteca com uma cama no canto. Sentei-me nesta e abri um livros procurando qualquer informação que me ajudasse em algo para o dia seguinte.

Contudo, acabei caindo no sono. Pior ainda, acabei sonhando .Duas vezes.

No primeiro sonho, foi mais uma memoria antiga. Várias imagens começaram a passar rapidamente : um casebre no bosque que cercava as colinas de Berkeley, as mesmas crianças da foto que eu tinha visto brincando, um raio atingindo o casebre, lobos nada amigáveis, uma garota se transformando em lobo, um menino virando flor, uma garotinha com uma faca ensanguentada e uma garota morta aos seus pés. Por fim; vi a garotinha chorando.

No meu segundo sonho vi uma garotinha de cabelos castanhos correndo por um bosque, em pânico. Ela gritava algo em uma língua que com certeza não era inglês. Ela chorava e tinha vários machucados. Ela chegou á uma estrada e foi atropelada. A cena tremulou e vi a mesma garota , mais crescida em São Francisco, com uma outra garotinha que se parecia com ela , só que usava óculos. Ambas falavam a mesma língua que eu não conhecia.

Mais uma vez a cena muda e vejo a mesmas duas garotas, um menino mais velho que elas e dois adultos fazendo uma mudança. Logo, vejo as mesmas pessoas dentro de um avião e depois vejo-as abrindo as caixas em um apartamento em Nova York.

Antes do sonho acabar vejo uma anotação em cima de uma mesa:

“Quatro meses para meu aniversário. Não esquecer de abrir o presente da vovó.”

Quando o sonho já estava se dissolvendo, poucos segundos ates de eu abrir os olhos, eu vejo dois olhos negros e uma voz feminina e assustadora que dizia :

Eu prometi que voltaria...

Nisso eu acordo com o coração batendo forte, suando frio e chorando. Ela não podia voltar , nem eles, de jeito nenhum. Tudo era realmente bem pior do que ela pensava. Estava mais do que na hora de escrever uma nova história.