Os 7 Irmãos - Livro I - Cidade Da Redenção escrita por Débora C Leão, JulioPanco


Capítulo 2
I


Notas iniciais do capítulo

Continuação!
É necessário ler o prólogo pra ler aqui.
Espero que seja legal, pessoal. Se acharem muito ruim ou diferente do que imaginaram, estou aberta a críticas.



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I

E aqui eu acordei. Minha blusa branca em frangalhos, minha jaqueta de couro rasgada ao meio praticamente, e meu jeans num estado que me deixava com a aparência de ter sido atacada por um animal selvagem. E isso era pouco.

Além da minha maravilhosa visão – argh – eu ainda estava em um local que não poderia ser o Brooklyn. Não havia construções naquele local, ou nada visível na minha primeira visão.  Parecia uma fazenda, onde havia um celeiro. Acordei pouco antes de sua entrada, com minha cabeça na porta dele, e rasgos gigantes na porta. Uma floresta a meu lado esquerdo, e a imensidão ao lado direito. Mas a Lua estava na metade, ainda. Eu precisava me acostumar à escuridão; precisava me levantar. Olhando para trás, eu vi uma construção, bastante pequena, não tão distante de onde eu me encontrei deitada. Como eu estava num estado pouco sociável, fui até lá.

Era um banheiro, provavelmente dos empregados que trabalhavam na fazenda. Havia uma pia, uma privada e um chuveiro, não que eu fosse usá-lo. Mas também havia facões, foices, e todo o tipo de ferramentas para a colheita. Isso sim, eu usaria. Mas primeiro, eu precisava me compor. Fiz dos frangalhos da minha camisa um top – melhor do que ficar nua – e amarrei o restante da minha jaqueta em minha cintura. E conforme meus olhos se ajustavam à pouca claridade da Lua, eu vi que eu – e minha roupa – estava toda suja de sangue. E nenhuma ferida visível em mim.

Lavei-me. Sim, aquele sangue e a incógnita – de onde ele veio? – não saíam de minha cabeça. Mas eu precisava sobreviver primeiro. Quando soubesse onde estava e como fui parar ali e quando retornasse, procuraria saber mais. Então, peguei um facão, de tamanho considerável. E saí. Para fora do banheiro. Para fora da fazenda. Para a floresta, o que pode parecer imbecil ao primeiro pensamento, mas não creio que eu seria muito aceita nesse momento, com essas vestimentas, e meu jeito calmo, apesar de confusa, pelos donos da casa, e apesar de já estar acostumada a ser rejeitada, nessa situação eu tinha muita pouca explicação para dar. A questão é: eu sou prática. Bem prática. Estilo decidir, escolher um alvo, apontar e atirar. Primeiro as coisas primeiras. Sobreviver, depois as respostas. E embora eu estivesse achando tudo MUITO estranho, poderia ter sido tudo culpa daqueles caras imbecis, lá no Brooklyn.

Saí. Com calma, até penetrar na floresta, tendo muita calma e certeza. E ando. Ando por bastante tempo, avançando lentamente, pois apesar de ser do tipo sobrevivente, não tenho muito costume com florestas. Mas sou esperta. Cuido das raízes, presto atenção nos animais, estou sempre escutando. Eu tenho uma boa percepção, um bom raciocínio, e gosto de usá-los. Uso-os agora para nada mais do que escutar os galhos quebrando, as folhas secas se partindo, o barulho ambiente em volta de mim, pois é só o que há na floresta agora para se ouvir. Mas minha percepção é mais afiada do que eu pensava... eu prestei muita atenção. E eu andei por muito tempo, mas posso jurar que estava totalmente alerta, como se estivesse com muita adrenalina no corpo, na maior parte desse tempo. Quando eu simplesmente retiro minha concentração por alguns segundos, eu penso que estou muito dentro da floresta, de um local rural que eu não conhecia e não tinha costume algum portanto, embora não estivesse desconfortável de maneira alguma.

Mas é incrível como apenas alguns segundos de distração, gastos em um mísero e único pensamento, podem me levar à ruína nesse tipo de situação. Graças a Deus, me mantenho calma o suficiente, embora eu estivesse certamente ficando bem nervosa. Eu volto a prestar atenção. Estava escuro, mas eu vi a silhueta de alguma coisa saindo do meio das árvores. Algum tipo de animal, um quadrúpede, talvez um cachorro selvagem, e bem grande. Não sei o que fazer... Começo a pensar. Empunho o facão roubado, e espero, pois ainda não consigo ver.

A menos de cinco metros de distância, consigo começar a enxergar. A forma se estica, como se estivesse escondendo algum outro animal, maior, por trás dele. Mas não. Quando chego perto, vejo um homem. Minha guarda está baixa, e empunho o facão, apontando diretamente para seu peito. Ele levanta as mãos, em sinal de rendição.

- Calma, calma. Abaixe a faca – Ele ousa dizer. Sua voz é meio gutural, grossa, mas muito gentil. Sinto compaixão vinda dele – e odeio isso, de verdade. Ponto negativo. Ele não deveria estar aqui, com os poucos trajes que está usando, calmo demais, e muito menos me “entendendo”. Eu não sabia o que tinha acontecido, o que estava passando. Eu não entendia a sensação sobrenatural de direção, mesmo no meio da floresta. Eu não entendia o destemor a outros animais, mesmo quando vi o que jurava ser um lobo. Se eu não entendia, ele não deveria entender também. Então, apenas fico encarando-o. Tentando decidir porque e como ele parecia realmente compassivo comigo.

- Eu já disse, acalme-se. Estou aqui em paz, vim te ajudar. Ou você já sabe o que aconteceu com você?

Argh. Então ele fingia saber alguma coisa, huh? Odeio esse tipo, e já não estou para brincadeiras. E continuo ficando nervosa, ansiosa, talvez inclusive com medo. Eu não sei se poderia ataca-lo, pois ele era bem forte. Sua constituição era forte, alta, larga. Estava de bermudas, sem blusa e descalço, o que certamente é uma vestimenta estranha no meio de um bosque... Minha situação é diferente, eu vinha de fora do bosque, ele vinha de dentro. Ele deveria ser muito seguro de si.

- Mas isso não é de sua conta – eu tinha que responder algo, acho.

-É. É sim de minha conta. Eu vim para lhe ajudar, lembra?

- Ah, jura? Mas o que você poderia saber sobre mim? E o que tem a ver com isso? – Não menciono isso, mas penso que as pessoas não estão muito acostumadas a me ajudar... Aliás, as pessoas não estão muito acostumadas a sequer se aproximar de mim, nem mesmo enquanto estou apresentável. Imagine comigo coberta de sangue, com poucas roupas, descalça e empunhando um facão.

- Eu sei o que realmente aconteceu. Fui mandado para te ajudar.

- Você não sabe. Se algo realmente aconteceu comigo, não foi aqui. Tenho certeza, foi longe daqui. Você está mentindo. Vá. Vá, por favor.

- Mas se ouve... Bem de longe. O que aconteceu contigo, não é algo que fique isolado. Principalmente para as pessoas que eu conheço.

Bufo.

- Sério? E quem você conhece? – As coisas estão ficando muito clichê, do tipo clichê filme-de-terror.

Ele faz um semblante de confuso. Parece não entender porque perguntei isso.

- Você não viu o que acabou de acontecer? – Eu não respondo. Ele dá um tempo, enquanto parece pensar. – Bem, vamos para algum lugar melhor... Onde estamos é muito aberto e perto da fazenda. Vamos ficar mais escondidos e nos encontrar com os outros.

-Ah, não. Eu já disse, vá.

- Não é longe, é um acampamento. O resto do meu pessoal está lá.

- E porque eu deveria confiar ou em você ou em seu pessoal?

-Porque nós somos iguais. – Eu não acreditei. Deve ter ficado claro. – Sim, Theodora, somos iguais. Sabemos sobre seu pai, sabemos o que você fez, sabemos tudo como se estivéssemos ali. Somos da mesma espécie. Somos iguais. Vem comigo?

Depois disso, eu estava fria. Ele não deveria ter mencionado isso. Mas ele me ganhou ali. As coisas já estavam estranhas. Se ele sabia sobre Anthony, ele deveria realmente saber mesmo algo.

-Só tente não ficar muito para trás, então. – E saiu. Virou-se e iniciou uma marcha.

Uma marcha no meio da floresta. Ele deve ser maluco. Tudo bem, eu consegui segui-lo na maior parte do caminho, mas não foi fácil, eu inclusive me perdi algumas vezes. Se eu não fosse fria, eu riria. Logo eu, que nem na minha família confiava, estava correndo num bosque – num bosque de algum lugar desconhecido – com um estranho. Que pior, eu parecia CONFIAR!


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Notas finais do capítulo

E aí ?
Ainda tem mais. Esperem um pouquinho :)



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