Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 5
Capítulo 4 - Dor


Notas iniciais do capítulo

LEIAM A NOTA NO FINAL DO CAPÍTULO!



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**Lizzie**

Tonta e sentindo a cabeça doer horrivelmente, apoiei-me no braço direito para tentar me levantar, mas ele parecia feito de gelatina quente. O sangue escorria dele, e meu casaco estava rasgado, em pedaços. Lágrimas escorreram sem querer enquanto eu lutava para me por sentada.

-Merda, merda, merda, merda...

A porta do carro se abriu e o motorista desceu. Ouvi a música de dentro do carro vir mais nitidamente do que qualquer coisa. Imagine Dragons, foi tudo o que minha mente ferida conseguiu processar. Adoro eles. O rosto do motorista surgiu a minha frente. Olhos e cabelos castanhos sobre feições divertidas e incomuns. Mesmo através da névoa de confusão, não demorei a reconhecê-lo, apesar de não vê-lo há quase 20 anos. O garoto do hotel em Chicago. Thaddeus.

-Moça, você está bem? – Ele perguntou, os olhos esquadrinhando meu rosto. Uma expressão de espanto instaurou-se em seu rosto – Lizzie?

Não, pensei, tonta. Seu rosto estava sendo sugado por um vórtice desconhecido de falta de consciência. Eu o hipnotizei, ele devia ter me esquecido. Não pode se lembrar, não pod... E sem que eu pudesse evitar, meus olhos se reviraram e eu perdi os sentidos.


Um coração pulsava no meu ouvido, vívido e saudável, como o canto de um passarinho alegre ao dourado nascer da manhã. Outro o seguiu. Era maior e mais forte. Logo os corações todos estavam unidos em concerto. Durante este tempo eu me senti mais forte, à beira da consciência, tocando-a com a ponta das sapatilhas.

E então, tudo explodiu em uma fanfarra ensurdecedora. Corações aceleravam assustados, fazendo seu ritmo enlouquecer-se. Outros relaxavam, batiam devagar, suave como triângulos e então murchavam, mortos, quase impercebíveis naquela mutação inconstante e assustadora que fazia os tímpanos explodirem. Mas os mais horríveis mesmo eram os soturnos, que continuavam no mesmo ritmo. Eram sérios e sem sentimentos, como corpos sem rosto em um funeral. Era o que seriam. Dor era tudo o que sentiam, os que ainda sentiam algo.

E eu precisava ajudar. Meu corpo todo doía com essa necessidade. Aquele era meu único objetivo. Era para isso que eu viera ao mundo.

Abri os olhos. Um feixe forte de luz branca feriu meus olhos. Mal reconheci o hospital de Forks. Minha cabeça começou a doer pela necessidade de sair dali e ajudar. Enfiei minhas unhas nas palmas. Tentei manter minha autopreservação consciente. Eu tentara treinar isso durante o período em que tentara estudar Medicina na faculdade, mas na primeira visita, eu percebi que jamais conseguiria. Ao tentar visitar Bruce, em NY, recebi outro fracasso. Comecei a tremer, nervosa.

-Ei, você acordou!

Disse uma voz entusiasmada. Concentrei-me nele para não fugir. Thumper. Dos hotéis Thumper. O que o herdeiro dos fabulosos hotéis estaria fazendo naquela cidadezinha de fim de mundo?!

-Que...

-Desculpa. Desculpa. Desculpa. Desculpa. Desculpa. Eu juro que eu não vi você. Eu jamais te atropelaria, juro. Eles só vão fazer uns exames, e eu vou te levar a um lugar bem legal e vou te dizer o quão terrivelmente eu sinto por atropelar você.

-Ei. Ei. Fica quieto um segundo.

Pedi, levando a mão à cabeça. A balburdia da dor dos inocentes fazia meu cérebro pulsar com tensão. Senti os dedos dos meus pés começarem a se contrair, tentando forçar meus pés a correrem até o necessitado mais próximo.

-Está doendo muito?

-Eu preciso sair daqui.

Disse, sem querer, em voz alta. Ele se mostrou confuso e então assentiu.

-Você tem medo de hospital, não é? Não se preocupe, não é tão ruim depois que você ignora os objetos pontudos.

Ele riu e eu não pude deixar de lhe dar uma meia risada nervosa cortada pela dor. Era incrível que alguém pudesse pensar que algo na minha vida pudesse ser tão simples quanto medo de hospital. Tentei pensar em um pretexto para que ele fosse embora, mas meu cérebro ainda latejava cheio do som de corações doloridos em fuga. Achei que ia morrer ali quando finalmente, um rosto familiar entrou no pronto-socorro e eu o implorei com os olhos para que me ajudasse.

É claro que 20 anos não se passaram despercebidos. Mas compelir a cidade a simplesmente a ignorar-nos quase completamente a ponto de não notarem que não envelhecemos era fácil com uma população tão pequena. Ainda partiríamos, um dia, mas por enquanto não. Carlisle parou ao lado de Tad, pousando a mão sobre seu ombro.

-É da família?

Perguntou, como se não soubesse. Tad balançou a cabeça, os olhos arregalados fixos nele. Quem é que tem medo de hospital agora?

-Só família na enfermaria. Espere lá fora.

-Você pode ir, Tad – Eu disse, quando ele olhou para mim, como se estivesse receoso de ir embora. O que ele teria a temer de mim? Eu conserto coisas, não quebro. – Está tudo bem. Obrigada... Eu acho.

Ele assentiu e depois de mais um momento de hesitação deixou a sala. Carlisle fechou a cortina ao redor do leito, nos isolando do resto da enfermaria.

-Você está bem?

Minha garganta estava começando a se fechar, sem me deixar respirar.

-Preciso sair daqui.

Eu disse, rouca. Ele assentiu e discretamente me entregou um pacote que trazia no bolso. Olhei-o, confusa.

-Sangue? O que é que eu vou fazer com...

-Vai ajudar você a se curar mais rápido. Tome quando estiver longe daqui, está bem? – Assenti – Pode ligar para o seu pai para vir buscar você?

-O meu pai? Se eu contar que Tad me atropelou, ele vai perder a cabeça. Ou melhor, o garoto vai perder a cabeça. – Balancei a cabeça, negando – Será que a Rose pode vir?

Ele fez uma careta e limpou a garganta, olhando ao redor, desconfortável.

-Ainda não.

Suspirei. Meu estômago frágil se revirou.

-Quanto tempo eles já alcançaram?

-3 dias. Estão tentando bater o recorde de Edward e Bella.

Estremeci.

-Ugh. Tudo bem. Tanto faz. Eu vou ligar para Bruce, então.

Ele assentiu e me guiou através dos corredores do hospital até uma saída dos fundos do hospital. Abracei-o para agradecer e ele me desejou sorte.


Eu esperei até que o sangue tivesse descido pelo meu organismo até que eu decidisse ligar para Bruce. Esperei até que o telefone tocasse até o fim. Ele devia estar dormindo a essa altura. Ele atendeu no fim do último toque. Eu não queria ligar no meio da noite, mas também não queria que aquele garoto fosse punido por um acidente. Afinal, por um dia, ele tivera sido o melhor amigo que eu já tinha tido. O único da minha infância. E no outro dia, quase foi meu assassino, se não fosse por Jenna. Tentei distrair-me disso quando Bruce atendeu, sonolento.

-Alô?

-Bruce. – Eu disse, subitamente lembrando que estava chorando, a marca da dor das pessoas impressa sobre o meu peito. Funguei e limpei as lágrimas com os dedos trêmulos. – Você pode vir me buscar?

-Lizzie? – Ele perguntou, subitamente desperto. Aguardei que ele dissesse mais alguma coisa, deixando que soluços silenciosos me sacudissem, como mãos que tentavam me trazer de volta para a realidade. – Onde você está? Você está bem?

-Estou na praia.

-Na praia? – Ele suspirou. – O que você está fazendo na praia à essa hora? Achei que tivesse ido para casa três horas atrás. – Funguei mais uma vez, calada. Ele percebeu que eu estava evitando o assunto. – Lizzie? O que está acontecendo?

-Eu fui atropelada.

Confessei, apertando o telefone contra mim, desejando mais que tudo que ele já estivesse ali. Ouvi o som dele se movendo no quarto. Estava a caminho.

-Você está bem? Está machucada?

-Estou. Mas não muito.

Observei a ferida que cobria o lado externo completo do meu braço direito. O sangue já havia coagulado, e se eu cuidasse direitinho, sumiria em alguns dias. Doía, sim. Mas essa não era o pior acontecendo dentro de mim.

-Porque está chorando?

Ele perguntou, enquanto a porta batia atrás dele. Ele está vindo. Meu coração bobamente sentiu-se abalsamado com a leveza dessas palavras. Respirei fundo antes de responder. Ouvi-o fechar a porta do carro e ligar o motor.

-Liz?

-Me levaram para o hospital.

Baixinho, eu ofeguei, lembrando de tudo o que estava acontecendo com aquelas pessoas. Era como se eu ainda pudesse senti-las, mesmo com toda aquela distância. Era quase um milagre que não tivesse apagado como da última vez, em NY.

-Eu estou chegando, meu amor. Fique perto do mar e eu vou achar você, está bem? Não se preocupe, estou chegando.

Assenti, fechando os olhos, deixando que as lágrimas escorressem soltas.

-Eu te amo, Bruce, por favor, venha rápido.

-Já estou indo, Liz. Aguente firme, ok?

Suspirei e desliguei o telefone, puxando as penas para perto do corpo. Então chorei.


Bruce me encontrou perto das pedras, onde eu me abrigara desde a minha fuga do hospital. Elas ainda guardavam o calor confortável que haviam acumulado durante o dia, embora o sol não tivesse dado as caras. Ainda estava escuro e o mar parecia a bocarra de um monstro épico, chamando-me para aproximar-me dele e entregar minha vida em suas grandes mãos geladas. Por um longo tempo, eu encarei suas ondas, tentando incorporar sua força. Pessoas morriam no mar o tempo todo. Não era culpa dele, era apenas a sua natureza. E ainda assim, ele continuava forte e intimidador, confortando aos que ficavam.

Bruce apontou sua lanterna na minha direção, soltando um suspiro audível. Olhei na direção dele, bloqueando a luz da lanterna com a mão. Ele correu até mim e sentou-se ao meu lado, deixando a lanterna na areia. Envolvi sua cintura com os meus braços, enterrando meu rosto na dobra do seu pescoço. Ele apertou-me com os braços morenos, protegendo-me de todo o mal. Por um longo tempo, ele apenas ficou ali, forte e protetor.

-Foi horrível, Bruce – Confessei, fechando as mãos ao redor da sua jaqueta. – Todas aquelas pessoas e eu não podia salvar ninguém. Nunca me senti tão inútil na minha vida.

-Você não é inútil, Lizzie. Você não pode salvar o mundo todo. Ninguém pode, querida.

-Mas eu podia ter feito alguma coisa.

-Talvez pudesse, sim. Hoje. Mas talvez amanhã você não estivesse mais aqui, e as doenças não vão acabar da noite para o dia. Você não pode salvar o mundo todo sozinha.

-Eu queria que eu pudesse.

-Todos queremos, meu amor. Mas um dia de cada vez.


Bruce me levou para casa silenciosamente. Adormeci no banco do passageiro, com a sua mão segurando a minha. Ele parou em frente a minha casa e meu pai nos encontrou na porta com um olhar desconfiado. Beijei sua testa e lhe disse que Bruce lhe explicaria, que eu estava cansada e precisava de um banho. Subi dolorosamente as escadas e tomei um banho gelado, observando a água escorrer, rosada de sangue, para o ralo. A água abafou a raiva e a preocupação do meu pai no andar de baixo.

No meu quarto, vesti um pijama fofo e modelei distraidamente alguns cachos enquanto ainda estavam molhados. Bruce encostou-se ao beiral da porta aberta e bateu nele de leve com o nó do indicador, chamando minha atenção. Virei-me para ele e sorri de leve.

-Como ele está?

-Preocupado. Mas vai te deixar dormir.

Assenti, bocejando. Estava exausta. Ele levou-me até a minha cama e puxou o cobertor, ajeitando-o sobre o meu corpo depois que eu me deitei. Ajoelhou-se a lado da cama. Silenciosamente brincamos de guerra de polegares algumas vezes.

-Lizzie. O garoto que te atropelou. O garoto Thumper. De onde você o conhecia?

-Klaus nos levou para Chicago, logo depois de sairmos de Platoro. Nos conhecemos no hotel o pai ele – Soltei um risinho involuntário que fez minha cabeça latejar. – Era um garoto estranho, mas divertido.

Ele assentiu, pensativo. Não tinha ideia do que ele estava pensando.

-Deixe ele em paz, Bruce. Foi um acidente. Acontece, certo? Ele não tinha como saber.

Pedi fechando os olhos, e sentindo o sono lentamente me levar para longe. Ele permaneceu calado, mas eu podia sentir sua mão na minha. Logo antes de eu adormecer, ele se aproximou de mim e beijou minha testa por um longo tempo.

-Eu te amo, Liz. Desculpe por não estar lá com você.


Bruce


Quando saí da casa, Frank tinha sumido. Só esperava que ele não tivesse ido fazer nada estúpido. Lizzie nunca se perdoaria se algo acontecesse ao garoto, mesmo que ele a tivesse atropelado. Sempre tentando sustentar o mundo sobre os ombros. Essa é a minha menina. Ou melhor, minha mulher.

Sorri sozinho ao entrar no carro e dar a ignição, lançando um último olhar à janela do quarto de Lizzie. Novembro. Em novembro, ela seria minha, verdadeiramente. Montaríamos uma casa só nossa e, por sorte, teríamos um par de filhos antes que eu envelhecesse. Se a ideia de que minha esposa seria jovem para sempre me assustava? É claro que sim. Mas eu podia confiar que teria alguém para cuidar de mim até o fim, que eu não a perderia cedo demais, e que meus filhos teriam a mãe sempre que precisassem, assim como os filhos deles.

Às vezes eu pensava em me tornar como ela. Me transformar, como diziam. Por alguns segundos, ser um vampiro parecia formidável. Vampiros sofrem, Bruce. Demais. Dissera Liz quando eu mencionara a ideia. Pensando melhor, viver para sempre, mesmo que com Lizzie, soava muito longo. Precisaríamos rodar o mundo e nunca chamar a atenção. Nada de promoções, nada de ficar famoso, nada de sair no jornal. Ordinário para sempre. Não. Uma vida longa e feliz já era de bom tamanho.

Puxei o freio de mão na garagem e entrei em casa, jogando as chaves sobre o balcão. Mesmo que já fosse muito tarde, sem acender as luzes, liguei o computador, e me joguei sobre a cadeira. Abri o navegador da internet e digitei na pesquisa do Google as duas palavras que mais me incomodavam naquela história:

Thaddeus Thumper.


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Notas finais do capítulo

Meninas, é o seguinte:
Eu vou viajar por um mês. Eu vou pedir que a minha amiga poste para mim, mas vocês não terão o ar da minha graça por enquanto. Mas saibam que eu amo vocês e que, para que vocês não ficassem sem conteúdo, eu consegui adiantar a história até o capítulo 13. Tudo para vocês. Sem vocês, isso não tem sentido.
Obrigada!
Um beijo, leio seus review quando eu voltar, no dia 20/07.