Essência escrita por AnaMM


Capítulo 14
Instintos


Notas iniciais do capítulo

Ufa! Cheguei! Tava em provas, gente, desculpa. Estamos quase lá... Falta pouco pra LiDinho! Um capítulo grande pra agilizar a bagaça hahaha



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De longe, Lia avistou o ex-namorado a observando. Seus olhos se encontraram por um vago instante. Dinho virou o rosto culpado, e a roqueira fez questão de segurar a mão de Vitor. Conduziu-o até o Misturama. Confuso, Vitor logo percebeu o que a namorada estava fazendo. Cumprimentou Nando sem jeito. Lia parou em frente a Dinho, que já bebia outro gole de alguma garrafa materializada à sua frente.

– Ei! Sem álcool aqui no Misturama, você sabe disso! Onde você pegou essa merda, Dinho? – Nando repreendeu.

– Me deixa, Nando! Tá olhando o que? – Voltou-se para Lia. – E você, hein, almofadinha?

– Dinho, para de ser ridículo, pelo amor de deus...

– Eu sou ridículo? E esse seu namoradinho todo careta e certinho é o que?

– Cala a boca! Ele é meu namorado, ao contrário de você, que não é mais nada pra mim!

– Ah, não sou? – Dinho se aproximou da ex, tomando mais um gole longo. – Hoje mais cedo eu entendi outra coisa. – Segurou-a pela cintura sem pudor.

– Solta ela, seu moleque! – Vitor gritou, afastando a namorada do ex com força.

– Ah, ficou nervosinho! Então você não é tão perfeito quanto eu pensei... Viu, Lia? Ele é atacadinho também. Deve ser teu tipo. Vem cá, quando a gente vai repetir a dose de hoje? – Segurou-a pela cintura novamente, seu dedo contornando os lábios da ex.

Sem pensar duas vezes, Lia tirou a garrafa da mão de Dinho que segurava seu corpo e a atirou longe. O estilhaçar do vidro abafou o som do tapa que o aventureiro levou.

– Do que ele tava falando, Lia? – Vitor perguntou confuso.

– Valeu, Lia. Chega de álcool pra esse moleque. – Nando agradeceu. – A gente tava conversando... Eu dei bobeira. Fiquei pensando no que ele disse e nem vi que se foi quase uma garrafa inteira. Eu sequer vi a garrafa... Esse moleque anda um perigo.

– Ei, eu to aqui! – Dinho lembrou.

– E você ainda não me respondeu! – Vitor completou.

– Se você quer tanto saber, eu beijei a sua namorada e ela correspondeu. – Adriano respondeu na lata.

– Dinho! – A roqueira repreendeu. – Não é verdade, Vitor, ele me agarrou à força, eu não tive como me desvencilhar.

– Ah, qual é?! – Adriano reclamou com as mãos ao ar. - Vai mentir agora? Você gostou, sim!

– Lia? – Vitor implorou confuso que Lia negasse a história de Dinho.

– Ele tá bêbado, Vitor, não tá dizendo coisa com coisa.

Calado, Nando observou a defesa da roqueira. Não mudaria nunca? Podia ver claramente que mentia, e pior, a reação frustrada e impaciente de Dinho. Ouviu o garoto chutar uma cadeira com raiva. Irritado, Adriano esfregou a mão contra o rosto, contra o cabelo. Puxou seus cachos com força.

– Ele tá ficando maluco! – Lia comentava com Vitor, que tentava acreditar.

– Olha, Lia, eu vou ter que ir agora, mas a gente se vê amanhã, ok? – Beijou a namorada como despedida e saiu, ainda mexido com o que havia escutado de Dinho.

A roqueira o observou sumir e voltou a atenção para o ex.

– Tá feliz?

– Muito. – Respondeu sem dar importância.

– Você não presta!

– É o que você mais gosta de constatar...

– Chega, ok? Eu não sou obrigada a aguentar isso. – A roqueira respondeu cansada.

– Lia, espera! – Nando chamou. – Por favor! Fala pra ela, Dinho. Fala pra ela o que você me disse antes.

– E o que desculparia esse papelão, Nando?

– Dinho, você não falou que ia deixar a Lia em paz? Que tinha aceitado a relação dela com o Vitor? – Nando lembrou confuso.

– Sei lá, sei lá... Ela me tira do sério, só isso. – Adriano respondeu de costas para a ex, também cansado, sentado desconfortavelmente em uma cadeira e debruçado sobre a mesa.

Eu te tiro do sério? Você me tira do sério.

– Porque a gente se ama, só por isso a gente se tira do sério. – Murmurou. – A diferença é que eu admito.

Sem jeito, Nando olhava de um para o outro.

– Releva, Lia, ele tava fora de si! Eu ouvi o que ele falou quando ainda tava sóbrio, ele não quis fazer isso. O Dinho tava disposto a te deixar seguir com o Vitor, a abrir mão do que sente.

– Fala sério, Nando! O Dinho? – Lia riu. – O Dinho é o cara mais egoísta que eu conheço, nunca ia querer que eu fosse feliz com outro.

– E você seria? – O roqueiro perguntou sinceramente.

– Isso não importa, o que importa é que com ele eu não seria.

– Vocês dois têm que se resolver de uma vez, essas mentiras, essas negações só estão fazendo mal tanto a você quanto a ele. – Nando segurou no ombro imóvel de Adriano. – Dinho? Dinho!

Lia tentou ignorar a dor que sentia ao ver o ex-namorado mais uma vez desacordado, apagado sobre qualquer objeto. Flashes daquela manhã lhe preencheram a mente.

– A gente tem que fazer alguma coisa. – Nando murmurou.

– Eu sei...

– Você poderia mudar isso se quisesse.

– Eu sei, Nando, eu sei... Não é tão fácil.

– Só porque você não quer.

– Você quer que eu faça o que? Volte com o Dinho e espere ser enganada de novo?

– Lia, ele rodou o mundo e voltou. Ele podia ter ficado com qualquer garota de qualquer lugar e resolveu voltar pra você.

– Ele voltou pro casamento, o resto é capricho.

– Capricho? Você acha que ele está nesse estado por capricho? – Nando questionou incrédulo.

– Ele errou, não errou? Agora está arcando com seus erros.

– Ok, talvez ele esteja recebendo de volta o que causou, mas quanto é suficiente? Ele já está sofrendo mais do que te fez sofrer.

– Será mesmo? Eu acho que não. Ele tá é se divertindo.

– Lia, é sério... Ele realmente me disse que sabia não ser o cara certo pra você, e a dor com a qual me confessou... O Dinho tá aprendendo. Se ao menos ele ficasse sóbrio por tempo bastante pra continuar na linha...

– E o que eu tenho a ver com isso? Por que eu devo curá-lo? Ele bebe porque quer, eu não sou babá de ninguém. – Lia respondeu encerrando o assunto. Juntou sua bolsa e voltou para casa.

Sozinho, Nando se sentou ao lado do garoto adormecido. Levou-o para o sofá como na outra noite e o observou dormir.

–x-

Dinho acordou novamente com dor de cabeça. Nando lhe serviu o mesmo que da outra vez. Deixou-o comer em paz e ficar sozinho por um tempo. Algumas horas depois, enfim tocou no assunto.

– Por que você fez aquilo?

Dinho o ignorou, fingindo ler qualquer coisa e lançando olhares furtivos ao colégio.

– Dinho, eu pensei que você tivesse desistido.

– Eu não estava pensando. – Respondeu enfim.

– Quando desistiu ou quando desistiu de desistir?

– Hein?

– Dor de cabeça, entendi. Eu vou te deixar se recuperar em paz.

–x-

– Ele tá me tirando do sério, Ju! – Lia reclamou durante o intervalo.

– Deixa eu adivinhar: o Dinho te beijou à força de novo!

– Não, pior.

– Então ele não te beijou? – Ju zombou.

– Cala a boca, Juliana, isso é sério!

– Então?

– Ele jogou na cara do Vitor que me beijou e que eu correspondi. – Confessou sem jeito.

– Espera aí! – A it-girl disse empolgada. – Você não tinha me falado essa parte! Eu sabia que você tinha correspondido!

– Eu não... Oops. – Lia percebeu o deslize. – Eu não... Eu não correspondi, foi ele que disse isso. Ele inventou, você conhece o Dinho.

– Conheço. Quem inventa as coisas é você, não ele. – Ju apontou risonha.

– Você quer parar?

Você quer parar?

Ao olhar confuso da roqueira, Juliana acrescentou:

– Para de mentir, Lia! A sua chance de ser realmente feliz de novo tá se arrastando aos teus pés, você sabe que sente o mesmo que ele e fica nessa? Depois ele desiste, vai embora e já era pra você.

– Por que todo mundo fica dizendo isso? Eu não vou ser feliz com o Dinho! Eu to muito melhor com o Vitor!

– Depois não diga que eu não avisei.

Irritada, a roqueira voltou para a sala de aula. Seria muito pedir que alguém a apoiasse em não querer Adriano de volta? E por que até mesmo sua mente a traía? Seus pensamentos se alternavam entre o beijo, o papelão da noite anterior e a visão do garoto jogado sobre a mesa. Não conseguiu prestar atenção na aula, nem falar com Vitor, que tampouco parecia interessado em resolver a situação, pelo menos não naquele momento.

–x-

– Ela me tira do sério. – Adriano enfim respondeu.

– Eu sei, você falou isso ontem.

– Falei? É... É isso aí, ela me tira do sério.

– Até aí nenhuma novidade.

– A novidade é que por mais que eu decida deixá-la em paz eu não consigo. Eu tento aceitar que ela está melhor com o Vitor, mas foi só vê-la com ele... Aquele olhar debochado da Lia sabendo que estava me jogando na cara a pseudo-felicidade... Eu não me contive.

– O maior crime de vocês sempre foi o orgulho, garoto.

Olharam para o nada em um mútuo acordo de silêncio. Nando respeitava a privacidade de Dinho para lidar com o que ouvia.

– A cada vez que a bebida some do meu corpo eu sei que não deveria estar aqui, que ela estava mais feliz antes de eu chegar. Eu devia ter voltado pra casa ou pra qualquer outro lugar logo depois do casamento, mas eu ainda não consegui. O meu egoísmo e o meu vício não me deixam.

– Por que você se fere assim? Dinho, não vale a pena.

– A minha vida só vale a pena quando eu to com ela, Nando... – Respondeu derrotado.

– Você é jovem ainda, vai conhecer muita gente legal, você vai ver.

– Eu já conheci gente de tudo que é tipo, dos quatro cantos do mundo, e nada. Nenhuma preencheu esse vazio desgraçado.

Nando passou a mão pelos cachos de Dinho em sinal de conforto. Conhecia tão bem aquela dor... A mãe de Morgana seria para sempre sua Lia, e era uma tortura ser apenas seu amigo, vê-la com outros, não tê-la ao seu lado. Não queria o mesmo para Dinho.

– Algum dia passa? – Perguntou desiludido.

– O vazio? Não, esse tipo de vazio não passa. Você só se acostuma a ele, mas eu não quero que você se acostume. Dinho, eu não quero que você repita os meus erros, eu não quero te ver jamais se acomodando à dor de vê-la com outro.

– Mas é preciso.

– Não, não é preciso. Se você acreditar nesse amor que sente, que te consome, se você se deixar vencer e se jogar com tudo...

– Pra que? Pra levar outro toco da Lia? Pra que ela apareça com o namorado de novo pra me jogar na cara?

– Pra que vocês dois sejam felizes novamente. Um sentimento assim não pode ser esquecido, nem combatido.

– Eu vou descobrir como.

– Com o álcool? Com o álcool você só vai se tornar cada vez mais dependente dos seus instintos, e você sabe muito bem a quem esses instintos te levam. Você só vai piorar a situação.

– Pelo menos não vai doer tanto.

Nando suspirou derrotado. Não conseguia ver dois adolescentes tão jovens lutarem contra as próprias felicidades. Precisava mudar algo urgentemente para salvá-los. Precisava livrar Adriano do álcool e Lia dos traumas de uma cartada só. Ajudaria Lia e Dinho a se reconciliarem, nem que fosse apenas para vencerem a bebida e a negação.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e fiquem de olho que a história vai ficar melhor já já. Quero agradecer também os comentários. 90 em tão poucos capítulos é muito mais do que eu esperava! Comentário 100 tem brinde, hein!