P.O.V Annabeth

– Idiota. Idiota. Idiota. I-d-i-o-t-a!

– Annabeth, acalme-se.

– BABAQUISSE – gritei – BABAQUISSE!

Thalia começou a andar de um lado do outro da sala enquanto eu chutava tudo o que via no caminho. Pela milésima vez ela mandou eu me acalmar e o que fiz foi gritar mais alto ainda.

Acho que ela desistiu de tentar me fazer calma, pois se jogou no sofá e colocou as mãos nos ouvidos. Depois de alguns minutos gritando, cujo pareceu uma eternidade, eu resolvi me sentar ao seu lado.

Ela olhou pra mim e tirou as mãos dos ouvidos se alevantando e eu comecei a falar novamente.

– Annabeth, PARA!

– Parar? – fiquei incrédula – e você também é uma idiota por não ter me dito que a gente vai estudar em um internato!

– Não achei que fosse tão importante assim.

– Mas é! Tratasse da minha vida!

– Annabeth, você está se comportando como uma criança, pare com isso.

Alevantei do sofá para encara-la bufando. Trocamos uns olhares bem assassinos mas eu acabei desistindo de discutir. Sentei novamente e liguei a TV.

E adivinha quem estava nos comerciais? O PERCY!

– Mas que porra é essa? – olhei para Thalia que se segurava para não rir da minha cara – O que diabos ele tá fazendo na TV?

– O Percy foi contratado verão passado para fazer um comercial – Thalia sentou-se ao meu lado – Muitas pessoas gostaram dele e aí ele foi contratado por mais três empresas.

– Que esnobe.

Thalia olhou para mim e deu um sorriso travesso.

– Você está na dele.

– O quê? Nada haver. Ele é um chato que se acha, um ignorante que ama azul e...

Vários xingamentos passaram pela minha cabeça, mas nenhum estava a altura naquele momento.

– E..?

– Um idiota.

– Sei.

Decidi mudar de assunto, pois Thalia estava muito interessada em colocar palavras na minha boca ao qual eu não queria pronunciar.

– Aonde está Anastácia? Ainda não a conheci.

– Ela não vem mais hoje, só vem de manhã cedo, limpa as coisas e vai embora.

– E você fica o dia inteiro sozinha? – mas que surpresa, isso é agradável, pensei – Sem a supervisão de ninguém?

– Eu também fico bastante chocada em como ela confia em mim – seu tom estava um pouco presunçoso – E bem, eu não paro em casa. Fico de segunda a sexta no internato e no fim de semana venho para cá ou para a casa da tia Sally, mãe do Percy. Nas férias eu fico aqui ou saio para algum lugar, e na verdade em hora dessas eu estaria na casa de alguém, mas como você está aqui...

– Não precisa cuidar de mim, pode ir seja lá para onde.

– Não é questão de cuidar e eu iria para a casa do Nico.

– Fazer o quê lá?

– Sei lá, esse pensamento surgiu do nada na minha cabeça.

Ri um pouco, ela ficou me olhando sem entender nada com aquela cara de pinheiro.

– Você está na dele.

– Você fumou que bagulho menina? Não tá falando coisa com coisa.

Sorri sem humor. Thalia era aquele tipo de pessoa que não confessa nunca seus sentimentos e era melhor não dizer nada disso a ela.

– Não fumei nada sua doida. Vamos assistir a um filme?

– Só nós duas?

– Percy não pode vir.

– Mas e injusto nós assistirmos um filme e não chamarmos ele, ele é meu primo, Nico é melhor amigo dele, fica tudo ligado uns aos outros.

– Tá, mas vou fingir que nunca o vi na vida.

– Tudo bem.

Ela se esticou um pouco pegando seu celular de cima da mesinha de centro. Enquanto digitava algo isso me fez lembrar de uma coisa, algo bem distante....

Ai meus deuses, Jubs vai me matar. Não dei nenhuma noticia, nada. #fudeu

– Thalia, eu já volto.

Corri para o quarto e comecei a ligar, ela atendeu no terceiro toque.

– Alô?

– Oi.

– Annie?

– Não, um estuprador... é claro que sou eu.

– OLHA AQUI SUA FILHA DE SEI LÁ O QUÊ. VOCÊ SUMIU E NÃO....

Enquanto ela falava eu afastei o celular do ouvido. Aquilo estava parecendo mais um berrador da Senhora Weasley do que uma chamada ao telefone.
Quando eu vi que ela já tinha parado de falar coloquei o celular no ouvido novamente.

– Terminou?

– Sim.

– Ainda bem... Mals, ontem estava meio cansada e hoje passei a tarde no central park.

– Conheceu novas pessoas?

– Até agora só Thalia, Nico e o antipático do Percy.

– Como é esse Percy?

Hesitei um pouco antes de falar, aliás, para quê ela queria saber? Mas mesmo assim fiz uma pequena descrição do Sr. Olhos verdes*. Quando eu terminei ela respirou um pouco antes de soltar o verbo

– Percy Jackson...

– Espera, como você sabe sobrenome dele?

– Google minha filha.

Ri um pouco. Ninguém em São Francisco achava isso estranho, mas eu sim. Essa história de só digitar lá as características da pessoa e depois aparecer dados pessoas, fotos, tudo, me deixava desconfortável.

– Uii, ele é bem bonitinho.

– É um irritante Jubs, não se vá pela aparência.

– Ixi, não tá mais aqui quem falou. Quer saber as novas?

–Claro!

– Tá, tenho duas novidades: Primeira: Thiago se declarou para a Sam assim que você saiu do aeroporto, foi muito fofinho, ele ficou com medo de ela também ir embora e acabou se declarando.

– Que bonitinho... tá, conta a outra.

– A segundo não é tão legal.... Sabe a Myca?

– A líder de torcida que me odeia? Sei.

– Pois é... ela disse que como você e o Luke não estavam mais juntos não era traição eles se pegarem e aí... bem, aí eles ficaram.

Vocês devem achar que eu não gostei nada disso, que comecei a chorar, gritar, espernear, que fiquei super chocada e abalada, não é mesmo? Estão errados.

Nunca fiquei tão calma em toda a minha vida, e vou confessar uma coisa: eu fiquei foi feliz. Por que? Porque via o Luke como um irmão mais velho, e quando nós começamos a namorar, ficava me sentindo culpada por ficar com ele só por ficar, precisava achar um desculpa para terminarmos e nunca conhecia. Agora isso aconteceu sem minha participação, como não estar feliz?

Sei que sou estranha, mas nem tanto.

– Isso é bom Jubs.

– Eu sei que é bom para você, mas é estranho, com tudo....

– Querida, está tudo bem e eerr... manda um beijo para meu pai, tenho que ir.

– Okay, beijos.

– Beijo.

Desci as escadas e para o meu azar o Percy estava lá esparramado no sofá ao lado do Nico. Passei pelos dois e dei um aceno ao Nico ignorando completamente aquela coisa ao seu lado. Thalia voltou da cozinha com uma bacia de pipoca nas mãos e uma caixa de filmes prendida abaixo do braço.

– O que vamos assistir?

– Terror! O Massacre da Serra Elétrica!

– Thalia, esse filme é mais do que antigo! – Nico berrou, alevantando as mãos com drama – Vamos ver algo mais atualizado.

– E daí se é antigo? É bom, é o meu favorito, então vamos assistir ou nada de filme.

– Mas Tha... – Nico fez cara de pidão – vamos assistir um mais atual e outro dia assistimos esse.

– Tá, mas qual?

Abri a boca indignada, Thalia não era de ceder as coisas, o que estava acontecendo com ela...

Ah, claro, Porque Nico é NICO.

– A última casa da rua. – Ele deu um sorriso que era pra ser maléfico mas ficou foi engraçado.

– Mas não é tão terror assim.

– Gente –Percy interrompeu – vamos assistir a droga do filme ou não?

– Tá, irritante.

Thalia se aproximou do DVD e pôs o filme lá dentro.

Deitamos carpete, eu achava que a Thalia iria se deitar ao meu lado, mas não, ela ficou ao lado do Nico. E então eu me pergunto: Se ela odeia ele tanto assim, por que esse grude?

Poderia ter ficado fazendo perguntas a mim mesma durante horas, mas ao olhar para o lado dei um berro tão agudo que todos pularam.

– Ai meu deus Annabeth – Thalia tinha a mão no peito – o filme nem começou direito e você já está gritando?

– Eu não estava prestando atenção ao filme, dei esse grito porque vi que essa coisa estava do meu lado.

– Essa “coisa” tem nome – Percy bufou, indignado – você acha que eu fui batizado para quê?

– Seu nome deveria ser jumento, é.

– Pode parar vocês dois – Nico colocou as mãos no alto em forma de redenção – Annabeth, você vai sim ficar ao lado do Percy, e Percy, você vai sim ficar perto da Annabeth. Eu vou ficar perto da Thalia porque.. bem... – ele parecia encontrar as palavras certas – não importa.

– Tudo bem – Percy revirou os olhos – mas fique longe de mim!

– Como se eu quisesse ficar perto de você!

Ele me olhou como se fosse me matar e se deitou novamente no carpete. Deitei ao seu lado, relutante, o problema é que eu tinha que ficar perto dele, pois o carpete não era tão grande assim.

O filme era bem legal, e muito misterioso, mas como a Thalia mesmo disse, não tinha muito terror. Parei de prestar atenção no filme e virei-me para o lado. Percy tinha o maxilar travado e parecia bem concentrado no filme, fiquei lá, observando-o, seus traços, tudo. Não intendia porque estava fazendo aquilo.

Então ele se virou e passou a me encarar. Aquilo logo virou aquela famosa brincadeira do “quem é mais sério”, ficamos olhando mais um pouco, eu já ia desistir quando ele desviou os olhos e sorriu.

Sorri de volta. Ele olhou novamente, só que dessa vez seu sorriso de desmanchara.

– O que foi?

– Annabeth, fique imóvel – ele olhou bem fundo nos meus olhos e depois abaixou o olhar para o meu pescoço – Tem uma aranha no seu...

Ele não terminou de concluir a frase, pois eu comecei a pular e gritar a pleno pulmões.

– TIRA, TIRA, TIRA, TIIIIIIIRRAAAAAA.

Eu tenho pavor de aranha desde que me intendo por gente, é quase uma fobia. Mesmo sendo a mais minúscula possível, eu fico anormal, e enquanto não ver ela morta ou longe de mim, eu não me aquieto.

– Calma Annabeth – Percy tinha os olhos arregalados – Com esses seus pulos, ela caiu no chão.

– CAIU NO CHÃO?

Foi aí que eu pulei mais ainda, só que dessa vez em cima do Percy e ela me segurou forte. Seu cheiro de maresia quase me acalmou.

Quase.

– Mata ela, mata, mata, maaatttttaaaaaaaa.

Eu apertei Percy ainda mais contra mim e comecei a chorar convulsivamente.

Isso pode parecer estranho, dramático e tal, mas acredite: Ter fobia por aranhas não é a melhor coisa do mundo.

– Matei!

– Mentira, ela tá viva, ela quer me morder, ela...

– Ela nada Annie – Thalia pós a mão em meu ombro – olha ela ali no chão, suas perninhas pra cima...

Soltei-me rapidamente de Percy e olhei aonde Thalia apontava.

A aranha estava de barriga para cima e suas pernas no alto, não sei por que diabos isso aconteceu; mas eu comecei a sentir pena dela.

– Tadinha, ela se foi tão cedo – disse me aproximando da aranha – eu morro de medo de aranhas, mas não desejo um fim tão feio...

As pernas da aranha se mexeram contra o ar.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAH, MEUS DEUSES, ELA VEIO SE VINGAR.

Pulei novamente no colo do Percy e só aí a ficha caiu: Mas o que Hades eu estava fazendo no colo dele?

Soltei-me e pulei em cima do sofá.

Nico, que estava se segurando para não rir da desgraça alheia, melhor dizendo; da minha crise, entrou em ação e pisou fundo em cima da aranha.

Virei o rosto para o lado, não queria ver aquilo.

– Annabeth, você está tremendo – Percy passou as mãos nos meus ombros – relaxa, ela já foi.

Olhei estática para ele.

– Por que você se importa? Aliás, tire as mãos de mim.

Ele olhou para as suas mãos que ainda estavam segurando meus ombros e se afastou.

– Mal agradecida, deveria ter deixado você cair no chão quando pulou em cima de mim.

– Foi mal.

– Ora, ora, ora – Thalia riu sarcástica – quem diria que a Annabeth Chase, a garota que não gosta de internatos porque não gosta de seguir regras, tem medo de aranhas...

– Calada! Isso vai ficar só entre nós.

Eles não levaram a sério, pois tinham um sorriso no rosto. Olhei mortalmente para eles e então anunciei:

– Entendido?

–Sim senhora – Disseram em coro.

Joguei-me no sofá com as pernas para cima.

– Vamos voltar ao filme.

– Mas você não vai mais ficar no carpete?

– Não, as irmãs dela podem vim se vingar.

Todos os três riram e se jogaram no chão. No fim, acabei rindo também, e fazia um bom tempo que não ria assim também, era bom ter novos amigos.

Pousei a cabeça no sofá, pois tinha que prestar a atenção no raio do filme enquanto Thalia fazia comentários como: “Eu acho que fulano que é o assassino...” “Vish fia, já era, morreu.” E entre outras coisas que não dava para ignorar sem soltar uma grande risada.

É, talvez a noite não tenha sido tão ruim assim.