Hunter - The Scape escrita por HannahHell


Capítulo 5
Capítulo 4.




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Uma semana longa, dolorida, entediante e cheia de remédios ruins se passou mais lentamente do que eu gostaria.

 

Pelo menos eu estou melhor e no meu quarto, já consigo me trocar sozinha, meu corpo não dói mais, consigo respirar e o mundo parou de rodar! Em resumo, minha vida melhorou.

 

Neste momento estou muito alegre limpando minha bota, a qual está cheia de manchas de sangue.

 

Alguém bateu na porta. Três batidinhas discretas e ritmadas só podia ser uma pessoa. – Mel pode entrar!

 

-Oi – ela cumprimentou com a voz baixa, a baixinha parecia triste, mas o que acontecera? – o Conselho quer conversar com você – ela informou.

 

-Sério? Quando? – perguntei interessada, o que será que aqueles velhos queriam?

 

-Agora – ela completou e saiu correndo. Ela estava escondendo algo, ou sabia mais do que deveria.

 

Respirei fundo e saí do quarto. O corredor estava escuro e silencioso demais. Isso estava estranho, muito estranho para o meu gosto.

 

Percorri os corredores, desci as escadas, dois lances, e cheguei ao hall de entrada. Também silencioso, este lugar não estava normal.

 

Caminhei sem notar os detalhes de onde passava, encarava apenas o carpete bordô. Parei a frente da grande porta em que o Conselho se reunia. Abri a porta e me deparei com o Conselho todo reunido  ao redor de uma cadeira.

 

-Anabelle, sente-se – Ruy, o chefe do Conselho, indicou a cadeira do centro a mim.

 

Sentei-me, eu estava nervosa, sentia um frio na barriga e um arrepio na espinha, como seu eu sentisse que não viria nada bom para mim nesta reunião.

 

-A senhorita sabe por que está aqui? – Ruy voltou a tomar a palavra me encarando com certo desprezo, por que a cadeira tinha de ficar justo de frente a ele?

 

-Não senhor – respondi abaixando a minha cabeça, sempre que encarava aquele rosto enrugado, com olhos negros como piche e cabelos brancos eu sentia uma raiva e antipatia insanas.

 

-Você está aqui, pois  suas ações sempre estiveram divergentes as da Associação, e agora que seus pais não podem mais lhe proteger temos muitas contas a acertar – ele contou com a voz fria, eu sentia como se tivesse levado um soco na boca do estômago.

 

-O que você quer dizer com atitudes divergentes? – consegui formular algo audível depois de algum tempo.

 

-Você mata em excesso, reclama muito, sua sede por sangue é quase tão grande quanto a dos nossos inimigos. Você não respeita seus superiores – Lionel continuou. Como todos lá, ele tinha cabelos brancos, simetricamente penteados, porem olhos cor de mel.

 

-Eu apenas mato de acordo com as missões. Prezo minha vida, se um deles tenta me atacar, eu ataco de volta. Como uma caçadora, tenho o dever de matar os vampiros que fazem mal aos humanos – retruquei séria e num tom de voz calmo. Não posso deixá-los me humilhar.

 

-Você deixa um rastro de destruição por onde passa – mais um velhote exclamou.

 

-Todos nós fazemos sujeira, mas a culpa não é minha por sempre ter as missões mais covardes. Acabar com 5, 6 ou sete deles de uma vez exige usar todas as táticas que eu conseguir bolar – contei tão calma, que parecia que estava conversando com um amigo.

 

-Você é o resultado dos métodos suspeitos dos teus pais – Ruy acusou irritado com a minha calma.

 

-Vocês os deixaram fazer isto, além do mais, hoje eu sou a melhor só por causa disso – eu cuspia as palavras de uma maneira tão indiferente que podia sentir a aura de raiva se formando em torno deles.

 

-Você não tem o direito de se achar a melhor por causa de uma maldição – outro velhote, que estava sentado atrás de mim, anunciou.

 

-Se vocês continuarem com isso, vou começar a achar que vocês têm inveja.

 

-Calada! Você não faz nada certo. Nunca fez, só é capaz de matar e nada mais! Você acha que isto está certo? Tornar-se  uma máquina de derramamento de sangue vampiro?

 

Fechei os olhos e respirei fundo. Eles estavam defendendo os vampiros? Encarei Ruy e Lionel – Vocês me tornaram esta arma, não fui eu que escolhi me tornar, eu só cumpri as missões que me eram passadas, se tem alguém que deve ser culpado por ter me feito o que sou, este alguém são vocês! – meu tom de voz era desafiador. Eles sabiam que eu estava certa. E como eu adoro estar certa.

 

-Não, suas missões quem escolhia eram seus pais. Você é como é graças a eles.

 

-Sim, eu devo tudo que sou a eles. E sou muito grata por isso – eles ficaram surpresos por eu recitar isso de cabeça erguida, como se a lembrança deles me fortificasse. O que de fato, era verdade.

 

-Você fala tão confiante deles. Mesmo que saiba que a culpa das suas mortes é inteiramente tua – Lionel cuspiu as palavras de um modo tão direto que me pegaram de surpresa.

 

Devo admitir que eu precisei abaixar a cabeça. Eu não posso deixá-los me afetar, uma caçadora tem de mostrar força sobre qualquer circunstancia, certo? Mas então por que meus olhos insistiam em embaçar?

 

-Está calada? Acho que é porque você sabe que ele está certo. Nós sabemos que você deixou os vampiros escaparem do castelo – Ruy reforçava.

 

Eles estavam certos, não? Eu que ignorei os gêmeos. Eu que acreditei naquele vampiro. Eu que não pude livrar-me das garras dele e não ajudei meus pais. A culpa é minha. Só minha.

 

-No castelo havia apenas 4 vampiros. A culpa não foi minha – murmurei de cabeça baixa, não podia deixá-los ver minhas lágrimas, ou minha incerteza, já nítida pela minha voz.

 

-Quantos você matou? – eu já não conseguia definir quem falava comigo, minha mente girava entorno da culpa.

 

-Um.

 

-Quantos fugiram?

 

-Dois.

 

-O que aconteceu com o um que sobrou?

 

-Ele... Disse que se eu não o matasse meus pais ficariam vivos – respondi já com a voz embargada, por que eles faziam aquele acontecimento ficar cada vez mais doloroso?

 

-E você acreditou nele e o deixou ficar livre? – a cada pergunta eu me sentia mais inútil e idiota.

 

-Mais ou menos. Eu pedi para ele provar que os vampiros que ele mandou tinham chance de matar meus pais, mas quando chegamos, já era tarde demais – minha voz falhava conforme as lágrimas caíam.

 

-Certo. Então você confiou na palavra de um vampiro. Você deu tempo dele te enganar e este erro causou a morte dos presidentes.

 

Cada fala, cada conclusão, cada. Acusação. Perecia que eles estavam segurando meu coração e a cada palavra eles o esmagavam.

 

-Receio que seja isso – admiti. Nesta altura, eu já sabia o que aconteceria.

 

-Então você admite que além de confraternizar com o inimigo, você tem uma grande parcela na culpa da morte deles? – todos me perguntaram em uni som.

 

-Receio... Que... S... Sim – eles estavam certos, eu não podia negar.

 

-Se você se declara culpada, não temos escolha a não ser dar o veredicto – Ruy anunciou com uma voz assustadoramente estrondosa – Você está demitida! Arrume suas malas e saia daqui.

 

-Eu posso levar uma arma comigo, não? – me lembrei do aquele monstro me falou. Muitos ‘amigos’ dele querem minha cabeça. Se eu sair de mão abanando, serei morta.

 

-Não. Apenas caçadores poder estar armados, a partir de agora você é uma civil.

 

-Mas eu vou morrer!

 

-Pensasse nisto antes de dar ouvidos àquele vampiro – Lionel retrucou secamente. Era isso, eles não se importavam.

 

-Você tem até amanhã de manhã para arrumar suas coisas e sair – anunciaram – agora pode ir embora.

 

Abri a porta bruscamente e várias pessoas caíram no chão. Bando de curiosos fofoqueiros. Pude perceber seus olhares. Confusão, susto, surpresa, reprovação, pena. E muitos outros sentimentos misturados nos olhares de todos.

 

Murmúrios e cochichos começaram a ser ouvidos, mas eu não liguei, subi correndo para o meu quarto, empurrei quem apareceu em minha frente, sem me importar com quem seja. A partir de agora. Eles são apenas o que eu um dia já fui.

 

Entrei no quarto e bati a porta com raiva. Primeiro meus pais. Agora meu trabalho. O que mais vão tirar de mim?

 

Tirei minhas três malas do armário. Elas eram bem grandes. Devem ser suficientes para conter todas minhas coisas.

 

Peguei a primeira e a abria jogando-a na cama. Abri meu armário e comecei a jogar todas minhas roupas de lá para a cama, que se dane se vão amassar ou não. Nem ligo mais.

 

 

Demorei um tempo para conseguir arrumar todas aquelas roupas. Enchi duas malas. Agora tenho apenas mais uma. Olhei para o chão do meu armário. Lá se encontravam 4 maletas pratas. Peguei-as e as coloquei na mala. Pelo menos dinheiro eu tenho.

 

Peguei meus sapatos. Eu tinha poucos sapatos. Um par de sandálias pretas e outro de pratas, e três botas cano longo de couro, praticamente iguais, eu tenho uma queda por botas.

 

Guardei meus sapatos, incluindo o tennis que eu estava usando. Afinal, para mim era mais seguro andar com uma das minhas botas.

 

Minhas malas estavam prontas. Olhei para meu quarto e percebi como ele estava desolado. Parecia que uma onde de solidão havia encoberto ele.

 

-Hey! Ana, posso entrar? – Will indagou abrindo um pouco a porta.

 

-Entra – eu gostaria de dizer, não, vá embora, mas eu não conseguia dizer isto para ele.

 

Ele colocou as malas no chão e se sentou à minha frente. Ele parecia triste, olhava para as mãos, as quais seguravam algum tipo de papel, mas não dei atenção para isso. Comecei a ficar preocupada, nunca vi Will com uma expressão tão estranha. Não sei se era pena, tristeza, culpa, saudades. Eu não conseguia lê-lo.

 

-Hey o que foi?

 

-Eu soube... Ana. Você vai ficar bem? – ele ergue a cabeça e me encarou. Seus olhos estavam com um brilho estranho, mas eu não conseguia descobrir o que eles queriam dizer.

 

-Sim. Eu não sou a melhor por nada – respondi confiante, eu irei ficar bem. Afinal sobrevivi todo este tempo.

 

-Aqui está – ele me entregou o papel. Percebi que era uma passagem de avião para o Brasil, para o Nordeste mais exatamente, um lugar onde se fazia muito sol, porém na data da compre assustei-me, ela havia sido comprada 5 dias atrás.

 

-Você sabia? Você sabia que eu seria demitida? – eu perguntava, porém já sabia da resposta. Mel, Josh e até mesmo ele. Todos sabiam. A reunião estava combinada. Eu seria demitida de qualquer modo -  por que não me falou? Não me avisou? Aconselhou? Ao qualquer coisa? Por que não os impediu? – olhei com raiva para aquele rostinho bonito, que a cada pergunta que eu fazia ficava mais culpado. Sim... O sentimento dele era culpa. Culpa por não ter impedido-os.

 

-Você não entende Ana. Eles ameaçaram a mim, a Mel e o Josh. Não pudemos falar. Você é mais forte, mas nós não temos nada fora deste lugar, aqui está nossa vida. Eu não pude te contar, mas pelo menos comprei estas passagens. – ele tentava se explicar com seus olhos suplicando por perdão.

 

-Aqui o que eu faço com suas passagens – peguei os papeis e os rasguei, o barulho que fez foi excessivamente alto, mas não liguei.

 

Apenas me levantei, peguei as três malas e a minha bolsa de mão. Andei de cabeça erguida e  parei no vão da porta, que ele havia deixado aberta, virei para ele – Adeus, Will – me despedi e comecei minha jornada até a porta.

 

Tive problemas para descer as escadas. Três malas, dois braços, façam as contas. Ninguém me ajudou, não porque não se oferecessem, mas sim porque eu não queria ajuda, ou talvez porque inconscientemente eu queria adiar o máximo que podia minha saída daquele lugar.

 

Percorri meu caminho pelo jardim, observando os novatos que treinavam ao longe. Parei na entrada e dei uma última olhada na minha ex-casa. Tudo estava normal. Eles ficariam bem sem mim, certo? Detive meu olhar na janela do meu ex-quarto, a janela estava aberta então pude ver Will ainda sentado na minha cama segurando as passagens rasgadas – Adeus.

 

Eu cheguei à rua, não teria de andar muito, apenas um quilômetro e já estaria no ponto de ônibus. Provavelmente eu demoraria, mas com certeza não iria me cansar, eu já andei distancias maiores carregando mais peso.

 

Cheguei naquele ponto de ônibus, ele era apenas um banquinho com um poste indicando quais ônibus passavam, me sentei e comecei a esperar.

 

Um ônibus parou, eu embarquei, mesmo sem ver para onde ele ia, de um jeito ou de outro ele acabaria parando no Termini, então não havia problemas.

 

Paguei a passagem e me sentei num banco único com as malas à minha frente. Eram umas seis horas da tarde, provavelmente a cada ponto que pararmos várias pessoas embarcarão.

 

Como eu havia previsto, depois do quinto ponto, o ônibus já estava praticamente lotado, mas eu ficaria aqui até ele chegar ao ponto final.

 

Assisti as pessoas chegando. Depois desembarcando, terminando sua rotina de trabalho diário. Sem saber que ao passar por algum beco escuro poderiam ser vítimas dos monstros da noite, que assolam o mundo e infectam os humanos com sua maldição. Pena que agora não posso salvar mais nenhuma vida que não seja a minha.

 

Aquele ônibus demorou à chegar ao Termini, Roma era uma cidade grande, tenho de admitir. Desci as malas com dificuldade e entrei na estação, a melhor coisa que tinha a fazer era pegar um trem e ir para a casa de férias da minha família. Poderia me instalar lá por um tempo até ajeitar minha vida.

 

Fui até o guichê e comprei uma passagem para Napoli, o trem partiria em uma hora, então me sentei num banco e fiquei a esperar. O tempo não passa quando se está entediada, ou com pressa. Mas um local como este era seguro. Eles ainda não sabiam da minha demissão, mas aposto como tem pelo menos uns cinco vampiros se misturando aos humanos.

 

Os segundos pareciam minutos e os minutos horas. Estava começando a me entediar. Todos os acontecimentos dos últimos dias passavam pela minha mente, mas eu não quero pensar neles.

 

Eu tenho que esquecer meu passado, para poder viver um novo futuro.

 

Demorou. Mas quarenta minutos se passaram, peguei as malas e fui até a plataforma de embarque validei meu cartão e esperei o trem chegar. É aqui que minha jornada começa.


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