The Crush escrita por PrimadonnaBitch


Capítulo 1
Capítulo 1




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–Já é sua vez de pular. Não espere muito senão... Nem queira saber. –Will gritava, pois o barulho do vento tornava os sons “inscutáveis”.

Sair de uma facção e entrar em outra totalmente diferente era um grande desafio para mim. Eu tinha uma família grande e eu era a menos sociável, a com menos graça, provavelmente nem sentiriam minha falta. E eles nem devem sofrer muito afinal, nós somos da Amizade, somos felizes. Quer dizer, eles são. Agora eu queria me tornar um membro da Audácia. Todos da minha família e meus amigos diziam que eu deveria ir para lá ou para a Erudição, porque eu lia e escrevia muito por lá, mas eu não gostaria. Quando fiz o teste de aptidão, o resultado foi claro: eu era corajosa.

–Pule agora! –gritou Will.

Respirei fundo, segui meus instintos e pulei. Pular de um trem parecia ser a coisa mais fácil que eu já fiz na minha vida. Pousei facilmente sobre o telhado, a sete andares de altura. Meu tornozelo latejava um pouco, mas iria passar.

–Foi fácil, não foi? –disse-me Will. –Agora vem a parte difícil: temos que pular até o quartel general da Audácia e são sete andares até o chão.

Eu conheci Will no trem. Ele estava me dando dicas sobre a Audácia e me ensinando como pular do trem, mesmo não sendo um expert, ele conseguiu me ajudar um pouco.

–Se eu consegui pular de um trem, eu consigo pular do prédio. –falei.

Virei de costas para a queda e me soltei. Meus cabelos se chocavam com meu rosto cada vez mais que a altura diminuía. Eu não fazia ideia de como iria parar, eu iria morrer espatifada no chão. Algo me segurou antes de cair contra o chão. Era uma rede.

–Seja bem vinda á Audácia! –disse Tobias. – Jillian? É você mesma?

–É. Oi, Tobias. –ele me ajudava a entrar no prédio segurando-me pelos braços.

Tobias me abraçou, ele não acreditava que eu estava ali e ele tinha razão: eu não parecia um membro da Audácia. Eu era pequena, magrela e parecia que tinha 14 anos, eu não era muito inteligente, mas sabia de muitas coisas. Não sabia lutar, mas pera lá, eu era um ex-membro da Amizade, a única coisa que eu sabia era cantar e tocar um violão que ganhei da minha tia no Natal.

–O que você está fazendo aqui? Pensei que iria ficar na Amizade ou iria para a Franqueza... –disse Tobias.

–Franqueza? Tá de brincadeira né? Quantas vezes nós roubamos morangos do meu vizinho e mentíamos? Quantas vezes eu menti que estava doente para não ir para aula e para as festas de família? Por favor, Tobias. E sabe que eu nunca gostei de ser da Amizade... –falei.

–Mas e a Erudição?

–Não ia gostar de ficar lendo o dia inteiro em busca de conhecimento, se liga. Eu fiz o teste de aptidão e o resultado foi bem simples e centrado: Audácia.

–Mas você é toda meiga e fofa e alegre... Como vai derrotar alguém? Como vai sobreviver na Audácia, Jillian? –perguntou-me Tobias.

Eu não era fofa. Tá bom, eu era. Eu vestia um vestido amarelo com flores vermelhas, meu cabelo loiro escuro estava solto, apenas usando uma fitinha vermelha para enfeitar, usava um tênis cano alto rosa e com glitter. Meus olhos azuis estavam mais claros naquele dia, eu havia me arrumado a beça para ir à minha nova facção.

–Eu... Eu posso mudar meu nome? –perguntei, caminhando pelo corredor.

–Claro. Por que não muda para “florzinha” ou “amorzinho”? –disse Tobias.

–Há há. Prefiro que seja Jill. O que acha? –falei.

–Bem, é melhor. Você quer que eu te mostre o centro da Audácia? –perguntou Tobias, ajudando Will a entrar.

–Não precisa, eu vejo sozinha. Só me mostre os banheiros, dormitórios e o refeitório. Só isso. –falei.

–Deixe que eu mostre pra ela. –disse Will, estendendo a mão para mim.

–Então... Eu vejo você depois... Jill. –disse Tobias, correndo na nossa frente e sorrindo para mim.

Começamos a caminhar. Will era um cara bem engraçado para alguém que veio da Erudição.

–Que indelicadeza minha, nem perguntei seu nome. –disse Will.

–Jilliane... Jill. Meu nome é Jill. –e soltei a mão dele.

Chegamos ao dormitório, finalmente. Já estava cansada de ouvir sobre a história das facções e coisas assim.

–Temos algumas camas vagas devido aos últimos acontecimentos. Onde você quer ficar? Tem ali, ali, opa, ali também tá vago. –disse Will, apontando para os beliches.

–Posso ficar ali? –e apontei para uma das camas no final do corredor.

–Está vaga também. Foi desocupada há algum tempo, mas é sua se quiser. O beliche do lado é da Tris e da Cristina, amigas minhas. –disse Will.

–De quem era a cama? –perguntei.

Ele abaixou a cabeça.

–De Al. Ele se jogou do abismo. No início, ele demonstrava ser um cara bem legal, mas um pouco antes de ele se suicidar, ele ajudou a machucar minha amiga, Tris. –explicou Will. –Mas agora ela pode ser sua. E aí, aceita esta grande oferta?

–É, pode ser. –respondi.

–Ok, arrume suas coisas e vamos almoçar. Estou faminto. –disse Will.

Eu nem lembrava mais da mochila em minhas costas. Eu havia trazido algumas roupas que minha tia me dera quando soube que eu iria para a Audácia. Elas eram menos coloridas do que o normal, mas eu gostava sinceramente delas. E também agora eu deveria gostar, afinal, aqui eu só iria usar roupas assim. Entrar em um grande salão da Audácia com roupas coloridas não era uma boa ideia. Mas eu mantinha minha cabeça em pé e continuava caminhando, com Will me guiando até a mesa com suas amigas. Todos me observavam como se eu fosse algum tipo de intruso e pode mesmo se dizer que eu era. Por alguns segundos, encaro seus rostos. Eles não contêm nenhum traço ou expressões. Ou rostos. São apenas bolas brancas sustentadas por corpos vazios. De repente, todos se reúnem ao meu redor e sinto suas mãos me apertando, me sufocando, me arranhando. Solto um grito esganiçado enquanto suas unhas cortam minha pele. Então Will aparece e a multidão se afasta. Ele ergue o braço e em sua mão está uma arma. Quase consigo enxergar a bala entrando na minha cabeça. Will retira o tambor e o gira, depois, o coloca de volta e aperta o gatilho. Acordo suada envolta a cobertores. Olho para o lado. Minha irmã mais nova (que dormia comigo) já havia levantado e estava escutando canções no rádio. Ouço a voz de minha mãe, vindas da cozinha:

–Eliza, vá acordar sua irmã.

Pisco rapidamente. Hoje iremos finalmente escolher a que facção iremos pertencer para a vida inteira. Não que eu não queira ficar com a minha família, mas a Amizade nunca me conquistou, certamente. Eu, claro, já tinha absoluta certeza de facção eu escolheria: a Audácia. Ultimamente eu havia tido sonhos recorrentes ligados a Audácia e em todos eles eu acabava morrendo ou por Will ou por Tobias. Will eu conhecia desde a sexta série, onde ele me deu uma lição de moral dizendo que meninas não deveriam mentir. Desde então eu e ele viramos amigos. Eu estava lá quando Tobias e depois, Will, entraram para a Audácia. Tobias. Ele cresceu comigo. A minha mãe, Narissa, e a mãe dele, eram amigas desde quando eram da Franqueza. E toda vez que ela ia vê-la, me levava junto e era aí que eu e Tobias roubávamos morangos dos vizinhos. Era eu que encobria os roubos, mesmo que nossas mães soubessem que estávamos mentindo. Era eu que o consolava toda vez que o pai o batia, era em mim que ele encontrava uma amiga, era em mim que ele realmente encontrava um membro da Amizade e se sentia feliz. Depois que Tobias se entregou de bandeja a Audácia, eu visitava Will. Nós pegávamos peras da casa da senhora ao lado da casa dele e mesmo para alguém da Erudição, ele era o mestre dos roubos. E depois vi, novamente, outro amigo meu indo para a Audácia. Quando Tobias se foi, eu fui visita-lo. Eu era a única a estar lá para vê-lo e ele realmente ficou feliz com a minha visita. Ele estava muito nervoso e tinha um pouco de medo do que poderia acontecer ali. Depois, foi a vez de Will. Mas ele não estava sozinho, a família foi visita-lo, esperei eles irem embora para poder conversar direito com ele. Ao contrário de Tobias, Will parecia bastante animado. Já eu era um pouco dos dois.

+ + +

Levantei-me pesadamente e encarei meu reflexo no espelho. Meu cabelo estava jogando para todos os lados, pelo jeito, meu sonho havia sido bem intenso. Calcei meus chinelos e caminhei em direção a cozinha e o cheiro de comida penetrou em minhas narinas. Talvez essa fosse a última vez que eu sentiria o cheiro da comida de minha mãe e isso deu um nó em minha garganta.

–Bom dia. –murmurei, sentando-me á mesa.

–Parece que alguém acordou de mau humor hoje. –disse minha mãe, se virando para mim. –Hoje é o grande dia, já sabe que facção vai escolher Jillian?

–Se ainda nem fiz o teste, como é que eu vou saber? –disse.

–Ora, você já deve ter pelo menos duas facções em mente. Vai lá, me conta.

–Mãe.

–Que foi?

–Não posso te contar. É proibido.

–Mas eu sou sua mãe e eu não conto pra ninguém. Por favooor.

–Tá até parecendo a Eliza. Não mãe, é errado. A senhora vai ficar sabendo na cerimônia.

Minha mãe finalmente se deu por vencida. Como eu poderia contar a ela que sua filha da Amizade queria ir para a Audácia? Ela me prenderia ao pé da mesa e não me deixaria fazer teste algum.

–Onde tá o pai? –perguntei.

–Ele teve uma emergência no hospital, mas disse que volta a tempo para o jantar. –respondeu minha mãe.

Meu pai era um cara baixinho e gordinho e era a pessoa mais engraçada que eu conhecia. Ele trabalhava como enfermeiro em um hospital infantil, por isso não passava muito tempo em casa. Mas, ele havia tirado folga só por causa minha, para aproveitar seu último dia comigo, mas havia voltado a trabalhar, o que me deixou um pouco chateada. Eu me levanto e caminho até o quarto. Me jogo em cima da cama e penso em como será minha vida daqui pra frente. Eu poderia virar uma assassina ou coisa assim, mas dane-se. Me arrasto até a porta do guarda roupa, que fica sempre aberta por que tem um grande espelho e de lá tiro uma calça jeans (a minha preferida), uma regata branca e uma camiseta xadrez azul escura de mangas compridas. Visto-me rapidamente e penteio o cabelo e fixo meu olhar no espelho. Não pareço um membro da Amizade. Não pareço um membro da Abnegação. Não pareço nem da Erudição nem da Franqueza. Muito menos, pareço com um dos corajosos.





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