A Estrangeira escrita por Paola_B_B


Capítulo 15
Capítulo 14. Demônio dos olhos vermelhos


Notas iniciais do capítulo

Oláaa :D Espero que gostem do capítulo ^^



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Capítulo 14. Demônio dos olhos vermelhos

POV Bella

Meu coração batia tão rápido que eu mal conseguia escutar meus próprios pensamentos. Eu tentava me acalmar, mas tudo o que eu conseguia fazer era correr numa tentativa fraca de fugir daquele pesadelo. Tudo só poderia ser um sonho. Aquilo não poderia estar mesmo acontecendo.

Eu olhava para todos os lados, os troncos das árvores pareciam correr em minha direção e por força de algum milagre eu conseguia desviar no último segundo, mas não antes de visualizar todas as ranhuras do tronco e as formigas em fila carregando pequenos pedaços de folhas para o formigueiro ao pé da planta. Eu mal sentia o chão sob meus pés. Eu mal quebrava as folhas secas no chão.

Tudo parecia me chamar à atenção e tudo parecia ter mais detalhes do que um dia eu cheguei a reparar. Eu recebia uma enxurrada de informações visuais como se de repente eu tivesse colocado uns óculos com lentes de telescópio.

O vento batia forte contra meu rosto e meu nariz reclamava dos diferentes odores que captava. Eu conseguia identificar o cheiro de diferentes flores, porém um doce diferente misturava-se com os outros cheiros. Um doce que fazia minha garganta queimar e meu estômago embrulhar ao mesmo tempo. Era um odor que parecia vir de mim.

- Bella! - o grito ecoando pela floresta e fazendo os pássaros baterem em debandada me chamou a atenção.

Eu não reconhecia aquela voz. Parecia Edward, mas estava mais bonita, mais grossa e rouca. Não podia ser ele. Meus ouvidos podiam escutar alguém correndo atrás de mim e instintivamente aumentei minha corrida. Algo naqueles passos se parecia com o som dos meus passos. Concentrando-me em minha audição eu captei uma respiração. O pavor cresceu em meu peito. Um rosnado, um canto de passarinho, algo arranhando, um mastigar, passos pesados, água corrente, os passos parecidos com os meus estavam mais próximos e a respiração também. Olhei para trás tentando identificar com a visão aquilo que eu não poderia somente com a audição. Então tudo rodou e a floresta desapareceu.

Meu corpo afundou e a água entrou em minha boca e nariz. Tranquei a respiração ao perceber que eu tinha caído em um rio. Estranhamente minha visão não estava turva como deveria e eu podia ver quase que claramente as pedras e as algas embaixo d'água límpida. Os peixes nadavam sozinhos ou em pequenos cardumes, quando se aproximavam de mim desviavam rapidamente como se tivesse sido assustados. E mesmo com a agilidade com que nadavam aquela cena não deixava de ser bonita. Perdida na beleza do rio e esquecendo o tempo em que fiquei bati os pés querendo nadar ao lado dos peixes. Arrependi-me imediatamente quando as pedras começaram a vir em minha direção muito mais rápido do que as árvores quando eu corria.

Desesperada fiz força para ir para a superfície e quando finalmente coloquei minha cabeça para fora d'água percebi que eu estava completamente perdida.

Meu coração voltou a bater a toda à velocidade e o choro veio forte. Porque esse pesadelo simplesmente não acabava? Porque tudo estava tão diferente? Porque eu sentia meu corpo tão estranho? Abra os olhos Isabella! Acorde! E o desespero só aumento quando eu percebi que talvez tudo aquilo não fosse um sonho.

Agachei-me em um pranto interminável colocando minha cabeça entre meus joelhos e tapando meus ouvidos com as minhas mãos. Meu choro era tão alto que eu mesma não suportava me ouvir.

Entretanto mesmo com as mãos espremidas contra as minhas orelhas eu escutei passos. Meu corpo retesou e eu fiquei em pé tão rápido que não percebi o movimento do meu próprio corpo. Minha respiração travou.

Ali, do outro lado do rio, estava um homem. Ele usava uma calça jeans escura com rasgos nos joelhos que estavam longe de ser algum atributo da moda. Os coturnos também não estavam em boas condições. A camiseta então nem se fala. A única peça menos ferrada era a jaqueta de lona e mesmo assim ela possuía alguns rasgos nas mangas. O homem era alto e forte. Sua expressão era séria. Os cabelos curtos castanhos escuros no mesmo tom que o meu. Suas roupas e porte definitivamente colocavam medo em qualquer um. Era o tipo de pessoa que se você olhasse caminhando pela calçada no sentido contrário ao seu faria com que você discretamente atravessasse a rua.

Mas o que me fez enrijecer não foi o seu porte ou sua roupa desleixada, muito mesmo a expressão dura. O que me fez paralisar foi constatar a cor de seus olhos. Vermelhos como rubi, vermelhos como os olhos que habitavam meus pesadelos, vermelhos como o demônio que matou minha mãe... Talvez tenha matado minhas duas mães.

Com o coração a mil e o medo misturando-se com a raiva eu dei um passo para trás.

- Não fuja. - ordenou ele.

O medo ganhou força e eu olhei rapidamente para os lados em busca da melhor rota de fuga.

Ele deu um passo para frente chamando a minha atenção. Em resposta dei três para trás. Sua expressão mudou. Eu percebi que ele tinha notado as minhas claras intenções de escapar. Em um movimento rápido, até mesmo para os meus novos olhos com lentes de telescópio, ele saltou da margem do rio até a outra pousando delicadamente a poucos metros de mim.

Como diabos ele tinha feito aquilo eu não fazia ideia, mas assustada eu corri de costas e acabei me estatelando no chão. O pavor deveria ser claro em meu rosto, pois ele tentava prender um sorriso divertido.

- Fique longe de mim! - gritei apavorada torcendo para que eu não estivesse muito longe de onde Edward estava.

Talvez ele pudesse vir a minha ajuda.

- Sininho, sininho... - cantarolou me fazendo estremecer.

Sua diversão parecia aumentar a cada segundo. Ele caminhou lentamente em minha direção. Em um salto fiquei novamente em pé me afastando na mesma velocidade em que ele se aproximava.

- Fique longe de mim seu demônio! - gritei tomado pelo medo.

Pela primeira vez ele hesitou. Sua expressão mudou e agora ele não parecia mais se divertir.

- Eu não sou um demônio. - disse calmamente.

- É o que você diz! - retruquei erguendo o nariz tentando demonstrar uma coragem que eu não tinha.

Sua cabeça tombou para o lado como se ele estivesse curioso e murmurou.

- Você é como eu.

- Eu não sou nada parecida com você!

- Então sua garganta não arde quando sente cheiro de sangue...

- É claro que não! - minha voz tremia.

- Então não atacou seu namorado? Não o mordeu?

Senti meu corpo tremer com a lembrança de meus dentes cravando no pescoço de Edward. Meus Deus! Será que ele estava bem? Tinha tanto sangue... Ele parecia assustado... Assustado comigo.

- Cala a boca! - gritei sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto.

Antes de minha visão ficar completamente nublada eu pude observar a expressão do demônio ficar séria.

- Não é errado o que fez.

- Cala a boca!

- Faz parte da sua natureza.

- Não! Não faz! Eu não sou um demônio como você!

- Sininho...

- Cala a boca! Fica longe de mim! Eu não sou como você! Não sou!

Então eu corri.

Corri sem rumo e sem direção. As palavras do demônio ecoando em minha cabeça. Eu não podia ser como ele! Não podia! Meu desespero só aumentava ao perceber que novamente as árvores pareciam se jogar em minha direção. Porém desta vez minhas lágrimas impediam que eu captasse muitos detalhes da vegetação.

Foi então que me deparei com a estrada. Respirei com certo alívio, pois agora eu sabia como voltar para casa e graças a Deus eu não estava tão longe quanto eu imaginava.

Desta vez corri com um destino e não demorei para chegar em casa. Peguei a chave embaixo do tapete para abrir a porta. Coloquei a chave na fechadura e a girei. Choraminguei quando metade da chave ficou em minha mão enquanto a outra ficava na fechadura. Não acredito que eu quebrei a chave.

Entrei em casa sentindo-me um pouco melhor. O choro tinha cessado e eu tentava evitar pensar em tudo o que aconteceu hoje. Encostei a porta com cuidado e posicionei uma cadeira para fechá-la. Meu dia já teve problemas suficientes para eu ser roubada de madrugada.

Falando em madrugada já passava das três da manhã. Eu havia me perdido completamente no tempo. Estranhamente eu não estava fisicamente cansada, mas minha cabeça latejava. Subi as escadas da simples casinha que tanto tinha me encantado. Direcionei-me para o banheiro já tirando minhas roupas. Paralisei ao me olhar no espelho.

Meu rosto estava inchado pelo choro. Meu cabelo completamente desgrenhado e embaraçado. Um fleche do rosto assustado de Edward veio a minha mente. Automaticamente minha mão foi até minha boca ao me lembrar do sangue... Minha garganta ardeu e eu ofeguei. No espelho meus olhos refletiam vermelho rubi como o demônio na floresta.

Assustada eu soquei o espelho que não apenas quebrou-se como ficou com um grande buraco em sua estrutura. O choro travou em minha garganta quando olhei novamente meu reflexo nos diversos cacos e percebi que não havia nada de errado com os meus olhos, eles continuavam castanhos.

Sentindo-me suja finalmente entrei no Box. Abri a torneira com cuidado já que ela não era lá muito boa. Eu teria que comprar uma nova.

A água quente começou a escorrer pelo meu corpo e me concentrei no caminho em que ela fazia. Aos poucos minha mente foi esvaziando e eu pude me acalmar como devia. Eu precisava falar com Edward. Pedir desculpas por... Por sabe Deus o que eu tinha feito. Ele me perdoaria. Perdoaria? Talvez perdoe, mas isso não impedirá que ele me ache uma louca.

Sacudi minha cabeça tentando espantar meus pensamentos e fechei a torneira.

- Oh Deus! - eu disse que essa torneira estava fraca!

O objeto simplesmente saiu em minha mão e agora um forte jato d'água saia da parede e me lavava novamente, mas desta vez a água era fria. Saí do Box correndo e escorregando pelo banheiro. Concentrei-me em fechar o registro com todo o cuidado para não quebrá-lo também. Eu precisaria chamar um encanador... Ou seria um bombeiro?

Com o registro fechado me enrolei na toalha e troquei de roupa. Depois de uma breve olhada no relógio percebi que passava das 4 da madrugada.

Desci as escadas em direção à cozinha. Ao abrir o armário a porta caiu em minha mão. Bufei.

- Aquele corno me vendeu uma casa podre!

Não só os móveis, pois o copo quebrou-se em minha mão. Grunhi e peguei uma caneca de plástico. Mas quando ela também estourou em minha mão eu me assustei.

- Ok... Sem pânico. - respirei fundo e fui até a geladeira.

Respirei fundo antes de abrir a porta e comecei a chorar quando ela saiu em minha mão.

- O que está acontecendo? - choraminguei olhando para cima pedindo a Deus que ele me explicasse tudo isso.

Desisti da cozinha e segui para o meu quarto. Deitei em minha cama e fiquei o mais imóvel possível. Eu não tinha tanta grana guardada para consertar tudo o que eu poderia estragar nessa casa.

- Ok garota... Hora de dormir. - murmurei para mim mesma e fechei meus olhos.

O sono demorou a chegar e quando chegou foi extremamente agitado. Os pesadelos misturavam-se e eu via o demônio de olhos vermelhos ora me perseguindo ora perseguindo Edward. Então de repente era eu a perseguir Edward. Ele me olhava com pavor e chamava a mim de demônio. Acordei agitada, suada e chorando horrores. Quando finalmente me acalmei eu corri trocar de roupa. Eu não queria que Edward me temesse. Eu precisava explicar, pedir desculpas. O problema é que nem eu sei o que está acontecendo.

Segui até a garagem e peguei a velha bicicleta que o dono da casa me deixou de brinde. Eu precisava comprar um carro. Porém a sorte ainda estava me mandando o dedo do meio. Assim que dei a primeira pedalada a correia estourou.

Respirei fundo e segurei o xingamento. Vendo-me sem alternativas tive que caminhar até a escola. Não era tão longe de minha casa. Mas também não era perto.

[...]

O sinal acabara de tocar e os alunos começavam a sair das salas de aula.

- Sininho? - a voz às minhas costas me fez congelar. - Vai me ignorar Isabella?

Engoli em seco. Como ele sabia o meu nome? Virei lentamente. Ao contrário da noite passada ele não parecia mais relaxado, ele estava irritado e algo dentro de mim dizia que o demônio irritado não era uma companhia muito boa.

- Precisamos conversar. - disse ele sério.

Neguei dando um passo para trás, foi então que ele segurou meus braços. Arregalei meus olhos. O que diabos ele faria comigo? Tentei me soltar, mas seu aperto era de aço.

- Me larga! - pedi quase choramingando.

Meu medo crescia enquanto ele me puxava em direção à rua.

- Me larga! Está me machucando! - meus olhos já transbordavam em lágrimas.

O aperto afrouxou, mas seu olhar ainda era irritado.

Foi então que eu senti mãos em meus ombros. Meu corpo tremia, mas eu sabia exatamente quem estava atrás de mim. Edward! Ele não estava bravo comigo.

O demônio olhou para ele e soltou meus braços. Imediatamente Edward me puxou colando minhas costas em seu peito e repousou uma de suas mãos em minha barriga. Segurei-a com firmeza sentindo-me segura.

- O que você quer? - era Emmett, ele parecia bravo, ele veio me ajudar também.

Quase chorei por ter conhecido essa família tão maravilhosa capaz de estar lá quando que mais precisava. Eu começava a pensar que tudo terminaria bem. Que esse demônio não me perturbaria nunca mais. Afinal, Emm é um cara grande, aposto que seria capaz de quebrá-lo ao meio com apenas um soco. Mas minhas esperanças foram vãs. O olhos vermelhos não parecia assustado, ele apenas parecia frustrado.

- Eu só vim conversar com a minha filha. - respondeu fixando seus pavorosos olhos nos meus.

Meu corpo ficou tenso. Não era verdade! Aquilo não era verdade!


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Notas finais do capítulo

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