Levaram Mike para a enfermaria do colégio, eu fiquei na sala, mas minha mente estava a quilômetros de distância da terra, minha cabeça girava, e eu só conseguia pensar nos acontecimentos recentes, a aula ficou perdida e sem espaço em minha mente confusa e embaralhada.

Eu pensei que, se uma simples visão fazia isso com Mike, se ele continuasse tendo mais visões, e constantemente, se tudo que ele tocasse já fizesse isso com ele, ele poderia morrer! O pânico me invade, ele não pode morrer, o que eu vou fazer da minha vida sem ele? Depois que minha mãe se foi, ele e meu pai foram tudo o que me restou, e como meu pai trabalha muito, a maior parte de meu tempo eu passo com Mike, já foi difícil me acostumar ao fato de que ele agora tem de doar a maior parte de seu tempo á Tereza e não mais para mim, se ele se for, minha vida não fará sentido, e eu provavelmente também morrerei, por dentro.

E ao mesmo tempo penso sobre a frase "Não fuja do seu destino", eu sei quem mandou, e tenho uma teoria sobre o porquê, mais um detalhe sobre os sombras, sua língua mais usada para mandar mensagens a humanos é o Latim, e suas mensagens escritas com sangue. Mas qual é o meu destino? Ir à aquele pântano, e fazer com que meu sonho se torne realidade? Fazer com que Mike morra e todas aquelas pessoas virem escravas? Não, e mesmo que fosse isso, eu não volto mais à aquele pântano...

A enfermeira entra na sala e me interrompe em meus devaneios:

– Mike precisa ver uma pessoa...urgente.

– Ah, sou eu! - pronuncia-se Tereza - Sou a...

– Namorada - complementa a enfermeira - eu sei, mas não é você - ela me lança um olhar acolhedor - Venha querida...

Eu me levanto rapidamente, e a sala vira um coral por alguns segundos emitindo o mesmo som, e ao mesmo momento "Hummmmmmm.....", sugerindo que haja mais que amizade entre mim e Mike, e alguns ainda comentam "Ei Tereza, melhor tomar mais cuidado com o que é seu... se não quiser acabar com um par de chifrinhos...". Mas eu apenas ignoro tudo, o que importa agora é Mike.

Quando saímos no corredor, a enfermeira olha para os cantos, parece querer se certificar que não havia ninguém lá além de nós, depois ela segura meu braço suavemente e sussurra em meu ouvido:

– "Videntis Somnium"...

– O quê? - me espanto, mas continuo com a voz em um nível normal.

– Ah, você também...esses jovens de hoje em dia... - ela filosofa - Nunca leram o livro de Sources...

– O que é isso?

– O livro das origens, daí o nome, sources, lá fala sobre todas as espécies de seres sobrenaturais, incluindo os "videntis somnium".

– E o que são eles?

– Videntes do sonho - a primeira coisa que me vem a cabeça é Mike, mas me faço de desentendida...

– E o que isso quer dizer?

– Você sabe muito bem queridinha, seu amigo Mike por exemplo, é um belo representante da raça deles, ele só desmaia e tem esse mal estar, porque ainda não se acostumou com seus poderes... não adianta fingir que não está entendendo porque eu sei que está... mas eu explico melhor lá na enfermaria, mundanos não devem ouvir esse tipo de conversa...

Nós seguimos para lá. Abro um pedacinho mínimo da porta, e vejo ele deitado em uma maca, quase dormindo e tomando soro pela veia, eu nem chego a falar nada,mas é só eu abrir a pequena fresta das porta que ele esbraveja a me chamar, e olha para todos os lados da sala, me procurando, acho...

– Calma, calma, estou aqui - entro na sala correndo e vou até ele e lhe dou um abraço bem apertado, ele me segura bem forte, o abraço dura minutos, até que eu percebo que ele está demorando demais, tento me soltar, mas ele me prende forme ao redor de seus braços - Mike, me solte agora...

– Está bem - ele diz em um suspiro de tristeza e me solta - Me desculpe, mas é que, eu finalmente entendi...tudo, acho, o seu destino é o pântano...e se eu vou morrer, queria aproveitar ao máximo sua companhia... - ele deixa as palavras flutuando no ar.

– Não, não! Eu não vou voltar mais lá, você vai viver, e vai poder me abraçar o quanto quiser!

– Mas... o bilhete dizia...

– Não importa o que ele dizia, não sou obrigada à ir lá...

– Na verdade - interrompe a enfermeira - Se você não for agora com este aviso que foi até..."amigável", o sombra provavelmente vai vir aqui pessoalmente, e matar as pessoas que você mais ama.

– Como você sabe do sombra? - eu pergunto, não me lembro de ter dito nada á ela sobre o sonho.

– Não há só humanos na terra, eu por exemplo, leio mentes, é um dom que adquiri, graças ao meu pai, que era um feiticeiro que vivia na terra, e se casou com minha mãe...

– Ah, claro! - digo, mas sei que não consegui esconder meu espanto - mas o que devemos fazer em relação ao pântano então?

– Vocês podem fazer as coisas de um modo diferente, aí talvez o destino se altere, podem levar alguém á mais, ou podem ir só 1 de vocês, mas a primeira opção nesse caso é melhor...

– Por que? - dizemos Mike e eu em coro.

– Porque ele é um vidente do sonho, seus poderes podem ser úteis antes de uma batalha... e o recado, foi para ela, o que significa, que ela tem de ir. Mas primeiro Camille, você precisa dizer aquilo a Mike...

– Aquilo o que?

– Você sabe do que estou falando...

Eu sabia, os sonhos. Ninguém além de meu pai e o psiquiatra sabiam que eu tinha aqueles sonhos estranhos desde criança, Mike só soube do que eu tive sobre o pântano, e isso porque ele teve uma visão dele. Depois que o psiquiatra disse que era tudo minha imaginação resolvi guardar meus sonhos para mim mesma.

– Do que ela está falando? - pergunta Mike confuso.

– Meus sonhos... - quando ele vai abrir a boca para perguntar novamente eu já o interrompo - o sonho do pântano não foi o primeiro que tive, sempre tive esses sonhos estranhos desde criança, mas eram apenas sobre um anjo caído, eu reconhecia seu rosto de algum lugar, não sei de onde...o psiquiatra me achava louca - eu dou uma risada baixa - e não quis mais contar sobre eles á ninguém...mas depois que eu fui ao pântano, os sonhos ficaram piores... - contei a ele todos os sonhos que tive ultimamente, menos o que ele protagoniza.

– Por que nunca me contou?

– Não achei importante...

– Ei vocês, melhor continuarem a conversa depois...tem uma garota vindo aí e...

– Oi gente! - Charlotte escancara a porta e entra - ah Mike! Você está bem? - ela lhe dá um abraço, e antes de ela responder ela se vira para mim - porque não me chamou para vê-lo antes, hein? - eu vou responder, mas ela me dá um abraço tão forte que o ar escapa de meus pulmões - a gente já conversa, já volto - ela se dirige ao banheiro.

– Ei Mike!

– O que?

– Acho que já encontrei a pessoa "á mais" para irmos ao nosso destino...