Sem Direção escrita por Renan Suenes


Capítulo 10
O supermercado




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10

– Certo, não tenho tempo para explicações agora. Vamos sair por aquela maldita porta e resgatar seus amiguinhos. – disse Sarah. A tonalidade do seu cabelo era meramente forte, foi fácil identificar que ela tinha uma personalidade grandiosa, assumia o controle de um jeito sagaz.
 Fui o primeiro a começar a descer as escadas, repensei sobre o fato das damas serem as primeiras, eu estava realmente com medo e aflito, contudo, preferi compartilhar essa questão dentro da minha mente. Suzan ficou por último. Quando finalmente chegamos à metade do caminho a única coisa que podíamos ver era muito sangue. Pedaços do interior do corpo de Ryan, como seu estômago e intestino delgado, chamavam a nossa atenção, levantei a cabeça e tentei não inalar o odor exagerado do ambiente, era praticamente um cemitério.
 Sarah colocou a mão no meu ombro quando chegamos lá embaixo, no intuito de avisar que dali pra frente ela começaria a comandar. Abriu devagar a porta, puxou sua espada e seguimos seus passos. A rua estava completamente deserta, havia somente carros e placas jogadas no chão, o supermercado ficava a alguns metros dali.
– Ouçam cabaços, aquelas criaturas ainda estão por aqui, não se enganem quando a rua estiver desse jeito – sussurrou Sarah nos alertando – eles podem estar escondidos dentro de um automóvel, ou até mesmo dentro das casas. Fiquem atentos e não deslizem. Qualquer barulho é uma provocação para a morte.
 Seguimos adiante com as pernas dobradas, esfregando a parte traseira do corpo nas paredes dos prédios. Jessie ergueu uma mão, falava a palavra socorro sem enviar som, Suzan olhou para mim com um semblante enojado, era perceptível sua raiva pela garota gordinha, e eu ainda estava ansioso para descobrir o porquê de tudo aquilo.
 Enfim chegamos ao supermercado, as portas da frente que eram automáticas não funcionavam, fomos para a parte de trás do local. Na minha visão havia poucos alimentos, as prateleiras estavam praticamente vazias. Peguei biscoitos e enrolei na camisa, enfiei latas de refrigerantes nos meus bolsos e esperei Suzan e Sarah na frente de um caixa. A entrada da localidade era uma fachada de vidro, a energia não funcionava, foi então que notei um homem passando bem em frente, era careca, tinha a coluna torta e a mandíbula deformada. Parou. Me analisou e apontou o dedo para dentro do supermercado. No mesmo instante me agachei para tentar disfarçar minha presença.
– Peter! – uma voz me chamava – Aqui, do outro lado.
 Era Sarah sentada no chão também se escondendo, entretanto estava mais longe do que eu pensara. Engatinhei pelo piso fazendo esforço para não deixar cair o pouco do alimento que tinha conseguido. Sentei novamente, tomei fôlego, olhei para o lado e vi uma multidão lá fora, batendo na porta e com as bocas ensanguentadas.
– Vem logo Peter – disse Suzan dessa vez. – consegui achar Daniel!
 Tudo bem era uma boa notícia, mas seria mais agradável se ela dissesse que Jessie, Ben e Beatrice estavam seguros. Então foi naquele momento que tive a pior ideia já pensada em todo esse tempo naquela cidade. Me levantei e corri para o lado das meninas de maneira intensa, as pessoas lá fora drasticamente destruíram a porta de entrada, a força do bando era inacreditável, a sede por sangue e a procura por comida deixava qualquer um descontrolado. Beatrice apareceu aterrorizada, deu um grito alucinante e fez com que eu, Suzan e Sarah a seguissem o mais rápido possível para o lugar de onde ela tinha saído.
– O que você tem nessa cabeça garota? – Sarah intimou Beatrice.
– Vai com calma mocinha, você não tem o direito de falar assim com ela. – defendeu Suzan, acho que foi de um modo irônico, pois ambas não se gostavam desde a briga do banheiro.
 Suzan e Sarah se entreolharam, lançaram faíscas invisíveis uma na outra, o clima estava tenso. Entramos no local, fechamos a porta, e percebi que havia um túnel. Minha única reação após o tumulto foi abraçar Beatrice. Poderia ser saudade, poderia ser uma amizade de curto prazo, mas eu sentia que um dos meus objetivos ali era protegê-la, assim como o resto do grupo. Ela devolveu meu ato com um carinho indescritível, me apertou forte, e foi naquela hora que a emoção me levou para longe, me fazendo esquecer tudo o que estávamos passando.
– Já chega – interrompeu Sarah. – Vamos embora daqui, há canibais logo aqui atrás, não quero ser devorada ou me transformar em um deles.
 Passou e me deu um empurrão no ombro, estava agitada, nervosa. Sorri para Beatrice e seguimos juntos até o terraço do supermercado.


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