I Will Be... escrita por Luisa Stoll, Jeane


Capítulo 1
O teste de aptidão


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente, eu realmente espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/378156/chapter/1

POV Caleb

Hoje era o dia do teste de aptidão. Podia não deixar transparecer, mas eu estava preocupado. Nos últimos anos eu estava apenas atuando. Provavelmente acabaria sendo um transferido. Seria considerado um traidor. Há tempos eu vinha escondendo meus muitos livros em todos os cantos do meu quarto. Sinais claros de que deveria pertencer à Erudição. E, além de estar preocupado comigo mesmo, estava preocupado com a minha irmã. Ela raramente demonstrava sinais de pertencer à Abnegação. Eu realmente esperava que ela escolhesse o caminho certo.

As aulas daquela manhã passaram rapidamente, como sempre. O difícil foi esperar até chamarem meu nome para o teste de aptidão. Minhas mãos estavam suando. Eu estava nervoso.

Era a minha vez. Entrei na sala cheia de espelhos, em que uma mulher da Erudição estava atrás de uma mesa.

— Olá, Caleb. - cumprimentou ela. - Sou Minerva. Sente-se ali. - falou, apontando para uma cadeira medonha de metal, cheia de cabos. Me dirigi até lá. Sentei-me e ela me mandou tomar um líquido. Tomei sem contestar. Logo me vi em outro lugar. Parecia um refeitório. Sobre uma mesa havia um queijo e uma faca.

"Escolha" disse uma voz. Procurei de onde tinha vindo, mas não identifiquei.

Eu não sabia qual seria a situação, mas a faca me pareceu a melhor escolha. Afinal, o que eu poderia fazer com um pedaço de queijo? Meu pai diria que eu não deveria ter escolhido a faca, pois seria uma maneira de prejudicar a vida alheia. Mas isso não me importava agora. Ouvi um rosnado vindo de trás de mim e me virei. Um cachorro estava lá. O que eu tinha lido sobre cachorros? Eu não queria usar a faca contra ele. Eu não podia ter medo ou ele me atacaria. Estiquei a mão e deixei que ele a cheirasse. O cachorro se aproximou e lambeu minha mão. Passei a mão sobre sua cabeça e ele deitou. Coloquei a faca de lado e esperei pra ver o que aconteceria. De repente, apareceu uma menina pequena que veio correndo em minha direção. O cachorro se virou contra ela e eu pulei na frente, afastando a menina. Não poderia deixar que ela se machucasse, mesmo não a conhecendo. Então o cenário mudou. Me vi em um ônibus.

Sentei-me e percebi um homem vindo em minha direção. Ele segurava um jornal, onde estava escrito "Assassino brutal é finalmente preso". O homem me perguntou se eu conhecia o homem e eu engoli em seco. Eu senti que conhecia, mas não sabia de onde. E me parecia que, se eu falasse a verdade, algo muito ruim iria acontecer. Eu dei de ombros, o que não pareceu satisfazer o homem, o qual repetiu a pergunta. Eu respondi que não novamente.

A cena desapareceu e me vi novamente na sala, sentado na cadeira de metal. Minerva me olhava diretamente.

— Hum... O fato de você ter escolhido a faca, exclui a Amizade. Percebi a inteligência e os conhecimentos ao modo de como agir com o cachorro, sem matá-lo, o que poderia classificá-lo como da Erudição. O fato de você ter defendido a menininha, pode te classificar como Abnegação. Poderíamos classificar a Audácia também, mas não acho que seja o correto, pois se pertencesse à Audácia, provavelmente teria matado o cachorro sem pestanejar na tentativa de se defender. E o fato de ter escondido a verdade com a pergunta do homem, exclui qualquer possibilidade da Franqueza. Claro, apenas um verdadeiro membro da Franqueza responderia a verdade naquela situação. Você tem duas opções: Erudição ou Abnegação. Escolha com sabedoria. - Minerva piscou para mim.

Saí da sala com as mãos suando. O que eu deveria fazer? Encontrei Beatrice no caminho e apenas lhe lancei um olhar preocupado, desejando que ela tomasse cuidado. Não podia falar nada sobre isso. Então eu saí.

POV Luisa

As aulas foram normais. E eu não estava preocupada com o teste de aptidão. Já sabia qual seria o resultado. Não poderia ser outro.

Fui para a sala espelhada, na qual eu já tinha entrado algumas vezes por pura curiosidade. Pelos espelhos, eu via meu vestido azul serpenteando atrás de mim. Um membro da Abnegação, com vestes cinza e cabelo loiro estava atrás de uma mesa.

— Eu preciso mesmo fazer isso? - perguntei, com uma voz entediada. - Já sei qual vai ser meu resultado.

— Você não é diferente de nenhum outro adolescente dessa escola, Luisa. A propósito, meu nome é Willian. Sente-se ali. - falou, apontando uma cadeira de metal. - tome isso. - falou, me entregando um copo de Soro da Simulação. Ele me conectou aos cabos e eu tomei.

Logo me vi em um refeitório, com uma mesa na minha frente, na qual haviam dois objetos: Uma faca e um pedaço de queijo. Eu deveria escolher um. O queijo não me teria serventia. Peguei a faca. Um cachorro veio correndo em minha direção, em posição de ataque. Eu não conseguiria me defender de outra forma, então ergui a faca e esfaqueei o cão. Então o cenário mudou. Eu estava em um ônibus. Um homem com um jornal que dizia "Assassino Brutal é finalmente preso" vem me perguntar se eu conhecia a pessoa da foto do jornal. Eu sentia que o conhecia, mas também sentia que não deveria contar. "Não", eu disse, dando de ombros. O cenário desapareceu e me vi novamente na sala, com o membro da Abnegação ao meu lado.

— Amizade foi eliminada quando você deixou de escolher o queijo. Abnegação quando você matou o cachorro pensando apenas em si mesma. Franqueza quando você mentiu sobre conhecer ou não a pessoa. Lhe sobraram Erudição e Audácia.

Arregalei os olhos. Nunca me imaginei na Audácia. Pensava que meu resultado seria apenas Erudição, a facção onde nasci.

— Cabe a você decidir para onde vai.

Saí da sala de cabeça baixa. Ah, quem se importa com um resultado tolo de um teste de aptidão? "Eu", pensei, "minha mãe". Eu não poderia decepcioná-la, mas querendo ou não, ela saberia o resultado do meu teste. Ela faria questão de saber.

Peguei um livro na minha mochila e comecei a ler. Duvidava que eu sobreviveria ao primeiro dia na Audácia. Eu já havia decidido.

POV Caleb

Eu ainda estava preocupado com Beatrice. Onde ela estava, que não aparecia?

De repente, uma mulher da Audácia apareceu ao meu lado.

— Caleb Prior? - perguntou.

— Sou eu. - falei.

— Sua irmã precisa pensar. Mandei-a direto para casa.

— Obrigado... Ela está bem?

— Acho melhor que ela lhe diga isso.

Então ela virou as costas e saiu.

Susan e Robert apareceram. Entramos no trem e fomos para casa.

Encontramos Beatrice sentada na frente da casa. Ela parecia preocupada.

— Beatrice! O que aconteceu? Você está bem? - perguntei, preocupado.

— Estou bem. Quando o teste acabou, me senti mal. Deve ter sido aquele líquido que eles nos deram. Mas já estou me sentindo melhor. - ela disse, sorrindo. Susan e Robert parecem acreditar, mas eu conhecia minha irmã bem o suficiente para saber que ela estava mentindo, então a encarei.

— Vocês dois vieram de ônibus hoje? - perguntou ela para Susan e Robert.

— Nosso pai teve que trabalhar até tarde e nos disse que precisávamos reservar um tempo para pensar antes da cerimônia de amanhã. - responde Susan.

— Se quiserem, podem passar aqui em casa mais tarde. - eu disse, educadamente.

— Obrigada - falou Susan, sorrindo para mim.

Percebi o flerte de Beatrice e Robert, mas não disse nada. Eu e Susan fazíamos o mesmo.

Os dois foram em direção à sua casa e eu perguntei pra Beatrice:

— Agora você dirá a verdade?

— A verdade é que eu não devo falar a respeito do teste. E você não deve perguntar.

— Você ignora tantas regras, e não pode ignorar esta? Nem por algo tão importante? - perguntei a ela, tentando arrancar informações.

Ela me encarou.

— E você pode? O que aconteceu no seu teste, Caleb? - perguntou ela, me desafiando. - Só... não diga nada aos nossos pais sobre o que aconteceu, tudo bem?

A encarei mais um pouco e fiz que sim com a cabeça.

Começamos a preparar o jantar sem dizer uma palavra. Quando nossos pais chegaram, a mesa já estava posta e o jantar estava pronto.

— Como foi o teste? - meu pai perguntou.

— Foi tudo bem - disse Beatrice. Sabia que ela estava mentindo, mas meus pais acreditaram.

— Ouvi dizer que houve algum tipo de problema em um dos testes. - diz mamãe.

— É mesmo? - perguntou meu pai, já que é raro acontecerem problemas nos testes de aptidão.

— Não sei exatamente o que aconteceu, mas minha amiga Erin me disse que algo deu errado em um dos testes, e por isso os resultados tiveram que ser transmitidos oralmente. - disse minha mãe, colocando os guardanapos na mesa. - parece que o aluno ficou doente e teve que ir para casa mais cedo. Espero que ele esteja bem. Você ouviram alguma coisa a esse respeito?

— Não. - eu menti. Realmente não poderia pertencer à Franqueza.
Nos sentamos na mesa, nos servimos e oramos.

— Então - falou minha mãe para meu pai. - Qual é o problema?

Minha mãe segurou a mão do meu pai e a acariciou em movimentos circulares. Eles raramente demonstram afetividade diante de nós desse jeito.

— Me diga o que está lhe incomodando - disse ela.

— Tive um dia difícil no trabalho hoje - disse ele. - Bem, na verdade foi o Marcus quem teve um dia difícil. Não é certo dizer que fui eu.

— Isso tem a ver com o relatório que a Jeanine Matthews divulgou?

— Um relatório? - perguntou Beatrice. Eu lhe lancei um olhar de advertência, já que ela não deveria falar nada, a não ser que nossos pais lhe fizessem uma pergunta direta, o que não era o caso.

— Sim. - respondeu papai. - Aqueles arrogantes e hipócritas... Desculpem-me. Mas ela divulgou um relatório atacando o caráter de Marcus.

— E o que estava escrito nesse relatório? - questionou Beatrice.

— Beatrice! - repreendi-a.

— Estava escrito que a violência e a crueldade de Marcus em relação a seu filho foram as razões pelas quais o rapaz escolheu a Audácia, e não a Abnegação.

São poucas as pessoas nascidas na Abnegação que escolhem deixá-la. Possivelmente eu seria um deles.

— Cruel? O Marcus? - perguntou minha mãe. - Aquele pobre homem. A última coisa de que ele precisa agora é que o lembrem de sua perda.

— Você quer dizer, da traição de seu filho? - meu pai diz - Isso não deveria me surpreender. Há meses que os membros da Erudição têm usado esses relatórios para nos agredir. E este não será o último. Tenho certeza de que outros virão.

— Por que eles estão fazendo isso? - perguntou Beatrice. Ela não conseguia se conter mesmo...

— Por que você não aproveita essa oportunidade para ouvir seu pai, Beatrice? - pergunta mamãe.

— Você sabe o porquê. - disse papai - Porque nós temos algo que eles querem. Valorizar o conhecimento acima de tudo mais resulta em um desejo desregrado por poder, e isso leva homens para lugares sombrios e vazios. Nós deveríamos ser gratos por saber o que é melhor.

Terminamos de jantar e nossos pais começaram a limpar as coisas. Nem ao menos me deixaram ajudá-los. Eles disseram que eu devia subir para o meu quarto e decidir para onde vou.

Quando eu e Beatrice chegamos ao topo, antes de nos separarmos em direções opostas, eu disse a ela:

— Beatrice, devemos pensar em nossa família... mas... mas devemos pensar em nós mesmos também...

Ela me encara assustada e diz:

— Os testes não devem mudar nossas escolhas.

Sorri.

— Não devem, não é?

E entro no meu quarto.

Eu já estou decidido.

POV Luisa

Cheguei em casa depois da escola e resolvi ir para o escritório da minha mãe. A vi sentada atrás de sua mesa, olhando para um monte de artigos com um sorriso cínico no rosto.

— Olá, Luisa. - falou ela.

— O que tem nos jornais? Mais artigos falsos sobre a Abnegação? - perguntei, tentando disfarçar a raiva. Não entendia porque minha mãe tinha que fazer aquilo.

— Não é de seu interesse. - disse ela, guardando os artigos em uma gaveta. Ela colocou sua chave no bolso, mas tinha quase certeza de tê-la ouvido pedir para um de nossos criados fazer uma cópia alguns dias atrás.

— Por que tanto desespero para esconder esses pequeninos papéis, mamãe? – disse, venenosa.

Ela me fuzilou com seus olhos azuis e, em um momento, até pensei em recuar e desviar o olhar. Não, ela precisava saber que podia controlar muitas coisas, mas a mim ela não podia manipular.

Ela colocou as mãos na cabeça:

— Pode falar o que quiser, mocinha, só não encoste naqueles papéis.

“Pode deixar”, pensei, e não pude evitar um sorriso malicioso. Ela ajeitou sua saia azul e se levantou. Não podia acreditar que a chefe da Erudição podia ser tão boba ao ponto de deixar um documento de tamanha preciosidade ao alcance das minhas mãos.

Ouvi a porta bater atrás de mim e não perdi tempo: corri até sua escrivaninha e revirei toda a papelada em busca da chave reserva. Não a encontrei em lugar algum.

Aqueles documentos poderiam muito bem não passar de simples mentiras sobre a Abnegação, como também poderiam conter informações importantíssimas. Precisava descobrir. Como uma última tentativa, apelei para os clipes de papel que encontrei sobre a mesa. Desdobrei o fino material e enfiei a ponta fina no buraco da fechadura.

Remexi o clipe de papel por cinco intermináveis minutos, tentando não fazer muito barulho, quando finalmente ouço o glorioso som de “Clec!”. A fechadura estava aberta. Contive um sorriso e abri a gaveta cheia de expectativa, prestando atenção nos míseros ruídos. Já cheguei tão longe, minha mãe não podia descobrir.

Apertei os olhos para ler as letras miúdas que se encontravam na folha. Então percebi que não eram letras, e sim códigos. Não teria tempo suficiente para decifrá-los, então acessei o computador de minha mãe e fiz duas cópias daqueles documentos que pareciam de tanta importância para minha mãe.

Escondi quaisquer indícios de meu pequeno delito quando escutei o som de passos no fim do corredor. Me sentei na cadeira repentinamente enquanto abria um documento qualquer de algum trabalho de escola meu no computador. Tentei parecer natural quando minha mãe cruzou a porta, trajando um elegante blazer azul celeste e calças escuras que disfarçavam seus quadris largos.

— O que você pensa que está fazendo, Luisa Matthews? – ela disse em um tom que impunha respeito e até uma pontada de medo na boca do estômago.

Dei de ombros da forma mais displicente possível:

— Estou fazendo o dever de casa – disse, desafiadora e surpreendi a mim mesma com o fato que não gaguejei uma só vez. Realmente, Franqueza não era pra mim.

Ela arqueou as sobrancelhas, desconfiada:

— É mesmo? E sobre o que ele fala? – perguntou.

Passei os olhos apressada pelo título da redação. Esperava sinceramente que ela não tivesse percebido meu gesto.

— Fala sobre a história da Audácia – não desviei o olhar quando ela me encarou com aqueles olhos de gelo tentando não parecer suspeita.

— E porque você estava fazendo isso no meu computador? – ela perguntou e eu estremeci. Tentei procurar em meu cérebro alguma resposta decente.

— Seu computador tem revisor de texto – patético, mas ela pareceu acreditar – E eu precisava reler e imprimir. Depois que revisei, pensei que poderia imprimir para não ter de voltar para o meu quarto. Algum problema?

Ela bufou. Não tinha mais argumentos.

— Imprima logo isso e saia daqui, Luisa. Não tem nada aqui para você ver – ela elevou seu tom de voz, com firmeza, mas ao mesmo tempo sem gritar. Nunca vi minha mãe gritar. Ela diz que é deselegante e serve só para pessoas sem autoridade.

Abaixei a cabeça e imprimi o trabalho o mais depressa possível. Recolhi todos os papéis, incluindo as cópias dos documentos codificados de mamãe sem que ela percebesse.

Assim que saí da sala, consegui sentir o ar voltando para meus pulmões.

— Graças aos Deuses – murmurei, em meio a um suspiro.

E quando estava prestes a dar pulinhos de alegria, percebi minha falha: tinha deixado a gaveta aberta.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Reviews? :)