Essência escrita por AnaMM


Capítulo 13
Egoísta


Notas iniciais do capítulo

Foi mal pela demora, tive um longo lapso de concentração :/

https://www.youtube.com/watch?v=I8tEcMjV_zE - the trilha
http://www.vagalume.com.br/bruno-mars/when-i-was-your-man-traducao.html



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Irritada com as declarações de Nando, Lia caminhou a passos pesados até o balanço da praça. Como ousava o roqueiro falar aquilo? Sabia ser feliz, não tinha medo. Era muito feliz com seu pai, com sua irmã, com os amigos, com o namorado... Claro, era muito marcada para ser plenamente feliz como fora um dia, mas era perfeitamente normal, não? Não iria bancar a babá de Dinho só porque o ex não sabia se virar sozinho. Não tinha obrigação nenhuma. Se Adriano quisesse sua companhia, não a teria traído, muito menos mentido, para começar. E então, mais uma vez, via seu namorado se aproximar e desejava ver os cachos, e não o topete; os olhos castanho-esverdeados ao invés dos azuis; o sorriso de quem estava sempre prestes a aprontar o que fosse, e não o sorriso plástico de Vitor. Tudo seria tão mais fácil se seu ex fosse como o atual, se Adriano fosse tão confiável, constante e correto quanto Vitor... Mas não seria o Dinho que conhecia, o Dinho pelo qual era apaixonada. Era Adriano que amava, com seus defeitos e qualidades, erros e acertos, e era justamente nesse Adriano que não conseguia confiar, para quem jamais se entregaria de corpo e alma novamente. Não tinha medo de ser feliz. Tinha medo do que Dinho poderia fazer com a sua felicidade. Não aguentaria chegar tão alto novamente apenas para despencar sem aviso prévio. Não tinha medo do topo, e sim da queda, maior a cada degrau.

Vitor a beijou brevemente, Lia só conseguia pensar em como aquele não era Dinho e em como gostaria que fosse. Beijar o namorado era como beijar um cartaz de papel, sem sentimentos, sem vida. O momento com Dinho ainda estava muito presente em sua memória, o que apenas piorava o que não sentia com o namorado. Podia comparar como se estivessem lado a lado.

– O que foi? Você tá estranha. – Vitor perguntou confuso, percebendo a frieza da loira.

– Nada. Senti sua falta hoje. – Respondeu automaticamente.

Precisava deixar seus sentimentos de lado. Não era saudável querer tanto um traidor insensível como Adriano Costa. Vitor era o namorado ideal, não Dinho. O segundo só a fizera sofrer, o motoqueiro era gentil, educado, carinhoso... Vitor não era egoísta, embora tivesse dificuldade em entendê-la e a acusasse por qualquer coisa. O motoqueiro não tinha culpa de estar namorando Lia Martins, a rainha do drama e das encrencas. Vitor a respeitava, respeitava seu pai, tentava educar sua irmã... Para os moldes das revistas de Ju, era o namorado ideal. Tinha que se acostumar a um namoro bom, seguro. O que sentia com Dinho era traiçoeiro, a apunhalaria pelas costas na primeira oportunidade. Acostumar-se-ia à relação quase monótona com Vitor para seu próprio bem.

– A minha falta? Foi você que saiu correndo do Quadrante e não apareceu mais. – O motoqueiro retrucou. – E pior: foi atrás daquele Dinho, se eu entendi direito! Você pode se explicar, por favor?

– Olha aqui, eu não devo satisfações a ninguém, e detesto cobrança!

– Eu pedi por favor.

– Claro que pediu... – Lia murmurou irritada. Como Vitor podia ser tão irritantemente educado? Ainda se fosse o bastante para gerar uma discussão e se ele ao menos fosse responder implicante e... Mas Vitor não era Dinho, suspirou derrotada. – Ele foi atrás de mim ontem, tava muito mal, e eu fui ver se ele tava melhor. Satisfeito?

– Lia, você tem certeza que-

– Eu não sinto mais nada por ele. – Respondeu rapidamente.

– Você não sente ou não quer sentir?

– Eu quero estar com você, ok? Não é isso que importa? – Lia implorou.

Vitor engoliu o orgulho. Também estava confuso, e estar com a namorada era um refúgio dos pensamentos estranhos que assombravam sua mente. Jamais havia se sentido daquele jeito, um prazer proibido e assustador. Queria fugir de alguém tanto quanto queria encontrá-lo, talvez fosse o mesmo que Lia sentisse e, talvez, a roqueira tivesse razão. Era mais seguro, mais correto estar com ela. Gostava de Lia, gostava de verdade, estava apenas confuso.

Dinho observou o casal do Misturama, recebendo o apoio da mão de Nando em seu ombro. Pareciam estar se dando bem. Não pareciam namorados, exceto por um ou dois beijos, que tampouco eram mais que breves, quase distantes talvez. Conversavam como havia visto Gil e Lia conversarem, ou Lia e Ju. Era desconfortável vê-los de mãos dadas, embora não parecessem se importar com o toque do outro, como se o outro sequer estivesse ali. Tinham uma conexão estranha, Lia e Vitor. Dinho não conseguia entender. Talvez lhe soasse como o que sentia com Ju, o antigo namoro deslocado, quase forçado por vezes. Um namoro de conforto e convivência, nada mais. Ainda assim, havia feito Lia sofrer tanto, que talvez fosse realmente melhor para a garota estar em um relacionamento como aquele, sem riscos, sem... graça. Era muita pretensão achar que o melhor para Lia pudesse ser uma paixão avassaladora que a pudesse destruir por completo na mesma intensidade que fazê-la sentir-se viva, inteira. Talvez para alguém que tivesse sofrido tanto nos últimos cinco, seis anos, a calmaria fosse mais indicada.

Haviam se beijado ardentemente há poucas horas e Lia agia normalmente, fechada e sorrindo para o namorado. Não havia contado, não contaria. Dinho riu da ironia de ver a ex repetindo seus erros. Talvez enfim o entendesse, e entendesse com a pessoa errada. Ou certa... Deus, era tão convencido de que era o melhor para Lia... Como podia ser tão egocêntrico? O mundo da roqueira não girava mais ao seu redor, por mais que ainda o beijasse com o mesmo desejo. E, embora fosse ciente da capacidade de uma mulher fingir prazer, algo lhe dizia que Lia não o havia superado. Ouvira-lhe dizer, gritar, na verdade, claramente alterada. Vira em seus olhos, em seu toque. Ainda assim, de que lhe importava? Lia podia sentir o que fosse, Dinho não sabia como lidar. Era um imaturo, inconstante, que provavelmente a faria sofrer novamente. A maior prova era como a via tranquila com o presente namorado e insistia em se ver como melhor opção, como a pessoa certa. Talvez a pessoa “certa” fosse, literalmente, a mais correta, e não a que Lia preferisse emocionalmente. Não havia felicidade na razão, mas apenas sofrimento em sentir. Sentir era ruim. Ruim para ambos, para qualquer um. Não estaria entregue à bebida se não sentisse, nem a roqueira se afogaria em lágrimas desde os dez anos de idade por uma mãe que a abandonara.

Ainda assim, se a tivesse tratado como deveria, Lia não estaria chorando. A loira merecia um namorado cuidadoso e correto como Vitor, que a colocasse em um pedestal e a visse como uma garota indefesa a ser protegida, talvez assim Lia não chorasse, talvez assim pudesse conhecer o amor. Devia tê-la escutado mais, deixado-a chorar quando precisava. Devia ter ficado no Rio de Janeiro, apoiado-a por mais que não tivesse razão. Devia tê-la posto para dormir, estando presente também quando acordasse. Não havia valorizado suficientemente a garota incrível que namorara. Agora era a vez de outro, e esse outro não parecia está-la deixando passar. Vitor não era um idiota. Talvez o que Dinho achasse mais estranho no garoto fosse justamente o que o elevasse a um posto superior ao do garoto.

– Eu sou um idiota, Nando, um moleque imaturo, como o Bruno adorava dizer.

– Você cometeu erros, Dinho, o que não faz de você um completo idiota. – Nando respondeu.

– Oitenta por cento idiota, talvez?

– Adolescente. – Retrucou experiente.

– O Vitor também é adolescente.

– O Vitor é mais maduro, verdade, mas é bem ingênuo. Vocês são diferentes, só isso.

– Só que o diferente dele é melhor pra Lia que o meu diferente.

– Quem disse?

– Eles estão felizes, não estão? Eu estou me abrindo com ela desde que cheguei, e eles continuam bem, como se nada tivesse acontecido, como se eu não existisse. Talvez seja melhor eu voltar, mesmo. Foi muito egoísta de minha parte vir recuperá-la como se ela quisesse o mesmo que eu.

– Dinho, você acabou de chegar, e ela ficou mexida, sim.

– E importa? Ela continua com o namorado, e parece tão estável... Eu não tenho o direito de tentar revirar tudo só pra pensar só em mim de novo e fazer a Lia sofrer. Ela não merece passar por isso de novo.

– Você tem razão, ela não merece, mas a vida é assim, Dinho, a gente sofre.

– Ela já sofreu o suficiente.

– Quem é você para decidir?

– Quem sou eu pra achar que o melhor pra ela é estar comigo?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e até a próxima! bj



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