Eu Escolho Quando Parar escrita por Miss Viegas


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fic do gênero



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Meu nome é Miguel e eu sou um assassino. Matei minha irmã a muito tempo atrás, queria poder dizer que foi um acidente, que não foi minha intenção, que eu sou inocente, mas não. Eu tinha noção do que estava fazendo, vi seus olhos verdes fecharem e a vida se esvair de seu corpo. Sinto arrependimento por não ter evitado, por não ter feito diferente.

Charlote e eu éramos bons amigos desde sempre. Nossa família era como modelo, todo mundo buscava seus conselhos e ajuda nos momentos de aperto. Nossos pais eram ditas pessoas de bem, firmes segundo seus conceitos, nos deram boa educação e por que não dizer, cobraram bons retornos de todo investimento que fizeram, sempre exigiram nossa inteira dedicação aos estudos. Os resultados foram satisfatórios, no auge dos meus 25 anos, Lote (meu apelido carinhoso) com 23, já estávamos formados e trabalhando, como nossos pais sonharam e desejavam.

Lote tinha um namorado fazia um tempo. Eu sabia que ele era uma boa pessoa, despertava na minha irmã algo de muito bom, dava uma luz em sua vida de tal forma que quando ela falava dele tinha uma paixão e amor tão grandes que era bonito de se ver, de se ouvir. Eles dois combinavam, viviam de sua forma, meio excêntrica, meio diferente do resto, porém apesar de algumas dificuldades, eles tinham um amor imenso. Pena que para nossos pais não era o bastante.

Meu cunhado tinha seu próprio caminho, nossos pais acreditavam em caminhos únicos de se alcançar as coisas. Lote sabia disso e com o tempo criou um muro em volta de si pra se proteger a si mesma e aquele que amava. O único com quem se abria era comigo, sempre fora tímida e muitos nos quais depositou confiança falharam. Comigo, ela sentia que podia contar sempre. Talvez por isso que tudo chegou em um ponto que não pude dizer não.

As críticas ao modo como Lote levava sua vida sempre foi uma constante. Minha irmã tinha algo tão enraizado nela, tão peculiar que era quase como fora do mundo. Frequentemente ela se sentia só, se não fosse por mim e seu namorado, acredito que ela se perderia dentro de si mesma. Ás vezes, porém, a vida torna-se imprevisível e sem que tenhamos tempo de dizer nada, tudo se transforma. E sem que a Lote tivesse tempo de pensar o namorado dela se foi.

Por um mês, ela tentou entender e pensar positivo, mas eu sabia o quanto de força ela fazia para tal. Nossos pais deram o apoio esperado por exato um mês, tal qual um prazo estipulado, depois voltaram ao seu estado original de praticidade. Lote contudo não voltou ao seu estado habitual, não sei ao certo quando ela desisitiu de tudo e isso hoje não faz diferença, já que é tarde demais agora.

***

- Então, sinto pelo seu namorado. Quando vai fazer seu mestrado? Puxa, está na hora, é importante para seu currículo, há ótimas universidades nas quais você pode se inscrever... – era muito comum nossos tios falarem isso para nós nas festas de família. Nossos pais tinham orgulho de contar nossos feitos, de como venceram suas dificuldades e nos fizeram vencer também. Eu levava numa boa, para Lote porém, era como veneno.

- Você quer ir ao parque comigo amanhã? – ela me perguntou após uma dessas festas de família. Estranhei. Fazia tempo que ela não ia para lugar nenhum ou aceitava convite, por meses só ficava em seu quarto ouvindo música ou lendo, saindo apenas pra comer e para o trabalho.

- Tudo bem, a gente pode convidar alguém e...

- Não! Só nós dois! – ela disse energicamente. Concordei, fazia tempo que não saímos.

Lembrava do parque para o qual nós fomos. Quando pequenos Lote e eu íamos lá com nossos pais para piqueniques. Quase sempre ela levava bronca da nossa mãe porque se sujava de terra ou não se comportava apropriadamente segundo ela. Nós fomos em um horário que não havia muitas pessoas, além de ser uma área um pouco afastada, com balanços e uma gangorra. Imaginei o que Lote gostaria de fazer lá, o que quer que fosse esperava de alguma forma ajudá-la.

Na hora marcada, estávamos livres e nossos pais não estavam, ela apareceu para irmos e percebi suas roupas. Apesar de ser adulta, ela era informal, mamãe reclamava de como ela devia se arrumar melhor pra trabalhar, naquele momento ela chegava perto de estar bem desleixada. Usava uma camisa preta de um personagem de desenho, uma camisa xadrez larga e desabotoada por cima, um short jeans e um tênis preto e branco, os cabelos estavam presos em uma trança meio arrepiada. Sabia que Lote se vestia assim quando não queria chamar atenção.

Ela permaneceu calada a maior parte do caminho, parecia concentrada em algo, imersa em seus pensamentos. Eu quis me convencer que era a tristeza pelo namorado perdido e a incompreensão por parte das pessoas, porém algo dentro de mim me ferroava como uma abelha fazendo doer e incomodar, embora não soubesse muito bem o que era.

Ao chegar no parque caminhamos um pouco. Falamos sobre nosso trabalho vagamente. Éramos da área da saúde, então sempre temos casos pra contar. Eu ria a maior parte do tempo contando as piadas que ouvia, as trapalhadas de recém empregados, Lote, porém, sorria pelo canto dos lábios permanecendo com os olhos abaixados.

- Chegamos aos balanços. Vamos nos sentar. – disse ela. Achava que éramos muito grandinhos pra balanços, mas, sentamos e ficamos nos embalando levemente.

- Lote, eu sei que você está muito triste com tudo, mas saiba que...

- Você me ama, irmão? – disse ela de repente. Achei estranha a pergunta. Claro que a amava! Ela era minha irmã, crescemos juntos e raramente brigávamos. Conforme íamos crescendo assuntos por vezes eram tratados com certa timidez, mas nossa cumplicidade falava mais forte e nos livramos dos tabus. Posso dizer que Lote conversava mais comigo do que com as amigas de colegial ou até mesmo com nossos pais, contudo aquele tom fez o incômodo de antes voltar com toda a força, senti uma seriedade e gravidade em sua voz que meu coração ficou do tamanho de uma ervilha. – Responde Miguel, você me ama?

- Por que essa pergunta, Lote? Você sabe que sim, sabe que a amo muito, é minha irmã, pode confiar em mim sempre...

- O que quero saber é se seu amor vai longe...

- Sei que você está triste pelo seu namorado, nossos pais também não tem facilitado muito, mas as coisas vão melhorar.

- Lamento discordar de você, mas não vão. Eu tentei, de verdade. Mas não posso dar o que não tenho e não quero viver fingindo que posso. Por isso preciso que você me faça um favor.

- Lote, você consegue, eu sei! Sei que pode superar tudo com sua força. O que acha da gente fazer uma viagem junto? Nós dois e alguns amigos? Tirar umas férias?

- Pára! Não quero nada disso! Você não vê? Não vê que eu estou no meu limite? – me assustei nessa hora, ela nunca perdia o controle assim. – Estou cansada, Miguel. Cansada de indiferença, cansada de tentarem me empurrar sugestões de melhora com base em seus próprios conceitos, cansada de me dizerem faça isso, faça aquilo sem ao menos perguntar o que realmente me é importante. Cansada das pessoas, você é o único em quem confio pra fazer algo.

- Mas Lote... – suspirei e engoli em seco, tinha medo do que podia ouvir – o que você quer?

- Eu quero que você me mate.


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Notas finais do capítulo

E aí? Mereço reviews numa fic nova sendo que ainda nem terminei as antigas? hehe



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