Ele estava atrasado e ela estava se acostumando a isso. Havia quatro anos que suportava esse tipo de coisas, porque hoje seria diferente? Passou a mão no banco para retirar a fina camada de gelo que havia se acumulado e sentou, observando como o parque ficava lindo naquela época do ano. Pensou em todos os bons momentos que haviam passado juntos, em como a amizade tinha aos poucos evoluído para algo mais íntimo; um relacionamento sólido e feliz. Pensou também em como esses momentos haviam se tornado escassos, talvez alguma triste peça pregada pela vida, ou algo simplesmente não encaixava; não mais.

Colocou as mãos no rosto e chorou, como há muito não chorava. Chorou pelo passado feliz, pelo presente falho e por um futuro ainda incerto. No momento, só uma certeza em sua mente: iria terminar com ele. Por mais amigos que fossem, por mais momentos bons que haviam tido, já não estava mais funcionando para ambos, e ela esperava que continuassem amigos, do fundo do seu coração.  Sabia que ele não queria terminar, mas porque ele estava cômodo e para ele quanto menos mudanças melhor, afinal, ele já não ligava mais e ela sabia disso. Só queria alguém que ficassem em casa, que esquentasse sua cama e cuidasse de seus compromissos; algo que uma prostituta e uma empregada poderiam resolver facilmente.

Todas as brigas e discussões por causa de horários e compromissos adiados; sem contar aquelas estúpidas marcas de batom vermelho em algumas camisas. Ela não era cega, muito menos estúpida para deixar passar; mas queria tanto que tudo desse certo, que sequer questionou-o; uma falha gravíssima, olhando para trás.

Levantou a cabeça, o rosto vermelho por causa do choro e do vento gelado que fazia com que seus cabelos castanhos encaracolados voassem. Olhou para os lados, para saber se havia alguma testemunha observando seu pequeno show particular, porém não viu ninguém.  Decidida, ficou de pé e começou a caminhar pela trilha do parque, chegando até um lago grande e calmo, com poucos patos nadando por ali. Tirou do bolso do casaco o presente que havia comprado, para comemorar o quarto ano de namoro juntos, e abriu a caixa. Um relógio lindo; um Rolex clássico e raro, dificílimo de achar nos dias de hoje. Rodou-o no dedo duas vezes e o pegou de volta, apertando-o com todas as suas forças, as lágrimas quentes escorrendo novamente por seu rosto.

Fez menção de jogá-lo, chegou até a impulsionar o braço para trás para conseguir velocidade, mas ouviu uma voz que a parou.

- Ora, não sabia que estaria aqui – ele disse; vindo em sua direção com as mãos enfiadas nos bolsos de sua jaqueta de couro, o vento balançando suas vestes e os cabelos, que estavam compridos na altura dos ombros, pois se nem Molly que era sua mão o fez cortar, quem iria?

- O que faz aqui, Fred? – ela questionou confusa, enquanto limpava as lágrimas com a barra de seu casaco – Não vá me dizer que ele mandou alguém para pedir desculpas, porque não vou aceitar. Não acredito que ele tenha sido covarde a esse ponto! – disse irritada e virou-se novamente para encarar o lago, ainda segurando o relógio em sua palma da mão.

- Eu estou aqui por mim mesmo, Hermione – ele respondeu, encostando ao lado dela na grade de proteção do lago e encarando-a – Fiquei preocupado com você aqui fora sozinha, principalmente em uma noite como essa.

- Como você sabia onde me encontrar? – perguntou surpresa.

- Pode não parecer, mas eu te conheço um pouquinho – ele respondeu, sorrindo e voltando-se para olhar o lago – E aparentemente, conheço bem o irmão que tenho, infelizmente.

Ficaram em silêncio, cada um com seus próprios pensamentos e receios.

- Você acha que algum dia conseguirá amar alguém como você o amou? – ele perguntou de repente.

- Talvez – ela respondeu; surpresa com a pergunta – Algum dia eu posso me apaixonar por outra pessoa, mas não agora.

- Entendo – ele disse, sorrindo tristemente – Mas continue o que estava fazendo antes de eu chegar – e apontou para o relógio na mão dela.

Olhou para o relógio e desistiu de joga-lo no lago, então jogou no chão e pisou em cima; impossibilitando que alguém utilize algum dia ou, em sua mente, fazendo uma analogia ao fim de seu namoro; quebrando-o em mil pedaços, impossíveis de ser reparado algum dia.

Se encararam e ele pode ver dor e determinação no olhar dela, mas sabia que ela ficaria bem, ela sempre fora uma pessoa forte e perseverante, não seria agora, por causa de um completo idiota, que aquilo mudaria.

- Estou com frio – ela disse, esfregando os braços – Vamos sair daqui, ir a algum bar ou qualquer outro lugar.

- Justíssimo – ele disse e a abraçou, assim foram abraçados e se esquentando por todo o caminho de volta.

- Mas Fred, você não deveria estar em outro lugar? – ela perguntou intrigada do porque ele não estar com a própria namorada no Dia dos namorados.

- Terminamos há algum tempo – ele disse, dando de ombros – Percebi que já não estava dando mais, porque ela simplesmente não é a pessoa que eu amo, e sempre vou amar.

- Bem – ela disse carinhosamente, se aconchegando nos braços dele – Ela é uma tremenda idiota então, por deixar escapar tão bom partido – sorriu e deu um soco de leve no braço dele – Porque você não conversa com ela então? Tenho certeza que ela deve gostar de você também, tão bem sucedido e lindo.

- Talvez ela não estivesse disponível até então – ele sorriu gentilmente e olhou-a – Talvez ela tenha passado um bom tempo com um otário que não deu valor a ela em nenhum momento e somente agora ela tenha caído na real. Talvez ela seja a namorada do meu irmão e queridinha do mundo bruxo; como poderia chegar á altura de tanta perfeição? – parou e sorriu tristemente – Existem muitas variáveis, meu bem – e continuou andando, sem esperar resposta da bruxa, que ficou parada, em estado de choque.

- Vamos Hermione, a nevasca está ficando mais forte! – ele chamou alguns metros à frente.

Ela voltou a caminhar na direção dele, decidida.

- Porque disse aquilo Fred? – perguntou seriamente, franzindo fortemente a testa – Só porque estou triste e percebi que desperdicei meu tempo com Ron, não quer dizer que você precise tentar levantar minha autoestima assim e brincar com meus sentimentos! – ela gritou, enquanto ficava vermelha de vergonha – Eu não preciso da piedade de ninguém, muito menos a sua! – e voltou a caminhar, ultrapassando-o.

Mas ele não deixou barato, alcançando-a rapidamente, segurou seu braço, fazendo com que ela parasse bem na sua frente.

- Você acha que eu tenho pena de você? – ele disse, com um sorriso no rosto – Eu não preciso ter pena de você, sei muito bem que consegue se virar sozinha, Hermione. Só estou dizendo a verdade, e se você não consegue ser madura o suficiente para entender isso, a culpa não é minha. Há anos tenho tentado chamar sua atenção de alguma maneira, mas você sempre só teve olhos para Ron, então decidi deixá-la ser feliz, mesmo que isso me matasse um pouco a cada dia. Você acha que eu não percebi que você está infeliz?  - puxou-a mais para perto, vermelho de ansiedade por finalmente conseguir falar tudo aquilo que estava engasgado há anos em seu interior – Porque você acha que sou EU que estou aqui hoje e não ele?

Beijou-a com ardor, e ela, depois de alguns segundos de surpresa, ela respondeu à altura. Duas pessoas machucadas tentando exprimir todos os seus temores e mágoas em um beijo, que aos poucos foi se tornando delicado e caloroso.

Abriu os olhos, e tudo o que viu foi ele sorrindo. Agarrou o braço dele e ambos voltaram a caminhar para a saída do parque, não precisavam dizer nada, só queriam guardar aquele momento; um pequeno raio de sol no meio da nevasca.