Yusuke não conseguiu dormir. Ouviu quando Keiko saiu do quarto e foi ao banheiro. Ela não demorou. Ela logo voltou para o quarto e saiu novamente. El e viu que ela deixou algo nos pés do sofá. Ele não teve coragem de olhar para ela. Ela também não disse nada. Quando ouviu o barulho da porta do quarto se fechando, viu que ela tinha deixado um travesseiro e cobertas para ele.

Mas ele estava anestesiado.

Já devia ser de madrugada. Keiko provavelmente estaria dormindo.

Ele se levantou e foi até a porta do quarto. Levou a mão até a maçaneta e abriu a porta.

Ela parecia estar dormindo. Yusuke entrou no quarto e se aproximou da cama. Ela estava dormindo  realmente. Ele se ajoelhou no chão e debruçou os dois braços na cama cuidadosamente. Ficou ali sentindo o cheiro dela. Nunca ia se perdoar por ter perdido o amor dela. Mas agora era tarde.

E pensar em como teria sido, estava acabando com ele.

Sem pensar muito no que aconteceria depois, Yusuke se deitou ao lado dela. Essa proximidade fez seu coração bater descompassado. Queria muito tocá-la, mas se fizesse isso, ela acordaria.

Mas ele foi pego de surpresa. Ela se virou na cama e jogou o braço em cima dele. Ele ficou imóvel.  Num outro momento foi uma das pernas que veio pra cima dele. E ela estava de camisola...

Mas o ar realmente saiu de seus pulmões quando ela sussurrou seu nome.

Keiko: Yusuke...

Como ela poderia dizer que não existia mais nada se ainda o chamava dormindo? Vai ver ela estivesse sonhando que os dois estavam no meio de uma briga. Era a única explicação.

Mas de qualquer forma, não iria sair dali. Quando amanhecesse, ela poderia bater nele, mas neste momento era só o que queria. Tê-la em seus braços.

Keiko acordou e custou a abrir os olhos. Estava tão confortável. Ela viu um braço jogado na sua cintura. E sentiu uma respiração na sua nuca.

Mas não era possível que ele tinha feito tamanha besteira. 

Ela se sentou bruscamente na cama e começou a estapeá-lo.

Keiko: YUSUKE! Você ficou maluco? O que você estava pensando?

Yusuke: Ai, ai, o que está acontecendo?

Keiko: Quem te deu permissão para dormir aqui comigo?

Yusuke: Dá para parar com os tapas?

Keiko: Ai, que raiva de você!

Yusuke: Nós temos que conversar.

Keiko: Não temos mais nada para conversar.

Yusuke: Temos sim. Tivemos uma conversa muito esclarecedora de madrugada, enquanto você falava dormindo.

Keiko: É ruim hein!

Yusuke: Vou deixar você se trocar, apesar de eu não me importar que você fique com esta camisola. Está uma gracinha em você!

Keiko: Sai daqui seu pervertido.

Yusuke: Estou te esperando para o café da manhã, que claro, você vai fazer.

Keiko: Não conte com isso.

Yusuke: Ande logo, estou te esperando.

Yusuke saiu do quarto e Keiko arremessou um travesseiro na porta.

Keiko: Você quer brincar? Então vamos brincar!

Keiko entrou na cozinha e Yusuke já estava lá. Ela viu que os olhos dele se arregalaram quando a viu. Ela não tinha tirado a camisola.

Keiko: Então, o que quer falar?

Yusuke: Você não se trocou.

Keiko: Para quê? Você disse que não se importava e ninguém vai vir aqui. O que tem demais? Não tem nada aqui que você nunca tenha visto.

Yusuke: Tem coisas que não vi ainda.

Keiko: E nem vai ver.

Yusuke riu do jeito que ela falou.

Keiko: Desembucha!

Yusuke: É muito difícil pra mim, expressar as coisas. Você devia saber disso.

Keiko; Yusuke, eu não sei de nada há muito tempo.

Yusuke: Nós sempre estivemos juntos, desde crianças.

Keiko: E o que isso tem a ver?

Yusuke: Calma menina. Isso é difícil pra mim. Não sou bom com as palavras.

Keiko: Você sempre expressou tudo que quis Yusuke, desenrola.

Yusuke: Qualquer outro assunto. Mas pra mim, tudo é difícil quando se trata de você!

Keiko ficou em silêncio desta vez. Será que tinha ouvido certo?

Yusuke: Nós passamos por muita coisa juntos, desde quando éramos pequenos.

Ela continuou em silêncio.

Yusuke: Eu sempre gostei de você. Do meu jeito torto, mas eu só sei ser assim. E você nunca se importou. Na minha cabeça eu sempre tive a certeza de que estaríamos juntos para sempre.

Keiko: Eu também sempre achei isso.

Yusuke: E não estou conseguindo entender onde tudo mudou.

Keiko: Não é o que mudou Yusuke. É o que não mudou. Você não mudou. Seu sentimento não mudou.

Yusuke: Meu sentimento por você nunca vai mudar Keiko.

Keiko: Eu já percebi isso...

Yusuke: Mas eu sei que o seu sentimento por mim mudou. Não é mais o que era antes, o que sempre foi.

Keiko: Nisto você tem razão. Ele realmente mudou e está me matando!

Yusuke se levantou e ficou parado na frente dela. Ela deu um passo para trás e sentiu a pia nas suas costas.

Yusuke: Quando você deixou de me amar?

Keiko abaixou os olhos e suas mãos seguravam as bordas da pia.

Keiko: Eu... nunca... deixei...

Yusuke deu mais um passo na direção dela. O espaço entre eles era muito pouco.

Yusuke: Por que não confiou na minha promessa? Ela sempre foi verdadeira.

Keiko: Você voltou muito estranho. O que queria que eu pensasse?

Yusuke: Eu sou um Mané mesmo. Eu não sou do tipo que consegue falar, você sabe, essas coisas.

Keiko: Não sei não. Que coisas?

Yusuke: Keiko, eu só preciso saber de uma coisa. Você ainda me ama?

Keiko o olhou profundamente. Como poderia negar o amor que sentia por ele? Que tudo se danasse.

Keiko: Yusuke, eu nunca deixei de amar você!

Yusuke: Que bom. Porque eu também amo você, sua chata!

Dizendo isso, Yusuke acabou com o espaço que havia entre eles e com uma das mãos puxou Keiko pela nuca e com a outra, a segurou pela cintura. Eles mergulharam num beijo longo e profundo. Um beijo a muito tempo esperado com paixão, carinho, urgência, amor...

Quando se soltaram, os dois estavam sem fôlego e ficaram se olhando espantados.

Yusuke: Eu acho melhor você trocar essa camisola.

Keiko: Eu também acho.

Keiko saiu correndo da cozinha. Ela não estava acreditando no que tinha acabado de acontecer. Yusuke disse que a amava. Ela esperou a vida inteira para que ele dissesse isso. Ele já tinha dito, mas não foi como esta vez. Agora ela tinha certeza dos sentimentos dele. Agora sim, tudo ia mudar.

Yusuke ficou na cozinha pensando no que tinha acabado de acontecer. Finalmente tinha tido coragem de falar. E ela ainda o amava. Os dois que eram cabeças-duras.  Mas agora tudo ia mudar.

Ele queria ficar com ela a vida inteira. E o que tinha sido este beijo? Achou que não ia conseguir parar de beijá-la. Não havia treinamento no mundo que o preparasse para este sentimento. Ele sempre a tinha amado, mas agora era um sentimento multiplicado por mil.

Sentiu quando ela voltou para a cozinha e o abraçou por trás.

Keiko: Eu não quero brigar com você nunca mais.

Yusuke: Acho que isso vai ser meio difícil. Nós sempre brigamos, a vida toda.

Keiko: Não é deste tipo de briga que estou falando...

Yusuke: Eu entendi sua boba. Claro que não. E quanto a minha promessa, ela sempre esteve de pé!

Keiko: No fundo eu sempre soube disso.

Yusuke deu um beijo rápido nela e se sentou.

Yusuke: E o nosso café? Estou com fome.

Keiko: Se está achando que vou ficar de empregada para você, o senhor está muito enganado!

Yusuke: Anda logo, estou com fome.

Eles se olharam e riram da situação. Enfim, tudo ia ficar bem.