O cabelo liso de Elena tinha se transformado em uma cascata de cachos, devido ao seu penteado para o concurso de Miss Mystic Falls. Jenna estava de posse de um babyliss, dando os últimos retoques no visual da sobrinha, antes que a candidata a Miss tivesse que se vestir.

– Eu não tenho a habilidade da sua mãe, Elena. Estaria tão mais bonito se fosse ela fazendo isso…

– Está perfeito, Jenna.

Era uma meia-verdade. Elena realmente sabia que a mãe teria feito um penteado muito mais elaborado e elegante, mas tinha que reconhecer tudo o que a tia estava fazendo por ela e pelo irmão. Jenna tinha só vinte e quatro anos, ainda estava na faculdade, ela não tinha idade e nem experiência pra ser mãe de dois adolescentes. Mas aceitou a incumbência de ser a guardiã dos sobrinhos órfãos e vinha fazendo o melhor que podia. Em muitos momentos, a tia parecia mais com uma irmã mais velha e Elena ficava feliz que fosse assim.

Em todo caso, ela só estava participando do concurso em consideração à memória da mãe, por isso não se importava se o seu cabelo seria o mais bonito ou não. Sendo sincera, ela estava esperando que Caroline ganhasse o bendito concurso pra que a amiga relaxasse um pouco.

Se bem que ela aparentemente esqueceu de surtar com o super atraso de Damon e Elena no dia anterior… Quando os dois finalmente chegaram para o ensaio, os trabalhos já estavam quase encerrados, mas a amiga ficou indiferente a isso – contrariando o seu comportamento obsessivo e controlador de antes. Matt disse que talvez ela tivesse percebido que aquilo era só um concurso afinal, e Elena preferiu não questionar a sorte.

– Pronto, está linda. – Jenna disse. No fim das contas, ela estava. Elena possuía uma beleza natural e o penteado simples acabou por ressaltar isso. Não tinha a aparência artificial de algumas das outras candidatas que estavam terminando de se arrumar, espalhadas pela mansão Lockwood. – Damon vai ficar bobo quando vir você.

Elena ruborizou com a expectativa de impressionar o namorado. Sempre que se encontravam ele lançava-lhe um olhar de encantamento, como se estivesse vendo-a pela primeira vez. Ela não sabia como ele conseguia ser tão intenso, mas era fato que ele conseguia.

– Falando nisso – Jenna continuou: - você devia checar se ele já chegou.

– Sim, eu vou ligar pra ele.

– Ok. – Jenna foi saindo do aposento, mas parou na porta. – Elena. – chamou e a sobrinha desviou os olhos do celular para ela. – Sua mãe está orgulhosa. Onde quer que ela esteja.

Elena sorriu. Sentia muita falta da mãe, assim como sabia que a tia sentia falta da irmã.

– Obrigada, Jenna.

Quando se viu sozinha, Elena ligou pra Damon e foi atendida no primeiro toque.

– Como vai a futura Miss Mystic Falls? – ele brincou.

– Caroline? Está terminando de se arrumar no quarto ao lado. – ela devolveu.

– Não seja modesta. Você só não ganha esse concurso se os juízes estiverem loucos.

– Então, eu espero que eles estejam porque eu não tenho nenhuma intenção de conseguir aquela faixa.

– Tem certeza? Porque se você quiser, eu posso compelir os juízes pra eles te darem o título… Quer dizer, eu sei que você é a ganhadora por méritos, mas algum deles pode ter bebido essa noite e acabar trocando as bolas.

– Damon! – ela riu. – Você não vai compelir ninguém. Onde já se viu?!

– É mais uma das vantagens de ser um vampiro, eu posso garantir que a minha namorada tenha o que ela quiser, na hora que quiser.

– Garota de sorte, essa aí.

– Eu não diria que ela é quem tem sorte nessa história.

Elena suspirou. Damon não tinha a mínima ideia do que significava para ela.

– Hey, onde você está? Já chegou?

– Sim, estou no térreo.

– Ótimo, vamos acabar logo com isso e dar o fora daqui.

– Perfeita ideia, tenho planos pra hoje à noite.

– Planos?

– Que incluem você, obviamente.

– Mal posso esperar…

Caroline apareceu na porta trajando um longo vestido verde e com seu cabelo loiro impecavelmente arrumado.

– Elena, você ainda não se vestiu! – parecia que a versão obsessiva estava de volta à ativa.

– Ok, Damon, eu tenho que terminar de me arrumar agora. Caroline está aqui…

– Tudo bem, amor. Até daqui a pouco.

Caroline estava com as duas mãos na cintura e batendo o pé ansiosamente.

– Até. Te amo.

– Eu também.

Desligou. Caroline ficou estática.

– Você disse que o ama!

– Por que o espanto?

– Eu não sei, talvez porque vocês estão há poucos meses juntos. Elena, isso é bem sério!

– É a verdade, então qual é o problema em dizer? E, só pra ficar claro, Damon me ama também.

– Ele te disse?

– Com todas as letras e bem antes que eu conseguisse admitir pra mim mesma.

– Wow. E eu vinha achando que era mais sobre sexo…

– Sexo é uma parte deliciosa da nossa relação. É incrível, Car, você não tem noção… - ela disse com um leve rubor. - Mas não é tudo. Nós nos amamos… - Elena completou com paixão na voz.

Caroline sorriu. Era ótimo ver Elena tão bem depois do choque ao qual a amiga tinha sobrevivido. Mas também era hora do concurso.

– Ok, vocês são lindos, mas precisamos de foco aqui, Elena Gilbert. Vamos, vamos, coloque esse vestido de uma vez!

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O prefeito se posicionou no hall da mansão Lockwood e deu início ao concurso, que começava com a tradicional dança do baile das famílias fundadoras. Os acompanhantes das candidatas a Miss se posicionaram próximos a ele, para receberem as garotas e conduzirem-nas até o lado de fora, onde aconteceria a dança.

– Srta. Caroline Forbes acompanhada do Sr. Matthew Donovan. – ele anunciou depois de alguns casais.

Caroline passou por todos certamente muito ansiosa, mas desempenhando bem o seu papel, e sem grandes sorrisos, pois a tradição dizia que os casais deveriam ter as emoções contidas e se expressarem somente com o olhar.

– Srta. Elena Gilbert acompanhada do Sr. Damon Salvatore. – Lockwood anunciou em seguida.

Damon se colocou ao pé da escada e ergueu os olhos à espera de Elena. Não teve como evitar ficar encantado com a visão da garota descendo cuidadosamente os degraus, usando um vestido longo e azul que deixava evidente, para o caso de alguém ainda não ter notado, o quanto ela era uma bela jovem mulher. Por um breve segundo, os cachos no seu penteado lhe lembraram Katherine, mas o olhar e o sorriso de Elena tomaram todos os espaços na sua mente.

Apesar de não estar preocupada com o resultado do concurso, Elena sentiu uma ponta de nervosismo ao ouvir o seu nome ser chamado e olhar para o salão lotado de pessoas com os olhos voltados para ela. Todo o nervosismo, porém, desapareceu no momento em que localizou a única pessoa que importava no meio daquela multidão. Damon estava arrebatadoramente lindo em um terno escuro, e olhava pra ela com um sorriso que contrariava todo o código do concurso.

Elena apenas sorriu de volta e foi até ele desejando que todos ao redor desaparecessem pra que ela pudesse passar as horas seguintes nos seus braços.

– Você está deslumbrante. – Damon sussurrou. – Você é deslumbrante.

Elena sorriu ainda mais enquanto era conduzida pelo seu par até onde os outros casais estavam posicionados. A Sra. Lockwood enviou-lhes um discreto olhar de desaprovação quando percebeu o quanto os dois estavam radiantes e sorridentes, mas nenhum deles se importava.

Assim que todos tomaram suas posições, a música suavemente dominou o ambiente. Como Elena tinha garantido, ela e Damon sabiam muito bem a coreografia. Enquanto executavam cada passo diante dos olhares dos críticos e da sociedade de Mystic Falls, os dois sorriam um para o outro e se lembravam de todas as noites que ensaiaram sozinhos na mansão Salvatore.

No quarto de Damon ou em frente à lareira, com ou sem música, eles haviam repassado aquela dança exaustivamente, entre beijos e carícias, parando no meio para desabar sobre a cama, só para depois retomarem de onde estavam e irem acabar no sofá ou mesmo no chão. Depois de tanto praticarem, é claro que sabiam tudo nos mínimos detalhes.

Logo, na hora da exibição tão esperada por todos, Damon e Elena não eram uma dupla em competição. Eram apenas um casal dançando, usufruindo do momento juntos, fazendo algo que eles gostavam e sabiam, sem se importar com os olhares ou julgamentos. Damon a conduzia e Elena deixava-se levar, sorrindo para o seu namorado e feliz por estar ali com ele.

A música foi chegando ao fim, Elena e Damon foram os últimos a largarem as mãos e se posicionarem de volta nas suas marcações. Ele lhe deu o braço e os pares seguiram em fila de volta para a mansão. As moças precisavam se reunir em uma sala à espera da próxima etapa do concurso, mas antes de se separarem Damon não aguentou e puxou Elena para um beijo. Separaram os lábios com sorrisos e sob o olhar de desaprovação da primeira-dama, mas com alguns aplausos de convidados mais empolgados, incluindo Bonnie, Jeremy, Jenna e Alaric, que assistiam a tudo.

– Vocês foram perfeitos, Damon! – Bonnie parabenizou quando ele se juntou ao grupo.

Damon deu de ombros, mas ainda estava embevecido com Elena. Duvidava que essa sensação um dia passasse.

– Mas dificilmente Elena irá ganhar. – Jenna acrescentou com pesar. – Vocês foram emotivos demais para o concurso. O regulamento diz que os pares devem ter as emoções mais contidas.

– E vocês só faltaram se agarrar no meio da pista. – Jeremy finalizou.

– Jer! – Jenna e Bonnie repreenderam ao mesmo tempo, mas todos acabaram rindo.

Depois de mais algumas etapas, que incluíam desde a leitura de uma espécie de currículo de cada garota até uma pequena entrevista individual, a vencedora finalmente foi anunciada. O prefeito ficou à frente das moças e disse com satisfação:

– A nova Miss Mystic Falls é… Caroline Forbes!

Aplausos encheram o salão. Elena sussurrou “parabéns” para a amiga quando esta se virou para abraçá-la, e Caroline foi receber sua faixa, buquê de flores e tiara das mãos da primeira-dama. Elena ficou genuinamente feliz por saber que uma de suas melhores amigas estava realizando um sonho, mas também ficou aliviada pelo evento ter chegado ao fim. Queria saber que planos Damon tinha para a noite dos dois, afinal.

Quando as pessoas começaram a se dispersar, Bonnie saiu com Jeremy, Jenna foi com Alaric e Elena passou em casa para trocar de roupa.

– Aparentemente, você não ganhou porque nós não somos o tipo muito contido. – Damon disse enquanto descia o zíper do vestido dela.

– O fato de eu ter largado os comitês esse ano também cortaram pontos. Eu fiquei feliz pela Car, ela merece.

– Pelo menos agora ela não vai mais te ligar a cada cinco minutos. – falou dando um beijo no seu pescoço.

Elena fechou os olhos usufruindo do toque firme de Damon na sua pele, já que ele tinha descido o seu vestido até a cintura, mas continuou a segurá-la junto do corpo. Após um minuto no qual Damon não avançou muito, apenas prosseguiu explorando seus ombros com os lábios, ela virou-se de frente para ele e afrouxou a sua gravata.

– Se você disser que o plano era passar a noite aqui, eu não vou reclamar. – ela sussurrou.

– Não é esse o plano. – ele correu as mãos pelas suas costas, indo até a cintura e levando o vestido pra baixo. – Mas também não é um grande plano, é melhor eu avisar. É só que eu tenho uma coisa pra entregar a você.

– Um presente? O que é?

– Surpresa. Também é melhor avisar que talvez você não goste.

– Isso é impossível. – ela falou enquanto passava os braços ao redor do seu pescoço.

– Você vai admitir que é totalmente possível você não gostar… Mas se for assim, você não precisa usar, ok? Não precisa nem mesmo aceitar.

– Bom, pode me dar e nós vamos ver.

– Primeiro você tem que se vestir.

– Isso é realmente necessário?

Damon riu.

– Não está comigo, eu deixei em casa. Precisamos ir até lá. A menos que você não se importe de entrar no carro desse jeito. Eu não me importaria se não fosse o risco de alguém te ver. Sabe, acho que não é uma boa hora pra arrancar umas gargantas…

– Damon! – foi ela quem teve que rir.

– Por isso é melhor você ir vestida.

– Ok, ok. – ela foi para os armários e pegou um vestidinho leve. Damon sentou na ponta da cama e ficou assistindo a garota se trocar. – O que foi? – ela disse terminando de se ajeitar.

– É bom você avisar a Jenna que vai passar a noite fora.

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A mansão Salvatore estava mergulhada na penumbra quando chegaram. Havia mais de dois meses que o local era habitado apenas por Damon, e consideravelmente por Elena, já que ela passava bastante tempo com ele. Sem a presença de Stefan, esse era o local perfeito para os dois ficarem, pois não precisavam fingir que Damon era um humano comum, ele podia usar suas habilidades sem correr o risco de ser descoberto e os dois podiam se relacionar sem qualquer restrição.

Entraram na sala e Damon não se preocupou em acender as luzes. Em vez disso, levou Elena até o sofá. A noite estava mais fria do que pensaram, Elena estava com o paletó de Damon por cima do vestido, mas ainda assim estava gelada. A garota o observou acender a lareira com agilidade, poderia-se dizer que o vampiro tinha muitos anos de prática. Damon conseguiu uma chama estável e ficou olhando o fogo por um minuto antes de se virar para a namorada. Então ficou de pé em frente a ela, e estendeu a mão para acariciar o seu rosto.

– Elena… - ele começou, mas se interrompeu.

Ela percebeu que ele estava ansioso, só não sabia qual era o motivo. Levantou-se, colocou uma mão sobre a dele e sorriu, incentivando-o a continuar. Damon segurou o rosto dela com as duas mãos, da forma mais delicada que podia e beijou-a suavemente. Afastou os lábios e ficou com a testa encostada na dela, apenas sentindo o sua respiração e o pulsar do sangue no seu corpo.

– Eu tenho pensado sobre nós e… Eu tenho algo pra você. Vou lá em cima buscar, você espera aqui?

Elena assentiu e deu mais um selinho nele. Damon se afastou um passo, então adotou sua velocidade de vampiro e desapareceu em um flash. Elena sorriu. Desse jeito não tinha como ele demorar. Tirou o paletó e se aproximou da lareira para se aquecer enquanto ele não voltava. Em segundos, porém, Damon surgiu ao pé da escada. Sua expressão de ansiedade tinha dado lugar à de ira.

– O quê… - Elena começou a perguntar, mas em um novo flash Damon estava à sua frente, com o rosto contorcido de dor.

Elena sentiu todo o seu corpo se retesar, não mais de frio, mas sim de medo. Damon estava ferido e ela tentava segurá-lo à medida que o vampiro ia caindo no chão.

– Damon!… - ela chamou com a voz trêmula.

Com esforço, ele se moveu no chão, ficando de costas para ela. Elena quase gritou ao ver o grande punhal que estava cravado abaixo do seu ombro, mas o pânico a tomou de forma que a voz não saiu. Não fazia ideia do que estava acontecendo, a sala estava escura demais. A única coisa que sabia era que o seu amor estava ferido… e mesmo assim tentava protegê-la. Damon tinha se virado para se posicionar na frente dela, estava tentando ocultá-la com o próprio corpo.

Elena percebeu que era isso que tinha acabado de acontecer. O punhal teria a atingido se Damon não tivesse sido rápido e ficado na sua frente. Ela tentou enxergar alguns metros adiante e pensou ter visto algo se mover. Antes que pudesse se perguntar quem tinha feito aquilo, a responsável se mostrou sem nenhum resquício de culpa.

Elena imediatamente soube quem era, apesar de nunca tê-la encontrado antes:

– Katherine.