Não Me Julgue. - HIATUS escrita por Eu-Pamy


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu escrevi os outros quatro capítulos em um caderno, então acho que esses eu irei postar logo.



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Lá estava ele, Marc Miller. Um metro e oitenta e três centímetros, setenta e dois quilos, ruivo, olhos esverdeados e levemente repuxados nos cantos dando a impressão de um falso parentesco asiático; corpo malhado e bronzeado, pele sedosa e incrivelmente bem conservada do sol, sem nenhuma cicatriz ou imperfeição; olhar gentil e sorriso juvenil, fazendo de um rosto já jovem ainda mais infantil. Queixo quadrado e nariz fino, sobrancelha grossa e bem delineada, maçãs do rosto rosadas como a de uma criança feliz. Sim, ele era bonito. Qualquer um poderia dizer. Tanto tempo gasto em academias e praticando esportes não fora de todo mal gastos, afinal.


Seus grandes braços estavam escondidos, cobridos pela enorme beca azul-escuro e em sua cabeça um chapel que parecia um número maior que o convencional, mesmo assim Marc era de longe o jovem formando mais bonito de sua série, ninguém poderia dizer o contrário. Como capitão do time de basquete, ele era popular e admirado por todos. Jarrel via de longe o sorriso estampado no rosto do sr. e da sr. Miller. Eles pareciam satisfeitos, finalmente seu único filho terminara os estudos e poderia ajudar nos negócios da família. Finalmente Marc poderia seguir seu tão glorioso futuro, encontrar uma boa moça, se casar e ter filhos. Esse é o sonho de todo mundo, porque não seria o sonho deles também?

Jarrel também estava satisfeito, de uma maneira diferente, mas também estava. No fundo, nunca desejou mal ao jovem Miller. Queria tanto a sua felicidade quanto seus próprios familiares, apenas tinha uma maneira errada de demonstrar isso. Não gostava de abraços, de sorrisos, era inseguro e reservado, cresceu sendo ensinado a ser assim. Mas ali, em pé no meio daquela pequena multidão, sentiu algo no peito, uma angustia diferente de tudo que já havia sentido. Olhou mais uma vez para seu antigo vizinho a quem se acostumou a chamar de amigo. Marc não sabia que ele estava ali e talvez jamais soubesse. Seu voo iria partir as três e Jarrel sabia que sentiria saudades daquela pequena cidade interiorana, mesmo que nunca admitisse isso em voz alta.

Lembrou-se de repente do peso da caneta enquanto assinava os papeis no dia em que se alistou. Era uma tarde fresca, o ar estava úmido e as nuvens no céu indicavam chuva um pouco antes do anoitecer, Jarrel estava na fila a alguns minutos e ao contrário dos outros rapazes não dizia nada, controlando cada musculo do seu corpo, numa postura fria e indiferente, que faziam qualquer um que não o conhecesse acreditar que aquele momento não tinha nenhuma importância. Mas mesmo que quisesse fingir que não, ele estava tão nervoso quanto qualquer um ali. Seu coração batia forte e suas mãos suavam, apesar do tempo colaborar para o contrário, suava tanto que a blusa preta chegava a colar molhada no corpo, como se tivesse corrido por horas. Mas não era o medo de servir ao exército que fazia suas pernas tremerem e sua garganta secar, nem o medo do desconhecido e do perigo que lugares tão distantes poderiam lhe oferecer, o motivo era um sentimento mais forte, que ele não podia controlar, mas que somente servia para convence-lo de estar fazendo o certo.

No fundo, passou a se convencer que indo para longe seus problemas iriam se resolver. Ele não queria mais pensar, estava cansado de sentir nojo do próprio reflexo e precisava se libertar. Talvez fosse fraco em fugir, mas seria um tolo se não tenta-se viver.

Jarrel respirou fundo, olhou para o relógio no pulso e viu uma gota de chuva molhar o aparelho. Ajeitou a mochila nas costas e com as mãos nos bolsos - numa tentativa fraca de se esquentar- seguiu para o aeroporto onde pegaria o primeiro voo para a sua nova vida. Ele não olhou para trás e nem se despediu de ninguém. Não houve choros e nem despedidas melosas na hora do seu embarque e por mais previsível que isso fosse, Jarrel ficou decepcionado. Entrou naquele avião de cabeça baixa, como se só então tivesse se dado conta de que estava mesmo indo embora.

Foi estranho perceber que havia todo um mundo fora dos limites de Pittsburgh. Um mundo brilhante, vaidoso, cheio de novidades e surpresas. Só que mais estranho ainda foi perceber que ele não fazia parte desse mundo, ou melhor, que ele não queria fazer.


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