Keiko e Yusuke estavam trancados ha quase duas horas. Dentro de poucos minutos iria anoitecer. Keiko continuava no quarto sem dizer uma palavra. Yusuke estava deitado no sofá da sala.

Será que ia ser melhor ir ver como ela estava? Ele não ia aguentar este silêncio todo. E se ela resolvesse ficar no quarto por toda a semana? O coração dele estava apertado. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Antes não tinha comido, mas agora ele estava com fome. Resolveu ir chamar Keiko.

Yusuke: Keiko.

Keiko: O que foi?

Yusuke: Vai ficar aí pra sempre? Sai aí.

Keiko: E o que isso te interessa?

Yusuke: Você é a única pessoa que tenho para conversar. Eu estou com fome. Faz alguma coisa pra eu poder comer. Por favor.

Keiko abriu a porta e passou por ele sem olhar no rosto dele.

Keiko: Que fique bem claro que você vai dormir no sofá!

Yusuke: O quê? Claro que não.

Keiko: Claro que sim!

Yusuke: A cama é bem grande, podemos dormir os dois juntos.

Keiko: Você está de brincadeira né?

Yusuke a encarou e ela ficou envergonhada. Ele encostou o dedo na ponta do nariz dela.

Yusuke: É claro que estou sua bobinha! Pode ficar no quarto! Agora vamos com a minha comida.

Keiko: Você é mesmo um imbecil.

Keiko saiu pisando duro para a cozinha.

Yusuke: E agora o que eu fiz? Eu só estava brincando.

Keiko: Você brinca demais!

Yusuke: Ahhh gostou da ideia, não é?

Keiko mostrou a língua pra ele e começou a cozinhar.

Durante um tempo, Yusuke ficou observando-a. Porque será que ela levava sempre tudo a sério? Ele tinha brincado, mas no fundo queria que não fosse brincadeira. No último mês, nunca tinha pensado tanto em algo como pensava em Keiko. E o pensamento de dividirem a mesma cama fez todo seu corpo esquentar. Como seria se ela não estivesse usando tanta roupa? Seu pensamento voava cada vez mais alto e não conseguia mais tirar os olhos dela.

Keiko: O que foi hein? Está passando mal?

Yusuke: Eu acho que preciso de um banho frio.....

Yusuke saiu da cozinha rapidamente e foi direto para o banheiro.

Keiko: Que garoto mais maluco.

Keiko pensou que ela ia ficar maluca presa tanto tempo com Yusuke na mesma casa.

Quando ele tinha proposto que dormissem na mesma cama, por um minuto ela achou que ele estava falando sério. Se ele quisesse, ela sabia que não ia conseguir dizer não. Mas nada era como ela pensou que fosse quando ele voltasse. Ele continuava levando tudo na brincadeira. O mais perto de um beijo que tinham chegado foi dado por ela. Ele nunca fez menção de beijá-la. Sempre ela tomava as iniciativas de carinho. Talvez o amor sempre tivesse vindo da parte dela. E aquela promessa estúpida devia ser outra brincadeira dele. Mas ele não ia mais fazê-la de boba. Isso ia acabar de uma vez por todas.

O jantar já estava pronto quando Yusuke voltou do banheiro. Keiko notou que ele realmente tinha tomado banho e agora usava roupas mais confortáveis.

Yusuke: Está cheirando muito bem. Ainda bem que você sabe cozinhar, porque senão, íamos os dois morrerem de fome.

Keiko: Cala a boca e come logo!

Yusuke: Aqui garota, eu não vou poder falar nada? Você está muito agressiva! Pode parar com isso. Lembre-se que vamos passar uma semana aqui.

Keiko: Contra a minha vontade!

Yusuke: E contra a minha também.

Keiko: Você me irrita Yusuke!

Yusuke: Não te irritei quando cheguei e você me beijou.

Keiko: Isso já passou. E se você não queria voltar, porque voltou?

Yusuke: Quem disse que eu não queria voltar? Eu não te prometi que ia voltar?

Keiko: Quanto a isso, pode esquecer. Eu não levei a sério mesmo essa promessa.

Yusuke: Não levou? Mas você me esperou.

Keiko: Esperei nada, garoto! Você tá pensando o quê? Eu nem tinha certeza se você ia voltar. Pode se sentir livre desta promessa.

Yusuke: Então se é assim que você quer, tudo bem. Acabou a promessa.

Keiko: Por mim está ótimo! Bom apetite.

Keiko saiu da cozinha e se enfiou no quarto. Procurou por uma chave para trancar a porta do quarto e não achou. Jogou-se na cama e chorou silenciosamente, quando sua vontade era de gritar. Então era isso. Tinha acabado de vez.

Yusuke ficou na cozinha olhando a comida em cima da mesa. Quando tudo tinha mudado? Quando o amor dela tinha acabado. E porque ela não tinha levado a sério a promessa dele? Nunca tinha falado tão sério em sua vida.

Sua fome tinha acabado. Deu meia volta e foi para sala. Deitou no sofá e ficou pensando no que tinha acontecido. E pela primeira vez chorou por ela.