Logo depois da notícia de que eu havia sido escolhida para a seleção do Soldado, Seth apenas disse aquelas mesmas palavras.

- Isso não pode estar acontecendo.

Eu o olhei, não entendia o que ele queria dizer com aquilo.

- Eu não devia ter vindo - ele disse se virando para a porta. Mas eu não queria que ele fosse embora - Desculpe, Alex.

Então eu o segui até a porta, mas ele saiu andando na maior rapidez.

- Seth! - eu o chamei, mas ele sequer olhou.

Voltei para casa e sentei no sofá vendo as imagens do holograma desaparecerem.

Minutos depois meu celular toca. No visor aparece como número restrito.

- Alô - eu atendi.

- Srta. Wilder, permita-me dizer que você, assim como os demais escolhidos, tem até as duas horas do dia de amanhã, para se preparar para vir conosco. Não esqueça de nada. Boa noite - disse a voz masculina e desconhecida.

Então a pessoa que estava na linha desligou.

Eu ainda estava muito confusa, e tudo o que eu pude pensar em fazer àquela altura do campeonato foram minhas malas.

Subi até o meu quarto na maior velocidade. Peguei uma das malas que eu havia usado há meses atrás para uma viagem que meus pais e eu fizemos para Denver para visitar minha família - foi muito agradável, mesmo nenhum dos dois tendo saído de casa naquela uma semana que ficamos lá.

Então lembrei. Será que os dois já estariam sabendo da notícia.

Aposto que ainda não, pensei.

Mas decidi não pensar naquilo. Meus pais sempre foram ausentes, mas nunca os culpei, na verdade nunca os entendi, porque, por ironia, eles nunca estavam comigo para me explicar esse fato.

Terminei de fazer as malas e fui dormir.

Então fiquei alguns minutos acordada. O sono havia me abandonado. Fiquei lembrando o tempo todo de Seth, de como ele me olhou quando chegou na minha porta, em como eu me sentira bem quando ele me beijou...e em como seu beijo havia sido bom.

Mas parecia errado. Eu e Seth. Só um poderia ser o Soldado, e eu queria muito.

Percebia-se que ele pensava parecido.

Mas será que estava sendo tão objetivo como eu?

Por um momento me senti culpada, mas resolvi espantar o pensamento, pois não sabia exatamente o que ele estaria pensando.

Então o sono me pegou de surpresa, e antes que eu percebesse já estava dormindo.

Foram sonhos conturbados e cheios de coisas aleatórias e sem sentido algum. Lembro que em algum momento vi Seth. Ele estava andando em um terreno extenso, havia fumaça e ao longe podia ouvir tiros como os de canhões antigos - não era muito comum se ver canhões.

Seth caminhava pelo que devia ser o campo de batalha.

- Senhoras e senhores, o Soldado! - dizia o que parecia ser a voz do prefeito, ribombava como se saísse de auto-falantes, porém não havia nenhum a vista.

Seth se aproximava do que pareciam ser as fronteiras inimigas. Seu olhar era frio, sombrio...estava completamente diferente.

- Hora de mostrar serviço, Soldado.

Seth se aproximou com os olhos vidrados nos outros soldados. Todos eles corriam até ele com armas e fuzis, mas ele estava desarmado.

Então todos começaram a atirar. As balas perfuravam o corpo de Seth mas ele não dava o menor sinal de dor, porém ia caindo a medida que era alvejado com mais e mais tiros.

Os olhos começavam a ficar com uma cor arroxeada.

Logo o corpo de Seth estava todo baleado e ele jazia inerte no chão.

Os olhos abertos miravam o céu cinzento.

Então o ar ficou sufocante e a risada do prefeito começava a tomar conta da atmosfera sinistra.

Sua risada ficava cada vez mais alta e medonha.

Aquilo era um pesadelo!

Acordei de súbito, ofegante e tremendo. Senti um calafrio percorrer a espinha ao lembrar da risada maligna do governante.

O que aquilo queria dizer?

Eu não fazia ideia. Mas não queria ter mais sonhos como aqueles.

Devia ser o estresse que começava a tomar conta de mim ou algo do tipo. A manhã seguinte não seria nada tranquila...