Sem Direção escrita por Renan Suenes


Capítulo 24
O avião




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24

 
Era um belo avião, muito bem organizado, luxuoso demais para quem estava passando por dificuldades, e o mais impressionante de tudo isso, as pessoas que passaram apuros comigo naquela cidade e no subsolo, estavam lá. Jessie dormia na poltrona da frente e Daniel atrás dela. Minha cabeça girava, eu estava tonto, entretanto, tentei gritar, chamar por ajuda, seja lá quem era o piloto alguma coisa poderia ser feita!
- Socorro... Alguém... Acordem...
 Parei de falar assim que entrou Josh pelo corredor da aeronave, ele estava sorridente, expressando serenidade e gentileza.
- Olá crianças, estamos quase chegando, ou devo dizer apenas, criança?! Vejo que só você, Peter, está acordado. Faminto?
 Encarei ele. O que esse cara estava pensando que eu era? Algum trouxa? Ameaçou minha vida e estava tentando insinuar bondade numa hora tão conturbada como essa. Repliquei sua pergunta um pouco confuso, supostamente eu estava dosado por remédios.
- Josh... – fiz uma pequena pausa, respirei fundo, tentei não focar na dor imposta no meu cérebro e continuei – O que você está fazendo aqui?
- Estou apenas seguindo ordens. Ainda não matei vocês por que não estou dominando o jogo ainda, mas isso é só questão de tempo. Seria melhor você voltar a dormir, sua mãe não iria gostar de saber da aventura que passou, aliás, ela não acreditaria. – e sorriu por fim, demonstrando sarcasmo.
 No fundo eu não queria dormir, mas talvez a dosagem do remédio que provavelmente ele mesmo me aplicou era tão forte que não resisti. A dor que eu sentia na cabeça era inexplicável e meu tronco começou a se tornar completamente rígido, sem conseguir movimentar se quer um membro. Me perdi em pensamentos, sonhei situações, vivenciei ficções, mas nada foi tão real quanto conversar com Beatrice, que por sinal, não estava presente no avião comigo.
- Peter! Continue dormindo. Você está sonhando, mas isso tudo está mesmo acontecendo!
- Bea? Onde você está?
- Estou perdida na cidade! Josh levou vocês e me deixou para trás, ainda não sei o motivo.
- O que diabos está rolando por aqui? Eu quero você perto de mim.
- Peter! Fique calmo. Eu mais do que nunca quero ficar ao seu lado, a distância é nossa maior inimiga no momento. Fique atento aos detalhes, Josh está vestindo paletó por que ele trabalha para alguma organização. Deduzi isso sozinha após horas de contínuas conclusões!
- Bea, eu não estou compreendendo. Estamos mesmo conversando via sonho? Isso é bizarro!
- Eu também não estou conseguindo entender por que isso está ocorrendo, mas é uma ótima forma de nos comunicarmos.
- Você também está dormindo assim como eu?
- Sim estou, e isso é segredo. Consegui conversar com Daniel poucos minutos atrás, mas houve alguma coisa e nosso contato foi desfeito. É sinistro, mas não podemos contar aos outros.
- Que outros? Do que você está falando?
- Das pessoas aí de fora Peter. Não conte á eles o que vivemos e nem onde você estava, irão chamá-lo de louco.
- Bea, estou seguro. Josh falou que minha mãe vai me encontrar.
- Não acredite nele, em hipótese alguma! Suponho que seja ele o culpado por tudo isso, não quero que siga as suas instruções. Por favor...

 Assim que tentei responder senti uma queimação no meu rosto. Abri meus olhos e me deparei novamente dentro do avião e Josh segurando meu colarinho. Seus olhos manifestavam desespero, e aos gritos ele suplicava.
- Acorde seu maldito! A sua amiguinha está se transformando num daqueles monstros! Faça alguma coisa!
 Tentei avaliar o que estava se passando, contudo minha mente ainda estava zonza. Os berros ensurdecedores de alguém que eu não conseguia identificar estavam me fazendo ficar insano. De uma vez por todas arregalei os olhos, bati com força no meu crânio e presenciei uma cena horripilante. Jessie no meio do corredor da aeronave, cheia de sangue, jorrando líquido verde nas poltronas e Daniel chutando seu corpo com uma violência delirante.
 Me levantei com as pernas bambas, me segurei no braço de Josh que me encarava com desespero e parti pra cima de Daniel num avanço rápido. Segurei sua barriga e o puxei para trás, a fim de parar suas ações inúteis e contribuir para estabilizar a calma no lugar.
- Me solte seu idiota! Ela me atacou!
- Daniel, eu não vou deixar você matar mais um de nós. Já não basta o Ben!
- Seu verme! – ele rangeu os dentes e cuspiu no meu rosto. – Me larga! Ou eu não respondo pelos meus atos!
 Joguei ele para a poltrona do lado com violência, fazendo-o bater com a cabeça na janela do avião. Fitei Jessie, que estava de quatro no chão rosnando feito um animal feroz. O líquido que escorria por sua boca me fazia tremer e repensar no meu ato seguinte. Josh, que até então tinha parado de bradar, falou por fim.
- Não há mais jeito Peter, teremos que matá-la! Ela já estava contaminada... Se eu soubesse...
- Josh – respondi um pouco atordoado. – não podemos fazer isso, eu imploro. Eu a vejo como minha responsabilidade. Deixe-a viver.
- Eu odeio você Peter, você merece morrer no lugar dela então! – vociferou Daniel.
- Cala essa boca!
 Não me contive e dei um soco certeiro no nariz dele. Ele desmaiou na hora, jogando seu corpo de encontro com o plano. Depois do acontecido, constatei que as costas de Jessie se movimentava sozinha em um ritmo frenético, como se tivesse vida própria. Levei um grande susto observando seus ossos e sua coluna se descolando e saindo do lugar. Me virei para trás para analisar o que Josh estava fazendo, e tive um sobressalto. Ele conduzia uma arma, mirando certeiramente para ela.


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