Mutant World escrita por Jenny Lovegood


Capítulo 47
Em Nome da Rebelião


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês. Poucas pessoas comentaram no último que eu postei, e eu agradeço à essas poucas pessoas. E também agradeço aos leitores fantasmas, aliás, agradeço a todos vocês que nunca desistiram de MW. Espero que gostem!

E NÃO, ainda não é o fim. Tenho coisas a explicar ainda na história, por isso o último capítulo está meio enrolado para sair.



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O que estava acontecendo no laboratório era um mistério para Cato.

Ele perseguia cada linha do chão daquele lugar para encontrar Bellatrix Lestrange; precisava desesperadamente de ajuda para sua mãe. Narcisa ainda estava desmaiada sobre os braços de Cato, ele forçava seus músculos para aguentar o peso da mãe por tanto tempo. Vez ou outra usava sua super-velocidade para escapar de sinais de perigo, mas precisava de muita atenção para encontrar o paradeiro de Bellatrix. Cato precisava encontrar o porão logo, e só torcia para que a médica-cientista estivesse lá.

Quando as forças sobrenaturais começaram a explodir os vidros, levitar objetos e destruir tudo o que havia pela frente, Cato teve de se proteger. Ele se jogou ao chão no momento em que cruzou mais um desconhecido corredor e todas as portas das celas explodiram sincronizadamente.

Caído ao chão e com a mãe no colo, Cato protegeu seu rosto entre seu joelho e tentou cobrir grande parte do corpo de Narcisa com as mãos; isso ocasionou várias lesões provocadas pelos estilhaços de vidro nos braços do loiro; mas lesões praticamente irrelevantes, já que nos segundos seguintes a pele de Cato já se regenerava gradativamente.

Cato esperou por uma calmaria naquele extenso corredor escuro; o garoto estava exasperado, via objetos levitando para fora das celas e se chocando contra a parede, via os cacos de vidro no chão voando perigosamente pelo ar, ouvia gritos agudos e sem direção exata ecoando pelo laboratório inteiro.

O garoto começou a se desesperar. A ventania continuava forte, e em consequência disso os cacos de vidro eram arrastados pelo chão violentamente; Cato precisou se levantar. O loiro trouxe a mãe consigo em seus braços, correu os olhos pelo rosto pálido da mulher: ela estava sem ferimentos e continuava desacordada. O sangue pelas pernas de Narcisa começava a secar, o sangramento parecia ter cessado, mas tinha ocorrido em um alto nível que preocupava imensamente Cato.

Ele precisava de ajuda e não tinha mais tempo a perder.

Decidiu então que se arriscaria por entre aquele fenômeno selvagem que atacava o laboratório; com ou sem ventanias e explosões, Cato encontraria ajuda para sua mãe, ele simplesmente não a deixaria morrer naquele inferno.
Andava a passos largos e apressados por entre o vento forte. Seus olhos estavam praticamento cobertos por várias madeixas loiras de seu cabelo, mas ainda assim eram capazes de observar atentamente aos detalhes dentro e fora das celas do corredor.

Um súbito pensamento invadiu a mente de Cato quando ele chutou alguns cacos de vidro no chão: as celas daquela parte do laboratório estavam fechadas antes de tudo começar a explodir. Mas por quê? Bellatrix havia soltado seus mutantes perigosos por todo aquele lugar para encontrar os invasores, então por que aquele corredor estava com as celas fechadas?

O mais estranho era que não havia ninguém dentro de nenhuma cela. Esse era um detalhe realmente estranho, mas Cato agradeceu por não haver nenhum mutante ali; caso contrário, ele estaria ferrado. Não teria como enfrentar outras criaturas com sua mãe indefesa em seus braços.

Entretanto, aquele estranho fato atiçou a desconfiança do loiro; algo sigiloso deveria estar por trás daquelas celas para elas estarem trancadas enquanto as outras estavam abertas.

Cato, distraído e intrigado com seus pensamentos, não conseguiu avistar a figura de uma garota de longos cabelos loiros que surgiu subitamente para fora de uma das celas. Sem tempo para desviar, Cato se chocou abruptamente com a menina e os dois corpos caíram opostamente no chão. Cato perdeu o equilíbrio de suas forças e Narcisa acabou rolando por seus braços, batendo no chão frio ao lado do filho. O loiro grunhiu de dor e ouviu a mesma forma de reclamação vindo da garota loira, que havia machucado o ombro com o choque.
Foi então que Cato sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao conseguir finalmente desvendar a figura da garota, depois de ter ficado tonto e com as vistas embaçadas por vários segundos.

– Luna? - A surpresa de Cato foi enorme.

– Oh, meu Deus. - Luna agilmente se arrastou engatinhada pelo chão, e agarrou o corpo de Cato em um abraço. Os joelhos dela se cortaram com os estilhaços de vidro, mas a garota não se importou. Estupefato, Cato tornou aquele abraço recíproco. - Cato!

– O que aconteceu com você? - O loiro imediatamente demonstrou preocupação. - Você simplesmente sumiu e não conseguimos te resgatar.

– Me sequestraram e me prenderam aqui. - Os dois saíram do abraço. - O que tá acontecendo aqui, você sabe? - Ela perguntou, compreendia aquele súbito ataque paranormal contra o laboratório.

– Eu não sei, não sei. - Cato, bem exasperado, engatinhou pelo chão e buscou o corpo de Narcisa. Quando Luna a viu, cobriu a boca com as mãos, aflita com a quantidade de sangue que cobria as pernas da mulher. - Preciso da sua ajuda, por favor. - Cato se arrastou e voltou a ficar de frente com Luna, e então repousou a cabeça de sua mãe em seu colo. Luna analisou o rosto de Narcisa, a respiração fraca e a pele mais pálida que o normal.

– O que houve com ela? - Luna estava um tanto pasma.

– Ela começou a sangrar e sangrar.. não sei o porquê. - Cato mordeu a própria boca e respirou pesadamente. - Tentei encontrar Bellatrix mas não a achei em lugar nenhum.

– Ela esteve comigo há algum tempo. - A loira olhou Cato nos olhos. - Cato, ela precisa ser parada. Ela está usando um tipo de vacina anti-mutantes para nos deixar fracos.

– Vacina? - O garoto franziu toda a testa. - Que tipo de vacina?

– Eu não sei, ela ameaçou a usar em mim. Disse que o líquido na vacina anula nossos poderes, mas só por algumas horas. - Explicou Luna, relembrando. - Ela quer que a gente lute com os mutantes daqui da ilha, mas sem poderes.

– Não teríamos chances. - Cato argumentou prontamente.

– Exatamente. - A loira viu que Cato se enfureceu.

– Eu quero acabar com aquela mulher. Olha o que ela fez com a minha mãe, sabe-se lá o que ela tá fazendo com os outros agora. - O garoto bufou.

– Onde estão os outros? - Luna ficou totalmente séria. - E o Draco? Ele tá bem?

– Não posso te responder. - Depois de alguns segundos em silêncio, e percebendo uma agonia tomar conta de Luna, Cato finalmente respondeu.

– Ele se machucou? - Luna sentiu seu peito arder. - Ele tá vivo, não tá? Cato, como ele tá?

– Eu não sei! - Cato esbravejou quando Luna começou a se exaltar. - Eu tava com ele e com a Clove, mas ficamos encurralá-dos. Eu precisava ajudar a minha mãe, então fugi.

– Oh, não. - Os olhos de Luna arderam quando ela pensou na possibilidade de algo ruim estar acontecendo com Draco e Clove. - Precisamos achá-los. Precisamos ficar juntos.

– Primeiro você precisa ajudá-la. - Cato pegou uma das mãos de Luna e colocou-a sobre a testa de Narcisa. Percebeu que os dedos da loira estavam um pouco soados, e a pele meio gélida.

– Não sei se consigo. - Nervosa, Luna confessou.

– Tenta, por favor. - Cato implorou, e viu uma lágrima rolar sobre o rosto de Luna.

Era óbvio que ela estava abalada emocionalmente, e cansada fisicamente. Seu corpo às vezes parecia não querer mais lutar, e ela entendia que estava fraca. Sentia fome e sede, sentia sua garganta extremamente seca, e sentia medo. Acima de tudo, medo.

Quando estava presa dentro daquela cela, sozinha, pensou tantas coisas. Pensou em seu pai, em como queria revê-lo, e em como era doloroso imaginar que ele estava morto. Pensou em como sentia falta da sua casa e de ouvir o rádio junto de seu pai na hora do almoço. Pensou na paz, na paz que era poder deitar sobre a rede da varanda de sua casa e ouvir o som da natureza, os pássaros cantando; poder cantar com eles, e até ouvi-los.

Luna sentia uma enorme falta da pureza que costumava fazer parte de sua vida. Ela costumava ser tão feliz com tão pouco. Ela costumava a sorrir com detalhes bobos, e naqueles dias de luta na ilha, aqueles detalhes faziam uma enorme falta à vida de Lovegood.

Quando presa na cela, sem saber o que esperar dos minutos que seguiriam, sem saber se seria atacada por algum mutante violento, ou espancada por algum policial, ou até mesmo torturada por Bellatrix Lestrange, Luna pensou em Draco. Pensou em como ele havia se tornado especial pra ela. Ela podia de longe senti-lo respirar.

Draco havia se tornado o porto seguro de Luna; ele era o contrário dela, e os pareciam se encaixar nas diferenças que os uniam. Ele era impulsivo, e ela era calma. Ele era sangue-frio e ela era sangue-quente. Ele era trovoada e ela era calmaria. Ele era a fortaleza dela, e ela a cura dele.

Desde que a bomba sobre os mutantes se espalhou, o mundo estava de cabeça para baixo. Não era só para Luna, ela sabia que todos os seus amigos também enfrentavam tormentos e pesadelos. E tudo de ruim que aconteceu, tudo de ruim que Luna foi obrigada a fazer, todas as forças que luta teve de enfrentar desde então podia ser amenizado com o sentimento que Luna nutria por Draco, e pela amizade que uniu todo o resto do grupo.

A união era tudo que eles tinham. E o medo da quebra daquela união era enfrentado por cada um deles, todos os dias. Se alguém se machucasse, o laço da união se enfraquecia, e se algo de pior acontecesse com um deles, eles ficariam extremamente abalados e sem forças pra continuar.

– Luna, por favor! - Cato insistiu, depois de ver a garota com as mãos repousadas sobre a cabeça de Narcisa por minutos a fio, mas nada acontecer.
A loira lutou internamente para expulsar o medo de seus pensamentos. Ela sabia que, nervosa, não conseguiria usar seus poderes. E também sabia que precisava ajudar Narcisa para, junto de Cato, encontrar os outros amigos.

Luna então respirou fundo. Massageou levemente a testa de Narcisa e aconchegou suas mãos naquela região. No momento momento, fechou os olhos. Deixou com que seu coração acalmasse as batidas, e que a energia do seu dom preenchesse seus poros.

A ventania pelo corredor começava a diminuir, os objetos espalhados pelo chão paravam se movimentar. O que quer que fosse que havia atingido o laboratório, estava perdendo força.

As mãos de Luna começaram a se esquentar e a garota soltou um longo suspiro enquanto começava a curar Narcisa. Gradativamente, a pele da matriarca recuperou um pouco de cor, e a respiração da mulher se estabilizava. O sangue seco sobre as pernas de Narcisa não sumiu, mas o corpo dela reagiu imediatamente à cura. Quando a temperatura das mãos de Luna se transferiu para o corpo da senhora Malfoy, a mulher abriu os olhos, e Cato ficou imensamente aliviado.

– Mãe! - Soltando uma respiração longa, Cato agarrou a mão de Narcisa quando ela reagiu.

– O que aconteceu? - Atordoada, ela indagou; mas esboçou um sorriso quando viu que o filho estava aliviado por vê-la bem.

– Cato, não temos tempo. - Luna tocou o ombro do garoto e o olhou. O loiro concordou e assentiu.

– Mãe, consegue se levantar? - Indagou o garoto, quando se ergueu do chão e Luna fez o mesmo. Cato estendeu uma mão para a mãe, mas Narcisa recusou e firmou seus braços no chão, se levantando em seguida com pouco esforço.

– Eu tô bem. - Afirmou a mulher, e Luna sorriu fracamente ao receber um olhar agradecido de Cato.

– Ótimo. Agora precisar ir. Temos que achar os outros o mais rápido possível. - Luna concordou imediatamente, e Narcisa, apesar de confusa, assentiu da mesma forma. Subitamente, novos sons de gritos ecoou pelas paredes do corredor; os três se encararam de olhos arregalados.

– Parece perto daqui. - Luna constatou, girando a cabeça para tentar seguir o som dos gritos, que não cessaram.

– Parece vir dali. - Cato apontou para o final do corredor, que provavelmente os levaria para mais uma parte daquele infinito labirinto que era o laboratório. - Vamo nessa, bora!

xx xx xx xx xx

– Que merda foi essa? - Draco mancava e se arrastava pelo chão com certa dificuldade. Seus olhos semicerrados em consequência da dor dos ferimentos em seu rosto o obrigava a ser carregado por Severo e Clove; que escorava o corpo de Malfoy por sobre seus ombros e carregava o garoto segurando-o pela cintura.

Há poucos minutos eles haviam presenciado um verdadeiro tornado naquele lugar; tudo estava destruído, o laboratório agora tinha aspecto de um prédio abandonado por anos a fio.

– Não faço ideia. - Não ventava mais no local onde eles estavam; Clove reparou que não conhecia aquela área. - Onde estamos?

– Enfermaria. - Severo Snape guiou Draco com cuidado mas de forma apressada até uma maca encostada sobre uma parede branca manchada de sangue. Tirou o braço de Draco de sobre seu ombro e Clove fez o mesmo, agilmente. Draco reclamou quando os dedos grossos de Snape tocou as pálpebras de seus olhos.

– Não é perigoso aqui? - Clove olhou em volta, atordoada.

O lugar onde estavam não se parecia com uma enfermaria, exceto pela presença da maca onde Draco estava sentado, e uma caixa com equipamentos de primeiros-socorros deixada sobre uma mesinha de metal quadrada ao lado da maca.

Estranho era o fato de que todo o laboratório parecia ter sido afetado pelos efeitos paranormais há alguns minutos atrás, mas aquela enfermaria não foi atingida. Talvez estivesse longe demais do alcance dos poderes de quem quer que fosse.

Os corredores tinham sido deixados para trás por vários metros, então os três haviam seguido um caminho pouco estreito e com claridade até chegarem ali.

Clove reparou que havia umas três cadeiras espalhadas por ali. Era como um espaço de um auditório, só que vazio, possuindo apenas esses objetos e uma janela. A morena se aproximou da janela, passando com cautela frente ao caminho por onde tinham chegado.

– Não deve ficar à vista assim. - A voz arrastada de Severo fez Clove encolher os ombros, enquanto a garota observava a pequena janela no topo da parede branca. Ela conseguia ver algumas folhas de árvores; poucas, mas conseguia. E também via o céu. - E, respondendo sua pergunta, esse laboratório inteiro é perigoso.

– É a primeira janela que eu vejo nesse lugar. - Comentou Clove, apontando para a janelinha de grade enferrujada. Ela olhou o homem, que tinha pego a caixa de primeiros-socorros, e agora jogava um gel sobre uma gaze de algodão em suas mãos.

– Bellatrix não aceita fugas por aqui. - Disse Snape, com seriedade. Os cabelos pretos do homem caíam sobre seus olhos esbugalhados, enquanto ele começava a passar a gaze ao redor dos ferimentos no rosto de Draco. Draco cerrou os olhos com força quando sua pele ardeu com fervor; as mãos do loiro agarraram o lençol branco-amarelado que cobria a maca.

– O que está fazendo? - Clove percebeu que Draco sentia dor. A morena saiu de perto da janela, correu os olhos pela entrada da enfermaria para ver se não havia nenhuma presença indesejada por ali. Vendo que continuavam sozinhos - e torcendo para que continuasse assim -, Clove se aproximou de Snape.

– Álcool para desinfecção. - Severo era um homem de poucas palavras e Clove já tinha reparado. A garota observou o rosto ensaguentado de Draco, as feridas estavam expostas, e haviam vários espinhos enfiados na pele do amigo.

– Isso tá bem feio. - Clove fez uma careta quando Snape segurou em um dos espinhos e arrancou-o abruptamente do rosto de Draco. O loiro socou o colchão da maca e grunhiu um palavrão.

– Caralho. - Ele fazia caretas de dor, ainda tinha os olhos fechados e respirava com dificuldade. - Isso vai demorar?

– Só um pouco. - Severo continuou tratando dos ferimentos de Draco enquanto Clove dava as costas para os dois e começava a estudar o local e tudo o que estava acontecendo.

– Acho que foi um dos mutantes.. - Ela comentou, depois de alguns minutos ouvindo as reclamações de dor de Draco. Severo sequer se pronunciava. - que fez aquilo.

– O que? - Draco bufou quando mais um espinho foi arrancado de seu rosto; sua pele parecia estar queimando.

– Aquilo. Os vidros explodindo, os objetos voando. Aquela bagunça toda. - Clove explicou e tocou o canto esquerdo de sua boca, que estava completamente cortado e machucado. Seus lábios estavam cobertos de sangue quase seco, se ela pudesse se olhar no espelho, diria ser uma vampira que acabou de atacar alguém.

– Isso não parece familiar pra você? - Draco atiçou a curiosidade de Clove, e a morena se virou para ele, franzindo a testa. Severo se afastou de Draco, pegou as gazes sujas de sangue e jogou-as sobre uma lixeira que estava embaixo da maca e que Clove ainda não tinha visto. O homem que vestia uma espécie de capa preta sobre um terno preto, revirou a caixa de primeiros-socorros, dando as costas para os dois mutantes. Draco então seguiu sua linha de raciocínio: - Explosões, objetos voando, descontrole total?

– Gina. - Sem muita delonga para raciocinar, Clove chegou àquela conclusão e Draco assentiu de prontidão. - Ela é durona na queda, mesmo.

– Namoradinha do seu irmão. - Implicou o loiro, tentando quebrar um pouco da tensão. Clove rodou os olhos, mas soltou um leve sorriso. Então, os dois se olharam e suspiraram sincronizadamente.

– Sua cara tá bem feia. - Comentou a morena, fazendo Draco rir.

– Você também não tá linda não, viu? - Ele provocou, e Clove riu de volta.

– Conseguem brincar em meio a tudo isso? - A voz carrancuda de Severo os assustou, e o homem se virou para Draco; sua capa preta deu uma leve voada no ar. - Toma. - Snape colocou um comprimido branco sobre a perna esquerda de Draco.

– Que isso? - O loiro franziu a testa ao pegar o comprimido e estudá-lo.

– Um comprimido, mané. - Clove implicou, e o loiro rodou os olhos.

– Anti-inflamatório. Pra ajudar a não ferrar com seu rosto. - Snape foi sarcástico, e ao mesmo tempo soou sério. Draco franziu a testa.

– Não vai me dar água? - O mutante estranhou. Snape fechou o semblante e cruzou os braços.

– Tá achando que eu sou babá? - Retrucou o homem, carrancudo. Draco fez uma careta. - Não tem água. Ou toma isso ou deixa esses ferimentos infeccionarem.

Foi quando a imagem de Luna veio a mente de Draco. Ele já sentia uma imensa falta da garota, e pensar que ela poderia estar ali tocando seu rosto e curando seus ferimentos lhe causava aperto no peito. Não que ele a queria de volta por isso, só era extremamente maravilhoso ser curado por ela. Ele sentia-se extremamente bem ao lado de Luna, ela era a melhor pessoa que Draco já havia conhecido na vida, e ele só queria que ela estivesse ali naquela hora. Olhando-o nos olhos, tranquilizando-o de que as coisas dariam certo, segurando-o pela mão. Draco só queria que ela estivesse ali.

– Vem aqui, você. - Snape se aproximou de Clove quando viu Draco colocando o comprimido na boca e se forçando a engolir; era hora de tratar dos ferimentos da mutante.

– Nem vem. - Clove retrucou, se esquivando quando Snape tentou passar uma nova e limpa gazinha com álcool ao redor da boca da garota. Snape bufou quando Clove se afastou. - Eu tô bem.

– Precisamos tratar o ferimento. - Contrapôs o homem, tornando tentar uma aproximação, mas Clove empurrou a mão de Severo para longe de seu rosto e fechou a cara.

– Eu tô bem, pô. - Clove repreendeu-o e o viu dar de ombros àquele comportamento temperamental e se afastar dela. - Por que veio nos ajudar? - Depois de um silêncio perturbador reinar entre os três por minutos, Clove voltou a se pronunciar.

– Não tive escolhas. - Disse Severo, com a voz arrastada, enquanto limpava um ferimento sobre sua própria mão direita.

– Teve sim. - Draco retrucou, desafiador. - Você tirou a gente daquela roubada e trouxe a gente pra cá, então queria nos ajudar.

– Eu não deixaria os dois para morrer no meio daqueles mutantes. - Severo se virou para ver Clove e Draco. A garota agora estava em pé ao lado do amigo. - Além do mais, eu estava fugindo também.

– Por que Bellatrix te manteve preso aqui? - Clove tentou investigar.

– Ela não me manteve preso. - Snape discordou, olhando a garota com a testa enrugada. - Fui sequestrado, e trazido pra ilha como vocês.

– E por que te sequestraram? - Fora Draco quem indagou.

– Por que sequestraram vocês? - O homem fixou seu olhar nos dois mutantes, como se os enfrentasse. Clove deu uma olhada em Draco, o garoto parecia tão intrigado quanto ela.

– Porque somos mutantes. - Clove disse. - Porque Bellatrix quer acabar com a gente.

– Errado. - Snape deu um passo a frente, a capa preta de sua vestimento deu uma nova rebitada no ar. - Muito errado.

– Como assim? - Draco se desentendeu.

– Vocês não vieram pra cá porque são mutantes e porque Bellatrix quer destruí-los. Ela nunca quis isso. - Snape começou a explicar e viu a expressão de indignação atingir a feição dos dois mutantes, imediatamente.

– Jura? - Draco apontou os dedos para o próprio rosto, completamente ferido.

– Vocês estão aqui porque se rebelaram contra ela. - Snape continuou explicando sem se exaltar. - A forma como vieram e a forma como estão agora, são totalmente diferentes. A rebelião que vocês criaram deixou-a furiosa, ela quer dar uma lição em vocês.

– Lição? - Indignado, Draco se levantou da maca, fazendo-a ranger. - Estamos todos ferrados e encurralados aqui. Parte do nosso grupo teve a sorte de não morrer porque tem uma mutante da cura com a gente. Eu não morri por causa dela, e a Clove aqui também. Se não fosse pela Luna, já teríamos nos fodido. Sério que a Bellatrix não quer acabar com a nossa raça?

– Pelo contrário, ela idolatra a raça dos mutantes. - Severo tinha o rosto fechado e falava devagar. - Se vocês estão tão ferrados assim, é porque se rebelaram.

– Por que tá falando isso? - Clove ergueu a voz, se estressando. - Foi você que entregou aquela porra de pendrive pro pai da Gina, foi você que queria que a gente descobrisse toda a verdade. Então por que tá falando de rebelião agora?
– Vocês ficam querendo saber o tempo todo o porquê dela querer ferrar com vocês, mas ainda não se tocaram que ela só quer que vocês se entreguem à criação dela! - Snape também começou a se exaltar. - Ora essa, por que acham que ela fez experiências proibidas? Mutações genéticas? Pra destruir suas criações, quando tivesse vontade? É óbvio que não! Ela queria criar seres especiais, avançados! Ela queria liderar um grupo de seres que teriam mais capacidade do que a raça humana. Ela queria que todos os mutantes ficassem ao lado dela, como um filho fica de sua mãe. Mas as coisas começaram a sair do controle. A história começou a se espalhar pela sociedade, a policia começou a investigar a clínica onde Bellatrix fazia as experiências. Ela precisou fazer alianças com a polícia para não ser presa, e acreditem, ela fez de tudo para formar essas alianças. Fez de tudo para o escândalo não se espalhar totalmente, mas não deu certo. Começou a passar nos noticiários de televisão sobre os mutantes, começou a sair notícias nos jornais, e todo mundo ficou desesperado. Bellatrix não deixaria a policia prejudicar seus seres geneticamente modificados, então a culpa sobre isso caiu em cima dos pais desses mutantes. Grande parte da polícia que estava aliada com Bellatrix era cruel, vingativa, e capturava esses pais sem pensar duas vezes. Bellatrix sabia que se esses pais conseguissem fugir, contariam toda a verdade; e era ela que estaria ameaçada, ela e suas pesquisas. Então ela mandou abater os pais dos mutantes, e as mães ela usaria como cobaia. Suas pesquisas genéticas não podiam parar! Ela trouxe todas essas mães para a ilha, escondeu todas elas aqui, e fez todo tipo de pesquisa que vocês podem imaginar com essas mães. - Snape praticamente gritava e a essa altura, Draco e Clove já estavam completamente revoltados e enfurecidos.

– Depois de tudo isso, ela achou que a gente não ia se rebelar? - A voz de Draco estava irritadiça.

– Ela não queria uma rebelião. - Snape contrapôs, prontamente. - Como eu disse, as coisas saíram do controle. Ela começou a fazer crueldades com as pessoas, e foi então que eu apareci na história. Eu entreguei aquele pendrive ao pai de Gina, eu sabia que esse pendrive deveria chegar exatamente nas mãos de mutantes como vocês. Mutantes que queria justiça. Mas vocês precisam entender que a Bellatrix nunca quis matar nenhum de vocês. O propósito dela era se unir com os mutantes, trazer todos para esse ilha, treiná-los assim como ela treinou os mutantes que cresceram aqui. Só que tudo saiu do controle, absolutamente tudo; ela teve de trazê-los. Ela não queria machucá-los, queria apenas que vocês se habituassem às mutações que possuem, à força que possuem. Porém vocês colocaram tudo isso aqui a baixo. Isso a deixou furiosa. Ela está furiosa. Vocês criaram uma rebelião, e agora sim ela quer ferrar com vocês. Ela está colocando todos contra vocês, e se vocês fugirem dessa ilha, serão caçados até o fim do mundo.

– Nós não vamos ser caçados. - Rebateu Clove, exasperada. - Não seremos caçados porque vamos destruir tudo isso aqui. Aquela médica maluca mexeu com as pessoas erradas, e eu não tô nem ai pro que ela queria ou deixou de querer.

– Vocês tem algum plano? - Severo procurou estudar a situação. - Tem algum plano pra se livrarem de todo esse inferno?

– Vamos dar um jeito. - Depois de alguns segundos sem resposta, Clove respirou fundo. Snape a olhou como se visse inferioridade nela.

– Tem algum plano? - Perguntou o homem, mais uma vez, mostrando prepotência na voz.

– Nós vamos dar um jeito. - A morena disse alto e pausadamente.

– Afinal, como sabe disso tudo? - Draco quis saber, quando Snape deu as costas para os dois.

– Eu sei de tudo que acontecesse com Bellatrix. - Respondeu o homem, arrastadamente.

– Como sabe? - Draco insistiu para saber, a voz do loiro estava pesada.

– Porque eu cresci com ela. Eu trabalhei com ela. Eu entendo a mente dela. Eu sei como tudo funciona. - Snape os olhou por cima do ombro. Viu a surpresa no olhar de Clove e a testa de Draco franzindo. - Ela é a minha tia.

– O quê? - Pasma, Clove arregalou os olhos.

– Ela é minha tia. Minha mãe morreu jovem e então Bellatrix passou a cuidar de mim. Nessa época ela já fazia experiências genéticas em seres humanos. - O homem sabia que havia chocado a garota e o garoto com a notícia.

– Então você sabia? Desde pequeno você sabia sobre os mutantes? - Draco fixou seu olhar em Snape. O homem assentia calmamente. - Você tinha provas sobre as experiências dela? - Snape continuou assentindo e Draco ficou totalmente revoltado. - Por que diabos você não denunciou essa mulher? Não me diga que é porque era sua tia!

– Como eu ia denunciar as experiências dela, sendo que ela havia feito em mim também? - Severo deu as costas aos dois mutantes mais uma vez, deixando-os completamente estupefatos. - Se eu denunciasse, sozinho, ninguém acreditaria. E ela acabaria comigo. Eu era apenas um jovem.

– Você é um mutante? - Clove estava completamente surpresa.

– Se vocês estão nessa ilha porque são mutantes, não acharam que eu estaria aqui por outro motivo, acharam? - Snape deu suas últimas palavras sobre o assunto. Clove e Draco estavam pasmos; mas subitamente lembraram que o tempo estava passando, quando viram Snape observar a janela da enfermaria.

E então Clove e Draco lembraram-se dos amigos, e agora que tinham a certeza de que todas as mães estavam presas no laboratório, precisavam resgatá-las. Agora que sabiam que toda a rebelião gerou um descontrole sem volta naquela ilha, precisavam destruir Bellatrix Lestrange. Agora que sabiam que, fora dali, seriam eles ou ela, precisavam por um fim naquela história.

Aquela rebelião precisava por um fim em todo aquele inferno de uma vez por todas.

Afinal, eles eram mutantes, e fariam jus às forças especiais que tinham. Não era o que Bellatrix queria? Ela não queria um exército de mutantes? Era o que ela teria.

– Não tô nem ai pra mais nada. - Clove se aproximou de Draco e segurou-o pelo braço. O garoto fez uma careta de dor e olhou seriamente para a amiga. - A gente vai acabar com isso tudo de uma vez. - E a morena saiu puxando-o pelo caminho por onde chegaram na enfermaria. - Você vem com a gente? - Ao passar por Severo Snape, Clove o encarou fixamente por segundos a fio.

– Ela fez da minha vida um inferno. - Severo disse, friamente. - Ela vai pagar.

E era exatamente por isso que Severo Snape queria uma rebelião. Era exatamente por isso que Snape havia deixado o pendrive com informações sobre Bellatrix e sobre a ilha, para que Gina e outros mutantes pudessem ver.

Ele sabia que, sozinho, não tinha a menor chance de se vingar de Bellatrix Lestrange, a mulher que o fez crescer afastado das pessoas por ser tão diferente. A mulher que transformou sua vida num caos por ter mexido com seus genes sem o consentimento de sua mãe, a mulher que o privou de ter uma vida normal durante todos esses anos. Ele queria justiça contra essa mulher que destruiu tantas vidas, que fez experiências proibidas com tantas pessoas; ele queria que Bellatrix pagasse por cada dor que causou em cada mutante e em cada família desses mutantes.

A rebelião não era uma vingança só dele, mas de toda a raça mutante.

Por cada família destruída,

por cada pai morto,

por cada dor e por cada luta.


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Notas finais do capítulo

O capítulo tá sem revisão, mas corrigirei logo!

Espero que tenham gostado. Acho que deu pra entender melhor sobre a história do Snape com a Bellatrix, né?

Não deixem de comentar.
XX



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