Sem Direção escrita por Renan Suenes


Capítulo 12
Escapada




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12

 Tentamos nos acomodar da melhor maneira possível, sentei ao lado de Ben e de Beatrice. Suzan preferiu ficar de pé, não gostava de ser mandada.
- Estou aqui há cerca de um ano, e até agora nunca vi um grupo tão desordeiro como vocês.
- Sobre o que ela está falando? – interrompeu Daniel. - Um ano? Como assim?
- É isso mesmo cabaço, um ano. Do jeito que vocês vieram pra cá eu também vim. Acordei no meio da estrada, com o asfalto fervente destruindo a minha cara. Eu tinha um grupo, eram dez pessoas, nove morreram, e adivinhem quem sobrou? Somente eu. Ainda procurando uma saída, ainda tentando solucionar toda essa bosta de lugar. Me apaixonei, sofri, menti, matei, lutei, venci, e ainda to viva. Minha única missão é sair desse inferno, estou aqui contando com a ajuda de vocês, mesmo que sejam incapazes de compreender ou aceitar as opiniões dessa ruiva mandona. Só peço que me ajudem, poderemos ainda tentar desvendar alguma solução para toda essa história.
 Sarah estava emocionada, ninguém falou nada ou ironizou a situação, ela mostrava ser forte no momento certo e frágil quando o assunto era sua vida atual.
- Eu não conhecia esse lado carinhoso dela. – falou Ben, pretendendo não chamar a atenção.
- Você vai se tornar um deles, seu imbecil – Sarah encarou Ben após ouvir o comentário. – Ninguém aqui vai escapar se tiver contato com a saliva daqueles malditos doentes. Pelo o que vejo, foi assim que você perdeu a mão.
 Jessie torceu o pescoço, mirando as pessoas lá embaixo, cada uma começou a entrar nos bueiros, eram idosos, adultos e crianças, todos com as peles esverdeadas. Me levantei para observar a cena também, faziam uma fila para adentrar no subsolo da cidade, precisamente deduzi que eram suas casas. Viver no esgoto deveria ser algo muito desconfortante, eu estava disposto a descobrir o que tinha acontecido com eles para se tornarem daquele jeito.
- Foi isso Ben? – perguntou Suzan, expressando angústia na voz. – Eles te pegaram?
- Tentei ajudar David a se livrar daquelas pessoas, mas um conseguiu pegar minha mão e arrancá-la vorazmente, eu fiquei tão assustado com a quantidade de sangue escorrendo, que larguei David para trás, me juntei a Daniel e voltamos praquela casa de imediato. – Ben mordeu os lábios, seu rosto mostrava culpa.
- Tudo bem cabaço, é difícil passar da primeira semana aqui. Por ser o primeiro dia até que você se saiu bem. Só no meu antigo grupo, seis pessoas foram mortas nas setenta e duas horas após nossa chegada. Não quero contar minha história, mas preciso resumir o que aprendi e compartilhar meus conhecimentos com vocês.
 Beatrice estava de pé com Jessie, ambas ainda observavam os indivíduos caminhando e voltando para o lugar de onde saiam.
- Galera, temos visitas! – disse Daniel apontando o dedo para a porta.
 Era uma moça e um rapaz, ela tinha os pés tortos e dentes grandes, aparentava ter alguma doença antes mesmo de se tornar o que era agora, ele demonstrava estar nervoso, tinha uma corcunda e babava uma gosma. Sarah puxou a espada das costas e pediu que nos afastássemos deles e nos puséssemos atrás dela.
- O que foi coisas feias? Vem! Podem vir – provocou Sarah. – O que estão esperando?
 Ela saiu correndo e cortou a cabeça da jovem mulher e um só golpe, rolou no chão e se posicionou de joelhos, apontou o objeto afiado para o homem, ele rosnou e gritou como um gorila defendendo seus filhotes. Espreitei os olhos e percebi que as pessoas que estavam entrando no bueiro lá embaixo tinham ouvido o berro do rapaz, começaram a voltar para o supermercado, caminhavam como zumbis sonolentos.
- Precisamos sair daqui! – falei para todos em bom tom. – Sarah, esqueça ele, se perdemos tempo aqui não vamos conseguir fugir!
- Há uma escada ali do lado, iremos descer direto para um beco, vamos logo – anunciou Daniel.
 Beatrice foi a primeira a descer, a escada era presa na parede do supermercado, Jessie foi em seguida. Deixei Daniel passar na minha frente, queria ter certeza que todos iriam ficar bem. Chamei por Suzan, mas ela parecia estar disposta a ajudar Sarah com alguma coisa.
- Sarah! Vem logo! – gritei sem medo.
- Pode ir, Peter – ela replicou. – já estou indo, deixe-me só acabar com esse desgraçado.
 Lancei um olhar assustado, discordando totalmente da ideia. Suzan me puxou pelo braço, mas eu não conseguia tirar a atenção de Sarah, ela era louca, tinha o prazer de matar cada criatura daquela cidade. Então a porta foi esgarçada, e mais ou menos trinta pessoas como aquele rapaz saíram em disparada na direção dela.
- Peter! – Jessie me chamava lá debaixo. – Peter, temos que sair daqui, por favor, rápido!
 Suzan já estava na metade da escada, Sarah me deu uma última olhada e assentiu com a cabeça, não sei o que iria acontecer depois dali, mas tive que descer para salvar minha vida.


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