P.O.V Annabeth

Quando chegamos na lanchonete – no cantinho do refeitório, onde possivelmente vendia sorvetes – avistamos Nico, Percy, Travis e Connor lanchando e quando perceberam nossa presença, acenaram e nos convidaram para sentarmo-nos com eles.

– Hey Katherine – Travis sussurrou para Katie, assim que ela sentou-se ao seu lado – vi que você me observava hoje pela janela.

– Eu não estava observando você – Katie ruborizou – e meu nome é Katie, você sabe, seu idiota.

–Não, Katie é apelido – ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha – seu nome é Katherine e é lindo.

– Sério?

– Sério.

– Travis também é lindo.

– Só o nome?

Ela corou um pouco, e creio que sem querer acabou falando a verdade.

– Não.

Zoë, que estava apenas observando tudo com as mãos no queixo, soltou um gemido.

– Awwwn, eu não aprovo namoros e acho os meninos babacas. Mas, Travis e Katie, isso foi tão fofo.

Travis deu um sorrisinho olhando para Katie e depois voltou a comer.

– Ei, você que é a Annabeth? – Travis perguntou.

– Sim, por que?

– Ouvi muito falar de você – ele comentou com a boca cheia – Nico disse que você é legal e Percy que você tem olhos lindos.

Olhei pro Percy

– Que história é essa Perseu?

Ele odiava quando eu o chamava assim, já eu amava.

– O quê? – ele se fingiu de desentendido – Connor está blefando – então olhou friamente para ele – não é meu chapa?

Connor se engasgou

– É, é, eu costumo mentir, zoar, é... é melhor eu calar a boca.

– Sabe Percy – caçoei – se você acha meus olhos bonitos, não precisa mentir, eu sei que são.

Ele bufou.

– Convencida você hein.

– Imagina.

Nós nos encaramos um pouco, ele tinha uma resposta na linga; eu também. Irônico não?

– Colé Annabeth.

– “Colé” não é uma palavra.

– Chata.

– Irritante.

– Idiota.

– Cabeça de Algas.

– Sabidinha.

– Gay.

– Machão ft Lésica.

– ‘ft’ ?... eer, Pau de vara tripa, sim Percy, você é uma vara, ou seja, magro.

– Baleia, sim Annabeth, você é uma baleia, ou seja, gorda.

– Cumequié?

– “Cumequié” não é uma palavra.

– Pegou pesado cara.

– Eu sempre pego.

– Percebi.

Olhei para minha comida, eu havia perdido o apetite.

Quando alevantei a vista, vi que todos estavam em puro silencio, apenas observando eu e o Percy discutindo. E falando em Percy, o idiota não tinha percebido que eu queria por um fim naquela discussão estupida:

– Pelo menos eu sei que “cumequié” não é totalmente uma palavra.

– Nossa, que inteligência maravilhosa – ironizei – pelo menos não fui eu que tava me agarrando com uma qualquer no primeiro dia.

– Mas quem te contou?

– Eu vi, quer dizer, nós vimos... não é meninas?

– Isso mesmo – Thalia balançou rapidamente a cabeça – e Travis, você tem um bumbum sexy.

Travis, que estava bebendo suco de uva, se engasgou e tossiu.

– Sua pedofila pornográfica.

–Ué, só falei a verdade.

– Você anda muito assanhada Tha – Nico murmurou mais pra si do quê pra qualquer um. – nunca vi você assim.

Thalia revirou os olhos

– Mas o quê você tem...

Ela foi interrompida quando uma figura ruiva apareceu e tascou um beijo na bochecha do Percy.

– Rachel! – Percy exclamou – estava te procurando.

– Me procurando? – ela deu um sorriso meia lua – não parece, já que está sentado aí.

– Quer dizer, eu ia te procurar... é.. sabe como é.

– Sei, sei – ela se deu conta da gente e acenou – Olá pessoal.

– Oi – dissemos em uníssimos.

– Hey! Annabeth não é? – ela sentou-se ao meu lado – Lembra de mim? Lá no elevador...

– Ah, sim, lembro.

– Bom, tenho uma noticia para dar – ela começou a roer as unhas – Sr. Doods descobriu sobre a festa e como sempre, já era.

– Ah, merda – Connor murmurou – tinha tantos planos para essa festa, ia falar com a Zoë e...

Ele se calou rapidamente.

Nós nos entreolhamos, sorrindo.

– Hummmm.

– Olha aqui garoto – Zoë parecia zangada. Quer dizer, ela estava zangada – perca suas expectativas de ter algo comigo, pois eu serei casta e freira assim que sair daqui e vós não irá me impedir.

Dessa aí eu não sabia, juro.

– Você? Casta e freira? – Travis se segurou para não rir – deve ser um convento diferente.

– Cala a boca – ela empinou o nariz – vá procurar o que fazer, seu humano imprestável.

– Você fala como se não fosse humana, como se fosse a Virgem Maria ou essas tiazinhas que criam gatos e tem o quarto repleto por pôsteres de Crepúsculo.

Percy não deveria ter dito isso, pois Zoë ficou vermelha igual tomate.

– Ora seu...

Poderíamos ter presenciado a Zoë estrangulando o Percy (e eu queria tanto ver isso!) porém uma voz fina ecoou por todos os lugares do refeitório. As caixinhas de som vibraram a cada palavra:

– Todos os alunos deverão ir para o prédio do meio sem atrasos ou as consequências serão graves.

Começou a tocar um hino bem patético e então todos nós saímos do refeitório em fila indiana.

O prédio estava lotado e tinha a separação de meninos e meninas. Acabamos sendo os últimos da fila, fiquei rígida e encarei o palco a minha frente.

Começou a tocar novamente o hino chatinho e uma velha de aparência rabugenta surgiu no meio do pátio e com a pior voz de taquara rachada que eu já vi:

– Welcome, Welcome (N/Effie: Não gostei da imitação, deleta.). Bem vindo ao internato Goode, estamos aqui desde 1770...

Parei de prestar atenção e comecei a fuçar no meu celular. Tinha um sms do meu pai pedindo para que eu ligasse no fim de semana e uns e-mails da minha antiga escola.

Já havia se passado três semanas que eu estava aqui e acabou que eu não senti tanta falta assim dos meus amigos, e bem, eles também não, (pois: Jubs foi embora pro Brasil –Não dá pra explicar isso, ela simplesmente se foi e mudou de numero, psé– , Clarisse liga as vezes, Sam e Thiago estão namorando e creio que não tem tempo, Luke... não sei do Luke, tenso), mas não morri por isso e aqui tem pessoas legais e eles agora farão parte do meu presente.

Minha família? Meu pai me liga todas as noites, minha madrasta manda “um beijo estalado” pelo telefone e meus irmãos apenas dizem que estão com saudades, simples.

Eu já ia guardar o celular quando alevantei os olhos e vi a velha rabugenta – sim, eu vou chama-la eternamente assim – na minha frente, ela sibilava algo e eu estava congelada.
Seus olhos me estudaram, e eu sabia: Estava realmente em uma enrascada.