Contos do Escritor Anônimo escrita por Queen Vee


Capítulo 11
Cinema Mudo /11#


Notas iniciais do capítulo

HEHE, OLHA QUEM RESOLVEU APARECER?!
Sim, eu mesma, QueenVee lindona u-u
Como vão? Esse capítulo é menos emocionante, mas espero que esteja ao agrado dos senhores, sim?
E Nina, me beije, eu te coloquei sim aqui!
Até as notas finais!



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Espreguicei-me no banco da praça e olhei ao redor, procurando alguma vítima inanimada para ser o alvo do meu tédio incessante. Brinquei com algumas rosas por ali e passei à prestar atenção em um garoto sério sentado na gangorra, sozinho. Olhando para o nada.

Não sei se lembram daquele garotinho da primeira história...Lembram? Eu mesmo. Pois sim, a expressão daquele garoto automaticamente me fazia pensar na criança que fui. Passei a mão no rosto procurando minha barba para coçar como nos filmes, mas não a encontrei... Acho que é a segunda ou terceira vez que isso acontece.

Parecia aquele tipo de criança que só de olhar, você tinha certeza que ela não iria corresponder sua animação, se é que esta existiria… mas, ainda sim, quis me comunicar com ele, mesmo sendo irritante. Na verdade, se pararmos para pensar, eu sempre me meto na vida alheia, certo?

Levantei, sem chamar atenção de ninguém e me sentei no balanço que ficava bem perto da gangorra. Perigosamente, eu diria. Se fosse uma mãe daquelas que usam avental na rua e saem descabeladas se o filho esquecer o remédio em casa, denunciaria o prefeito.

- Hm, olá? - Tentei chamá-lo de uma forma educada, sem tocá-lo nem nada. Sabe, chega um tempo que só de tocar em alguém que não se conhece, há o risco de ser processado...Pois é. - Garoto? Olá…?

Ele não respondia, só encarava o vazio em silêncio. Não parecia interessado em me ouvir também, quem sabe. Suspirei e continuei no balanço, movimentando suavemente as pernas, fazendo o brinquedos dar pequenos solavancos para frente e para trás.

- Sabe, parques são até divertidos, mas depende de como você está presente lá. Normalmente estar só com o corpo não funciona, entende? Se sua mente estiver em outra coisa, uma gangorra nunca vai achar que você quer brincar com ela. - Murmurei, olhando para outros lados, como se falasse só por falar.

Naquele momento, ele me olhou lentamente, como se tentasse entender o que eu dizia e porquê eu dizia. Dei de ombros e continuei me movimentando com o balanço, até que ele já estivesse um pouco mais rápido.

- Por que... está falando comigo? - Não evitei sorrir de lado. Sempre que falava com alguma pessoa que achava interessante ou que precisava de companhia, essa pergunta aparecia, no ar. Acho que já percebeu isso.

Não é como se não fosse perfeitamente normal um cara de quase trinta anos de roupas sociais vir falar com você em um parque tentando de explicar como se brinca. É normal e nada fora da lei. Não é como se esse cara fosse abusar de você.

Sério, não.

- Porque sim, oras. Então, vai ficar parado na gangorra? Ela tem dois bancos para duas pessoas brincarem nela, não ficarem sentadas… - Mexi no meu cabelo, olhando para cima. O garoto fez um barulho de desagrado e voltou à olhar para o vazio, menos silencioso dessa vez.

- Quem vai brincar de gangorra com um cara de 15 anos? Aliás, por que um garoto de 15 anos brincaria de gangorra? - Ele apoiou o rosto sobre a mão, suspirando como se não se importasse. Ah, claro que se importava.

Levantei a sobrancelha e levantei do balanço, sentando na grama do seu lado. Incomodava-me. Claro, quando eu tinha 15 estava preocupado com outras coisas, para que brincar de gangorra?! Mas, primeiramente, ele quem estava ali. E eu também. Por que não?

- Um cara de 29 brinca com um cara de 15. E por quê um cara de 29 quer brincar?! Afinal, o que os dois caras estão fazendo no parque se nenhum deles vai brincar?

Admito que minha lógica era estranha, e não tenho essa vontade de estar sempre perto das pessoas só para não ficar só, mas aquele garoto sim precisava de companhia. Passo dias sem receber uma visita sequer e olha meu estado?

Posso estar decadente, mas não é o que desejo para ninguém.

- Estou aqui somente pensando…- Deu de ombros novamente e voltou ao seu silêncio mortal de tumbas egípcias. Joguei para a fora o ar de meus pulmões e sentei de novo no balanço. Era triste dentro dele. Muito triste.

Finalmente, a história. Já conheceu pessoas que eram simplesmente triste, não? Pessoas com uma vida ótima que vivem sempre tristes? Alguns chamam isso de “ser emo”. Eu chamo de “síndrome inversa do cinema mudo”.

Sim, um nome grande, mas com propósito.

Essa história tem um pouco de avanço no tempo. Tinha acabado de me formar e tirar a carteira de motorista. Minha mãe estava de bom humor pois estava com o novo namorado, então me emprestou o carro para sair com alguém.

Contei que alguns amigos meus só mantiveram contato até pouco tempo depois da formatura, certo? Marion não mandava notícias há dois meses, Ísis tinha viajado para fazer um curso no exterior, Alec continuava me ligando, mas estava sempre ocupado e Mary continuava me ligando todo o fim de semana, nos intervalos das suas coisas.

Percebe quem está faltando, não percebe?

Oliver. Ele ainda falava comigo regularmente, me mandava mensagens, me visitava quando podia e às vezes saíamos juntos. Mas... nada, estava ocupado naquele sábado à noite e me pediu infinitas desculpas por não poder ir.

Tinha um grande telão afastado do centro da cidade onde passavam filmes de cinema mudo. Você ficava no seu carro, em paz, sem conversinhas, assistindo o filme com quem quisesse. Porém, quem eu tinha?

Sim, essa história vai te fazer lembrar de muitas coisas. Sabem a casa da Lilly, minha antiga vizinha? Foi ocupada por uma garota divertida. Ela era bonita e toda vez que nos víamos ela sempre me dizia algo que trazia altas gargalhadas. Coisas sobre capivaras, não sei…

Procurei o telefone na agenda telefônica e liguei para ela. Nina. Ela disse que estava tudo bem, que podia ir que iria se arrumar bem rápido. Tudo foi bem naquele dia, ao contrário do que possam pensar.

Assistimos a um filme de Chaplin. Foi bem engraçado, e acredite se quiser, ela levou achocolatado liquido na bolsa. E não, não gosto de refrigerante. Durante o filme, fiquei refletindo um pouco.

Você pode pensar que Chaplin age como se fosse muito feliz, mas na verdade é muito triste, por estar sem cores ou som. Pode pensar que é um sofredor em depressão apenas por onde está e pelo que faz, mas finge ser feliz, ou se engana com isso.

Pois é a síndrome inversa do cinema mudo. Na realidade, ele parece muito triste por onde está, em preto e branco, em um filme triste... mas na verdade é bastante feliz e se engana com isso. Entendeu?

Como se...você se perdesse na floresta. A floresta é enorme e linda, e você encontra lá tudo que sempre sonhou na sua vida... mas, você age como se estivesse muito triste por não estar na sua casa. Você quer ficar, mas convence à si mesmo que não.

O filme terminou, levei a garota em casa (depois de ouvir umas quinze piadas sobre chinchilas anêmicas, coelhos corados, capivaras com mau-hálito e canários que tem um caso com capivaras, fora lobos-lhamas e outras coisas muito bizarras). Tudo bem.

De fato, quando cheguei em casa, peguei o caderno e fiz cinco folhas descrevendo a síndrome inversa do cinema mudo. Depois de um conceito básico, é muito mais fácil reconhecer quem tem essa síndrome.

Ainda no balanço, suspirei e chamei o garoto de novo, que me olhou mais rápido que da última vez.

- Posso brincar com você? - Ele hesitou. Mas, acabamos brincando de outras coisas. Ele se dizia muito famoso e eu o irmão gêmeo pobre do interior.

Garanto que as gargalhadas dele foram bastante altas. O suficiente para todos do parque ouvirem. Admito que foi realmente divertido, até porquê fomos pulando pelo parque inteiro, agindo como bobos.

Ele nem parecia mais tão triste…

Quem sabe não estava triste em momento algum? Hm…

Ah, mudando de assunto, sabiam que capivaras podem sim ter mau-hálito?


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Notas finais do capítulo

^w^ Capivaras podem ter mau-hálito, galera! Cuidado, cuidem das capivaras de vocês e evitem um bafo do cão!
^^' Espero que tenham gostado! Digam o que acharam!
Até mais! ~ ♥



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