Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 9
Capítulo 8 - Almoço


Notas iniciais do capítulo

*knock knock*
—Quem é?
—Sou eu.
—Eu quem!
—A autora dessa história!
—Ebaaaaa!!!
—-x--

Brincadeiras à parte, é isso mesmo meninas, eu estou de volta! E estou furiosa! Primeiro porque fui roubada em Londres e perdi as fotos de Paris. E segundo porque uma pequena passarinha me contou que as minhas amigas tão queridas não estão comentando como estavam essa história que eu me esforcei tanto para prover...
Bem, isso é uma pena. Primeiro isso aconteceu com Casa de Klaus e agora com Filhos. Só posso dizer que é triste, mas não posso fazer nada. Só espero que estejam aproveitando o tempo precioso que vocês economizam ao não deixar um review.
Depois da bronca, os parabéns: Obrigada à Evelin e à Lola Bianca que comentaram fielmente mesmo sem a minha ilustre presença. Sem mais delongas, nosso capítulo oito!
*Bem vindo ao restaurante Lagosta à lá Klaus, onde servimos o jantar e depois o almoço*



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Lizzie

                -Desfaz essa careta.

                Pedi, apertando a bochecha de Bruce. Ele olhou para mim, o cenho franzido. Suspirei e fiz um biquinho, implorando. Ele revirou os olhos e balançou a cabeça, voltando os olhos para a rua. Paramos no estacionamento do Dottie’s e ele desligou o carro, encostando-se ao banco, sem levantar-se para abrir a minha porta como o habitual.

                -Como é que eu posso desfazer minha careta? Eu estou saindo com o cara que atropelou minha noiva. Estou com isso grudado no meu rosto desde que acordei.

                Uni as sobrancelhas, vendo-o levar a mão nervosamente ao bolso.

                -Bruce. Você trouxe a sua arma?

                Ele me olhou de lado com a expressão de uma criança que foi pega fazendo algo errado, a careta finalmente se suavizando.

                -Não...

                -Bruce...

                -Tá bom, tá bom. – Ele tirou o volume preto do bolso – É uma arma não letal. Você sabe que eu não machucaria o garoto.

                -Seriamente.

                Eu disse, recolhendo a arma de choque e guardando-a no porta luvas. Eu já estava cansada dos brinquedinhos de Bruce. E embora ele soubesse que eu era contra, ele se recusava a deixá-las. Eu entendia, é claro. Não devia ser fácil viver em um mundo onde todos são mais fortes que você, quando se está acostumado a ser mais forte do que todos. Mas ainda assim aquilo não me deixava nada mais tranquila.

                Peguei a mão dele, apertando-a.

                -Vai dar tudo certo. Vamos conversar, comer e em uma hora nós damos o fora daqui e vamos para o lago. Que tal?

                -O lago? – Ele sorriu de forma travessa – Achei que você odiasse o lago.

                -Bem... Há coisas que se pode fazer no barco de um militar, que não se pode fazer em outros lugares, se é que você me entende...

                Ele riu e balançou a cabeça, descendo do carro e dando a volta nele para abrir minha porta.

                Entramos de mãos dadas na Dottie’s e todos os olhares se desviaram da porta instantaneamente. Era parte do processo de hipnose. Todas as atenções se desviavam da nossa família e sua memória sempre era apagada. Desse modo, nós podíamos ficar em casa pelo tempo que precisávamos. Mas às vezes era um pouco solitário viver numa cidade que não vive com você.

                Tad levantou da mesa onde estava para nos receber, com as mãos nos bolsos do moletom da GAP.

                -Hum. Então você existe.

                Foi a primeira coisa que ele disse à Bruce. A careta voltou de repente e a mão dele foi instintivamente para o seu bolso. Revirei os olhos.

                -É claro que existo. Liz não mente.

                Tad nos observou e vi seus olhos procurarem as alianças em nossos dedos. Apertei a mão de Bruce, tensa.

                -Certo. – Ele estendeu a mão – Eu sou Thaddeus. Mas todos me chamam de Tad.

                Bruce apertou a mão dele um pouco mais forte do que um aperto social pediria e Tad fez uma careta, tentando parecer firme.

                -Sou Bruce. Bruce Hall.

                -É um prazer. – Tad puxou sua mão, enfiando-a no bolso. Ele voltou a nos analisar. Como uma pessoa pode mudar tanto? Bem, 20 anos é muito tempo... – Você não é muito velho para ela?

                -Nós temos a mesma idade, Tad. Você e eu. Lembra?

                Ele estreitou os olhos, como se não me entendesse.

                -Quase trinta? Sério? – Ele deu de ombros e sentou-se à mesa – E isso é o que eu chamo de envelhecer com graça.

                Lhe dirigi um sorriso tenso. Bruce puxou a minha cadeira para que eu me sentasse e se sentou ao meu lado, sem tirar os olhos de Tad, que acenou para chamar Dottie para tirar nosso pedido.

                -Me acompanham na cerveja?

                -Nós não bebemos, obrigada. – Olhei para Dottie – Eu quero uma salada. E uns anéis de cebola. Bruce?

                -Um cheeseburguer, por favor.

                Dottie anotou e olhou para Tad. Ele nos encarava como se tentasse resolver um cubo mágico.

                -O mesmo. E uma soda.

                Ela assentiu e saiu, indo na direção da cozinha. Fiquei com medo de que o silêncio se tornasse tenso, mas feliz – ou infelizmente – Tad não tinha papas na língua. Parecia louco para falar o que quer que fosse que tinha para dizer.

                -O grandão sabe?

                -Achei que tínhamos concordado que eu não mentia.

                Ele deu de ombros.

                -Mentir não é omitir. Não dói perguntar. – Ele uniu as mãos sobre a mesa e olhou para elas. Então levantou o olhar e soltou o ar. Vi sua postura desmoronar. – O negócio é o seguinte. Eu não... Posso ser processado agora. E... Eu queria saber se você pretende... Você sabe... Prestar queixa.

                -Queixa?! – Balancei a cabeça, dando-lhe um sorriso tranquilizador – Eu te disse, Tad. Eu estou bem. Nenhum dano permanente. Foi um acidente. Acontece.

                A expressão de Bruce se fechou e ele se recostou na cadeira, claramente inconformado. Tad suspirou, aliviado e sorriu. Parecia quase o mesmo garotinho feliz que uma vez eu conhecera.

                -Obrigado.

                Ele disse, genuinamente agradecido. Bruce cruzou os braços.

                -É claro. Porque nós dois sabemos que você não fica bem de laranja.

                Olhei ara ele, confusa, e então para Tad. Ninguém me explicou. Tad empalideceu e encarava Bruce com a inexpressão de uma criança concentrada em uma televisão.

                -Como é que você...                                                                                                                

                -Google. A notícia é temporária, mas a internet é para sempre. Você acha mesmo que eu não ia pesquisar o doido que atropelou a minha noiva?

                Tad engoliu em seco.

                -Você não entende. Eu nunca quis machucar ninguém. Me deram o carregamento errado.

                -Carregamento?             

                Bruce não olhou para mim. Não era mais meu doce e amável noivo, a quem eu confiaria a minha própria vida. Era novamente um soldado, interrogando, jogando seu pôquer de expressões como faria a um prisioneiro inimigo ou um desertor recapturado.

                -Então os 50 kgs de maconha eram uma loucura? Você pegou assim, por acidente, centenas de dólares em drogas?

                Bruce sorria com o canto da boca. Cheque-mate, diziam seus olhos. Eu nunca devia tê-lo trazido. Ele não entendia que eu queria apenas a sua companhia, não a sua proteção. Por outro lado, eu estava chocada demais para ficar brava com ele.

                -Você... É um traficante?

                -Não. Pelo menos, não de drogas. Prefiro o termo “Comerciante de ervas finas”.         

                -E estas ervas, por acaso, fazem alucinar?

                -Não! Não esse tipo de erva! Não são para fumar.

                Tad frisou. De repente, uma peça uniu todo o quebra-cabeça. Mas... Tad era humano. Ele não deveria saber disso... Será que...

                -Olhe para mim.

                Ordenei, deslizando a mão invisível de hipnose para a sua nuca. Ele obedeceu, mas não parecia compelido. Senti minhas pupilas dilatarem por um segundo, enquanto eu tentava o contato com a sua mente.

                -O que você vende?

                -Se você não sabe, não te interessa.

                Minha energia foi subitamente barrada. Não consegui, de forma alguma, me agarrar ao seu córtex e nem controlá-lo. Dei-lhe um sorriso de satisfação, embora por dentro meu estômago fosse um mar agitado.

                -Verbena. – Sussurrei, mais surpresa do que queria demonstrar. – Como é que sabe disso?

                -Meu pai coloca na minha comida desde que eu era um bebê de colo. – Ele estreitou os olhos – Como você sabe disso?

                Balancei a cabeça.

                -Eu não posso nem começar a dizer.

                Deixei a mão cair no vazio entre as cadeiras e Bruce a apertou, sabendo que eu falava da Casa. Toda aquela verbena... Estar presa por ela era sufocante, agora que eu olhava para trás.

                -Você não veio aqui pelos hotéis do seu pai, veio?

                Ele balançou tristemente a cabeça, como um cãozinho sem dono.

                -Não. Eu duvido que meu pai que meu pai queira-me vez, aliás. Desde que eu fui preso, silêncio. Mandou um cara estranho ir me buscar depois de pagar minha fiança. 

                Uni as sobrancelhas.

                -Não soa como algo que ele faria.

                Tad deu de ombros.

                -Não importa, de qualquer modo. Estou indo para o Canadá. Tem um bom comprador lá.

                Assenti. Dottie trouxe os pedidos silenciosamente e partiu.

Elijah

                -Então... Bacon canadense não é bacon de verdade?

                Angela riu arrumando a sua bola de neve, que seria o corpo do nosso filho-de-neve. Havia um concurso de bonecos de neve no parque, e as crianças ao nosso redor construíam desajeitadamente sob o olhar de uma juíza do concurso. Não participávamos – afinal, nosso filho-de-neve seria covardia contra aquelas crianças – mas estávamos nos divertindo muito.

                -É bacon, sim. Mas eles fazem de um jeito diferente.

                Assentiu, arrumando a sua bola, ajoelhada na neve e moldando-a com o cuidado que um oleiro faria a um vaso.

                -Talvez seja possível que se os canadenses fizessem o nosso bacon, e nós o deles, toda essa rivalidade acabasse.

                Ela fez uma careta.

                -Eu duvido. Eles ainda seriam muito melhores.

                -Melhores?

                -Em termos de acesso à educação, saúde e transporte público. E por favor, eles falam francês.

                Revirei os olhos, levantando o tronco de neve dela e colocando-o cuidadosamente sobre a minha bola gigante que serviria de base. Ela arrumou tudo, tirando os excessos entre as duas e fortalecendo a formação.

                Vir-me-ei e olhei para as crianças, examinando seus trabalhos. Um vulto solitário entrou no parque.

                -Ei, veja só. Ele não queima no sol.

                Angela seguiu meu olhar e atirou um punhado de neve na minha direção que bateu no meu casaco e caiu.

                -Eu entendi, tá? Meu irmão é o recluso da cidade. Ele só precisa de tempo para se adaptar. Não é fácil se mudar o tempo todo e não conhecer ninguém, sabia?

                Observei-o descendo a trilha limpa de lama que atravessava o parque, deixando sua respiração para trás em forma de névoa. Uma típica pintura boêmia. Ugh, preciso parar de assistir os documentários que Grace grava na televisão à cabo.

                -Eu não sei... Ele parece... Solitário.

                Ela não olhou, mas assentiu. Devia estar acostumada.

                -Ele nunca foi de muitos amigos, mesmo quando ficávamos mais tempo. Pediu para estudar em casa na sexta série.

                -Porque?

                -Valentões, na maioria. Pequeno, louro e com sotaque. Era um prato cheio para eles. Não importava o quanto mudássemos de escola, ele sempre se metia em problemas. No fim, decidimos que não valia à pena, afinal, o pai é um professor.

                Assentiu, as engrenagem se mexendo na minha cabeça com os rangidos habituais.

                -Ei, El. Me ajude com a cabeça.

                Ergui a pequena bola de neve com cuidado, pousando-a acima da outra. Observamos nosso trabalho com um suspiro conjunto.

                -Eu vou pegar os olhos e o nariz. Não saia daí.

                -Ok, vou cancelar o carro de fuga.

                Ela riu docemente, balançando a cabeça e tapando a boca, como se aquela fosse a coisa mais engraçada que já tivesse ouvido. Foi na direção da barraquinha que oferecia os acessórios para os bonecos de neves das crianças. Meu plano voltou à mente, desenrolando-se.

                Quem sou eu para fazer algo assim? Pensei, observando Finn caminhar até um banco e limpar a neve dele, sentando-se e puxando um bloco de notas e uma caneta do bolso. De vez em quando ele a balançava no ar, como a batuta de um maestro. Imaginei todas as vezes que Grace tinha feito a mesma coisa, desenhando uma árvore por um dia inteiro, calada, trancada dentro de si mesma. Talvez só seja uma pessoa preocupada. Que mal será que poderia fazer?

                Angela voltou com a cestinha cheia de botões e uma cenoura, com as bochechas rosadas de frio.

                -Vamos terminar isso e ir tomar um café. Eu estou congelando.

                Sorri de leve, recebendo a cesta. Ela tirou as luvas para remexer nos botões.

                -Não entendo como você está fazendo isso sem luvas...

                Ela sussurrou, olhando para as minhas mãos nuas que seguravam a cesta para ela. Dei de ombros.

                -É o hábito.

                Ela me olhou desconfiada e foi para perto do boneco, moldando o seu rosto com seus aviamentos. Lancei um ultimo olhar à Finn.

                -Hum... Angie?

                -Sim?

                -Finn já teve uma namorada?

                Ela soltou o ar, sem desviar os olhos da sua tarefa.

                -Não, Elijah. Nós nunca tivemos tempo para isso. Porque está tão interessado em Finn de repente?

                Ela me espiou com o canto do olho, como se esperasse que eu dissesse algo. Eu sempre achava que havia algo escondido sob os olhos de Angela, algo que ela estivesse que alguém lhe desse.

                -Porque... Eu acho que tenho uma ideia.

                -Uma ideia?

                Hesitei, um segundo antes de contar à Angela toda a história. É claro que ela jamais contaria ou nos julgaria de qualquer modo. Mas nem ao menos nossos pais sabiam da história toda. Isso seria injusto. Eu não seria o tipo de cara que trai a família só porque está em um relacionamento. Não. Não seria eu a contar o segredo. Até porque ele não era nem meu.

                -Bem... Da ultima vez que Gray teve um namorado... Não deu muito certo... E... Ela não é mais a mesma pessoa. Você está entendendo onde eu quero chegar?

                Ela sorriu e me espiou com o canto do olho de forma marota.

                -Você, senhor, está sugerindo que nós dois, como os irmãos mais velhos responsáveis, devemos agir como cupidos numa missão impossível para juntar nossos irmãos incapazes de conexões amorosas. – Ah, Deus, o sotaque... Ele vai me matar. – Acho que eu entendo exatamente o que quis dizer...


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Notas finais do capítulo

O que será que houve com a Gray no passado? Porque o Tad é traf... Digo, comerciante de ervas? Descubra no próximo eletrizante capítulo de: Filhos.


Obs. Observante a ser observada: Dependendo do número de reviews, estou disposta a postar o próximo nos próximos 3 dias. /chantagemodon