PDV HEFESTO:
  Eu conheço Afrodite a muito tempo e tenho consciência de milhões de seus defeitos e qualidades. Mas de uma coisa eu não sabia: O quanto sua mira era poderosa!
  Ao me ver em forma de monstro, ela ficou paralisada de medo mas isto não durou muito. Logo que falei que era o Mestre, ela começou a correr mas não sem antes atirar candelabros, copos, pratos, tudo que estava em sua frente para se defender. Confesso que eu esperava por isso. Exagerei meu formato monstruoso para que ela não me reconhecesse, mas também, para que ela realmente se esforçasse para ver além do exterior.
  Ela estava correndo e gritando agora, sem me dar sequer uma chance de falar algo. Tentei interceptá-lá na curva do corredor, mas mesmo com as patas de tigre, não consegui alcançá-la. Tentei suavizar minha aparência dando um formato mais humano e retirando os adereços exagerados como as patas de aranha e a juba de górgona. Mas não obtive sucesso.
  Ao chegar em seu quarto, Afrodite se trancou e só me restou falar com as paredes, literalmente.
  - AFRODITE, ABRA A PORTA!- Pedi.
  -NUNCA!- Berrou ela, do outro lado.
  - Eu prometo que não lhe farei mal!- Garanti, tentando transmitir confiança.
  - Aham, sei! Aposto que este é um plano para atacar o Olimpo e você está me usando, mas te garanto, VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR!- E pra afirmar o que dizia, ouvi algo se espatifar atrás da porta.
  - Afrodite, ouça! Eu não quero atacar o Olimpo e nem lhe fazer mal. Quero apenas passar um tempo com você e ...- Não terminei a frase, pois ela gritou em resposta:
  - E VOCÊ PRECISOU ME SEQUESTRAR PRA ISSO? Ah não! VÁ EMBORA SEU MONSTRO! Não quero vê-lo em minha frente!- Berrou ela, já em prantos.
  - AH É ASSIM? POIS SAIBA QUE VOCÊ NÃO FAZ O QUE QUER AQUI! EU SOU MESTRE NESTE LUGAR E SE NÃO VAI ME VER, PODE FICAR AI PRESA!- Gritei de volta, magoado e sem paciência. Ela poderia pelo menos me dar uma chance de falar!
  - POIS MUITO BEM! FICO PRESA MESMO! ODEIO VOCÊ E QUANDO EU SAIR DAQUI, VAI SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS!- Gritou ela, atirando outro objeto na porta.
  Em posse de meu formato monstruoso, soltei um potente rugido que estremeceu as paredes e sai furioso, quebrando tudo também! Como ela pode ser tão teimosa? Eu sei que a assustei mas ela podia ao menos ter parado pra me ouvir ou notado que eu estava menos monstruoso para falar com ela...
  Típico de Afrodite dizer que me odeia sem nem me conhecer! Ela sempre tratou a todos pelas aparências e nunca se interessou em aprofundar-se além disso.
  Fui para um canto afastado na ilha, onde Calipso me ajudou a montar uma pequena forja secreta de onde podia monitorar o que acontecia em Ogígia. Observei pelas câmeras que Afrodite chorava e gritava de raiva, o que só aprofundou as feridas em meu coração.      Será que essa ideia louca daria certo? Será que sou tão ruim assim aos seus olhos?
  Estas eram perguntas para as quais eu não tinha resposta...
PDV AFRODITE:
  MONSTRO! FEIO! RIDICULO! VERASSO! CRETINO! Eu gritava, utilizando esses e muitos outros adjetivos e imprecações que eu conhecia desde a Grécia antiga até aqui, no Século XXI. Mas não havia palavras o suficiente para expressar o ódio que eu sentia daquele monstro! Como ele pôde fazer isso? Me sequestra, me assusta e ainda me ameaça! A troco de quê ele está fazendo isso? O que ele ganha em me prender? E afinal, quem é ele? Eu não tinha resposta pra aquilo! Por Zeus, como vou sair daqui? Eu era uma deusa inocente, tentando ficar bonita, mas vim parar aqui! Por que as Parcas me permitiram tal infortúnio?
  Eu estava exausta! Todo o plano de sedução saiu voando pela janela ao ver aquele monstro. É evidente que eu não ia sair daqui com métodos como aquele. Se eu mal posso encarar a fera, imagina seduzi-lo!
  Estava sem opções! Quem dera eu tivesse a sabedoria de Atena pra me ajudar! Mas estava sozinha e cansada demais para continuar.
  Ouvi suaves batidas na porta e já estava pronta pra atirar mais um vaso nela, quando ouvi a voz gentil de Calipso, pedindo para entrar.
  A menina entrou, trazendo uma bandeja com o que parecia ser chá e biscoitos. Meu estômago exultou, pois sem os poderes divinos, tinha a fome de uma mortal.
  - Oh Lady Afrodite! Que houve aqui? Um terremoto?- Perguntou ela, chocada com os vidros e objetos quebrados.
  - Não exatamente... Aquele seu Mestre hediondo que veio me perseguir e ameaçar! Ah Calipso, o que eu fiz pra merecer isso?!- Lancei as mãos pro alto, em frustração. A menina não me respondeu, apenas olhou pra mim e sorriu, se divertindo.
  - Ora Milady... talvez vocês apenas tenham começado com o pé esquerdo. Tenho certeza que o Mestre não quis assustá-la de propósito.- Ponderou a moça, docemente.
  - Ah não creio que você vá defendê-lo! Ele é horrível! É um crime deixar eu, que sou a rainha da beleza, ter contato com tal monstruosidade. Já basta Zeus ter me casado com o bruto do Hefesto!- falei com raiva, me lembrando daquele traste que me deram por marido.
  - Espero que a senhora mude de ideia. Talvez seja bom aprender a ver além do que se mostra...- Ao dizer isso, Calipso me mostrou uma xícara que trouxera... simples e lascada em alguns pontos por fora, mas por dentro, exibia desenhos delicados e perfeitos, certamente feitos a mão.
  - É linda!- falei sinceramente. – Mas duvido que este monstro tenha algo de valor! E essa história de não julgar aparência foi apenas algo dito pra aqueles que não tem beleza se consolarem! Tolice pura!- Reclamei, me servindo de biscoitos.
  Calipso me olhou com muita pena e tristeza. Talvez o que eu disse tenha soado ruim... Mas não lamentei. Era nisso que eu acreditava e pronto! Não havia nada que pudesse ser feito!
  Depois do chá, os servos da ilha vieram e arrumaram tudo, me dando tempo para relaxar e me preparar para dormir. Me perguntei quando veria o tal Mestre monstro e como eu poderia escapar. Ao fechar os olhos, me ocorreu que talvez eu devesse me apaixonar para sair... o que era uma tolice. Quem seria capaz de amar aquele monstro?