Não Me Julgue. - HIATUS escrita por Eu-Pamy


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo


Eu ia postar hoje cedo, mas tive que sair. Esse capítulo nem é tão importante, só serve para vocês conhecerem um lado diferente dos meus personagens.



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Caminhou alguns quarteirões até uma livraria 24 horas e entrou. Um sininho tocou quando adentrou o excêntrico local, avisando ao dono da loja que havia um novo cliente. A arquitetura do comércio era diferente de tudo que Jarrell já tinha visto. As paredes eram de pedra, lembrando uma caverna. O chão era de madeira escura e estava desgastado. As mesas e as cadeiras eram velhas e de tonalidade vinho, o sofá de couro marrom estava desbotado e havia grandes colunas de livros amontoados e espalhados pelo chão e sobre as mesas, quase que em completo desmazelo, já que todas as prateleiras estavam lotadas. E também havia um odor forte de mofo espalhado pelo ar, típico de lugares sem ventilação, que no inicio era incômodo, mas que com o passar do tempo se tornou uma caraterística daquele lugar. Qualquer um que não estivesse acostumado acharia que seja quem for o dono daquele moquifo, era extremamente desorganizado e irresponsável, mas o que eles não percebiam era que toda essa aparência desgastada da loja era proposital, porque quando uma pessoa gosta mesmo de livro, tanto quanto o senhor Takumi, não liga se o livro está com as folhas amarelas ou se foi comprado em uma caverna. Então se uma pessoa se sente incomodada com a aparência daquela livraria, é porque não deveria estar ali - pelo menos é assim que Takumi, o velho amante da literatura, pensa.

A primeira vez que Jarrell estivera ali se perguntou qual o sentido de ter uma livraria funcionando vinte e quatro horas por dia. Se alguém quer ler algo de madrugada não saí de  casa para comprar um livro e sim tenta encontra-lo na internet. Só foi entender o motivo quando no final do bimestre seu professor lhe disse que fizesse um trabalho de recuperação dentro de uma semana sobre a obra de um autor desconhecido na história do nosso país, mas Jarrell deixou para fazer no último dia. Procurou em tudo que é site e não encontro. O livro parecia simplesmente não existir. Ficou desesperado, iria repetir o ano se não o fizesse. Então foi quando se lembrou dessa livraria, correu para cá, comprou o livro e o leu por toda a noite, devorando cada palavra, até que o dia nasceu e teve que ir para a escola. Havia acabado de chegar na metade do livro. Não tinha como fazer o trabalho. Tentou explicar isso ao seu professor, mas este desconfiado não aceitou as suas desculpas, dizendo-lhe que o menino nem ao menos tinha tentado fazer o trabalho que ele lhe havia passado. Furioso com a acusação, Jarrell se levantou e caminhou até a frente da sala, e simplesmente começou a narrar todos os capítulos que tinha lido até então. Ficou toda a aula falando, sem ser interrompido, tanto professor quanto alunos ficaram chocados demais para tomar alguma atitude. Acabou que no final recebeu um seis naquela matéria e conseguiu passar de ano, recebendo muitos elogios do seu professor quando a aula terminou. Mas quando chegou a casa naquele dia, caminhou direto para o quarto, abriu a mochila e retirou o livro, começando a ler de onde tinha parado. Jarell havia ficado fascinado por cada novo acontecimento daquela intensa ficção. Uma semana depois voltou àquela livraria e comprou mais um livro daquele mesmo autor, o segundo livro da sua vida, porém, não o último.

Desse modo percebeu que mesmo com todo o avanço tecnológico era sempre bom manter antigos hábitos por perto, em casos de emergência.

– Boa noite Marta. - Falou com educação, observando a morena dos olhos puxados contar o  dinheiro da caixa registradora, preparando-se para se recolher.

Marta era a única filha do senhor Takumi, um egocêntrico japonês de humor afiado apaixonado por literatura grega, que largara o país aos quarenta e dois anos para se aventurar com a sua família a viver na América Latina, onde diziam que um pai solteiro poderia encontrar mais conforto para criar sua filha recém-nascida.

– Que a sua seja bela e colorida também. - Riu, os olhinhos quase se fechando completamente. Em seguida lhe entregou três grossos livros. - Papai disse que talvez você pudesse se interessar. - explicou.

Os três livros que Marta entregara eram: “Os filhos da Meia-Noite”, por Salman Rushdie, 1981. “O Capital”, por Karl Marx, 1867. “O Som e a Fúria”, por William Faulkner, 1929.


Eu fiquei sabendo que ele contratou um ajudante, mas o sujeito ficou doente. - pausou - Então sobrou para você?

Marta riu com sarcasmo.

– E quando é que não sobra pra mim? A corda arrebenta sempre para o lado mais fraco, não é o que dizem?

– É. - concordou. - Mas você não acha perigoso ficar cuidando desta livraria a noite inteira sozinho?

– Oi? Eu escutei direito? Isso na sua voz é preocupação? Nossa, é melhor você parar de falar assim, porque alguém que não te conhece pode escutar e achar que você tem um coração, e sabemos que você prefere morrer a ter esse segredo revelado.

– Deboche o quanto quiser, mas o que estou dizendo é verdade. Tem muito maluco andando pela cidade a noite, nunca se sabe quando um deles vai aparecer.

– Eu sei disso, tem um bem aqui na minha frente falando comigo agorinha mesmo. - Jarrell sorriu com a provocação - Mas relaxe garotão, eu sei me defender.

– Ah é? - Achou que fosse piada.

– Sim! Porque? Está querendo testar?

– Não, não sargentona, obrigado. - Levantou as mãos e negou com a cabeça. - Eu acredito no que você diz. Mas só por curiosidade, o que você faria se um louco entrasse aqui armado e tentasse te atacar?

– Faria o mais sensato: Daria um chute nas bolas do desgraçado para que assim ele nunca tivesse filhos!

Jarrell riu.

– E você acha que só isso vai pará-lo?

– Funciona com os caras que ficam me perseguido nas baladas. - Brincou.

– Mesmo assim eu acho perigoso.

– Porque sou mulher?

– Não! Eu não disse isso! Não interprete mal as minhas palavras!

– Não interpretei mal! Admita: você é um machista!

– Claro que não!

– É sim!

– Bom, talvez, mas só um pouco.

– Não existe pessoas “só um pouco machistas”, como não existem “só um pouco suicidas” ou “só um pouco ladrão”! Já imaginou um cara dizendo: "É, eu matei fulano de tal sim, mas sou só um pouco assassino!"? Isso não existe! Ou você é ou não é, não existe meio termo!

– Ok, ok. Nossa como você é dura na queda! Deve ter alguns genes ninja no seu sangue japonês, só pode!

– Mais um motivo para você não se preocupar, eu me viro. É mais fácil que eu morra de tédio essa noite do que baleada por um assaltante! - Suspirou - Mas então, o que você achou dos livros?

– São excelentes. Seu pai tem um ótimo gosto.

– É, quando se trata de livros, ele é o melhor. Pena que é só com livros. - resmungou.

– Mas eu acho que não tenho dinheiro para pagar os três. - admitiu.

Marta saiu detrás da caixa registrado e se aproximou do moreno que era bem mais alto do que ela. Era uma mulher de vinte e quatro anos, mais qualquer um que a visse daria bem menos.

– E quem foi que falou em dinheiro? - Deu dois tapinhas amigáveis no seu ombro - É só devolve-los intactos depois!

Jarrell sorriu grato.

– Negociando desse jeito vocês vão acabar indo à falência.

Marta pareceu indiferente ao seu comentário, caminhou até o sofá perto das enormes estantes cheias de livros e se sentou.

– E a Terra continuará a girar.

– Não entendi. - confessou, franzindo o cenho.

– Claro que não, bobinho. - riu-se - É inevitável.

– Nossa hoje você acordou mais implicante do que nunca. O que aconteceu? Brigou com o namorado?

– Não, lerdinho, você não entendeu. E não, eu não briguei com o Rafa, estamos muito bem. Obrigada. Quando digo que é inevitável não me estou referendo a sua inevitável dificuldade de entender as minhas metáforas, mas me refiro a inevitável falência desta, sejamos sinceros, porcaria aqui. - Ela apontou a sua volta.

Jarrell se sentiu confuso, sentando-se no sofá.

– Você está dizendo que--

– Não! Eu não! Por Deus! Ai de mim dizer algo assim! Eu só estou constatando a realidade! Ninguém mais que você sabe quanto tempo da minha vida eu dediquei a essa caverna pré-histórica! Mas sejamos francos, ninguém mais se interessa por livros hoje em dia, é um mercado que só tende a diminuir, como as lojas de CD's ou as bolsas para homens. É ultrapassado. Temos que aceitar isso, os tempos são outros. Insistir num erro não é prova de determinação, é burrice.

– Mas e o seu pai? Ele ama esse lugar! Isso é a vida dele! Ele lutou muito para construir todo esse patrimônio, você não pode simplesmente fechar a loja!

– Meu pai terá que entender.

– Mas os livros são tudo para ele.

– Jarrell, querido, você é novo demais para entender. Um negócio não funciona só por força de vontade. Se fosse assim eu seria dona do McDonald's! Nós precisamos ganhar dinheiro, se não como é que iremos pagar os custos? E acredite: essa caverna ultrapassada que vocês chamam de livraria tem muitos custos e quase nenhum lucro! Só o que gastamos com luz todos os meses é um absurdo! É besteira continuar com isso.

Jarrell ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo a novidade.

– E o que acontecerá com vocês depois que a loja se fechar?

– Eu terei tempo para terminar minha faculdade de engenharia e meu pai finalmente poderá cuidar da sua saúde e descansar. Você sabe: depois que apareceu esses problemas na coluna dele, papai vive cansado, mas nunca tem tempo para repousar porque está sempre muito ocupado cuidando desses livros velhos e empoeirados! Agora isso vai mudar. - Havia satisfação na sua voz.

– E do que vocês vão viver?

– Eu sou jovem e inteligente, vou encontrar um emprego, papai é aposentado e temos um dinheiro guardado. Não se preocupe conosco. Ficaremos bem, a família Nishimura é conhecida internacionalmente pela sua garra e resistência! Nada é capaz de nos derrubar.

Jarrell olhou para a pequena livraria. Lembrava-se de fugir de casa centenas de vezes na madrugada para ir para lá. Juntava dinheiro por semanas, pegando todas as moedas que o pai esquecia pela casa, somente para poder ter o prazer de ler um novo livro aquecido pelos lençóis de sua cama. Cresceu junto com aquela livraria, vendo novas estantes serem compradas, as paredes mudarem de cores, novos clientes aparecerem. Tinha aprendido mais ali do que em qualquer outro lugar. Fizera amigos, conhecera lugares, lendas, culturas diferentes, tudo sem sair daquele sofá.

– Vou sentir saudade de tudo isso... - Desabafou.

– Nós também, querido.

Marta admirou a beleza daquele menino. Não sabia apontar o que o tornava especial, diferente dos outros, pois não era um detalhe em particular, era o conjunto todo. Tudo nele parecia cintilar, como se ele fosse o seu próprio sol. Dono de uma beleza agressiva e ao mesmo tempo delicada como o cristal. O tipo de beleza que instiga; que tira o fôlego. Seu corpo era alto e magro, bem feito, como o de um nadador profissional, sem nenhuma imperfeição. Sua pele lisa era macia como a de um bebê e tão branca que chegava a impressionar. Talvez fosse o nariz pequeno e fino, a boca delicada e naturalmente rosada, as sobrancelhas desenhadas, o cabelo negro e liso, as maçãs do rosto avermelhadas pelo sol, dando a impressão de estar sempre corado, ou o sorriso irônico e perturbador que herdara da mãe. Ou talvez fossem o formato do rosto másculo, o queixo quadrado ou os olhos negros, sempre irônicos, capaz de atravessar o corpo e a alma de uma pessoa com uma simples troca de olhares, olhos caçadores – herdados do pai -, que sempre fingem se interessar pelo que você está dizendo, mas que na verdade não estão nem aí; ou talvez fosse a sua voz rouca, seu estilo desleixado e o jeito com que ele brincava de fingir ser malvado que o tornavam tão irresistível. Sonho de consumo para todas as garotas. Pena que era apenas isso: um sonho. Porque não importava quanto uma garota se mostrasse interessada, ele sempre se mostrava indiferente, como se ninguém fosse boa o suficiente para seus gostos.

Marta jogou o pensamento para longe. Finalmente tinha encontrado um cara legal, não podia mais sofrer por aquele garoto oito anos mais novo que ela.

– Você está bem? - Ela segurou a sua mão. O moreno assentiu. Marta sentiu a tensão no ar, então decidiu suavizar um pouco as coisas, mudando de assunto. - Eu ouvi falar que está tendo show no centro essa semana. Pensei que não te veria hoje por isso. Eu até que gostaria de ir, mas você sabe, responsabilidade vem em primeiro lugar! Ah é, me desculpe, você não sabe. - Riu - Então, tinha muita gente?

– Eu não fui.

– Não? E porque não?

– Tive um dia ruim.

Marta o encarou séria, preocupando-se, mas tentou soar divertida.

– Provavelmente é mais uma bobagem de adolescente! Vocês jovens fazem novela com tudo. Não sabem a sorte que tem. Isso sim! Eu daria tudo para ter dezesseis outra vez!

– Nossa, e quantos anos você tem vovó? Sessenta?

– Não, tolinho, cinquenta e nove! - ironizou

Jarrell riu.

– Eu não te daria mais de quarenta. - Recebeu um soco no ombro como resposta.

– Mas falando sério, o que aconteceu?

– Nada.

– As pessoas não tem um dia ruim por nada.

– Eu tenho.

– Bom, então vou tentar adivinhar. Você brigou com o seu pai?

– Não.

– Problemas na escola?

– Sim, mas isso é normal.

– Está devendo dinheiro para um traficante?

– Não.

– Então não me diga que você engravidou uma menina?!

O moreno gargalhou.

– Não. Definitivamente não é isso.

– Então o que é?

Respirou fundo antes de contar.

– Meu amigo...

– Marc?

– E desde quando eu tenho outro?

Marta deu de ombros.

– O que tem o seu amigo?

– Ele vai transar com a namorada dele.

Ela esperou que ele completasse a frase. Imaginou que ele iria dizer algo horrível como: "Ele vai transar com a namorada dele sem usar camisinha" ou "ele vai transar com a namorada dele sem a permissão dela", mas Jarrell não disse mais nada.

– E o resto? É só isso? - ficou confusa.

– Não há resto.

– Hã? E o que isso tem demais? Quer dizer, eu não quero estragar o seu conto-de-fadas, mas aqui no mundo real as pessoas, principalmente aquelas que namoram, transam! E, nossa, como transam! Isso é completamente normal, meu bem!

– Eu sei disso! Não sou nenhum tapado!

– Então qual o problema do seu amigo transar com uma garota? Não venha dizer que ela tem alguma doença sexualmente transmissível, ou pior, ele tenha?!

– O Marc não é doente! Ele é virgem!

De repente tudo pareceu claro para a curiosa japonesa.

– Ah, já entendi tudo. Eu sei exatamente o que está acontecendo com você. Já passei por isso.

– Já?

– Sim. Acho que todo mundo passou por isso alguma vez na vida, uma hora ou outra. É totalmente compreensivo. Sei como você está se sentindo. Comigo foi um pouco diferente, mas não muito. Quando eu tinha onze anos eu tinha uma amiguinha chamada Larissa, ela era a minha vizinha e nós duas éramos unha e carne. Um dia a Larissa foi a minha casa e disse que tinha uma novidade para me contar, a novidade era que ela tinha menstruado pela primeira vez. Nossa você não sabe como eu me sen--

– Ei, ei, ei! Tá maluca? O que isso tem a ver comigo? - Ficou assombrado.

– Eu só estou dizendo que é normal nos sentirmos mal quando algo bom acontece primeiro com uma pessoa e demora para acontecer conosco.

– Que?

– Não precisa se envergonhar. Muitos homens demoram para perder a virgindade e isso não diminuem quem são, só prova que cada pessoa é diferente da outra, o que nos torna especiais e únicos.

– Ai não, você não está mesmo pensando que eu... - Começou a gargalhar, sem aguentar se conter.

– Jarrell, quando é que você vai parar de fingir que não tem sentimentos? Tá na cara que isso está te incomodando. Lhe faria muito bem admitir, botar para fora! Pare de rir, isso não tem graça! - Ficou incomodada.

– Eu não acredito em você! - seus olhos começaram a lagrimejar de tanto rir.

– Deveria, eu sou uma ótima conselheira. - Pareceu ofendida.

– Não! Estou falando que não acredito que você foi capaz de achar que eu ainda sou virgem! Minha nossa, eu nem lembro quando foi que eu perdi a virgindade, muito menos o nome da garota! Acho que foi bem antes de eu entrar na pré-escola - exagerou - Como pôde passar pela sua cabeça algo assim? Por acaso eu tenho cara de um nerd que não consegue transar? - Riu mais - Você é uma figura! Imagino que também está achando que eu estou com inveja do Marc, não é?

Marta ficou envergonhada.

– Bom, eu...

– Isso porque você não viu a namorada dele! - Parou de rir - Eu jamais gostaria de ficar com aquela vareta de nariz empinado! Prefiro ser jogado em um caldeirão e ser obrigado a mexer a água quente enquanto sinto minha pele cozinhar! Ela é tão baranga, mas tão baranga que o espelho dela cometeu suicídio mês passado! Aquela loira oxigenada é tão metida e fingida quanto o bairro inteiro onde ela mora! Só porque é riquinha acha que pode mandar e desandar em todos! Como eu poderia querer uma garota assim? Como? Me fala?! Eu-eu--

– Ei, ei, calma garotão, foi só um errinho leve. - Jarrell a fitou zangado - Ok, um erro grave, mas relaxe, eu já entendi. Você não está com inveja.

– Nem um pouco! - Deixou claro.

– Mas então porque você fica tão nervoso quando fala disso?

– Como é que eu vou saber?

Marta respirou fundo e pensou na explicação mais razoável.

– Bem, talvez você esteja ansioso pelo seu amigo. Preocupado. No fundo você só quer que tudo dê certo, mas não consegue parar de pensar em como ele ficará arrasado se algo der errado, o que te deixa aos nervos. Porque é óbvio que você só quer o melhor para ele e que existe muito carinho entre os dois.

– É verdade. - Jarrell sorriu sem perceber na última frase.

– Essa vai ser uma noite muito especial para o Marc, talvez, arrisco até a dizer que a mais especial da vida dele, entretanto a única coisa que você pode fazer é ser um bom amigo e torcer por ele. Perder a virgindade não é um bicho de sete cabeças, você deve saber. Amanhã de manhã você verá: tudo voltará ao normal, como sempre foi. Claro que ele pode ficar ainda mais próximo da namorada depois dessa noite, mas isso é normal. Vocês não vão deixar de ser amigos por causa disso. Eu lhe garanto.

O moreno olhou para o relógio de pulso que marcavam 03h20min da madrugada.

– Você está enganada, Marta. - Se levantou ostentando a expressão gélida - Essa noite já foi muito especial para ele.

– Já vai? Pensei que você ia bancar o meu cão de guarda até o dia nascer como de costume.

– Você disse que sabe se defender, esqueceu? Se algum maluco vier te encher é só usar os seus genes ninjas ou dar um chute no meio das pernas dele. Aposto que isso irá funcionar. - Foi irônico.

– Concordo, se eu sobrevivo a você, sobrevivo a qualquer coisa.

– O sentimento é recíproco.

Sorriu e saiu da livraria. A loja não ficava longe da sua casa. As ruas estavam escuras e desertas. A cidade parecia completamente abandonada, e por mais absurdo que fosse, a preferia assim.

Quando chegou subiu as escadas e foi para o quarto. Ligou a luz, se sentou no chão perto de sua cama e levantou o colchão. Havia dezenas de livros escondidos ali. Colocou os três livros emprestados juntos com os outros e abaixou o colchão. Sentou-se em sua cama de solteiro e ficou em silêncio, pensando em muitas coisas. Só foi dormir quando o dia começou a clarear.

Samuel acordou cedo naquele sábado. Tinha compromissos importantes na delegacia que nem mesmo no final de semana podia adiar. Algumas coisas devem ser feitas mesmo contra vontade; era assim que pensava.

Desligou o despertador e foi para o banheiro. Quando saiu do banho, se vestiu e saiu do quarto. Estava indo para a cozinha quando passou pela porta do quarto do filho. Não havia o visto chegar a casa.

Ficou parado na frente da porta, tentando escutar alguma coisa.

"Será que ele está bem?" - Perguntou a si mesmo.

Era difícil para Samuel, como pai, ver Jarrell se minimizar daquela maneira. Sabia que o menino tinha potencial, mas não entendia porque ele negava isso, agindo como uma criança manhosa que chora por atenção. Ele deve achar que é fácil ser pai solteiro, deve achar que é o único que sente a falta da mãe dele. Isso não é verdade! Samuel sabia bem o quanto sofreu calado todo esse tempo, todos esses anos! E por quê? Porque ele tinha que ser forte, forte para criar Jarrell. Samuel teve que abrir mão do seu luto, da sua dor por causa desse menino! E ele ao menos reconhece isso? Claro que não! É um egoísta irresponsável, mais um dessa nova geração. E pensar em todo o tempo que Samuel perdeu tentando o educar... Tudo foi inútil. Não existe esforço que concerte o caráter ruim de uma pessoa. Se alguém nasce podre, então será sempre podre!

Colocou a mão na maçaneta, pensou em abrir e ver se ele estava no quarto, mas logo desistiu e foi trabalhar.


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