Acordei com o meu celular tocando It’s time, levantei e pela primeira vez a Mel não estava dormindo, busquei ela com o olhar pelo quarto e não a encontrei. Fui em direção ao banheiro, abri a porta e lá estava ela, vestindo a farda e penteando o cabelo.

– Bom dia amor – disse ela sorrindo me olhando pelo espelho, não pude evitar ficar boba com o “amor”

– Bom dia princesa, senti sua falta, pela primeira vez acordou primeiro hein? Por que não me chamou?

– Você estava tão bonitinha dormindo – fez uma cara fofa, venho em minha direção e me deu um selinho – vai tomar banho que eu vou descendo, te espero lá em baixo para tomarmos café dá manhã juntas e irmos pra escola. – Disse ela enquanto saia do banheiro e eu ia no quarto para pegar minha toalha e voltava ao banheiro. Tomei banho e me arrumei rapidamente, la em baixo a Mel conversava com a Gabi, o Pietro estava na cozinha com a Vanessa que por sua fez preparava o café. Logo meu tio apareceu atrás de mim.

– Bom dia família, como hoje é sexta-feira vamos jantar em uma pizzaria, então estejam todos prontos de 18h, venho em casa só para trocar de roupa e saímos – Todos ficaram animados com a ideia. Nos sentamos a mesa e comemos em silêncio. O Rique novamente não nos acompanhou no café da manhã, logo em seguida eu, Mel e Pietro fomos em direção a escola, Vanessa foi deixar a Gabi na escolinha dela e depois ia para o seu emprego de nutricionista, e o tio Guga foi direto para o trabalho. No caminho eu andava lado a lado com a Melani e o Pietro logo a frente, quando ele para e se vira nos esperando.

– Então Duda, quando você vai me apresentar aquela sua amiga? – perguntou me encarando e a Mel me olhava com dúvida sem saber sobre o que seu irmão estava falando.

– Pode ser hoje mesmo, caso você queira nos encontrar na hora do intervalo – disse, ele sorrio e respondeu.

– Claro, eu espero vocês lá na porta da sua sala quando tocar – falou e seguiu na nossa frente. Melani olhou com dúvida e falou.

– Que garota é essa?

– É uma amiga minha chamada Fernanda, ela é meio que afim dele e pediu minha ajuda – disse sem dar muita importância pro assunto.

– Ah... e aquela Paula, ela continua dando em cima de você? Sabe, depois daquela cena no banheiro – Eu não aguentei e comecei a rir, ela me olhou irritada.

– Ela é só minha amiga, conversamos bastante ontem com a Luana e a Nanda.

– Hm, mas mesmo assim, você agora e minha e eu não quero ninguém dando em cima de você – disse entrelaçando nossos braços e beijando minha bochecha.

– Não faz assim se não eu te beijo aqui mesmo viu? – sussurrei, ela por sua vez só riu. Seguimos o resto do caminho caladas, chegando na escola nos despedimos e fomo para nossas salas. No caminho encontrei o Felipe.

– Oi linda, tudo bom? Estou voltando da sua sala, resolvi ir lá ver se já tinha chegado mas você não estava – falou sorrindo.

– Oi Felipe, bem você é da mesma sala que a Mel e nós duas moramos na mesma casa. Se ela ainda não tinha chegado, acho que eu também não né? – falei séria vendo o sorriso no seu rosto sumir.

– Nossa Duda desculpa, mas é que eu estou tentando ser legal com você sabe? Acho que você poderia ser um pouco mais simpática. Queria te chamar pra sair comigo amanhã de tarde, assistir um filme.

– Olha Felipe, desculpa mas eu... como eu vou dizer isso? Hm, eu gosto de outra coisa e estou envolvida com outra pessoa. – Falei rezando para ele ter entendido.

– Com “outra coisa” você tipo quer dizer... você é lésbica? – demonstrou um pouco de surpresa.

– É cara, desculpa, você realmente parece ser um bom amigo e tals, mas apenas isso. Comigo a única coisa que você pode conseguir é amizade.

– Tudo bem então – disse coçando a cabeça – desculpa, eu entendo e não se preocupe que eu não vou sair por ai falando sobre a sua vida. Quero ser seu amigo.

– Amigos podemos ser. Desculpa se fui grossa, não foi minha intensão – O sinal tocou, nos despedimos e seguimos cada um pra sua sala. Chegando lá encontrei com a Lu, Nanda e Paula. Conversamos sobre várias coisas até o professor chegar. As primeiras aulas passaram rápidas e logo o sinal do intervalo tocou, quando saímos encontramos com o Pietro nos esperando em frente a porta. A Nanda olhou-me assustada e eu apenas disse para ela relaxar. Vi a Mel conversando com o Matheus e ele estava muito exaltado, ela estava terminando com ele. Segui com meu primo e minhas amigas para o ginásio, Pietro e Nanda pareciam estar muito próximos, conversavam animadamente. Depois do intervalo nós voltamos para a nossa sala, a professora de Química, que diferente de Hipnos, deixava a aula bem dinâmica e interessante, estava explicando o assunto quando chega um homem pedindo permissão para dar um aviso. Ele era alto, cabelo loiro com gel penteado pra trás e olhos pretos. Usava um calção preto de esporte e uma camiseta de esporte da escola.

– Olá alunos, eu sou o professor de educação física e técnico do time de futebol. Estou passando nas salas para informar a criação de uma equipe feminina. O processo para entrar é bem simples, precisam apenas me dizer o seu nome e o resto buscaremos no sistema. Não precisa pagar nenhuma taxa extra já que os esportes são inclusos na matricula. Os treinos serão nas segundas, quartas e sextas, na parte da noite a partir das 19h terminando as 20h30, pois os treinos masculino são nos mesmo dias na parte da tarde e eu sou o responsável por ambas as turmas. Alguma menina dessa sala está interessada em participar? – Perguntou e eu logo levante a mão, juntamente com Lu, Paula e outras 2 meninas. Ele pegou os nossos nomes e disse que deveríamos comprar nossos materiais como chuteira meião e caneleira, já que a roupa poderia ser um short de esporte e uma camiseta qualquer, sendo necessário o uniforma da escola apenas quando começassem os jogos. Depois da visita a aula seguiu normalmente, assim como as demais. Pontualmente às 12h20 o sinal tocou, saímos me despedi das minhas amigas e segui para frente da escola onde fiquei esperando a Mel sair, quando a vi saindo acompanhada da Guta e do Felipe.

#Mel

Quando chegamos na escola me despedi do meu irmão e da Duda, fui para a minha sala onde encontrei a Bruna e a Guta, conversamos até eu ver o Matheus chegando, fui falar com ele, era hoje.

– Matheus? – o chamei e ele logo veio querendo me beijar mas eu o impedi – precisamos conversar hoje na hora do intervalo – disse séria

– Tudo bem, algum problema?

– Nós conversamos na hora do intervalo, tudo bem? – Ele disse que sim e fomos nos sentar pois o professor tinha acabado de chegar. As aulas passaram se arrastando, não sei se era por que eu precisava ter essa conversa com o Matheus e isso estava me deixando ansiosa ou se era por causa das aulas em si. Recebi alguns olhares curiosos da Bruna mas dei de ombros. Quando o sinal tocou chamei o Math e fomos até um canto do pátio.

– E então Mel, o que você queria conversar?

– Eu não sei como dizer isso mas nós... nós precisamos terminar Matheus – disse e ele me olhou confuso.

– Como assim Mel? Do que você está falando? Nós estávamos tão bem e agora você vem com uma dessas?

– É isso, as coisas já estavam um pouco diferente já faz muito tempo e você sabe disso, mas a algum tempo eu venho pensando nisso, aconteceram coisas e ...

– Como assim “aconteceram coisas”? Tem outro na jogada é isso? – Perguntou já exaltado.

– Não Matheus, não tem outro

– EU JÁ SEI... foi por causa da vadia da sua prima né? Eu não gostei dela desde a primeira vez em que nos vimos, foi ela quem fez sua cabeça pra terminar comigo!

– EM PRIMEIRO LUGAR, RESPEITE A DUDA! Ela não é uma vadia e eu não quero você ou qualquer outra pessoa falando mal dela entendeu? Em segundo lugar ninguém faz a minha cabeça. Eu sou muito bem capaz de tomar decisões por mim mesma.

– Então por que você está terminando comigo? Eu só vou aceitar se você me der uma boa explicação – ele já falava um tanto alto, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam por perto.

– Math, me escuta bem, ok? – ele concordou – eu não estou mais feliz com esse relacionamento. Eu não sinto mais o que eu sentia por ti! Eu quero acabar logo para que possamos ter uma amizade em respeito a tudo o que vivemos juntos. Temos amigos em comum e querendo ou não vamos nos ver. Então apenas aceite – sai de lá e o vi derramar algumas lagrimas, isso me deixou triste, mas minha felicidade em pensar na Duds tirou qualquer vestígio de tristeza de mim. O sinal tocou e voltamos para a sala. Estávamos copiando uma atividade de matemática da professora Calí... Calif... Cal alguma coisa, quando o Lipe começou a conversar comigo.

– Sabe, hoje de manhã eu fui na sala da Duda ver se ela já tinha chegado, queria chamar ela pra sair – droga eu sabia que o meu amigo estava interessado na minha prima, e agora o que eu faço? – mas ela me deu um fora – riu e eu fiquei mais tranquila – ela é lésbica – não fingi estar surpresa e ele percebeu – você já sabia?

– Sim, respondi. Mas você está chateado ou qualquer coisa assim?

– Não não, na verdade quero ser amigo dela. Você sabe que eu não tenho problema com isso. Não sou o Math – quando ele falou isso, lembrei dos comentários homofóbicos vindos do Matheus, quando encontrávamos algum casal gay na rua, nunca gostei disso – falando nele. Ele me falou que você terminou com ele, por que?

– verdade, fico feliz por isso. Eu terminei com ele por não ser mais apaixonada Lipe.

– E isso tem alguma coisa a ver com a Duda? – Olhei pra ele assustada, ele riu amigável e voltou a copiar a matéria, fiz o mesmo. Uma aula antes de tocar veio o professor de educação física e futebol oferecer vagas no time feminino, algumas meninas da minha sala se inscreveram mas eu preferi ficar com o vôlei. Após o termino das aulas sai com a Guta e com o Lipe. Vi a Duds me esperando em frente da escola. Eu me despedi dos meus amigos e fui encontrar com ela, nos abraçamos, vi seu olhar perdido em um ponto atrás de mim e ao olhar lá estava um homem alto, forte, com cabelos brancos penteados pra trás e barba também branca.

–Você o conhece?

– Não, acho que não, parece familiar mas não – Sorriu e seguimos para casa, o Pietro teria sétimo horário hoje então sairia mais tarde. No meio do caminho falei que tinha terminado com o Matheus – Então isso quer dizer que o caminho está livre pra nós duas?

– Mais do que livres

– Então... estamos namorando?

– Não. Não me lembro de nenhum pedido – disse me fazendo de sínica

– Então não será por falta de um – parou, ficou de frente pra mim e continuou – Melani você aceita namorar comigo?

– Aceito! – pulei em seus braços e sussurrei em seu ouvido – Se não tivéssemos na rua, iria de beijar agora mesmo.

–Não seja por isso, teremos muito tempo em casa antes de irmos pro restaurante – disse me soltando e seguimos caminho.

– E ai, alguma novidade? – perguntei

– Entrei pro time de futebol feminino, os treinos começam segunda

– Ah! Verdade, o professor passou lá na sala mas eu não me inscrevi pois faço vôlei no mesmo dia e horário, podemos ir e voltar juntas – disse entrelaçando nossos braços – você vai precisar comprar o material, podemos ir amanhã de tarde comprar, eu e você, o que acha?

– Acho ótimo. – disse ela sorrindo. Fomos pra casa.