Chamado escrita por Maya


Capítulo 1
Chamado




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Abençoados são os esquecidos, pois recebem a melhor desforra de seus erros. (Edgar A. Poe)

~ dor ~

Todo o seu corpo parecia entrar em sintonia com a vibração da noite, criando um ninho de energia ao seu redor. Ele era guiado, muito mais do que guiava. A energia era dona de si. A natureza vinha clamar seu pagamento.

Os músculos começaram a contrair.

~ loucura ~

Às vezes, quando estava consciente, perguntava-se se não era mais humano naquelas noites em que todos os humanos o evitavam. Afinal, a loucura às vezes deriva da lucidez. Quando A Besta tomava conta de si, havia uma dolorosa consciência de que era um animal sedento, que não distinguiria entre amigos e inimigos.

A memória se esvaía, e com ela os sentimentos. Tudo virava um simples pedaço de carne.

~ mudança ~

A mudança era dolorosa. Roubava-lhe a lucidez, tanto quanto a devolvia. Era quase como ser rasgado por dentro. Os ossos mudando de lugar, as juntas tornando-se mais grossas. Um rabo começando a espichar. Pêlos por todos os lados. Glândulas se agitando, sangue fervendo, sentidos despertando. Dentes crescendo, focinho alargando-se, mente desanuviando.

E então o delírio do esquecimento.

~ liberdade ~

Será que poderia mesmo chamar aquilo de liberdade? Mesmo quando sua mente parecia ser dominada pel’A Besta? Algumas vezes ele se perguntava quem realmente era: o rapaz de constituição frágil e amigos protetores, ou A Besta que dominava a noite, e era dominada por ela.

E, ainda assim, ele era livre.

Livre para uivar.

~ despertar ~

Oh, a magnânima dama da noite. A dona de sua alma naquelas noites em que aparecia cheia de luz, vestida em prata, pronta para tentá-lo.

Remus quase podia ouvi-la implorar: Preciso de você.

Um chamado irresistível, sussurrado como veludo contra a pele. Nos dias que precediam a chegada dela, ele sentia seu corpo lentamente despertar. Era como passar um mês em coma e, tão súbita quanto maravilhosamente, abrir os olhos. Tudo ganhava novas cores, novos cheiros.

Ele sentia-se como um caldeirão cheio de uma poção efervescente. Seu sangue borbulhava lentamente, guiando-o em direção ao calor, à luz sombria da noite. Guiando-o em direção a ela. À Lua.

Ele nunca resistia. Ele era dela e, quando ela decidia possuí-lo, ele esquecia quem fora um dia.

Quando ele era dela, ele era A Besta.

Sua garganta secava, sua voz enrouquecia, seu corpo tornava-se mais peludo. Seus ouvidos ouviam o chamado doce da dama da noite, tentando-o a se entregar à loucura. A se entregar à lucidez completa e despida de pudores. A se entregar À Besta.

E ele se entregava.

Ao doce chamado.

À doce loucura.

À dolorosa liberdade.


N/A: Drabblet escrita para o projeto Em Busca dos Personagens Perdidos do fórum Marauder's Map.


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