Pokémon: A Revolução escrita por Kaox


Capítulo 5
Um Presente Esquecido




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Escutar sobre uma surpresa deixou Willian incrivelmente curioso e alvoroçado, da forma que não ficava desde quando era uma criança esperando por seu presente de natal. Lucius os guiou até um lugar mais isolado, olhou bem para os quatro e notou o fascínio que demonstravam, então perguntou de forma curta e seca:

– O que acham de se tornarem treinadores?

– Seria incrível! – Willian respondeu quase no mesmo instante em que as palavras deixaram a boca de Lucius.

– Porra! Com certeza! – Reforçou Rick.

– Apoiado! – disse Serena, com menos entusiasmo que os primeiros, mas com muita obstinação.

– Isso seria... interessante – por último se pronunciou Allan. Em contraste com os demais, tinha dúvidas na voz, embora não demonstrasse medo.

Eles seguiram até a área administrativa, cruzaram uma porta bem trabalhada de madeira e entraram numa pequena sala, porém mais elegante que o resto da liga pirata. Ali haviam dois armários, algumas estantes repletas de pastas e livros, e, ao centro do espaço, um moderno computador sobre uma bonita mesa de mármore, onde um franzino homem idoso, de barba e cabelos brancos muito rareados, pele alva e bastante enrugada, porém que claramente conservava seu vigor e transparecia sabedoria através de seus olhos azuis muito claros, sentava-se na outra extremidade:

– Pessoal, este é o senhor Mario Heinz. – O homem fez um gentil aceno de cabeça – Ele comanda esta liga desde que foi criada, há treze anos atrás, e desde então trabalha integralmente para que as coisas aqui funcionem direito.

Os garotos o cumprimentaram muito educadamente, a mera presença daquele homem gerava respeito, mesmo dos mais desordeiros. Após isso Lucius virou-se para o comandante, com a expectativa estampada na cara:

– Estes são os garotos que mencionei, eles gostariam de se tornar treinadores, o que acha senhor?

O homem mais velho entrelaçou os dedos e repousou-os sobre a mesa, depois analisou cuidadosamente os adolescentes, por fim fez um sorriso gentil, mas que ao mesmo tempo não escondia a seriedade e disse com sua voz grave e penetrante:

– Hum, sabe garotos, ser um treinador nunca foi algo fácil, mesmo no auge desta prática muitas pessoas tão obstinadas quanto vocês acabaram desistindo no meio do caminho. Nos dias de hoje ser um treinador é um desafio para pouquíssimos, você carrega não apenas o peso de arriscar a vida todos os dias, mas de manter viva a honra e a glória da forma de vida seguida por algumas das mais corajosas e lendárias pessoas que já viveram. – Ele então fez uma pausa e respirou fundo – Será que vocês conseguirão trilhar esse caminho? Será que no fundo são realmente dignos disso? Eu sinceramente não posso dizer, mas são pessoas como vocês, que mantém os sonhos vivos, que me fazem querer continuar a lutar pelo que acredito. Ver jovens querendo se tornar treinadores na atualidade é motivo de grande orgulho para mim!

Heinz se ajeitou na cadeira, por um curto momento fechou os olhos e, alcançando alguma memória preciosa de seu passado, deixou escapar um sorriso genuinamente feliz. Então retomou a palavra:

– Se querem participar de nossas atividades, há três regras que jamais devem quebrar. A primeira é o cuidado, vocês jamais devem comentar sobre nós em lugares públicos ou na presença de pessoas que não confiam; a segunda é a lealdade, se forem presos ou coisa pior, vocês jamais devem revelar nossos detalhes; e a terceira e mais importante é a fraternidade, vocês devem sempre ajudar nossos treinadores que necessitem, se nós ainda resistimos, é porque permanecemos unidos! Vocês entenderam? – Todos confirmaram – Ótimo, então vou confiar em vocês.

Ele se levantou, caminhou lentamente até um dos armários e o abriu. Após remexer por alguns segundos numa das gavetas, retornou até a mesa com os dois punhos fechando-se sobre algo, e os depositou sobre a superfície. Quatro pokébolas rolaram suavemente, reluzindo sob a luz gerada pela pequena lâmpada que iluminava a sala.

– Sabe, garotos... –Mario fez uma cara um pouco triste e nostálgica – eu realmente gostaria que isso fosse feito à moda antiga, entregando pokémons de forma que cada um pudesse escolher com qual iria iniciar, mas infelizmente não temos condições para isso e vocês terão que se contentar com pokébolas vazias.

–Eu sei que é duro dizer isso, mas é tudo que podemos fazer por vocês no momento – interrompeu Lucius. – Pokébolas se tornaram muito raras desde a proibição de sua fabricação aqui em Kanto, por conta disso é caro adquiri-las e não podemos nos dar ao luxo de sair capturando pokémons a esmo. Estas que vocês estão vendo são contrabandeadas de Johto.

Cada um dos quatro pegou uma delas. Willian não se importava se teria de conseguir um pokémon por conta própria ou o que fosse, isso tornava as coisas até mais empolgantes, só de ter aquela oportunidade já estava completamente maravilhado. Ele apertou o botão ao centro daquela minúscula esfera e ela aumentou seu tamanho até ocupar inteiramente a palma de sua mão. Analisou-a bem, era uma bola metade branca e metade vermelha, com um círculo negro rodeando sua área mais larga e que contornava um botão branco. De fato, o garoto já havia manuseado pokébolas antes com seu pai, mas tinha muito tempo que não o fazia e esta, por estar vazia, era um pouco mais leve, pesando o mesmo que um limão.

– Garotos, – Mario interrompeu os pensamentos de Willian – nós fazemos um pequeno registro de nossos treinadores para que suas participações nos torneios sejam contabilizadas e para que consigam acesso às nossas ligas e seus serviços. Damos todo o suporte que podemos aos treinadores que reconhecemos, desde alimentação e hospedagem, até serviços médicos e itens que vocês necessitem, embora nem tudo estará sempre disponível e a maioria destes itens serão cobrados, pois não temos como nos manter sem dinheiro.

Os jovens deixaram seus dados requisitados numa das mesas da administração e retornaram à sala do comandante:

– Muito bem, minha equipe cuidará do resto, mas para ter acesso às nossas ligas, vocês necessitarão de um destes passes – ele mostrou um cartão que aparentemente não passava de um cartão de crédito comum. – Como vocês devem ter notado, eles são usados para abrir as nossas portas de segurança, e cada um possui a aparência de um cartão aleatório comum, para que não levantem suspeitas e para que não sejam prontamente investigados caso sejam descobertos por alguém. Os de vocês ficarão prontos amanhã, então pedirei para que retornem para pegá-los. Você providenciará isso, certo Lucius? – Este assentiu.

Lucius, desta vez deixando transparecer mais a sua simpatia pelos garotos, anunciou:

– Bom, pessoal, há mais uma coisa que quero lhes dizer. Amanhã, durante a noite, terei de partir para Celadon para tratar de alguns assuntos sobre a liga de lá, portanto infelizmente não poderei ajudar vocês nesse início de suas trajetórias, - Allan ficou particularmente atento ao escutar isto – mas eu conheço alguém que pode ajuda-los, um velho amigo meu, o senhor Tracey Sketchit. Ele trabalhou por anos com o grande professor Carvalho, até que o homem foi exilado pelo governo por supostamente ajudar treinadores, desde então Tracey assumiu o laboratório de Pallet e nos ajuda quando pode. As coisas são um tanto complicadas para ele, pois é espionado com frequência, mas estou certo que ele pode ao menos lhes conseguir seus primeiros pokémons e quem sabe ensinar algumas coisas.

– Certo, e como encontraremos ele? – perguntou Serena, desconfiada.

– Como eu disse, ele reside em Pallet, infelizmente não terei como lhes disponibilizar um veículo, por isso terão de ir pra lá caminhando. São três dias daqui até lá, posso aproveitar que voltaremos aqui amanhã e especialmente lhes deixarei alguns suprimentos e itens para que possam se manter.

– Por mim, fechou! – Rick falou em voz muito alta, esquecendo-se do respeito para com o comandante Mario.

– Vou escutar rejeições de certas pessoas lá em casa, mas não será problema para mim – disse Willian, deixando escapar uma discreta risadinha maliciosa.

Os jovens combinaram que partiriam logo no dia seguinte, depois que terminassem de pegar as coisas na liga. Por fim, Lucius completou:

– Certo, então avisarei Tracey de sua chegada. Peço a vocês que tomem cuidado com as estradas principais, pois elas estão cheias de porcos militares – o tio de Rick tirou um celular do bolso e apontou com sua outra mão para ele. – Vou deixar o número deste celular com vocês, este é um aparelho que usa uma linha confidencial, me liguem aqui sempre que precisarem. Se forem a alguma cidade diferente, vou sempre lhes dizer onde e quem procurar, obviamente não posso lhes deixar mensagens ou documentos com estes fins por razões de segurança.

Finalmente, os meninos foram embora e Lucius os conduziu sem problemas de volta ao supermercado Collins, onde cada um dirigiu-se à sua casa. Já era noite e Willian caminhava tão satisfeito com o dia que havia passado que simplesmente não reparava nada a sua volta, até que passou por um bar, onde várias pessoas se juntavam ao redor de uma televisão que transmitia uma repórter, com um prédio em chamas ao fundo, anunciando agitadamente:

‘’Um ataque terrorista foi realizado há poucos minutos, este já é o terceiro desde o fatídico acontecimento em Saffron que deixou sessenta e seis mortos e dezenas de feridos dentre humanos e pokémons. Desta vez o alvo foi a delegacia de Cerulean, ainda não há estimativas do número de vítimas e nem do prejuízo causado pelos criminosos. A polícia já tem certeza que os casos estão interligados e acredita que os ataques estão relacionados com os membros das ligas piratas e com os treinadores marginais que insistem em...’’

Nem se importou com o resto da reportagem, a irritação subiu por sua cabeça e ele saiu bruscamente, deixando escapar um rude estalo de língua, e seguiu seu rumo enquanto as pessoas do local trocavam olhares espantados e diziam coisas como ‘’Esses treinadores são horríveis’’ ou ‘’Espero que sejam todos presos e mortos’’. O rapaz não conseguia imaginar que esses ataques pudessem ser causados por pessoas como Lucius Simons ou Mario Heinz, mas forçou a si mesmo acreditar que pouco se importava, queria que toda essa gente que defendia o fim dos treinadores se fodesse.

Quando chegou em casa encontrou de cara sua mãe enfurecida lhe perguntando onde havia estado. Ele inventou uma desculpa esfarrapada e, depois de ouvir e fazer pouco caso de mais um sermão, trancou-se em seu quarto. Ali passou um longo momento comtemplando sua pokébola e, enfim, decidiu o que iria fazer no dia seguinte, seria mais fácil simplesmente sair sem falar nada à sua mãe.

Durante a madrugada, juntou tudo o que achava necessário e enfiou numa grande mochila, incluindo sua nova pokébola. O pai de Willian, por ser um cientista renomado, reuniu uma grande quantia em dinheiro, e o garoto sabia que uma parte deste montante estava escondida no porão de sua casa, portanto foi sorrateiramente até lá e pegou uma quantidade considerável da grana para si.

No dia seguinte, logo pela manhã, despediu-se discretamente de sua irmãzinha Lidia, deixando esta inocentemente curiosa. Dirigiu-se silenciosamente até a porta, mas quando estava saindo, escutou uma voz seca às suas costas:

– Onde você pensa que vai? – Sua mãe lançava um olhar assustador, uma mistura de raiva e desespero, que ele apenas havia visto no dia em que o informante do governo veio anunciar o desaparecimento de Anton.

– Eu vou... sair por ai – ele tentou manter a calma, já tinha passado por situações como aquela centenas de vezes.

– E o que é isso? – Ela carregava a pokébola vazia em suas mãos – Ela está vazia, não está? Onde conseguiu isso?!

Willian ficou branco, pela primeira vez em muito tempo as palavras sumiram de sua boca. Após encará-la duramente por dez segundos, ele disse furioso:

– E o que te importa?! Quem mandou você mexer nas minhas coisas!

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Elena, ela pensou em espancar o garoto ali mesmo, mas isso só o deixaria mais rebelde, depois pensou em levar aquilo até a polícia, pois ele precisava de uma lição, mas sabia que fazê-lo poderia sentenciar seu filho a um destino terrível, e por mais que ela estivesse com um profundo ódio, ainda amava-o, ela queria apenas protegê-lo.

Finalmente, fechou os punhos com muita força e se aproximou lentamente de seu filho, estendeu o braço direito para o lado e golpeou-o com um tapa forte e seco no meio de sua bochecha. O rosto do rapaz girou e ficou imóvel durante alguns segundos que pareceram intermináveis, até que ele fez uma expressão completamente furiosa e voltou a encará-la de maneira inexorável.

– Não adianta... você é como seu pai... – disse entre soluços.

– E o que você sabe sobre meu pai?! Você sempre foi uma covarde como todo o resto!

Elena engoliu sua fúria, devolveu a pokébola, agarrou a camiseta do jovem e falou:

– Eu jamais pude evitar isso... Venha comigo...

Aquilo pegou Willian completamente de surpresa, ele não entendia nada, sua raiva se embaralhou com sua confusão.

A mulher o levou até seu quarto, abriu um armário e começou a remexer na parte mais profunda, por fim pegou uma pequena caixa e a abriu com uma chave. Um pequeno e familiar objeto repousava sobre uma espuma vermelha, o garoto o pegou e rapidamente notou que seu peso era um pouco maior que o da outra... Aquela pokébola guardava um pokémon.

O adolescente encarou alternadamente sua mãe e o objeto, totalmente estupefato, até que ela rompeu o silêncio:

– Anton... Seu pai... No dia em que saiu, ele me pediu para te entregar isso – ela disse olhando amarguradamente para baixo.

– Caralho! Porque? Porque você nunca me disse? Que direito você tinha de me negar uma coisa dessa?! – Willian estava completamente possesso, não lembrava de ter se sentido assim durante toda sua vida.

– Porque? – Elena voltou a chorar, dessa vez de forma incontrolável – Porque eu te amo! Naquela vez eu sabia... sabia que ele não ia mais voltar! Eu havia perdido meu marido, não podia arriscar perder meu filho também! Eu queria te proteger, Willian!

Willian ficou paralisado, não sabia o que fazer ou dizer, percebeu que ele próprio estava lacrimejando. Soltou os braços paralelamente ao corpo, com a esfera firmemente empunhada, e, sem dizer mais nada, deu as costas e correu para fora da casa.

Quando finalmente havia recuperado o autocontrole, entrou em um beco deserto e atirou a bola ao chão. Ela se abriu e uma luz vermelha se espalhou, revelando um enorme louva-deus esverdeado, de pouco mais de um metro e meio, com braços em forma de lâmina, um par de asas pontudas e o rosto apontado para o chão. Lentamente ele começou a olhar para cima, até que seus olhos negros, orgulhosos e destemidos encararam seu novo treinador. Ele então anunciou seu nome de maneira enfurecida:

– SCYYYY-THEEEER!


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