Era por volta das duas da manhã quando saí de casa para ir buscar o Maikon e a Melanie, eles estavam em uma festa dos amigos. O Maik com seus 15 anos já tinha o corpo bem formado e na noite anterior surpreendeu a todos, dizendo que queria ser professor de matemática. A Mel tinha milhares de garotos aos seus pés, mas nem ligava para os romances, estava mesmo preocupada em entrar para Harvard, queria medicina, igual ao pai, eles eram muito ligados.

— Até que enfim! - resmungou Maikon quando estacionei o carro em frente a casa em que estavam.

— De nada - reprovei a ação dele, que sorriu em seguida.

— Ele está irritadinho hoje - Melanie explicou sentando no banco traseiro.

— Desculpa - abaixou a cabeça - aquela garota me deixa louco - apontou no retrovisor para que eu visse. Devia ter seus 15 anos também, loira, baixinha, olhos castanhos.

— Muito bonita, Maik - eu disse dirigindo para nossa casa. Dallas estava mais quente que o normal.

— Nem me fale - suspirou - mas ela não gosta de mim.

— Como sabe? Ela disse pra você? - perguntei sorrindo. Adolescentes são sempre tão intensos.

— Eu já disse isso pra ele, mãe - Melanie bufou - não vai matá-lo ir falar com ela.

— Vocês não sabem nada sobre o que é ser homem - ele fechou a cara e nós duas rimos.

— Querido, eu já tenho 35 anos - suspirei - sei muita coisa sobre relacionamentos.

— Está bem - jogou as mãos para o alto em forma de rendição - vou falar com ela amanhã.

— Esse é o meu irmão! - Mel comemorou. Começamos a rir.

O Neitan estava trabalhando no hospital onde minha mãe trabalhava, agora ela estava aposentada e curtindo a velhice com o marido.

— Mãe, quando vamos ir pra California City? - Maikon perguntou entusiasmado. Eles amavam a fazenda. Eu que estava cuidando do negócio do papai.

— Assim que seu pai entrar de férias - respondi sorrindo.

— Então já é na semana que vem - arregalou os olhos - vou arrumar as minhas coisas - desceu correndo do carro quando chegamos em casa.

— Cuidado aí! - ouvi Neitan gritar para o Maikon, que pediu desculpas.

— O tio Kenedy vai estar lá também? - Mel perguntou com os olhos brilhando.

— Vou ligar pra ele ir.

— Obrigada, mãe - agradeceu e também correu para dentro de casa.

— O que deu neles? - meu marido perguntou quando me viu entrar.

— Foram fazer as malas - nós rimos - amor, tem como você conversar com o Maik?

— Sobre? - me puxou para o sofá, fazendo deitar em seu colo.

— Ele gostando de uma garota e não tem coragem de conversar com ela. Disse que vai falar, mas eu não acredito muito nisso - Neitan sorriu e assentiu.

— Medo de rejeição - beijou meu pescoço - puxou para o Nick.

— Nossa - encarei-o - como eu pude me casar com um cara tão convencido? - brinquei e ele gargalhou.

— Você tem um coração bom - fingiu estar sério, foi a minha vez de rir - eu vou lá, já volto - assenti.

Não tivemos mais filhos, primeiro que já foi difícil fazer faculdade cuidando de dois e segundo que com a correria do dia a dia, optamos por ter só os gêmeos mesmo.

Deitei no sofá e acabei cochilando, quando acordei, estava no meu quarto, deitada ao lado do marido mais lindo do mundo. Ele me observava com interesse.

— Então? - perguntei fechando os olhos novamente.

— Amanhã vai estar todo mundo no clube, ele vai chegar nela - abri os olhos e sorri.

— O melhor pai - cheguei mais perto dele e encostei a cabeça em seu peito.

— É complicado pra mim.

— Como assim? - perguntei levantando a cabeça para encará-lo.

— Difícil competir com a melhor mãe do mundo - respondeu sorrindo.

— Bobo - virei de lado e ficamos deitados conversando até o sol nascer.

Não cheguei dormir nem 4 horas e já fui acordada com um berro na cozinha. Sem pressa, coloquei meu roupão, chinelo nos pés e caminhei até lá.

— O que foi? - perguntei ao ver a Melanie sentada no balcão com uma carta na mão.

— Fui convidada para fazer uma visita em Harvard! - ela veio me abraçar - Harvard, mamãe! Acredita? - estava tão feliz.

Não pude deixar de sorrir, Harvard foi minha casa e a do Neitan também, ela iria amar Cambridge e o campus.

— Que bom, filha! - beijei sua testa e ela logo correu ao ver o pai descendo as escadas de jaleco.

— Olha, pai! - deu a carta para ele, que sorriu assim que entendeu o que era.

— Você vai amar - abraçou-a de lado - preciso ir, mulheres da minha vida - Maikon apareceu no topo da escada - e homem, claro - todos rimos e ele foi trabalhar.

— Estou pronto - Maik disse para mim. Assenti e fui trocar de roupa.

O clube não era longe e assim que chegamos, a garota estava na entrada, segurando sua mochila e com um sorriso no rosto.

— A loira já está ali - apontei enquanto ele olhava para atravessar a rua, ela percebeu que estava falando dela e acenou pra mim.

— É Vivian, mãe, o nome dela é Vivian! - bufou me fazendo rir.

— Oi, Vivian! - gritei do carro e ela sorriu.

— Oi, senhora Dylan! - respondeu educadamente. Maikon me lançou um olhar assassino e eu entendi o recado - se divirta, querido! - ele ficou vermelho.

— Mãe! - fechou a cara, eu ri. Percebi que a Vivian também estava rindo.

Dei partida no carro e fui pra casa. Tinha um bilhete na geladeira da Melanie, dizendo que tinha saído com o Ryan mas não ia demorar. Ela amava ele, mas negava até a morte.

Limpei a casa e fui cuidar das finanças do papai, que agora também eram minhas. Eu era veterinária mas alguém tinha que fazer contas, nem ligava, gostava muito de exatas, desde sempre.

Tomei um banho e fui buscar o Maikon que tinha mandado uma mensagem, pedindo para buscá-lo.

— Ela é incrível - entrou sorrindo no carro.

— Viu? Não doeu - sorri e ele assentiu.

Estávamos todos jantando, quando de repente, Maik disse:

— Só tem um problema - franziu o cenho - ela é a garota do coração de gelo.

Eu e o Neitan rimos. Aquela frase já foi muito usada para se referir à mim.

— A sua mãe também era - Neitan explicou o motivo das risadas - mas ela está comigo hoje.

— Ela vai gostar de ser surpreendida - disse comendo. Vi o Neitan me encarar, estava sério - o que foi?

— Por que não me disse antes que gostava de ser surpreendida? - todos rimos.

E foi assim a noite inteira, ficamos contando de como nos conhecemos e tudo o que passamos, menos a parte do Nick, porque ninguém queria ficar lembrando desses momentos.

— Então eu também posso conquistar aquela garota - Maikon disse firme. Estava determinado.

— É claro que pode - Melanie disse e deu um beijo no rosto do irmão. Eles se davam muito bem.

— A garota do coração de gelo - Neitan sussurrou no meu ouvido e eu sorri.

Como um filme, lembrei de tudo o que vivemos. E se quer saber, eu com certeza viveria tudo de novo.