Divergente, Tobias Pov escrita por lu


Capítulo 3
Capítulo 3




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– A primeira coisa que vocês vão aprender hoje é como atirar com uma arma. A segunda é como vencer uma briga. - digo enquanto entrego as armas aos iniciandos. - Felizmente, se vocês estão aqui é porque já sabem subir e descer de um trem em movimento, portanto não precisarei ensiná-los isso. A iniciação é dividida em três estágios. Mediremos seu progresso e os classificaremos de acordo com sua performance em cada um deles. Os estágios não tem peso igual na determinação da sua posição final; portanto é possível, embora improvável, que sua posição na classificação mude drasticamente durante o processo. Acreditamos que o preparo vence a covardia, que definimos como a falha em agir diante do medo. Portanto, cada estágio da iniciação é projetado para prepará-lo de uma maneira diferente. O primeiro estágio prioriza o estado físico; o segundo, o emocional; o terceiro, o mental.

– Mas o que... - começa Peter, enquanto boceja - O que atirar com uma arma tem a ver com... coragem?

Giro a arma em minha mão, encosto o cano na testa de Peter e engatilho-a. Peter fica paralisado.

– Acorde. Você está segurando uma arma carregada, seu idiota. Aja de acordo. - digo ameaçadoramente. Já não vou com a sua cara. Abaixo a arma e Peter assume um olhar duro. - Mas respondendo a sua pergunta... você terá muito menos chances de borrar suas calças e chamar a mamãezinha se estiver preparado para se defender. - digo enquanto caminho até o final da fileira de iniciandos e volto. - Essa informação também pode lhes ser útil mais adiante, no primeiro estágio. Portanto, observem com atenção.

Viro-me para a parede na qual os alvos estão pendurados, uma placa de compensado com três circulos vermelhos no centro. Separo os pés, alinhando-os com os meus ombros. Inspire, atire, expire. Faço isso, como sempre faço, e ,também como sempre, acertei o círculo central.

Olho para os iniciandos enquanto eles fazem suas primeiras tentativas. A maioria deles provavelmente nunca tinha visto uma arma na vida e mal sabem como segurá-las. Paro os olhos em Tris.

Ela segura a arma sem saber muito o que está fazendo, com medo. Cautelosamente, aperta o gatilho, suas mãos vão direto em direção ao seu nariz, devido ao coice da arma, e ela tropeça. Dou um passo a frente automaticamente, mas ela se equilibra na parede, de qualquer forma não poderia impedir que ela caísse, estou muito longe.

Olho em direção ao alvo e vejo que ela não acertou nem perto dos círculos, na verdade, não sei nem onde a bala foi parar.

Caretas, penso.

Ela atira algumas vezes e não consegue chegar nem perto do alvo.

Will fala alguma coisa e eu volto meu olhar para Peter, que por algum motivo, apresenta certa facilidade, mesmo ainda não tendo acertado o alvo, chegou perto e segura a arma com confiança.

Depois de várias tentativas, a maioria dos iniciandos já conseguiu acertar o centro do alvo.

+ + +

Depois da pausa para o almoço, guio os iniciandos para uma nova sala, a sala da luta. Caminho até o centro da sala, um círculo pintado no chão, enquanto as tabuas de madeira do chão rangem aos meus pés.

– Como eu disse hoje de manhã, o próximo passo é aprender a lutar. O objetivo desta etapa é ensiná-los a agir; preparar seus corpos para que respondam a ameaças e desafios. Algo que vocês vão precisar, se quiserem viver como integrantes da Audácia. Hoje, nos concentraremos na parte técnica, e amanhã vocês começaram a lutar uns contra os outros. Por isso, sugiro que prestem atenção. Aqueles que não aprenderem rápido vão se machucar.

Listo e demonstro diferentes tipos de soco, primeiro no ar depois no saco de pacadas. Depois mostro os chutes, os Iniciandos começam a treinar com o saco de pancadas. Consigo ouvir o som da pele se chocando contra o tecido e enquanto caminho ao redor da sala observando-os vejo suas mãos, vermelhas e com certeza doloridas.

Paro em frente a Tris e encaro-a por um tempo. Não encaro-a com um olhar de homem encarando uma mulher bonita, apenas um olhar profissional.

– Você não tem muita musculatura - digo, encostando a mão no queixo, pensativo - Isso significa que é melhor usar os joelhos e cotovelos. Você conseguirá concentrar mais força neles.

Pressiono minha mão em sua barriga e sinto-a estremecer, estremeço também porque não estive tão perto de uma garota, por quem me sentisse, mesmo que apenas um pouco, atraído, há séculos. Ela me encara com os olhos arregalados, sem conseguir disfarçar a aflição.

– Nunca se esqueça de manter a tensão aqui - digo calmamente, fingindo que não percebi sua reação.

Solto-a e volto a andar. Minhas mãos formigam, como se algo as puxassem para o corpo de Tris, sacudo levemente a cabeça para afastar o pensamento.

Encaro enquanto Peter soca fortemente o saco de pancadas, fingindo estar prestando atenção, mas na verdade só consigo pensar em como ela me faz sentir.

Ela, Tris. Algo em seu jeito desafiador me atrai. Desde que me transferi da Audácia, não tenho muitos sentimentos por ninguém, além de amizade. É claro que fiquei com garotas daqui, garotas que até mesmo já quis sentir, me apaixonar por elas, mas simplesmente não conseguia. Achava que era por causa do meu pai, como se ele tivesse aberto uma enorme cicatriz em mim. Mas agora penso que talvez eu estivesse errado.

Não que eu esteja apaixonado pela Tris, não, é claro que não. Nem a conheço o bastante para isso, na verdade mal a conheço. É o simples fato de que ela me faz sentir que me impressiona.


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