Pokémon: A Revolução escrita por Kaox


Capítulo 7
O Típico Início Atrapalhado




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Os três decidiram sair da cidade por um antigo atalho que já conheciam, porque estavam carregando grandes mochilas de viagem e queriam evitar a atenção que chamariam do povo de Dalaron e sobretudo da polícia caso passassem pelo portão principal. O caminho que seguiam começava numa trilha de caça atrás de um velho galpão abandonado, cortava pelo meio da mata e depois de cerca de dois quilômetros desembocava na Rota 22. Dali eles podiam seguir para sudoeste até a Rota 1, e finalmente ao sul até Pallet. No passado os amigos utilizaram por várias vezes aquela trilha para poder escapulir secretamente da cidade.

Durante as primeiras horas de caminhada eles estavam extremamente animados, conversavam muito sobre os acontecimentos incríveis que vivenciaram na Liga de Dalaron e sobre os planos e objetivos que tinham para o futuro, até que finalmente Willian decidiu contar-lhes sobre como conseguiu seu Scyther:

– Porra, não acredito que ela escondeu isso de você por dois anos! – Disse Rick, indignado.

– Ah vai, também não é assim, acho que qualquer mãe faria coisas desse tipo para proteger um filho – retrucou Serena.

Rick parou um instante para pensar, depois fez um sinal de negativo com a cabeça e disse de forma divertida:

– Que nada! Se fosse minha mãe, ela faria muito pior. Provavelmente jogaria a pokébola pela privada, tacaria fogo ou coisa pior, Hahaha.

Mesmo com o clima descontraído, Willian não fez a menor menção de rir, aquela história ainda o deixava irritado, por isso fechou a cara e disse numa voz cansada, encerrando de vez o assunto:

– O que importa é que agora já está tudo resolvido, o resto que se foda.

Passou-se mais uma hora, já estava anoitecendo e os jovens estavam exaustos, portanto decidiram parar para acampar. No momento estavam no meio do caminho entre a Rota 22 e a Rota 1, aquela era uma estrada quase deserta, pois como era toda feita de terra e estava em péssimas condições para o trânsito de automóveis, a imensa maioria das pessoas que viajavam entre as duas vias preferia passar por dentro da cidade de Viridian, fora isso pessoas viajando a pé era algo raro de se encontrar desde a proibição das batalhas e das capturas.

Demorou um bocado para conseguirem armar as barracas, o que elevou a fadiga deles bem além do que imaginavam, mas enfim podiam repousar. O local em que se estabeleceram ficava numa clareira a cerca de cinquenta metros da borda da estrada, era completamente rodeado por árvores altas e uma mata um pouco densa, o chão possuía uma grama rala, o que o tornava quase aconchegante, e o som selvagem típico de uma floresta fazia ecoar um canto que, aos seus ouvidos desacostumados, era ao mesmo tempo tranquilizante e sinistro. Dalaron, por ser uma cidade pequena, sempre teve um ar limpo, mas mesmo assim era possível sentir a diferença daquele lugar, o ar dali era praticamente imaculado, e o frio vento noturno realçava ainda mais aquela sensação de pureza.

Eles não sabiam realmente como acender uma fogueira à moda antiga e nem tinham Pokémon de fogo para realizar a tarefa, mas com os utensílios que receberam de Lucius, não foi difícil conseguir, tiveram apenas o esforço mínimo de reunir galhos secos suficientes. A comida que carregavam estava longe de ser apetitosa, era uma mistura de alimentos em conserva, uma espécie nojenta de ração humana pronta e alguns outros tipos de suprimentos que podiam ser consumidos rapidamente, mas segundo o tio de Rick, quanto mais tempo passassem longe da civilização, mais iriam passar a apreciar aquelas coisas. Já para os Pokémon, que no momento se resumiam em Scyther, levavam a famigerada ração Pokémon.

– Nossa, que delícia isso aqui, em? – Ironizou Willian, enquanto mastigava de forma lenta e audível, deixando o desgosto estampado em sua cara.

– Nem me fale – falou Rick.

– Bom, pelo menos temos o que comer – disse Serena, tentando ser positiva. Em seguida ela analisou o ambiente ao seu redor e indagou – É uma sensação estranha estar num lugar assim no meio do nada. O que vocês acham?

– Acho muito foda! Claro que tem suas desvantagens, mas é realmente excitante pensar que vamos sobreviver por conta própria – respondeu empolgado o rapaz negro.

A pergunta fez Willian refletir um pouco, principalmente sobre sua mãe e as pessoas em geral que convivera em sua cidade, e enfim começou a falar com um olhar distante para o nada:

– Não sei até que ponto isso pode seguir sendo interessante, talvez uma hora canse e se torne um tédio, mas quando paro pra pensar em como estamos longe de toda aquela gente estúpida e covarde que prefere viver como ovelhas, eu me sinto muito mais confiante – então franziu um pouco o cenho, deixando aparecer uma suave ruga. - Às vezes tenho medo que eu apenas seja mais um idiota mentindo pra mim mesmo, mas por enquanto... Diria que é uma sensação de liberdade.

– Liberdade, hum? – Serena deu uma risadinha. – É, acho que isso tem a sua cara. Pra falar a verdade estar aqui me assusta um pouco, não dá pra não pensar nos perigos, e é esquisito ficar longe de casa, minha família não gostou nem um pouco da ideia, mas ao mesmo tempo é divertido estar com vocês, não é como se eu estive sozinha. Além disso, esse lugar é bastante bonito, o céu é incrivelmente limpo e dá uma sensação de paz que eu não me lembro de ter sentido. Claro que esse frio e esse monte de insetos malditos servem pra estragar tudo.

Willian se absteve de falar sobre sua família, mas Rick não perdeu tempo:

– Na boa, quando vejo vocês falando sobre família, eu sinceramente agradeço muito por ter sido criado por aquele bando de malucos da minha casa. Não queria admitir, mas... Vou sentir falta dos velhos.

Após alguns minutos, Serena decidiu tocar num tema que ainda não haviam discutido desde que saíram de Dalaron, e que certamente ainda os incomodava:

– A verdade é que... Queria que o Allan estivesse aqui – disse, numa voz um pouco melancólica.

– Tem razão, era muito bom zoar aquele estranho! – Falou Rick.

– Eu gostava mais quando ele te zoava... – Respondeu a menina, entediada.

– Nossa, o moleque acabou de sair e você já tá assim? – Desdenhou Willian, com um sorriso malicioso, arrancando risos de Rick.

– Vá tomar no cu! – Ela esticou o corpo e deu um pontapé no rapaz loiro.

– Calma! – Disse em tom de deboche – Se ele estivesse conosco, estaria dizendo que a sensação de estar aqui era indiferente, que conversar sobre isso é inútil ou qualquer coisa do gênero.

– Na verdade, acho que se ele estivesse aqui, não estaria dizendo absolutamente nada. Ele ficaria vegetando lá no canto como um autista – emendou Rick.

Naquele instante, ambos os garotos começaram a gargalhar. Serena tentou resistir, mas acabou cedendo e no fim estavam os três rindo juntos. Após os ânimos retornarem ao normal, ela continuou a dizer:

– De qualquer forma, espero que ele fique bem.

– Relaxa, o moleque é doido mas é zica, além disso ele está com o meu tio. Nós estamos sozinhos, nossa chance de se foder é muito maior que a dele, por isso é melhor a gente se preocupar com a própria pele – Rick disse de maneira confiante.

– Bom, ao menos nisso eu concordo com você... – Serena teve de contrariar a si mesma para proferir estas palavras.

– Cada um que cuide da sua própria vida, se o Allan quis seguir outro caminho é problema dele – Willian tentou ao máximo transparecer indiferença em sua voz, mas a realidade é que no fundo compartilhava do sentimento de Serena. Ele nunca se importou com a imensa maioria das pessoas, todavia ele sempre valorizou muito os poucos amigos que considerava, porém demonstrar esse tipo de coisa era algo que seu orgulho próprio o impedia de fazer.

O jovem ainda não havia liberado seu Pokémon para comer, a verdade é que ele estava um pouco receoso desde a sua primeira batalha, então finalmente reuniu coragem, despejou a ração Pokémon numa pequena tigela, e o soltou. O inseto verde apareceu encarando-o como de costume, e o garoto, após estuda-lo por uns instantes, ergueu a comida em sua direção:

– Acho que mesmo os psicopatas precisam se alimentar, certo? – Ele arqueou uma das sobrancelhas enquanto falava.

O Pokémon olhou para o conteúdo da tigela e continuou imóvel, diante disso Willian continuou com um braço estendido, ao tempo em que comia sua própria refeição com o outro, tentando parecer despreocupado. Depois de alguns segundos, o rapaz voltou a falar, mas dessa vez de boca cheia e olhando para o próprio prato:

– Bom, se você não se importa em morrer de fome, então o prob...

Antes que ele pudesse terminar a frase, uma precisa e afiada lâmina cortou a tigela em dois pedaços de maneira tão veloz que ela demorou um instante a mais para se dividir. Após isto, uma das partes permaneceu na mão do jovem e a outra caiu no chão, esparramando toda a ração. Os três humanos observaram perplexos àquilo, e o dono do Pokémon perdeu de vez a paciência:

– Você é doente?! Que porra foi essa? – Berrou Willian.

Scyther recolheu sua lâmina e passou a fitar incessantemente o topo das árvores, depois virou-se lentamente para a esquerda e deu dois curtos passos, posicionou o corpo à frente e realizou um longo salto em direção à uma delas. Naquele momento Willian levou um susto, já havia aceitado que seu Pokémon era desobediente, mas vê-lo fugir já seria demais:

– Ei! Onde você pensa que vai?! – Dessa vez o grito saiu ainda mais alto e furioso.

Mas a ação do louva-a-deus foi totalmente diferente, ele simplesmente parou, flexionou uma das pernas à frente da outra e disparou um potente e perfeito pontapé lateral contra o tronco do vegetal. A árvore balançou violentamente e dela caíram três Caterpie, uma espécie de Pokémon larva esverdeado, com círculos amarelos nas laterais e uma grande e brilhante antena vermelha.

O que iria acontecer a seguir era óbvio, Serena fez uma profunda cara de asco e bradou:

– Você não vai fazer...

Um seco e fulminante golpe, seguido de um gélido, agudo e angustiante gemido da larva, perfurou desde a traseira da cabeça, até o primeiro seguimento de patas de seu corpo, esparramando um repugnante líquido amarelado. A menina, que por mais que tivesse tentado fechar os olhos, não conseguiu desgrudar sua atenção da cena horripilante, deixou inconscientemente escapar um extremamente alto e estridente berro:

– QUE NOOOOOJO! – Sua expressão era de pânico.

Naquele exato minuto, uma das Caterpie restantes disparou de sua boca um longo fio de seda em direção a um tronco, e este a puxou rumo ao seu sentido, permitindo que desaparecesse de vista e escapasse, já a outra, que era significativamente menor, ergueu sua antena, que imediatamente passou a brilhar e exalar um absurdamente repulsivo e insuportável odor no ambiente. Devido a isto, Sctyher, que mantinha sua presa espetada em seu braço, saltou para longe e foi iniciar sua refeição, em contrapartida os garotos ficaram totalmente atordoados. Serena não suportou mais e vomitou tudo que havia ingerido, totalmente nauseada. Rick tapou o nariz com as duas mãos e disse um sonoro e sincero ‘’Puta que pariu!’’.

Os três correram para longe do acampamento empesteado com o mau cheiro. Willian, que até então manteve-se totalmente calado e atônito, soltou uma leve risadinha com o canto dos lábios e disse em tom de zombaria:

– Bom, pelo menos não vamos precisar nos preocupar em alimentá-lo... – Depois olhou de forma impassível para o pedaço de tigela em sua mão e o apontou para os amigos. – Ele podia ter ido caçar por conta própria se quisesse, mas precisava disso?

Serena fulminou-o com o olhar e disse de maneira muito agressiva:

– Muito obrigada por acabar com o meu jantar! – Willian deu de ombros, eximindo-se da culpa, e ela tornou a falar enfurecida – Nunca pensei que um dia eu fosse encontrar alguém que odiasse mais do que o Rick, mas o seu maldito Pokémon me fez esse favor! Tá explicado porque sua mãe nunca quis te entregá-lo!

Naquele dia Willian aprendeu que sempre devia libertar seu Scyther para que este pudesse se alimentar sozinho.

Depois que o odor horrível foi dissipado pelo vento e o acampamento tornou-se novamente habitável, eles retornaram ao lugar. No dia seguinte pretendiam seguir viagem logo pela manhã e por isso foram dormir cedo, desta forma os dois rapazes concordaram em dividir uma das barracas enquanto a moça ficaria com uma exclusiva para si.

A irritação de Serena dificultou seu sono por um tempo, mas logo o cansaço a venceu e ela dormiu pesadamente, tendo alguns pesadelos com insetos famintos durante a noite. Já Willian e Rick sofreram com a insônia, o primeiro por causa dos acontecimentos em relação aos seus pais que lhe martelavam a cabeça, e o segundo pela ansiedade de se tornar treinador.

O rapaz mais velho não ia revelar ao seu amigo, mas na realidade sentia inveja dele por ter conseguido um Pokémon tão forte, mesmo este sendo absolutamente desobediente e insano. Ele não queria nunca ficar para trás, precisava conseguir um Pokémon o quanto antes, aquilo não saia de sua cabeça, e só não tinha tentado uma captura ainda porque até aquele momento avistara somente espécies que ele considerou fracas como Pidgey, Rattata ou Spearow, além daqueles azarados Caterpie. Rick tinha noção que suas atitudes muitas vezes geravam repulsa de todos ao seu redor, mas para ele, demonstrar que era capaz de grandes feitos era algo essencial, pois todos em sua família pareciam se destacar de certa forma. Seu pai, Martin Simons, era absurdamente admirado na cidade por dirigir peças de teatro e atuar como humorista; Delia, sua mãe, comandava uma série de programas sociais e gozava de grande respeito; seu irmão mais velho Leonard, que sempre fora considerado o típico menino prodígio, havia se tornado jogador profissional de Baseball e tinha claramente um futuro promissor; fora seu tio Lucius que assumia um cargo importante dentro das ligas piratas. De fato ninguém nunca tinha ido diretamente a ele cobrar que conseguisse destaque, porém era nítido que as pessoas de fora o viam como ovelha negra daquela família, e isso aliado à sua já latente vontade de ser notável o tornava obcecado. Apesar disto ele não tinha dúvidas de sua lealdade para com os amigos, sobretudo Willian, do qual ele sempre admirou pela forma como conseguia simplesmente ignorar a opinião dos outros sobre si.

Rick se esforçava sempre para demonstrar aos amigos que mantinha sua autoconfiança. Naquele momento estava deitado com a nuca apoiada sobre os braços cruzados enquanto navegava em seus pensamentos, então finalmente sorriu para si mesmo, olhou para o lado, na direção do parceiro, e disse de um jeito esperançoso:

– Ae Will... – O garoto olhou para ele meio desatento. – Estou certo que isso tudo aqui valerá a pena, nós vamos chegar longe.

Primeiramente Willian ficou surpreso e fitou-o com os olhos arregalados, um tanto desconfiado, pois aquele não era o tipo de coisa que o outro costumava dizer, mas depois deixou um discretíssimo sorriso sincero escapar e respondeu:

– Hum! – O ruído foi afirmativo, depois ele virou a cabeça para o teto e fechou os olhos. – Vamos dormir logo, Rick.

O dia seguinte começou como o esperado, eles levantaram muito cedo, guardaram suas coisas e seguiram viagem. A noite de sono e o fato de terem sobrevivido ao primeiro dia da aventura serviram muito bem para que recuperassem o ânimo e abastecessem o otimismo.

Enfim alcançaram a Rota 1, que compreendia numa pista larga, perfeitamente asfaltada e de duas mãos. Para passar mais despercebidos, os três decidiram andar alguns metros afastados daquela estrada, que não chegava a ser movimentada, mas contava com alguns carros passando em ambas as direções.

Percorreram mais alguns quilômetros e, como ainda não haviam comido nada pela manhã, fizeram uma pequena pausa para lanchar. Havia uma grande e lisa rocha no local, portanto aproveitaram para utilizá-la como encosto. Sentaram-se e retiraram alguns pequenos pacotes de biscoito de suas mochilas, que podiam não ser suficientemente sustentáveis, mas sem dúvida eram o que possuíam de mais saboroso.

De repente, enquanto comiam, um veloz vulto surgiu de cima da pedra e caiu sem um mínimo de delicadeza sobre a cabeça de Serena, o que a fez arquear as costas, soltar um berro de susto e desespero, e derrubar o pacote que carregava. Antes que a comida atingisse o solo, o ser de alguma forma conseguiu agarrá-la, e de maneira ainda mais rápida saltou acrobaticamente para frente, dando três cambalhotas no ar antes de pousar suavemente com os dois pés unidos, de costas para o trio. As atenções imediatamente voltaram-se sobre a criatura, Willian e Rick encaravam-na com os olhos arregalados de surpresa, já a garota fazia o mesmo, mas com uma expressão de completo ódio. O ladrão, como se quisesse tripudiar de suas vítimas, virou-se na direção deles plantando bananeira. Nesta hora foi possível analisá-lo por completo, se tratava de um astuto Pokémon macaco, com uma pelugem púrpura, de altura no máximo mediana, braços e pernas curtas que pareciam desproporcionais ao tamanho da cabeça, que por sua vez tinha grandes orelhas e um curiosíssimo rosto que aparentava manter um sorriso travesso permanente, porém a sua característica mais peculiar era uma longa cauda que terminava em algo que lembrava uma grande mão de três dedos, e era esta parte do corpo que segurava o alimento roubado, ostentando-o como se fora um prêmio. O Pokémon bradou alegremente seu nome, como se anunciasse ao mundo que sua missão estava completa:

– AAAAIPOM!

– ARRRRGH! – O grito da menina se assemelhava a algum tipo de rosnado de um animal selvagem. – Seu bicho do caralho, é melhor devolver isso agora ou vou esmagar seu crânio como se fosse gelatina! – Terminou a ameaça num estado de espírito que beirava a insanidade.

Aquilo deixou o macaquinho ainda mais excitado, a irritação dos humanos o satisfazia muito mais do que o simples pacote de bolachas. Ele pulou e levou o biscoito à boca enquanto estava no ar, mas dessa vez aterrissou sobre a própria cauda, utilizando-a como se fosse seus pés. Serena não aguentou mais e partiu em disparada na direção de Aipom, mas quando este se preparava para fugir, a voz de Rick ecoou de forma firme e determinada:

– Espera! – A garota e o Pokémon pararam no mesmo instante, olhando meio confusos para o rapaz.

É verdade que Lucius havia dito que Tracey poderia lhes entregar seus primeiros Pokémon, mas Rick não aguentava esperar mais. Diferente dos outros que avistara, aquele Aipom parecia ser forte o suficiente, e capturá-lo sozinho seria um feito e tanto, uma bela prova de sua capacidade. Ele não ia deixar escapar uma oportunidade como aquela, portanto retirou sua pokébola do bolso e, com um sorriso confiante, apontou-a em direção ao seu alvo:

– Ae macaco, você será minha primeira aquisição!

Aipom olhou para ele desconfiado, ele não fazia ideia do que o garoto queria dizer com aquilo, pois era jovem e, devido à já longínqua proibição, jamais havia presenciado uma captura ou visto uma pokébola, mas logo se empolgou com o desafio, por isso inclinou seu corpo na direção de Rick numa instintiva postura de combate. Por outro lado, Serena não gostou nada da ideia:

– O que?! Você quer mesmo capturar um bicho desgraçado desses? – Disse de forma histérica e incrédula.

– Claro! Por que não? – Respondeu animado. – Agora é melhor você sair da frente...

O rapaz estendeu o braço livre, apontando-o para o primata, depois recuou rapidamente a mão que segurava a esfera até atrás da nuca, para que o arremesso saísse com a maior potência possível, em seguida atirou a pokébola contra Aipom.

A bola voou em alta velocidade, girando repetidamente sobre o próprio eixo e desenhando uma espécie de pequena parábola no ar, enquanto o Pokémon a observava muito concentrado, para que não falhasse no seu tempo de reação. Quando o objeto estava apenas a alguns poucos metros, o macaco, com grande destreza, utilizou seu rabo para impulsionar um salto, rodopiou no ar e, como se fosse um habilidoso tenista, rebateu a pokébola utilizando a ponta de sua cauda. A bola voltou ainda mais veloz para a direção do rosto do seu dono, pois havia acumulado a energia dos dois movimentos, mas dessa vez numa trajetória limpa e retilínea, o que obrigou Rick a se proteger com os dois braços unidos paralelamente.

Aquela reação por parte do Pokémon deixou Rick surpreso e um pouco frustrado, mas no exato momento que sua bola de captura atingiu o chão, uma voz desconhecida soou repentinamente:

– Hahaha, quem dera se fosse tão fácil assim! – A tonalidade era muito aguda e feminina, com um jeito descontraído e até certo ponto amigável, apesar de parecer um deboche.

Os três tomaram um susto e viraram imediatamente para procurar a autora da frase, a voz vinha de algum lugar um pouco atrás de onde estavam:

– Vocês não podem capturar um Pokémon antes de enfraquecê-lo – desta vez aparentava ser a maneira de um adulto explicando algo para uma criança.

Finalmente ela se revelou. Uma forma humana saiu sutilmente por detrás de uma árvore, com as duas mãos na cintura. Era um pouco mais velha que eles; tinha a pele muito branca; seu rosto era quase angelical, de traços delicados, nariz afilado, boca pequena e olhos expressivos da cor do mel; o cabelo era pintado de verde e ia até a cintura; seu corpo era baixo e não tinha muitas curvas, embora possuísse alguma formosura; vestia um leve vestido branco que lhe dava um certo aspecto de Lolita. Willian a encarou com uma das sobrancelhas levantada e a outra meio franzida, como se visse uma aberração, Rick a fitou impaciente e muito desconfiado, já Serena estava possessa demais com o pequeno macaco para prestar atenção na moça:

– Enfraquecer?! Que tal assim! – Berrou, completamente alienada do perigo que representava atacar um Pokémon na presença de estranhos, mesmo que esta aparentemente fosse familiar a caça das criaturas.

Ela pegou um grande pedaço de galho do chão, correu uns dois metros e o atirou violentamente contra Aipom. Este se surpreendeu e, quando a madeira ameaçadora estava a centímetros de distância, conseguiu se abaixar de reflexo, deixando escapar um gemido animalesco de susto. A outra mulher arregalou os olhos e levou a mão à boca numa encenação de expressão de espanto:

– Nossa, que bruta! Também não era dessa forma que eu me referia.

Serena, que já tinha seu pavio pulverizado há muito tempo, virou-se para a desconhecida:

– Cala a merda da sua boca!

Tanto Willian, que secretamente já estava achando aquela cena divertida, quanto Rick, que sempre teve um certo pavor de ver brigas entre mulheres, avançaram na direção da amiga para garantir que ela não terminasse por tentar espancar a outra.

– Gente, ela é sempre assim? – Disse a menina misteriosa, tentando parecer atordoada – Desculpe, não está mais aqui quem... Ops! – Depois torceu o canto da boca como que sentindo-se culpada e apontou delicadamente o indicador na direção em que estava o Pokémon. – Acho que o macaquinho... Fugiu.

Os três olharam instantaneamente para o outro lado e notaram apenas o vento onde antes estava o primata, e Rick fez uma cara de frustração:

– Êêê, cacete – sua voz saiu irritada e amargurada ao mesmo tempo.

A pequena mulher colocou as duas mãos abertas à frente da cara num sinal de perdão, então falou de forma transtornada:

– Olha, me perdoem pelos transtornos. Eu estava indo para Pallet até que o pneu do meu carro furou e eu tive de parar no acostamento. Eu não sei mexer muito bem nestas coisas, por isso pretendia pedir ajuda para alguém trocar, mas quando ouvi uma gritaria vinda daqui não pude deixar de conferir o que era. Juro que não tenho problemas com treinadores ou com captura, podem ficar tranquilos quanto a isto.

Willian virou o rosto pro lado e olhou-a com o canto dos olhos, como se extraísse atitudes suspeitas:

– Só não tem problemas? Do jeito que você falou antes, pensei que entendesse bastante sobre captura de Pokémon. De qualquer forma é uma feliz coincidência, estamos seguindo para lá também.

A moça sorriu timidamente e apontou o indicador para cima:

– Me parece que vocês estão a pé, certo? Então... Já que eu atrapalhei sua captura, que tal se vocês me ajudarem com meu carro e eu lhes dou uma carona para recompensar? – Não houve resposta, os três continuaram encarando-a com desconfiança, mas ela fingiu que escutou um ‘’sim’’. – Certo, meu nome é Rachel Lins, muito prazer em conhecê-los!


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