Eu não poderia explicar o que estava sentindo . Meu corpo inteiro doía por completo e eu senti que a qualquer momento cederia . Era como se meu pensamento estivesse fixo a morte , como se meu corpo já não suportasse mais as sensações descomunais e brutais . Naquele momento , o que eu sentia podia ser comparado a dor que eu provavelmente sentiria se fosse esquartejada viva por ferro em brasa . Eu queria gritar , mas não encontrei voz em minha garganta , apenas fiquei paralisada enquanto as lágrimas rolavam , grossas e pesadas por todo o meu rosto . Eu queria sair correndo , mas as minhas pernas simplesmente não me obedeciam , eu estava paralisada pela dor .

Apertei os olhos em uma tentativa de recobrar meus sentidos . Quando os abri novamente , os olhos de Nathan me encaravam . Estavam vidrados aos meus , os dele expressavam surpresa , espanto e choque . Os meus apenas eram reflexo de dor e desespero . Eu não disse sequer uma palavra , apenas mantive a minha postura rígida , por mais que soubesse que meu rosto havia sido tomado pelas lágrimas e em silêncio eu me retirei dali .

Em meu quarto eu caminhei até o banheiro , para que pudesse lavar o rosto . Odiei o que vi como reflexo , era deplorável e de dar pena . Era como se eu não pudesse me defender ... como se dependesse de tudo e de todos . Mas isso de fato acabara aqui ... e agora . Molhei o rosto para retirar a vermelhidão e não deixar sequer nem um sinal de que eu havia chorado . Penteei o cabelo novamente que havia se desgrenhado por completo , ajeitei a minha roupa e com um pouco de maquiagem aqui e ali eu estava novinha em folha .

Ouvi batidas na porta desesperadas . Ajeitei mais uma vez a roupa e caminhei até a porta me forçando a colocar um sorriso no rosto . Nathan estava vermelho e entrou sem ao menos pedir permissão . Trancou a porta atrás de si e me abraçou com desespero . Eu fiquei estática afinal não sabia que reação expressar . Eu apenas sentia dor , mas por fora ... aparentava que eu não sentia absolutamente nada .

– Sophie ... me perdoa eu juro que jamais a beijaria . - Dizia ele em um tom quase que desesperado . Eu pude sentir suas lágrimas batendo em meu ombro .

– Nathaniel ... - a minha voz soara tão fechada e seca que até eu me surpreendera . - Está tudo bem . - Eu disse me separando dele . Seus olhos olhavam os meus em busca de qualquer coisa que pudesse dizer o que eu realmente estava sentindo ... mas não seria assim tão fácil .

– O ... que ? - Seu rosto estava mais do que vermelho como eu já havia observado , mas em seus olhos eu via confusão além do desespero . Ah ... se ele soubesse o que sinto por dentro neste momento .

– Estou bem ... afinal nós sabíamos que em algum dia você teria que arrumar uma garota - Eu me forcei a sorrir . Mas tenho certeza que fora o sorriso mais cínico que eu já dera e eu me odiei por isso .

– Eu não quero outra . Eu quero você - disse ele dando um passo em minha direção mas eu me afastei .

– Bem ... isso não será possível . - Eu não poderia me permitir ,expressar nem sequer uma emoção ou então ele perceberia que por dentro ... eu me sinto morta . Caminhei até a porta rapidamente ao sentir que tudo o que estava sentindo por dentro viera em forma de lágrimas que eu jamais poderia conter ... eu não queria chorar em sua frente . Por isso saí correndo em direção ao jardim , mas eu não queria parar . E foi por isso que eu corri em direção a praia deixando então meu corpo cair sobre a areia assim que eu estava próxima a água .

Por que não posso abrir mão da vida ? Por que Nathan não abriu mão ? Por que eu deveria me importar ? Ele não se importa ... e se ele não se importa ... eu também não me importo . Não me importo se a doença que me consome me mate , não me importo se eu tiver que abandonar a tudo e a todos para me mudar ... eu não me importo ... não mais . Eu apenas gostaria de perder todas as minhas memórias . Assim como sinto que estou perdendo a vida ... como estou perdendo a vontade de viver .

Me levantei já não sinto mais forças para chorar e então caminhei em direção a água . Com ondas que iam e vinham ... eu também queria ir e vir até que não pudesse mais . Adentrei as águas violentas e apenas caminhei em direção ao fundo ... até chegar na parte em que não poderia mais sentir a areia sob meus pés . Deixei que meu corpo caísse e afundasse em meio as águas que no momento ainda estavam claras . Permiti que as ondas guiassem o meu corpo para cada vez , mais e mais longe ... até que eu já não pudesse mais voltar .

Eu estava tomada pela a imensidão do azul . Já não podia nem sequer mais ver os rastros da areia ... ao meu redor era apenas água . Senti meus cabelos flutuarem soltos ao meu redor e então eu apenas impulsionei o meu corpo para baixo como em um mergulho e não me permiti retornar para a superfície . Eu queria que ali ... fosse o meu fim . Fiquei presa ao fundo , olhando atentamente para tudo ao meu redor ... até que em fim já não estava mais consciente .

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Acordei como em um susto . Arfava desesperadamente em busca de ar e não conseguia entender nada do que acontecia ao meu redor . Meu peito estava dolorido e eu sentia que havia muito pouco ar dentro de meus pulmões , havia uma grande agitação ao meu redor . Meu pai estava ao lado de Nathan que me observavam preocupados ... mas eu me lembro de estar na água ... e os dois estavam secos . Quem havia me salvado de fato fora Erik . Seu rosto estava vermelho o que era uma clara evidência de que ele havia chorado , seu rosto estava pálido o que era um sinal de desespero , seu cabelo estava molhado e seus olhos eram reflexo de puro medo . Naquele momento eu pensei que meu coração fosse pular do peito .

– Sophie - disse ele tornando a chorar . Forcei-me a levantar e então levei a minha mão ao seu rosto secando as suas lágrimas . Quando pude perceber eu também chorava e eu então o abracei ... e me senti segura .

Eu não queria solta-lo nunca . Queria me sentir segura para sempre , eu não conseguia sequer acreditar que ele havia me salvado , arriscado a própria vida para salvar a minha ... eu mal conseguia saber como ele havia percebido que eu estava na água , quem dirá saber como ele chegara ao fundo e conseguira me trazer a tempo . Erik ... devolvera a minha vida .

Fui para a casa ouvindo as broncas de meu pai de um lado e as do Nathan do outro . Um exigia uma explicação para o ocorrido e o outro apenas pensava em me punir . Mas no final das contas eu apenas mantive meus penamentos presos aos olhos verdes de Erik ... os olhos que demonstravam o medo que Erik havia sentido ao pensar que iria me perder . Jamais me esquecerei do que senti ao abrir os olhos e me encontrar com os dele ... não há palavras no mundo suficiente para descrever o que eu senti .... foi mais do que mágico .

Depois de me trocar , fiquei a janela , próxima a grade de proteção . Apenas para observar a lua , eu sabia que Erik já havia partido . Mas eu precisava entender ... o que eu sinto por ele , se assemelha ao que sinto por Nathan ... mas não pode ser a mesma coisa ... é impossível não é ? Mas é tão forte , enquanto estava em seus braços tudo ao meu redor havia simplesmente desaparecido .

– Nem pense em pular - disse Amanda se aproximando . Claro que ela havia se divertido com o que eu havia passado hoje - Se você se matasse seria mesmo uma pena - Havia sarcasmo em sua voz e ela foi seguida de um sorriso cínico .

– Fique tranquila - eu disse retornando para o chão . Me aproximei dela e sorri , olhei profundamente em seus olhos . - Não morrerei antes de transformar a sua vida em um completo inferno . - eu disse sorrindo mais uma vez , mas desta vez um sorriso mais aberto e então saindo do quarto . Pois eu não vou a lugar nenhum antes de acabar com ela .