Emma respirou fundo. Ela estava assim desde a semana passada, nervosa. Sua própria mãe havia dito a ela para ficar calma, que não era o fim do mundo, que era apenas o primeiro dia da escola nova. Emma queria acreditar na mãe e realmente se acalmar, mas era impossível. Pessoas novas, costumes novos, professores diferentes, matérias bem mais difíceis, sem contar que Emma tinha aquele sério probleminha em fazer amigos.

“- Mas mãe por que eu tenho que mudar de escola? Estou ótima nessa” – Emma disse a sua mãe, semanas antes. O que não era mentira, pois Emma era muito inteligente.

- Eu já disse Emma, você está mudando de escola porque seu irmão também está mudando.” Aquela era a explicação da Sra. Turner.

Emma sempre tinha que deixar suas vontades para depois, porque para seus pais seu irmão mais velho, Cody, era o que sempre ganhava tudo. Todos da família gostavam de Cody e não ligavam tanto para Emma. Ela era quase sempre a segunda opção. Mas Emma não chegava a odiar Cody – talvez um pouco. – mas ela sempre quis ser reconhecida pelos pais.

Emma terminou de pentear o cabelo. Olhou para o espelho e se perguntou o que havia de errado com ela, para ser tratada assim. Ela era mais inteligente que Cody, uma filha exemplar que tinha um boletim que causar inveja. Sem falar que dentro de casa ajudava a mãe em tudo e nunca causou problemas. Ao contrário de Cody, que arrumava problema o tempo todo.

- Emma? – chamou seu pai. – Você já está pronta? Estamos atrasados.
Já estou descendo pai. – e assim Emma pegou sua bolsa, se olhou uma última vez e disse para si mesma no espelho – Boa sorte.

Emma foi tentando decorar o caminho da escola nova, pois no dia seguinte ela sabia que iria sozinha e a pé. Cody estava no banco da frente, com os fones de ouvido e batia com as mãos nos joelhos como se tivesse tocando uma bateria. Ele era um idiota, na opinião de Emma.

Qualquer um que visse os dois, não diria que são irmãos. Cody é loiro, Emma é morena. Cody tem olhos castanhos, Emma tem olhos azuis. Cody é popular, Emma prefere os livros do que pessoas.

- Seus amigos estão vindo para cá também? – Emma perguntou, quando Cody tirou os fones do ouvido.
     -  Sim, estão – respondeu Cody. – E eu fico feliz com isso, não vou precisar fazer amigos ou me enturmar.
     - Sorte a sua mesmo. – Emma respondeu apenas isso. Ela sabia que o irmão estava só querendo provoca-la. Ele sabia que Emma não era boa em fazer amigos.

Quando chegaram, Emma queria se esconder.

Sabe aquelas escolas em que vemos em alguns filmes? Com pessoas que tem carrões, caras altos e bonitos com camisa de algum time da escola, meninas populares que naturalmente são patricinhas, e a escola em si muito grande? Bom, a nova escola de Emma e Cody, Colégio Wild, era exatamente assim.

Cody, óbvio, assim que viu a escola sorriu. Seus olhos brilharam e Emma quis bater nele. Logico que Cody ia amar esse colégio. Era lindo, Emma podia admitir, mas o que a incomodava eram as pessoas. Além dos caras com a blusa do time e as patricinhas, tinham as pessoas normais, claro. “Pessoas normais que tem amigos” pensou Emma.

Cody mal se despediu do pai e saiu do carro.

- Pai – disse Emma, tomando cuidado com que ia dizer. – Por favor, me coloca em outro colégio. Deixe Cody aqui, já que ele gostou, mas me deixa na minha antiga escola.
      - Emma – o pai se virou para ela. – Você vai gostar daqui também. Sei que na sua idade isso é difícil, mas veja Cody, por exemplo, vocês tem quase a mesma idade e ele tem tantos amigos. Vai passar.
         - Mas pai...
         - Agora ande, você já está atrasada.

Emma achou melhor não discutir. Pegou sua bolsa e saiu do carro. Assim que desceu, o pai deu partida e foi embora.

Até a porta da entrada do colégio, havia duas escadas, com uns 13 degraus, entre elas, um corrimão e atrás, alguns murinhos que tinham flores. Onde Emma ficou parada depois que o pai foi embora, na calçada e atrás dela, ficava o estacionamento, com cada carro que Emma já podia imaginar que tipo de gente frequentava aquela escola. Ela respirou fundo e subiu as escadas.

Lá dentro havia mais pessoas do que lá fora. No primeiro corredor que Emma entrou, quase caiu, porque todos se empurravam, ou tentando achar seus armários, as meninas quando viam alguém que conheciam gritavam e iam correndo abraçar quem quer que tenham visto, ou pessoas iguais Emma, perdidas.

Emma ainda bem, conseguiu sair daquele corredor. Ela passou na diretoria e pegou seus horários. Sua primeira aula – que começava em 5 minutos. – era Física.   Ela tentava pedir informação, mas as pessoas simplesmente a ignoravam. Cody também havia sumido. Emma entrou em vários corredores, subiu duas vezes escadas que ela encontrava e quando se deu conta, os corredores começaram a ficar vazios, sua aula já havia começado e ela estava perdida. Ela nem sabia mais para que lado ficava a diretoria.

- Hey garota – Emma se virou para a direção da voz, e viu uma garota loira, de calça jeans, blusa branca de manga curta, com um cachecol rosa em volta do pescoço, salto alto rosa, ela segurava uma bolsa rosa escuro e um fichário felpudo rosa também. – Você é novata não é?
       - Sou... sou sim – respondeu ela.
       -  Quer a minha ajuda para achar a sua sala?
        -  Se você me ajudasse eu agradeceria. – Emma sorriu.
       - Qual é a sua sala?
       - Sala nove, Física.
       -  Claro, me siga.

Foi o que Emma fez. A garota era bonita. Tinha cara de ser uma das patricinhas populares, mas se ela fosse uma das patricinhas populares não ajudaria Emma. Talvez não...

- Você tem sorte – disse a menina. – Minha primeira aula também é Física.
          - Realmente.
         - Meu nome é Elizabeth Baker, mas pode me chamar de Liz. E o seu?
          - Emma Turner.
          - Então Emma... Por que está no Colégio Wild?
          - Por causa do meu irmão, Cody Turner.
          - Ah... Então você que é a irmã do metido do Cody.

Emma ergueu uma sobrancelha

- Você já conhece meu irmão?
           - Claro. Ele foi um grosso comigo.
           - Como assim?
      - Eu pedi licença para passar e ele não deu e ficava me encarando com aquele sorriso no rosto.  Ele e aqueles amiguinhos ridículos dele. Até que eu me estressei e bati na cara dele, dai ele ficou todo nervosinho e começou a falar coisas feias para mim.
        - Cody é um ridículo mesmo. Desculpa-me por ele ter te tratado assim. 
       - Tudo bem – Liz sorriu. – Você parece ser legal e... Olha, chegamos. Essa é a sala.

Liz bateu na porta e quem abriu foi um homem, com aparentemente uns 40 entre 45 anos. Ele fez um sinal para que as meninas entrassem. Liz entrou quase saltitando, Emma achava que Liz vivia chegando atrasada. O professor fez as duas se explicarem antes de se sentar. Quando Emma iria começar sua longa explicação, Liz disse:

 -Sr. Adams , nos desculpe o atraso, mas eu como estava acostumada nas férias acordar tarde, digamos que hoje passei da hora. E Emma está atrasada porque é nova aqui e estava perdida, dai no caminho eu a encontrei e a ajudei a chegar à sala. – e no final ela sorriu.
       - Bom, no caso de Emma acho que posso considerar por ela ser nova – ele olhou para Emma. – Mas até decorar todas as salas, evite chegar tarde. Mas você senhorita Baker, está sempre chegando tarde. Desse jeito vamos ter que falar com seus pais...
       -  Mas Sr. Adams, hoje é o primeiro dia de aula e a última vez que isso acontece. Prometo que não vai se repetir.

Ele assentiu e pediu para elas se sentarem. Só havia dois lugares lá no fundo encostados da parede da esquerda, que haviam duas janelas. Elas se sentaram, Liz na frente de Emma, e Emma sussurrou um Obrigado para Liz, que piscou.

Enquanto Sr. Adams voltava a falar, que era algo como boas vindas, Emma olhou pela janela, e perto de alguns arbustos que tinham ali, ela viu uma sombra.